quarta-feira, julho 22, 2015

Tafsir Surat Al-Falaq

Surat 113
Surata da Alvorada – Surat Al Falaq

بِسۡمِ ٱللهِ ٱلرَّحۡمَـٰنِ ٱلرَّحِيمِ
قُلۡ أَعُوذُ بِرَبِّ ٱلۡفَلَقِ (١) مِن شَرِّ مَا خَلَقَ (٢) وَمِن شَرِّ غَاسِقٍ إِذَا وَقَبَ (٣) وَمِن شَرِّ ٱلنَّفَّـٰثَـٰتِ فِى ٱلۡعُقَدِ (٤) وَمِن شَرِّ حَاسِدٍ إِذَا حَسَدَ (٥)

Em nome de Allah, O Misericordioso, O Misericordiador
(1)   Dize: “Refugio-me nO Senhor da Alvorada,
(2)   “Contra o mal daquilo que Ele criou,
(3)   “E contra o mal da noite quando entenebrece,
(4)   “E contra o mal das sopradoras dos nós,
(5)   “E contra o mal do invejoso, quando inveja”.

Esta surah, junto com a seguinte, “Surata dos Homens”, contem uma diretiva de Allah, primeiramente para Seu profeta e depois para os crentes em geral, para que busquem refúgio nEle e busquem Sua proteção diante de qualquer fonte de medo, oculta ou visível, conhecida ou desconhecida. É como se Allah, O Exaltado, estivesse desenrolando Seu mundo de zelo e abraçando os crentes em Sua proteção, e estivesse gentil e afeiçoadamente solicitando que recorram à Seus cuidados, onde eles se sentirão seguros e em paz: “Eu sei que vocês estão desamparados e rodeados de inimigos e medos... Venha aqui onde há segurança, contentamento e paz...” Sendo assim as duas surahs começam com “Dize: Refugio-me nO Senhor da Alvorada,” e “Dize: Refugio-me nO Senhor dos Homens”.
Foram transmitidos muitos relatos sobre a revelação e popularidade desta surah e todos eles se encaixam perfeitamente na interpretação acima, ou seja, de Allah Misericordioso desenrolar Seu zelo e oferecer refúgio a Seus servos fiéis. O próprio Mensageiro de Allah amava esta surah profundamente, como está claro em suas tradições.
De acordo com ‘Uqba ibn ‘Amir, companheiro do Profeta, o Mensageiro de Allah uma vez disse: “Você não ouviram os versículos únicos que foram revelados na noite passada, ‘Dize: Refugio-me nO Senhor da Alvorada,’ e ‘Dize: Refugio-me nO Senhor dos Homens’”. (Transmitido por Malik, Muslim, At-Tirmidhi, Abu Dawood e An-Nissai).
Jabir, companheiro do Profeta, disse: “O Mensageiro de Allah me disse uma vez: ‘Jabir, recite!’ e eu perguntei ‘O que devo recitar?’ Ele respondeu: ‘Dize: Refugio-me nO Senhor da Alvorada,’ e ‘Dize: Refugio-me nO Senhor dos Homens’. Então eu recitei e ele comentou, ‘Recite-as (tanto quanto puder) pois você jamais recitará algo equivalente a elas.’” (Transmitido por An-Nissai).
Tharr ibn Hubaish disse que perguntou a Ubay ibn Ka’ab, companheiro do Profeta, sobre Al-Um’awwathatain (como as duas surahs são chamadas) dizendo, “Abu al-Munthir, seu irmão, Ibn Masoud diz tal e tal coisa (Por algum tempo Ibn Masoud tinha a falsa impressão de que essas duas surahs não eram parte do Quran, mas depois ele admitiu seu erro). O que você acha disso?” Ele respondeu “Eu perguntei ao Mensageiro de Allah sobre isso e ele me disse que foi instruído a dizer o contexto das surahs e ele seguiu essa instrução. Nós com certeza dizemos o mesmo que o Mensageiro de Allah disse.” (Transmitido por Al-Bukhari). Todos esses relatos despejam muita luz sobre o fator oculto da bondade e amor de Allah para o qual esta surah chama atenção.
