terça-feira, maio 31, 2011

Wahchi b. Harb - O Homem que Matou Hamza Tio do Profeta Mohammad

"Eu matei a melhor pessoa do mundo depois de Mohammad; também matei a pior pessoa.”( Palavras de Wahchi após ter lançado sua lança em Musailima ,falso profeta, comparando com Hamza que ele havia matado na Batalha de Uhud)

Quem foi o indivíduo que feriu o coração do Mensageiro de Deus (SAAS), matando o tio deste, o Hamza b. Abdul Muttalib, durante a batalha de Uhud? Foi o mesmo que abrandou a ira dos muçulmanos ao matar o falso profeta, o Musailima, na batalha de Yamama. Foi o Wahchi b. Harb, o abissínio, com o patronímico de Abu Dasma. Sua estória é ardente e repleta de drama e derramamento de sangue. Deixemos que ele nos conte a estória da sua tragédia, com suas próprias palavras.

A estória de Wahchi

Eu era um escravo pertencente ao Jubair b. Mutim, um dos chefes do Coraix. Seu tio fora morto n batalha de Badr pelo Hamza b. Abdul Muttalib. O Jubair foi tomado de pesar, e jurou pelos ídolos Al Lat e Al Uzza que iria se vingar pela morte do seu tio, matando o matador deste.

Logo depois, os coraixitas concordaram entre si desencadear uma guerra contra os muçulmanos na batalha de Uhud, para que pudessem matar a Mohammad b. Abdullah, e assim vingarem àqueles da sua tribo que morreram na batalha de Badr. Eles separararam os guerreiros, os quais constituíram o seu exército, arrebanharam aliados de outras tribos, prepararam suas armas e seus suprimentos, e deram o comando da sua força para o Abu Sufyan b. Háris.

Abu Sufyan decidiu levar com o exército um grupo de mulheres coraixitas que tinha perdido seus parentes na batalha de Badr. O papel daquelas consternadas damas iria ser instigarem o exército pagão a ir em frente para se vingar, e evitarem que os soldados desertassem e debandassem do campo de batalha. Liderando as mulheres que saíram com o exército, estava a Hind b. Utba, a esposa do próprio Abu Sufyan. O pai, o tio e o irmão dela tinham sido mortos na batalha de Badr.

Quando o exército estava quase pronto para partir, o Jubair b. Mutim se virou para mim, e perguntou:

“Ó Abu Dasma, gostarias de te livrar da escravidão?”

“Quem poderia fazer isso por mim?”, perguntei.

“Eu posso fazer isso por ti”, ele repondeu.

“Como?” perguntei.

“Se vingares a morte do meu tio Tuayma”, disse ele, “matando o Hamza b. Abdul Muttalib, estarás livre do cativeiro.”

“Quem irá garantir que irás cumprir tua promessa?” perguntei.

“Quem tu quiseres”, ele repondeu, “e estou disposto a fazer com que qualquer um testemunhe a promessa.”

“Sendo assim, eu posso fazer isso, e o farei”, disse eu.

Eu sou um abissínio e, como todo africano, quando arremesso uma lança, nunca erro o alvo. Então eu peguei a minha lança e saí com o exército, marchando na retaguarda, perto das mulheres. Aquela luta não era minha, e eu tinha pouco interesse nela, além de obter a minha liberdade.

Sempre que eu passava perto da Hind, a esposa de Abu Sufyan, ou ela passava por mim, e via a lnça na minha mão, cintilando à luz do sol, exclamava:

“Ó Abu Dasma, liberta-te a ti mesmo, e liberta-nos das amarguras!”

Quando chegamos a Uhud, a batalha começou, e eu me pus a procurar pelo Hamza b. Abdul Muttalib. Eu já o tinha visto antes, e sabia como ele era. Não iria ser difícil encontrá-lo, pois ele sempre usava o seu turbante com uma pena de avertruz enfiada nele. Esse era um costume dos guerreiros árabes que eram considerados campeões, para que os inimigos que se consideravam iguais os reconhecessem e os desafiassem em batalha. Logo o encontrei porfiando em seu caminho através das fileiras, feito um garanhão numa manada de cavalos, abrindo caminho entre os inimigos, com sua espada. Ninguém era capaz de se pôr em seu caminho, para estancar a sua progressão.

Eu estava chegando perto dele, escondendo-me atrás de toda rocha ou toda moita que pudesse encontar. De súbito, um guerreiro montado dos coraixitas apareceu. Seu nome era Siba b. Abdul Uzza, e ele gritou:

“Eu te desafio, ó Hamza!”
O Hamza deu um passo à frente, dizendo:
“Venha pegar-me, filho de pagão, venha pegar-me!”
Tão logo o homem se aproximou, o Hamza o derrubou com um golpe da sua espada, que o fez jazer no seu próprio sangue. Naquele ponto, eu senti que estava numa boa posição para o acertar. Ergui minha lança, testando-a de lado a lado da minha mão, eté que estivesse perfeitamente contrabalançada, e a arremessei contra ele. Ela atingiu o seu abdomen, sendo que a ponta saiu por um dos lados dele. Ele deu dois passos cambaleantes na minha direção, e caiu, com a lança ainda enfiada nele; eu a deixei ali até estar certo de que ele estava morto, então retirei-a dele. Depois eu voltei ao acampamento, onde me sentei, pois não queria matar a mais ninguém. Eu tinha feito o que fiz, apenas para conseguir a minha liberdade.

