sexta-feira, novembro 28, 2014

ZAKAT, SADAQA E O TRABALHO – 6ª. Parte

Assalamo Aleikum Warahmatulah Wabarakatuhu (Com a Paz, a Misericórdia e as Bênçãos de Deus)
Bismilahir Rahmani Rahim (Em nome de Deus, o Beneficente e Misericordioso) - JUMA MUBARAK

Não existe criatura sobre a terra, cujo sustento não dependa de Allah …” Cur’ane 11.6.

Allah Subhana Wataala criou o ser humano e fez dele um sinal da Sua Perfeição e Misericórdia. Ensinou-lhe o que é certo e o que é errado. “Pela alma e por Quem a aperfeiçoou; e lhe imprimiu o discernimento entre o que é certo e o que é errado”. Cur’ane 91:7 e 8.

A relação de Allah com as Suas criaturas é baseada na Misericórdia e na Compaixão. Deus é o mais Misericordioso dos que mostram a misericórdia e transmitiu à sua criação uma parte da Sua Bondade e da Sua Misericórdia, para que todos possam sentir compaixão e ajudarem-se mutuamente. Yá Arhama Rahimin. Abu Huraira (Que Deus fique satisfeito com ele), referiu que Muhammad (Salalahu Aleihi Wassalam) disse: “Deus dividiu a misericórdia em cem partes, reteve noventa e nove partes, fazendo apenas descer uma à terra. Dessa (uma) parte, emana toda a compaixão com que a criação inteira divide entre si. É tamanha essa compaixão, que faz com que o animal levante bem as garras, para não causar dano à sua cria”. Bukhari e Muslim.

Allah, o Criador e o Sustentador, destinou e garantiu o sustento (rizk) para cada uma das Suas criaturas. Ninguém conseguiria apoderar-se do sustento destinado a uma outra pessoa. “Não existe criatura sobre a terra, cujo sustento não dependa de Allah …” Cur’ane 11.6. Mesmo aqueles que se encontram incapacitados, Allah também destinou o seu rizk. “E quantas criaturas existem que não podem procurar os seus sustentos! Deus as agracia da mesma maneira que a Vós e Ele é Oniouvinte, o Sapientíssimo”. Cur’ane 29.60. É o caso, por exemplo, dos fetos de todos os seres vivos que se encontram em gestação. O sustento inicia-se quando nos encontramos nas barrigas das nossas mães e cessa com as nossas mortes. Esta garantia de sustento é um dos sinais da Soberania e do Poder de Deus.

Deus criou tudo o que existe na terra para que os seres vivos, em especial os humanos, possam produzir, colher e usufruir equitativamente. Para cada ser vivo, dependendo da localização, do clima, das tradições alimentares e das condições sociais, existe uma diversidade de alimentos. Assim, ninguém se pode lamentar que Deus lhe deu um tipo de alimento “inferior” em relação ao do seu vizinho. O Mensageiro de Deus (Salalahu Aleihi Wassalam) disse que não devemos olhar para quem está num nível superior ao nosso, mas sim quem se encontra abaixo do nosso nível. Assim, saberemos dar valor ao que nos foi concedido e não desprezarmos os favores concedidos pelo Sustentador. Procuremos saciar a nossa ânsia de ter os que os outros têm, encontrando a felicidade e a tranquilidade com a lembrança de Deus (dikr) e o aumento do íman (fé). “Mas, quem temer a Allah, Ele lhe apontará uma saída … e o agraciará, de onde menos espera. Quanto aquele que se encomendar a Deus, saiba que Ele será Suficiente, porque Deus cumpre o que promete. Certamente Deus predestinou uma proporção para cada coisa”. Cur’ane 65.2 e 3. 

Alguns mal intencionados, culpam a Deus pela miséria que se alastra pelo mundo! Referem que Deus não deveria permitir a fome e as maldades que existem entre as pessoas. Como são hipócritas estas línguas! São eles os primeiros a virarem as costas e a fecharem as suas mãos perante os seus semelhantes famintos. Não feches a tua mão excessivamente, nem a abras completamente, porque te verás censurado”. Cur’ane 17:29 . O Profeta (Salalaho Aleihi Wassalam) referiu: “quem não mostra misericórdia para com as pessoas, Deus, o Altíssimo, não mostrará Misericórdia para com ele”. Muslim. Deus fez a Sua parte e compete-nos a nós, cumprir com as Suas Leis e com as Orientações dos Seus Profetas. É uma responsabilidade colectiva que nos obriga à criação de condições para que todos se possam sustentar. E por tudo o que fazemos, responderemos perante Ele.