 ...Allah, O Exaltado, refere-se a Si mesmo nesta surah com Seu Atributo, “O Senhor da Alvorada”. O termo árabe “falaq” significa simplesmente “alvorada” e ainda assim pode ter o significado de “o fenômeno inteiro da criação” em referência a todas as coisas às quais foi dada a vida. Esta interpretação é apoiada pelo que Allah diz na surah 6, “O Gado”: “Por certo, Allah é Quem faz fender (faliq) os grãos e os caroços (para brotarem). Faz sair o vivo do morto e faz sair o morto do vivo. (...) Ele é Quem rompe a manhã. E faz da noite repouso, e do sol e da lua cômputo do tempo.” (6:95-96) Se o significado “alvorada” é atribuído, então se busca refúgio, contra o que não é visto e contra o que é misterioso, no Senhor da Alvorada, Quem concede segurança conforme acende a luz do dia. Se, entretanto, “faliq” recebe o significado de “criação”, então se busca refúgio, contra o mal de alguma criatura, no Senhor da criação. Em ambos os casos, a harmonia com o tema da surah é mantida.
“Contra o mal daquilo que Ele criou.” A frase não contem exceções ou especificações. O contato mútuo de várias criaturas entre si, além de ser, sem dúvida, vantajoso, traz algum mal. O refúgio em Allah está sendo buscado pelo crente para encorajar a bondade que tal contato produza. Pois Ele que criou tais criaturas é certamente capaz de prover a circunstâncias que as levam em um caminho no qual prevalece apenas o lado bom de seus contatos.
“Contra o mal da noite (ghasiq), quando entenebrece (waqab)”. Do ponto de vista linguístico, “ghasiq” significa “derramar substancialmente” e “waqab” é o nome dado a um pequeno buraco na montanha através do qual a água emana; “waqab” é o verbo denotando tal ação. O que provavelmente significa aqui é a noite, com tudo que a acompanha quando ela rapidamente encobre o mundo. Isso é horripilante por si só; adicionalmente, a noite enche os corações com a possibilidade de um desconforto desconhecido e inesperado causado por um animal feroz, por um vilão inescrupuloso, um inimigo eminente ou o som de uma criatura venenosa, assim como ansiedades e preocupações (que envolvem depressão e inquietação) e pensamentos ruins e paixões que podem ressurgir na escuridão durante o estado de solidão na noite. É contra esse mal que o crente precisa da proteção de Allah.
“E contra o mal das sopradoras dos nós”, refere-se a vários tipos de magia, seja enganando os sentidos físicos do homem ou influenciando o poder de escolha das pessoas e projetando ideias em suas emoções e mentes. (Este versículo se refere principalmente a uma forma de bruxaria feita por mulheres na Arábia na época, que amarravam nós em cordas e sopravam neles com uma imprecação).
A magia é a produção de ilusões, sujeita à vontade do mágico, e não se trata de novos tipos de fatos nem alteram a natureza das coisas. É assim que o Quran descreve a magia quando relata a história de Moisés na surah 20, “Ta Ha”: “Disseram (os mágicos do Faraó): ‘Ó Moisés! Lançarás tua vara, ou seremos os primeiros que lançaremos as nossas?’. Disse: ‘Mas, lançai vós’. Então, eis suas cordas e suas varas que, por magia, lhe pareciam colear. E em seu âmago, Moisés teve medo. Dissemos: ‘Não temas! Por certo, tu, tu és o superior; E lança o que há em tua destra; ela engolirá o que engenharam. O que engenharam é apenas insídia de mágico. E o mágico não é bem aventurado aonde quer que chegue.’” (20:65-69). Desta forma, suas cordas e cajados não se transformaram realmente em serpentes, mas assim parecia aos espectadores, incluindo Moisés, ao ponto de ele se sentir inquieto. Ele foi refreado (quando ao medo) pela transformação de seu cajado em uma cobra de verdade, pelo próprio feito de Allah, para destruir as falsas serpentes.
