sexta-feira, julho 04, 2014

O Mérito do jejum, a Oração e a Hospitalidade no Ramadão

Prezado Irmão e Irmã,
Assalamu Alaikum & Jumma Mubarak:
A maior recompensa, o grau mais elevado neste nosso mundo inferior, é a fé à qual devemos a ajuda e o favor da bondade de Allah (Deus). A nós, foi-nos dada a honra de termos sido feitos Seus servos e a Sua Comunidade bem-amada, e de termos recebido um lugar no Alcorão.

Temos agora mais uma bênção: Uma vez a cada ano, chega o mês do Ramadão, no qual "o começo é a misericórdia, o meio é o perdão, e o final é a salvação do Fogo".

Sempre que o Ramadão chegar, na nossa vida, deve-mos apreciá-lo! Ele passa muito rapidamente. A própria vida passa num ápice, assim como acontece com o tempo da oração. Não devemos dizer: "O Ramadão voltará outra vez", porque um Ramadão que tenha passado não voltará novamente. O próximo Ramadão, se voltar, será um Ramadão diferente. É possível que o Ramadão continue a chegar até à Ressurreição, mas este Ramadão pode ser, para alguns de nós, o último. 

Não se deve dizer: "eu perdi esta oração, mas outra virá". Quem sabe se esta oração não é a tua última.

Não se deve dizer: “Quando me aposentar e começar a ganhar a minha pensão, então me dedicarei à adora-ção!" Quem sabe se não farás a tua última viagem antes de chegar a receber a tua pensão… Vestir-te-ão uma mortalha, de modo a preparar-te para a acção imediata. Lamenta-te, copiosamente, pelos teus pecados. Mantém a vigilância pelo teu Senhor, recitando o Alcorão. Rindo, homenageia a Sua presença. Reflecte na tua própria natureza transitória, recordando que Ele é eterno… Reflecte nas tuas próprias debilidades, recordando-te que Ele é o Todo-Poderoso…

Que coisa bela encontrar o Senhor! Como poderei fazer chegar-te o Seu sabor? Pode falar-se aos cegos sobre a cor, aos surdos sobre a música, aos impotentes sobre o deleite da relação sexual, mas é possível realmente fazer com que eles compreendam essas experiências? Se o cego não pode ver, como pode ele descobrir a cor através das palavras? Como se pode mostrar a um olho que não vê as flores multicolores, as árvores, o sol, o céu, a dança dos peixes nos riachos? Ao que não tem o sentido do olfacto, como lhe pode-remos descrever o cheiro da rosa, a fragrância do jacinto, ou o perfume do junquilho? Como poderemos contar ao surdo acerca do chilrear dos pássaros, do murmúrio do fluir das águas, ou das cadências do Nobre Alcorão e as da chamada à Oração?

Se passares algum tempo a sós com o Senhor, um dia levantar-se-á o véu dos teus olhos e verás as cores. Adquirirás o sentido do olfacto e detectarás a fragrância das rosas, dos jacintos, dos junquilhos e dos narcisos. A tua surdez irá desaparecer e ouvirás a constante lem-brança de Allah. Os ouvidos do teu coração abrir-se-ão e deleitar-te-ás com a recitação do Alcorão. Sob os can-tos dos rouxinóis e do murmúrio das águas, ouvirás o som da afirmação da Unidade Divina. São estas as dádivas que serás capaz de obter neste mundo e que um dia terminarão. Quanto às dádivas que obterás no Além, in cha Allah, não têm fim, são eternas…

Quando o Ramadão chega, não consegues ouvir aquela Voz chamando todas as noites: "Ninguém Nos quer, ninguém Nos ama? Nós os amaríamos também!". Este apelo faz-se em todos os entardeceres e em todas as noites. Esta é outra dádiva divina característica do nobre mês do Ramadão. Observa a conver-sa de que desfrutou o Profeta Moisés (a.s.). Moisés, o Kalimullah, aquele que falava com Allah, quando costumava ir ao Monte Sinai (tu tens o teu próprio “Monte Sinai” no momento de romper o jejum, quando podes suster mil e uma conversas). Quando Moisés dizia: "Ó meu Senhor, Tu falas comigo, Tu diriges-Te a mim. Não me mostrarás a beleza do Teu semblan-te? Deixa-me ver a Tua beleza!" Recebeu a resposta do Senhor: Lan taraani: "Não poderás ver-Me". [Alco-rão, 7:143].