Um necessitado pediu apoio monetário ao Profeta de Deus (Salalahu Aleihi Wassalam). Ele deu um machado para que pudesse, por ele próprio, encontrar um meio digno e honesto para obter o sustento para a sua família. Será assim muito melhor do que andar a pedir aos outros. 

Também recomendou o Mensageiro de Deus (Salalahu Aleihi Wassalam) para quem se encontra extremamente necessitado, que deve solicitar apoio aos piedosos e virtuosos, porque essas pessoas saberão como auxiliar, não farão publicidade do que fizeram e darão com a mão direita, o que a mão esquerda não sabe. Por outro lado o aconselharão a encontrar um meio mais eficaz e digno para se sustentar. Meu duáh para que Allah, o Doador e o Sustentador, conceda muitos bens aos crentes piedosos e virtuosos, para que eles possam ter mais condições para cuidarem daqueles que nada têm. Amin.

Issa (Aleihi Salam) – Jesus (Que a Paz de Deus esteja com ele) disse: “Filho de Adão, assim como for a tua misericórdia, assim será a Misericórdia de Deus para contigo. Como esperas a misericórdia de Deus, se não tens misericórdia para com os Seus servos?”. Relato de Abu al Layth al Samarqandi. 

A melhor maneira de mostrar misericórdia para as pessoas, é visitar os doentes, auxiliar os necessitados, guiar (dar uma palavra de dawá) aos que se encontram perdidos e auxiliar os órfãos. Esta é a melhor caridade (sadaqa) perante Allah Subhana Wataala.

In Sha Allah, Se Deus quiser, o tema continuará no próximo Juma. “Rabaná ghfirli waliwa lidaiá wa lilmu-minina yau ma yakumul hisab”. “Ó Senhor nosso, no Dia da Prestação de Contas, perdoa-me a mim, aos meus pais e aos crentes”. 14:41.

Cumprimentos

Abdul Rehman Mangá

27/11/2014

A Mentalidade Aberta do Islão

Prezados Irmãos,

Assalamu Alaikum:

Foram as capacidades desenvolvidas pelo entendimento islâmico que permitiram que os muçulmanos sem uma cultura científica a tal ponto avançada. Uma dessas capacidades era, tal como já referimos, a motivação de conhecer o universo e a natureza de acordo com os princípios do Islão. Outra capacidade desenvolvida pelo Islão foi a abertura de espírito. A verdade é que tanto a sabedoria do Alcorão como os ensinamentos proféticos facultaram aos muçulmanos uma visão global do mundo, ultrapassando todas as fronteiras culturais. No Alcorão, Deus afirma:


"Ó Humanidade! Fizemos-vos homem e mulher e distribuímos-vos por povos e tribos, para que pudessem conhecer-se uns aos outros." (Alcorão, 49:13).


Este versículo incita claramente ao enraizamento de relações culturais entre diferentes nações e comunidades. Noutro versículo do Alcorão, afirma-se o seguinte: "Tanto o Oriente como o Ocidente pertencem a Allah." (2:115). Assim sendo, os muçulmanos devem ter uma visão universalista e cosmopolita do universo. 

Os ahadith ou ditos do Profeta Muhammad (p.e.c.e.) incitam, igualmente, a este tipo de abordagem. Num hadith muito conhecido, o Profeta (p.e.c.e.) diz o seguinte aos muçulmanos: 

"A sabedoria é o bem perdido dos muçulmanos; eles adquirem-na onde quer que a encontrem." 

Ora, o significado deste hadith é que os muçulmanos devem ser pragmáticos e ter a abertura de espírito para se adaptarem, recorrendo aos avanços culturais e científicos alcançados pelos não-muçulmanos, pois estes são igualmente criaturas e servos de Deus, mesmo que não o reconheçam. O "Povo do Livro", ou seja, os cristãos e judeus, são particularmente com-patíveis com os muçulmanos, pois acreditam em Deus e obedecem ao código moral que Ele revelou ao ser humano.