Esta é a natureza da magia conforme nós devemos concebê-la; que através dela a pessoa é capaz de influencia a mente de outras pessoas, fazendo-as pensar e agir de acordo com sua sugestão. Nós nos impedimos de ir adiante com isso. De fato este é um ato mau contra o qual precisa-se buscar a proteção de Allah.
Alguns relatos não confirmados, alguns dos quais foram citados por fontes autênticas, alegam que Labid ibn ‘Assam, um judeu, hipnotizou o Profeta durante muitos dias ou meses em Medina, de forma que, conforme alguns relata, ele sentia que estava tendo relações conjugais com suas esposas quando ele não estava; ou, de acordo com outros, pensava que havia feito algo quando ele não havia feito realmente. Esta surah e a próxima, “Os Homens”, de acordo com esses relatos, foram reveladas para libertá-lo desse estado ao recitá-las.
Mas com certeza essas histórias contradizem a idéia de infalibilidade do Profeta em palavras e em ação e não concordam com a crença de que todas as suas ações representam a visão Islâmica do modo de vida para todos os Muçulmanos. Acima de tudo, elas estão em conflito com a negação enfática do Quran de que ele (o Profeta) era influenciado por qualquer tipo magia, conforme afirmado por alguns inimigos do Islam. Por isso, nós dispensamos tais histórias, com base em que o Quran é o árbitro final, e que relatos narrados por uma só pessoa são permitidos apenas em assuntos relativos à fé. Essas histórias não têm o pano de fundo apropriado e tal pano de fundo é qualificação essencial para que um relato seja classificado como autêntico. O que mais enfraquece essas histórias, entretanto, é que as duas surahs foram reveladas em Makka, enquanto que essas histórias relatam que o incidente ocorreu em Medina!
“E contra o mal do invejoso quando inveja”. A inveja é uma má ação rancorosa que uma pessoa sente por outra que recebeu alguns favores de Allah. Ela também é acompanhada de um desejo muito forte de anulação desses favores. Pode haver algum dano à pessoa invejada vindo desse rancor infundado. Agora, esse dano pode ou ser resultado de alguma ação física por parte do invejoso ou pode resultar apenas de sentimentos suprimidos.
Nós devemos tentar não nos sentirmos inquietos de entender que existe um número incontável de mistérios inexplicáveis na vida. Há muitos fenômenos para os quais não há explicação. A telepatia e a hipnose são exemplos de tais fenômenos.
Muito pouco se sabe sobre os mistérios da inveja e o pouco que se sabe geralmente tem sido descoberto ao acaso ou por coincidência. Em todo caso, há na inveja um mal contra o qual a proteção de Allah deve ser buscada. Pois Ele, O Mais Generoso, Mais Misericordioso e O Único que sabe tudo direcionou Seu Mensageiros e seus seguidores a buscar refúgio nEle contra este mal. É unânime entre as escolas de jurisprudência Islâmica que Allah sempre protegerá Seus servos de tais males se eles buscarem Sua proteção conforme Ele orientou.
Al-Bukhari relatou que Aisha disse que o Profeta soprava nas duas mãos quando ia se deitar para dormir e recitava “Dize: Refugio-me nO Senhor da Alvorada,” e “Dize: Refugio-me nO Senhor dos Homens”, e começando pela cabeça, rosto e parte da frente do corpo, ele passava as mãos no restante do corpo. Ele fazia isso três vezes (Também foi transmitido por outros grandes tradicionalistas).

