segunda-feira, dezembro 23, 2013

O Natal ... no Islão

Prezados Irmãos,

Assalamu Alaikum Wa ráhmatullahi Wa barakatuh:

Nesta época, entre alguns internautas muçulmanos se suscita um debate recorrente a respeito de celebrar ou não o Natal com a família, especialmente entre aqueles que abraçaram o Islão na sua maturidade ou os envolvidos de casamentos com mulheres cristãs. As posições aqui, como em qualquer outra ocasião onde os valores e as culturas se vêem forçadas a conviver, são variadas e não há uma resposta definitiva.

Existem certas questões superficiais e simbólicas que são incompatíveis com o Islão, mas outras não. Entre as superficiais estão: o jogo (Lotaria de Natal), a carne de porco e o álcool (brindes com champanhe).

No simbólico já teríamos que colocar-nos muitos transcendentes para questionar aspectos como a divin-dade de Jesus, a paz esteja com ele, e a adequação de comemorar o seu nascimento, especialmente quando sabemos que é uma data herdada da festividade pagã do solstício de Inverno.

Se o Mawlid, ou a celebração do nascimento do último Profeta do Islão, Muhammad [Maomé], paz e bênçãos de Deus estejam com ele, é posta em questão por setores islâmicos mais rigoristas tachando-a de "idolátrica", a celebração do Natal por um muçulmano seria considerada por eles como "apostasia".

Não existe, pois, tal coisa como o “Natal Muçulmano”, porque no Islão não celebramos nem o nascimento de Jesus, nem o de qualquer Profeta ou Mensageiro de Deus. (1) Isso não significa, todavia, que Jesus, filho de Maria (Issa ibn Maryam, no Alcorão) não tenha qualquer significado no Islão. Jesus é o Messias, a palavra do Criador e um espírito proveniente d’Ele. Mencionado, pelo menos vinte cinco vezes no Alcorão, é tanto dos Muçulmanos como dos Cris-tãos. Os Muçulmanos acreditam nele, amam-no e honram-no.

Não se pode professar o Islão sem aceitar que o Messias nasceu da Virgem Maria, é um Mensageiro de Deus, devolveu a visão a cegos, curou leprosos e ressuscitou mortos, por intermédio de Deus. Também o muçulmano aguarda a segunda vinda (2) de Jesus (p.e.c.e.) como um prenúncio do Último Dia.

Para além destas considerações teológicas, o que realmente nos deve preocupar é como eles interagem com ambas as comunidades por ocasião de uma celebração tão íntima, afetuosa como o Natal e os dois Eids Islâmicos (o Eid al Fitr que finaliza o jejum de Ramadão e Eid al Adha, a Festa do sacrifício).

Para começar, convém recordar a ambas as comunidades que o que se celebra no Natal aconteceu na Palestina, há cerca de 2.000 anos e os seus protagonistas não eram brancos, europeus, cristãos e imperialistas, mas sim semitas que falavam aramaico, professavam o monoteísmo de Abraão e de Moisés e viviam no Médio Oriente. Ou seja, que eles tinham muito mais a ver com um palestino atual do que com um Pai Noel.

Naquela época, Palestina também era uma terra ocupada por um império pagão que reprimia com vigor qualquer ameaça aos seus interesses hegemó-nicos na zona. A religião também era manipulada pelos movimentos independentistas. Demasiadas coincidências com a actualidade.

Talvez o Natal possa ser um lugar de encontro entre cristãos e muçulmanos para reflectir sobre a Palestina. E fazendo isso é, em suma, reflectir sobre a humanidade, já que em 2.000 anos não temos sido capazes de modelar esses desejos de paz e boa vontade no mesmo cenário onde Jesus veio ao mundo e onde sofreu perseguição, expulsão e tortura.

Outro lugar comum para ambas as comunidades é a família. Acima de diferenças de credo ou de militância política, estas festividades, como acontece nas celebrações muçulmanas, são uma oportunidade para reunir-mo-nos com a família, amigos, vizinhos e colegas de trabalho. Isso tem as bênçãos de ambas as religiões. É uma oportunidade de compartilhar, estabelecer laços, cooperar e desembaraçar as dificuldades para a coexistência; o extremismo segregacionista míope é contrário a ambas as tradições, cristãs e muçulmanas.

Por conseguinte, se um muçulmano perguntar se é lícito ou não que ele e os seus filhos celebrem o Natal com os seus parentes cristãos, haveria de se responder: é recomendável e além disso, ele (esse muçulmano) deveria esforçar-se também por convidá-los (aos parentes cristãos) para comemorar os dois EIDS. É precisamente nas celebrações, ao esquecermos a amargura da vida e nos deleitarmos nas suas doçuras, quando ficamos mais predispostos a perdoar as ofensas, a ser generosos e a encurtar as distâncias das nossas diferenças.

E quanto à preocupação a respeito da carne de porco e do álcool, é simples: leve consigo algo de embutidos halal, ou melhor ainda uma boa pescada, chá, alguns torrões deliciosos e tâmaras que, pelo visto, essa sobremesa fora inventada pelos muçulmanos.

E Deus é Quem sabe melhor.

Boas Festas ao Povo Cristão.

Wassalam! (E Paz!) ■

(1) – Nenhum Profeta celebrou o seu nascimento. No entanto, há povo que tem celebrado o nascimento do seu respectivo Mensageiro, no sentido de recordar e transmitir a sua vida e obra no cumprimento da sua missão. A partir do séc. IX, alguns muçulmanos começaram a celebrar a semana do nascimento do Profeta Muhammad [Maomé] (p.e.c.e.) – Maulid-al Nabi naturalmente uma inovação, quiçá sadia, com palestras e colóquios alusivos à vida do Profeta para recordar, reflectir, compartilhar e passar à nova geração o melhor que há da tradição profética, o amor em relação ao último Profeta enviado por Deus – Muhammad (s.a.w.) – e em relação a todos os Profetas anteriores (p.e.c.e.).

(2) - Ver o livro: «Jesus Regressará», da autoria de Harun Yahya – edição portuguesa de Al Furqán. -   No século XXI...a caminho de Belém - Caminhos de Natal...na Palestina - Desenho do Basnky

Obrigado, boas leituras.

M. Yiossuf Adamgy