"Moisés! Como poderás ver a Minha beleza, quando há setenta mil cortinas entre nós? Serias incapaz de Me ver. Mas na altura da Ressurreição dar-te-ei um mês, como um presente à Comunidade do meu bem-amado Muhammad. Esse mês chamar-se-á Ramadan. E a Comunidade de Muhammad deverá jejuar durante todo esse mês, e Eu Me manifestarei de forma tal na altura de romper o jejum, que não haverá absolutamente nenhum véu entre mim e a Comunidade de Muhammad, enquanto agora, entre Mim e tu, há setenta mil véus".

Numa Tradição Sagrada, o Altíssimo disse: "O jejum é para Mim, e Eu sou quem o recompensa".

A recompensa do jejum é a visão da Beleza Divina. O emblema do Ramadão é o perdão. O jejum deverá fazer-se com sinceridade e com afecto ardente. O nosso abençoado Mestre Muhammad (p.e.c.e.) disse: "Se a minha Comunidade soubesse que êxito e salvação residem no Ramadão, rogariam a Allah que lhes deixasse viver para sempre nesse mês!".

Os três tipos de jejum

Há três tipos de jejum. Que tipo de jejum praticas tu?

Uma forma de jejuar é abster-se de comida, bebida e relações sexuais entre o alvorecer e o pôr-do-sol. É difícil imaginar que alguém se considere um adorador de Allah e não obstante não mantenha sequer esta classe de jejum; alguém assim não é pessoa digna de compaixão.

Um segundo tipo de jejum é aquele que se pode observar por aqueles que não apenas se abstêm dessas coisas desde ao amanhecer até anoitecer, mas que também evitam - de noite assim como de dia - olhar as coisas ilegais, escutar algo negativo, proferir palavras duras, abusivas, maldições ou mentiras, ir onde Allah não permite, e sentir alguma malícia ou inveja nos seus corações. Este tipo de jejum rompe-se não só por co-mer, beber ou ter relações sexuais (durante o dia), mas também por qualquer transgressão respeitante a qual-quer um dos temas enumerados. Este jejum é rompido inclusivamente por um olhar ilegal …. 

Há ainda um terceiro tipo de jejum que também o observam os sete membros do corpo. Mas este jejum é quebrado se qualquer outro, que não Allah, entre no coração daqueles que o mantêm. Àqueles que mantêm este jejum, chamam-se de a “Elite da Elite". O valor destes exaltados seres só é conhecido por Allah Mesmo. 

Esta é a classe de seres que querem a Allah e não lhes importa nada o Paraíso. Enquanto àqueles que deixam de lado uma centena de vezes o cumprimento dos deveres básicos do Islão, a Oração, a Peregrinação, o Jejum e o pagamento da Esmola devida, e que raras vezes se inclinam em adoração entre a Congregação de uma Sexta-Feira e a seguinte, ou entre a de um Dia de Festa (Dia de Eid) e a do seguinte, não têm qualquer direito de se considerarem amantes de Allah.