Por: Sayyid Qutb / Translation: M. A. Salahi e A. A. Shamis / Tradução: Ninevah Barreiros

Fonte:http://www.academiaislamica.org.br/artigo/57/Tafsir+Surat+Al-Falaq

Tafsir Surat Al-Ikhlass

Surat 112
Surat Al-Ikhlass – Surata do Monoteísmo Puro
بِسْمِ ٱللَّهِ ٱلرَّحْمَـٰنِ ٱلرَّحِيمِ
قُلْ هُوَ ٱللَّهُ أَحَدٌ ﴿١﴾ ٱللَّهُ ٱلصَّمَدُ ﴿٢﴾ لَمْ يَلِدْ وَلَمْ يُولَدْ ﴿٣﴾ وَلَمْ يَكُن لَّهُۥ كُفُوًاأَحَدٌۢ ﴿٤﴾

Em nome de Allah, O Misericordioso, O Misericordiador
(1)   Dize: “Ele é Allah, Único.
(2)   “Allah é O Solicitado”
(3)   “Não gerou e não foi gerado”
(4)   “E não há ninguém igual a Ele”

Esta pequena surah é “equivalente a um terço do Qur’an”. Al-Bukhari, grande tradicionalista, foi informado de alguém que tinha escutado um homem recitar, “Dize: Ele é Allah, Único...” repetidamente, e foi até o Profeta na manhã seguinte e lhe contou com desaprovação sobre o que tinha escutado. O Profeta s.a.w. comentou, “Eu juro por Aquele em cujas mãos está minha alma que ela (a surah) é equivalente a um terço do Qur’an”.
E, com certeza, não há nenhuma surpresa nisso. Pois a unicidades de Allah a qual o Mensageiro foi ordenado a declarar para todo o mundo é um crença que deve estar enraizada em nós, uma explicação da existência humana e uma forma de vida por si só. A partir desta posição, pode-se dizer que esta surah abarca nos termos mais claros as principais e mais fundamentais ideias da grande verdade do Islam.
O termo árabe “Ahad” usado aqui como referência à unicidade de Allah é muito mais preciso do que o termo mais frequentemente utilizado “Wahid” que significa “um”. “Ahad” tem as conotações adicionais de unicidade absoluta e contínua e de ausência de iguais.
A unicidade de Allah é tal que não há realidade nem existência verdadeira ou permanente exceto a dEle. Além do mais, qualquer outro ser adquire qualquer poder que venha a ter do poder efetivo de Allah que rege o mundo. Absolutamente nada mais planeja qualquer coisa para o mundo nem decide nada nele.
Essa é a crença que deve estar consolida em nós. Ela é a explicação completa da existência humana. Uma vez que essa crença se torna clara e essa explicação se estabelece na mente humana, o coração se purifica de todas as falsidades e impurezas e fica livre de todas as amarras, exceto daquelas do único Ser que sozinho possui a realidade da existência e que é o púnico poder efetivo nesse mundo. O coração humano então se liberta do vínculo com qualquer coisa nesse mundo sem atribuir existência a nada mais. De fato, por que o coração do homem deveria aspirar a algo que não possui realidade permanente nem tem qualquer poder independente para fazer funcionar esse mundo, quando o ser real é aquele do Ser Divino e o poder verdadeiramente efetivo é a Vontade Divina?
Quando o coração humano se liberta de acreditar em qualquer coisa além da Verdade, a Verdade de Allah, defende essa verdade perpétua, ele se liberta de todas as correntes, das falsas ideias, dos maus desejos, dos medos dos poderes terrenos e das confusões que lhe desviaram nessa vida. Pois quando o coração humano encontra Allah,, ele se beneficia e não perde nada. Então por que ele deveria desejar qualquer coisa que não a satisfação de Allah? E por que ele deveria temer qualquer coisa, se não há nenhum poder absolutamente efetivo senão o de Allah?
Quando uma concepção que não vê nada nesse mundo além da realidade de Allah se estabelece na mente e no coração humano, ela é acompanhada pela visão dessa realidade genuína e permanente em cada ser que se originou dela. Este é o estágio no qual o coração sente que a mão de Allah está em todas as coisas e além do qual ele não sente nada que não seja Allah no universo inteiro. Não haveria nenhuma outra realidade para ser sentida.