A batalha tornou-se mais intensa, com cargas e retraimentos. Eventualmente, o curso da batalha se tornou desfavorável aos muçulmanos, muitos dos quais foram mortos. Naquele ponto, a Hind b. Utba conduziu umas mulheres até ao campo de batalha, que se puseram de entremeio aos muçulmanos mortos, mutilando-os. Ela os estripava, arrancava-lhes os olhos, cortava-lhes os narizes e as orelhas. Então ela fez um colar e uns brincos de orelhas e de narizes, e se adornou com eles. Ela me deu os seus brincos e o seu colar de ouro, dizendo:

“Estes são para ti, ó Abu Dasma, estes são para ti; guarda-os, pois são valiosos!”

Quando a batalha terminou, eu voltei para Makka com o exército. O Mutim cumpriu sua promessa feita a mim, livrando-me do cativeiro. Tornei-me um homem livre.

O tempo passou, Mohammad tornou-se mais conhecido, e o número de muçulmanos parecia crescer de hora para hora. À medida em que o poder de Mohammad crescia, eu me tronava mais ansioso, eté que senti que estava em sério perigo. Eu permaneci naquele estado até que Mohammad tomou pacificamente Makka com o seu enorme exército. Eu fugi para Al Taif à procura de refúgio. Porém, não demorou muito para que o povo de Al Taif se tornasse favorável ao Islam, e designasse uma delegação para ir encontrar-se com Mohammad e declarar sua conversão à religião dele.

Naquela altura eu comecei a ficar desanimado, pois sentia que não haveria lugar na terra aonde eu pudesse encontrar asilo. Deveria ir para a Síria, ou para o Iêmen, ou para qualquer outro lugar? Conforme eu levava aquilo em consideração, eis que alguém que era bom em dar conselhos, veio a mim, e disse:

“Em que deplorável estado estás, ó Wahchi! Juro por Deus que o Mohammad não executa a ninguém que adere a sua religião, e que pronuncia a declaração de fé.”

Ao ouvir aquilo, logo me preparei para ir a Yaçrib, procurar por Mohammad. Quando cheguei, pedi informações sobre ele, e soube que ele estava na mesquita. Fui ter com ele, sorrateira e cautelosamente, até ficar em pé, perto de onde ele se sentava, e disse:

“Presto testemunho de que não há outra divindade além de Deus, e que Mohammad é o Seu servo e Mensageiro.”

Ao ouvir que alguém enunciava a chaháda1, ele ergueu o olhar. Ao reconhecer-me, ele desviou o olhar, dizendo:

“És tu, ó Wahchi?
“Sim, ó Mensageiro de Deus”, eu respondi; então ele disse:

“Senta-te; explica-me como vieste a matar o Hamza!”

Sentei-me e me pus explicar tudo. Quando terminei, ele virou o rosto, dizendo:

“Eis que tu trouxeste desgraça sobre ti mesmo, ó Wahchi! Tira teu rosto da minha visão, pois não posso suportar olhar para ele, de agora em diante!”

Daquele dia para a frente, eu fazia tudo para evitar ser visto pelo Profeta (SAAS). Quando os Companheiros se sentavam em frente a ele, eu procurava me sentar atrás deles. Continuei a fazer aquilo até à morte do Mensageiro de Deus (SAAS).

Embora eu viesse a saber que a aceitação do Islam significasse o perdão dos pecados anteriores, eu jamais pude superar a vergonha quanto ao desastrado feito por mim cometido, pois sabia que aquilo tinha causado uma terrível perda para os muçulmanos e o Islam. Comecei a manter os olhos abertos, esperando uma oportunidade para compensar o mal que havia feito.

Quando o Profeta (SAAS) não mais se achava no nosso meio, mas no Paraíso com o seu Senhor, e a liderança da comunidade passara para o Abu Bakr, muitos dos beduínos, incluindo os de Banu Hanifa, apostataram quanto ao Islam, escolhendo seguirem o falso profeta, o Musailima. O califa aprontou um exército para encetar a guerra contra o Musailima, para que aqueles que se desviaram pudessem voltar para a religião de Deus. Eu disse a mim mesmo:

“Por Deus, ó Wahchi, esta é a tua chance! Não a desperdices! Se a desperdiçares talvez não haverá outra!”

Assim, eu parti com o exército, levando comigo a lança com a qual eu havia matado o Príncipe dos Mártires, o Hamza b. Abdul Muttalib. Eu havia jurado ou matar o Musailima, ou morrer como mártir.

Quando a força muçulmana adentrou o pomar onde o Musailima e suas cortes se refugiavam, e a batalha teve começo, eu me pus a procurar pelo Musailima. Encontrei-o de pé, com sua espada em riste, ao mesmo tempo em que divisei um homem dos Ansar a procurar por ele, assim como eu. Eu estava numa boa posição de ataque, assim ergui minha lança, certifiquei-me de que estava perfeitamente contrabalançada, mirei, e atirei. A lança atingiu o alvo.

Naquele mesmo momento, o homem dos Ansar pulou à frente em direção ao Musailima, desfechando-lhe um forte golpe com sua espada. Somente Deus sabe qual dos golpes matou o Musailima. Se foi o meu, então eu havia matado a pior pessoa sobre a terra, após ter matado a melhor das pessoas, depois de Mohammad (SAAS).

“Ó fiéis, atendei a Allah e ao Mensageiro, quando ele vos convocar à salvação. E sabei que Allah intercede entre o homem e o seu coração, e que sereis congregados ante Ele.” 8:24

Asalamo Alaikom WA WB,

Omar Hussein Hallak

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