Observa a recompensa daqueles que jejuam! Quando chegar o dia da Ressurreição, Allah admitirá, secreta-mente, no seu Paraíso, um grupo de crentes jejuadores. Quando estiverem parados em frente ao Paraíso, Khazir far-lhes-á estas questões: “Não se apresentaram no sítio da Ressurreição? Não estiveram no Juízo Final? Não viram a violência e o horror do Poente?" Quando respon-derem: "Não, Allah absteve-se graciosamente de nos mostrar essas coisas"; ele continuará, perguntando: "Como, por que meios obtiveram esse nível?" E eles responderão: "No mundo inferior utilizámos nosso tempo para adorar Allah em segredo, agora, secretamente também, Ele trouxe-nos para o Seu Paraíso".

Todos os atos de adoração podem ser realizados em segredo. Quando qualquer acto de adoração que deve-ria ser realizado secretamente é trazido à luz, é tingido com ostentação, que é hipocrisia. No entanto, no jejum, não há espaço para a ostentação hipócrita. O jejum, pela sua natureza, é uma forma de adoração entre Allah e o Seu servo. O jejum é um escudo contra o fogo do Inferno. O fogo não pode tocar quem observa o jejum. 

Numa de suas nobres tradições, o nosso Mestre Muhammad (p.e.c.e.), a Glória do Universo, disse: "À minha Comunidade foram dadas cinco grandes graças divinas, que não foram dadas a qualquer outra Comunidade, que não foram obtidas por nenhuma outra Comunidade. A primeira graça destas cinco é esta: na véspera do primeiro dia do Ramadão, o Mais Misericordioso de todos os misericordiosos, observa com compaixão aqueles que, da minha Comunidade, estão jejuando. E jamais torna a expor ao tormento aqueles que assim caíram nesse misericordioso olhar. A segunda graça concedida é esta: Ele ordena aos nobres anjos que orem, pedindo o perdão em nome da Comunidade de Muhammad. A terceira graça concedida é que o cheiro da boca de um crente que jejua é mais caro a Allah que o aroma de musk. A quarta graça é a seguinte: No Paraíso é dada a ordem: 'Embeleza-te e adorna-te para a Comunidade de Muhammad'. Porque Allah disse: 'Dá aos Meus servos que em Mim creem, as boas novas de que são Meus amigos'

A quinta graça divina é que Ele perdoa e absolve toda a Comunidade de Muhammad que mantém o jejum".

Queira Allah conceder a Sua Misericórdia sobre os nossos corações e facilitar-nos o jejum. Ámen.■

Obrigado, boas leituras. Wassalam.
M. Yiossuf Adamgy - 04/07/2014.

quinta-feira, julho 03, 2014

A L M A D I N A A IMPORTÂNCIA DO ZAKAAT

Por: Sheikh Aminuddin Mohamad - 30.06.2014

A riqueza não é apenas uma importante necessidade do Ser Humano, mas nos dias que correm tornou-se em algo inseparável à sua vida aliás, hoje em dia a honra e o prestígio do Ser Humano são medidos em função da riqueza que cada um possui.

Se o objectivo de ganhar riqueza for somente para a satisfação das necessidades do dia-a-dia do indivíduo, é algo aceitável e louvável, mas se tiver por intenção sustentar o orgulho e a ostentação, ou explorar os pobres e os fracos, então essa riqueza pode ser um motivo para o mal e estragos na terra. As divergências, as más relações entre pessoas, amigos e famílias também são geralmente causadas pela ganância excessiva.

Não é aceitável no Isslam que a aquisição da riqueza seja o objectivo e meta da vida, mas também não a considera indesejável ou ilícita, pois incentiva que sejamos gratos pela riqueza que Deus nos dá, e ensina-nos a lutar para nos salvarmos, e lutar contra a pobreza. 

O Profeta Muhammad (S.A.W.) nas suas orações dizia: “Ó meu Deus! Peço refúgio em Ti contra a pobreza e a descrença”.

E no Al-Qur’án, Cap. 93, Vers. 8, quando Deus fala acerca do Profeta, diz:
E Ele te encontrou pobre e te enriqueceu”.