Ela também é acompanhada pela atribuição de todo evento e todo movimento nesta vida e neste universo à primeira e única causa, que é Allah, que causa outras causas e influencia sua efetividade. O Qur’an toma muito cuidade para estabelecer essa verdade no conceito de fé do Muçulmano. Ele sempre afasta causas aparentes e associa os eventos diretamente a Allah. Ele diz: “E tu não atiraste areia, quando a atiraste, mas foi Allah Quem a atirou.” (Cap 8 vs 17). “E o socorro não é senão da parte de Allah” (cap 8 vs 10 e cap 3 vs 126). “E não o quereis, a não ser que Allah o queira” (cap 76 vs 30).
Desconsiderando todas as causas aparentes e conectando os assuntos diretamente com a vontade de Allah, um sentimento de alívio gentilmente penetra o coração humano para que ele conheça seu único Salvador, à quem ele pode pedir o que quiser e por quem ele é salvo de tudo que teme. Ele não mais se impressiona pelas influências, razões a causas aparentes que não carregam nenhuma realidade nem existência verdadeira em si.
Estes são os passos que alguns místicos tentaram seguir, mas desviaram-se para muito longe deles. Pois o Islam quer que as pessoas sigam esta rota se esforçando com as realidades da vida com todas as suas condições e qualidades variadas, e que levem uma vida humana na qual exercitem seu papel de vice gerencia de Allah nessa terra com todos os recursos e obrigações que possuem.
A partir desse conceito de unicidade de Allah origina-se o caminho perfeito da vida baseada na explicação da existência humana e quaisquer perspectivas, sentimentos e características que ela estimule. Tal caminho é baseado na adoração de Allah somente, que é o único ser real e permanente, e cuja vontade é o único poder efetivo no mundo. É o caminho que faz seus seguidores voltarem-se apenas para Allah e que busquem refúgio nEle em tempos de necessidade e medo, felicidade e desconforto, luxo e dificuldade. Pois de que serve voltar-se para um ser que não existe e que não tem poder? Esse caminho tem somente Allah como provedor. DEle recebemos nossas crenças, perspectivas, valores, critérios, legislações, instituições, sistemas, ética e tradições. Tais qualidades devem ser obtidas Ser Único e Permanente, e Única Verdade.
É um caminho para se realizar atividades, trabalhar e se sacrificar absolutamente apenas por Allah, e para se desejar estar mais próximo da verdade. Esse caminho também fortalece as ligações de amor, irmandade, compaixão mútua e receptividade entre todos os seres e corações. Pois quando falamos de libertação da completa submissão a esses sentimentos, de forma alguma queremos sugerir que as pessoas devam se desprezar ou se odiar ou de escapar de praticá-los. Eles todos surgem da mão criadora de Allah e eles todos devem sua existência a Ele. Eles são dádivas do Amado para nós, e por isso, merecem nosso amor.
É um caminho sublime e elevado, para cujos padrões a terra é muito pequena, a vida muito curta e os prazeres e luxos sem valor; libertar-se dos obstáculos e falsidades é um desejo supremo e grande objetivo para a humanidade. Mas no Islam, entretanto, essa liberação não significa seclusão nem negligência, nem significa contentar-se ou escapar da vida, mas simplesmente significa um empenho contínuo e sincero e um esforço perpétuo para levar a humanidade a submeter tudo na vida humana somente à Allah. Consequentemente, como dissemos antes, é o cumprimento do papel do homem como vice-gerente de Allah na terra com todas as suas obrigações.
A libertação da alma humana através do sacerdócio e espiritualismo extremo é fácil de alcançar, mas o Islam não aprova isso, porque, de acordo com o Islam, a vice gerência do homem na terra e a liderança da humanidade são parte de seu caminho Divino para a libertação. Esta é uma forma mais difícil que garante e assegura a humanidade ao homem e alcança a vitória da vontade Divina dentro de seu ser. Esta é a libertação real, o voo da alma humana para sua fonte Divina e a conquista de sua verdade sublime dentro do escopo que seu sábio Criador escolheu para ele.