Na ascensão da ciência islâmica, a importância desta mentalidade aberta foi bastante óbvia. John Esposito, da Universidade de Georgetown, um dos mais proeminentes especialistas ocidentais no Islão, fez o seguinte comentário:

«A gênese da civilização islâmica surgiu, na verdade, de um esforço no sentido da cooperação, incorporando a aprendizagem e a sabedoria de muitas culturas e línguas». Tal como aconteceu na administração do governo, os cristãos e os judeus, que haviam sido a trave mestra em termos intelectuais e burocráticos dos impérios persa e bizantino, também integraram este processo, em colaboração com os muçulmanos. Este esforço "ecumênico" tornou-se evidente na Casa de Sabedoria do Califa al-Mamun (reinou entre 813-33) e no Centro de Tradução dirigido por um reconhecido escolástico de nome Hunayn ibn Isaq, um cristão nestoriano. A este período de tradução e assimilação seguiu-se uma fase de criatividade intelectual e artística muçulmana. Os muçulmanos deixaram de ser discípulos e tornaram-se mestres durante o processo da criação da civilização islâmica, dominada pela língua árabe e pela perspectiva islâmica, dando um importante contributo em muitas áreas, tais como: literatura e filosofia, álgebra e geometria, ciência e medicina, arte e arquitetura. Com efeito, os grandes centros culturais de Córdoba, Bagdad, Cairo, Neishabur e Palermo surgiram e ofuscaram a Europa cristã, na época embrenhada na Idade das Trevas. [1]

Segundo Seyyed Hossein Nasr, um dos mais proeminentes acadêmicos muçulmanos da nossa era, a ciência islâmica foi "a primeira ciência a ter uma natureza verdadeiramente internacional".[2]

Ainda assim, os muçulmanos não se limitaram a incorporar outras culturas, tendo igualmente desenvolvido a sua própria cultura. Alguns teóricos desvalorizam este facto e procuram associar o desenvolvimento científico muçulmano apenas à influência da Grécia Antiga e do Extremo Oriente. No entanto, as verdadeiras fontes da ciência islâmica foram a experimentação e as observações dos cientistas muçulmanos. No seu livro O Médio Oriente, o professor Bernard Lewis, um incontestado especialista em história do Médio Oriente, expôs o seguinte:

"A ciência islâmica medieval não se limitou a conseguir a preservação do saber grego, nem à incorporação no seu corpus de elementos provenientes de um Oriente ainda mais remoto e antigo. A herança que a ciência medieval islâmica transmitiu ao mundo moderno foi enormemente enriquecida pelo seu próprio empenho e contribuição. A ciência grega, em termos gerais, tendia a ser um pouco teórica, ao contrário da ciência medieval do Médio Oriente, que era muito mais prática. 

E a verdade é que em áreas como a medicina, a química, a astronomia e a agronomia, o legado dos Clássicos foi clarificado e complementado pelas experiências e estudo da ciência medieval do Médio Oriente”. [1]

Tal como é referido pelos ocidentais, a avançada cultura científica do mundo islâmico abriu caminho ao Renascimento Ocidental. Os cientistas muçulmanos agiam com o conhecimento de que a sua investigação relativamente à criação de Deus era o caminho que poderiam percorrer para O conhecer. 

Esposito salienta que: "Os cientistas muçulmanos, que frequentemente eram também filósofos e místicos, observavam o universo físico de acordo com o contexto e a perspectiva islâmica, enquanto uma manifestação da presença de Deus, o Criador, a fonte, a unidade e a harmonia na natureza." [2]

Com a transferência deste paradigma e a acumulação de conhecimento que, através dele, perpassou para o mundo ocidental, iniciou-se o desenvolvimento do Ocidente.


Obrigado. Wassalam. 

M. Yiossuf Adamgy - 27/11/2014 

[1] - Bernard Lewis, O Médio Oriente, 1998, p. 266. 

[2] - John L. Esposito, Islão: O Caminho da Virtude, s. 54. 

[1] - John L. Esposito, Islão: O Caminho da Virtude, Oxford University Press, 1991, s. 52-53. 

[2] - Citado in Weiss e Green, p. 187.