O Isslam não aprova que os seus seguidores sejam gananciosos, nutram um amor excessivo pela acumulação de riquezas, e vivam só para isso. Por isso, da mesma maneira que Deus instituiu o jejum para os povos anteriores, instituiu igualmente o Zakaat (taxa obrigatória) para eles.

O Salaat (oração ritual obrigatória, cinco vezes ao dia) aproxima o servo do seu Criador e cria nele a noção de submissão e humildade.

O Jejum cria piedade na pessoa e o Zakaat reduz no seu coração o amor à riqueza, e ensina que ninguém é dono exclusivo de toda a riqueza que possui, pois outros também têm direito a uma certa porção nessa riqueza, pelo que se deve cumprir com esse direito pagando anualmente o Zakaat que é o terceiro pilar do Isslam. E quem rejeitar esta imposição incorre na descrença issto é, deixa de ser muçulmano. Foi por isso que no tempo do Profeta Muhammad (S.A.W.) e também no tempo dos khalifas que se lhe seguiram, havia uma grande preocupação na organização para a colecta e posterior distribuição do Zakaat.

A instituição do Zakaat é caracterizada pelo princípio de solidariedade social. Zakaat na realidade significa tirar anualmente da sua riqueza uma quantia fixa, e aplicá-la em locais definidos pelo Isslam.

Porém, não é de observância obrigatória a todos. É-o sim, a todos os muçulmanos que detenham uma quantia fixada pelo Isslam.

O Zakaat tem muitos benefícios, de entre eles:

- Reduz a ganância e o amor excessivo à riqueza

- Adverte aos ricos, que decorrido um período específico, uma quadragésima parte 

da sua riqueza deixa de lhe pertencer.

- Cria solidariedade e simpatia nos corações dos ricos relativamente aos pobres e 

necessitados.

- Cria e desenvolve amor e solidariedade na sociedade, eliminando a preocupação

dos pobres e necessitados.

O Profeta Muhammad (S.A.W.) diz que: “A quem Deus deu riqueza, mas ele não paga o Zakaat, essa sua riqueza será transformada em cobra venenosa que lhe irá morder no Outro Mundo, e lhe dirá: “Eu sou a tua riqueza, o teu tesouro”.

O Isslam não só instituiu o Zakaat, mas de forma clara também determinou no Al-Qur’án, que são oito as categorias de pessoas elegíveis ao seu recebimento.

Infelizmente hoje em dia, muita gente não se preocupa em aplicar o seu Zakaat de forma correcta nessas oito categorias de pessoas, e nem se preocupa em organizar um sistema de colecta e distribuição pelos pobres e necessitados.

Há milhões de meticais em Zakaat, que os muçulmanos ricos pagam anualmente em Moçambique, mas por não haver um sistema devidamente organizado, os seus benefícios não são notórios na sociedade. Por isso muitos muçulmanos no País continuam a viver na miséria. 

Devemos ajudar os merecedores de Zakaat, de tal forma que eles se tornem auto-suficientes e engrossem a lista dos pagantes de Zakaat, reduzindo assim, a lista dos beneficiários.

Para tal, devemo-nos preocupar com os deficientes e os necessitados na sociedade, e proporcionar-lhes tecto em centros e acolhimento.

Nos dias que correm há gente sofrendo de doenças graves, e porque o tratamento médico é bastante caro, deve-se pensar em ajudá-los a partir do fundo de Zakaat. Deve-se ajudar os pobres na protecção e preservação da sua fé e dignidade, em particular fora das cidades, nas províncias.

Sendo o Ramadhaan o mês em que os muçulmanos geralmente costumam pagar o seu Zakaat, achei oportuno explicar estes princípios importantes relacionados ao Zakaat.

A todos os muçulmanos do Mundo em geral, e aos de Moçambique em particular, desejo um Ramadhaan proveitoso, com muita saúde.

Lembrar aos meus irmãos muçulmanos, que o Ramadhaan só terá significado se a sua mensagem de reforma for sentida no comportamento do indivíduo e na sociedade.