Por tudo isso, a primeira convocação do Islam foi para estabelecer a unicidade de Allah nos corações e nas mentes dos homens. Pois dessa forma ela é uma crença da alma, do coração e da mente humana, uma explicação completa da existência humana, uma forma de vida e não uma palavra meramente dita nem uma crença inerte. É a vida por inteiro e religião em sua totalidade e quaisquer resultados dela não são mais do que frutos naturais de seu estabelecimento nos corações e mentes das pessoas.
Todos os desvios que afligiram os seguidores das religiões Divinas anteriores, e que corromperam suas crenças, ideias e vidas, surgiram, em primeiro lugar, da deterioração do conceito de unicidade absoluta de Deus em suas mentes. Mas o que distingue este conceito na fé Islâmica é seu profundo enraizamento na vida humana inteira e a construção desta em suas bases e o considerá-lo a fundação para o sistema real e prático da vida humana com seus efeitos aparecendo claramente na legislação e na crença.

Ele é Allah, o único Deus”, significa que Ele é o Eterno e o Absoluto” e que “Ele não gerou nem foi gerado” e que “ninguém é comparável a Ele”. Mas o Qur’an afirma tudo isso em detalhe para mais ênfase e esclarecimento.
O Eterno, o Absoluto” significa o Senhor a quem se suplica e sem a permissão do qual nada é decidido. Allah é o único Senhor. Ele é Único em Sua Divindade e todos os outros seres não são senão Seus servos. Para Ele e somente para Ele são dirigidas todas as súplicas. Ele e somente Ele decide todas as coisas independentemente. Ninguém decide com Ele. E como Ele é o único Deus, esta qualidade já é dEle.
Não gerou nem foi gerado” significa que a realidade de Allah é profundamente enraizada, permanente e perpétua. Nenhuma circunstância mutável jamais a afeta. Sua qualidade é perfeição absoluta em todos os tempos. Nascer é descender e multiplicar, e implica em um ser desenvolvido após ser incompleto ou nada. Requer matrimônio que é baseado em semelhança do ser e da estrutura. Tudo isso é completamente impossível no caso de Allah. Então a qualidade de “Um” inclui renúncia de pai e de filho.
Ninguém é comparável a Ele” significa que ninguém se parece com Ele em nada nem é equivalente a Ele em nenhum aspecto, seja na realidade do ser ou no fato de que Ele é o único poder efetivo, ou em qualquer de Suas qualidades e atributos. Isso está subentendido na afirmação de Ele ser “Um”, feita no primeiro versículo, mas é repetida então para confirmar e explicar o fato. É uma renúncia da crença em dois deuses que implica que Allah é o Deus do Bem enquanto o mal tem um deus que – conforme a crença – em oposição a Allah, destrói suas boas obras e propaga o mal na terra. A crença em dois deuses mais conhecida é a dos Persas, que acreditavam eram um deus da luz e em um deus das trevas. Esta crença era conhecida pelas pessoas no sul da Península Arábica, onde os Persas uma vez tiveram seu estado e exerceram soberania.

Esta surah é um estabelecimento e confirmação firmes da crença Islâmica na Unicidade de Allah assim como a sura 109, “Os Incrédulos”, uma denúncia de qualquer semelhança ou ponto de encontro entre a unicidade de Allah e a crença antropomórfica. Cada surah lida com a unicidade de Allah a partir de um ângulo diferente. O Profeta s.a.w. constumava iniciar seu dia recitando essas duas surahs na oração da manhã (fajr). Isso, com certeza, era significativo.

Por: Sayyid Qutb / Translation: M. A. Salahi e A. A. Shamis / Tradução: Ninevah Barreiros

Fonte: http://www.academiaislamica.org.br/artigo/56/Tafsir+Surat+Al-Ikhlass