sexta-feira, setembro 13, 2013

"Uma bela carta" - de Hazrat Aisha (r.a.), durante o reinando do Califa Muawiyya ...

Aisha durante o reinado do Califa Muawiyya

Muawiyya foi o sucessor do Imam Ali (r.a.), assassinado em momentos difíceis da história do Islão. A nossa intenção não é evocar aqui todas as intrigas que acompanharam a tomada de poder pelo califa Muawiyya e as suas desastrosas consequências para o futuro da comunidade muçulmana. Trata-se sim de insistir no papel e análise de Aisha (r.a.) ante a decadência do sistema político criado pelo Profeta (s.a.w.) e seus sucessores e ante o nascimento de um desvio do poder defendido por Muawiyya, que deu inicio ao primeiro sistema dinástico dos Omíadas.

Aisha (r.a.) não tardou em expressar o seu desacordo e a sua cólera face ao abuso de poder de Muawiyya. Muitos relatos históricos dão conta das suas propostas e críticas, particularmente, na morte do seu irmão, Mohammed Ibn Abi Bakr, governador do Egipto durante o reinado do Imam Ali (r.a.), assassinado pelos aliados de Muawiyya.[1] Por outro lado, criticou a recusa do novo califa e do seu governador Marwan Ibn al-Hakam, em enterrar al-Hassan perto do seu avô, o Profeta (s.a.w.). Também não mostrou medo ao condenar Muawiyya por ter mandado assassinar Hajar ibn Adi e os seus amigos, quando o visitavam. Publicamente, Aisha (r.a.) disse-lhe: “Ouve Muawiyya, não tens medo de Deus ao assassinar Hajar e os seus amigos?” [2]

Muawiyya sempre tentou, inutilmente, aproximar-se de Aisha (r.a.) para lhe pedir a sua opinião e o seu conselho. Enviava-lhe, com frequência, somas elevadas em dinheiro, que ela distribuía de imediato pelos mais necessitados. Um dia em que o Califa lhe escreveu a pedir conselhos, Aisha (r.a.) respondeu, clarificando o que pensava dele:

“As salam alaykum. Ouvi o Profeta (s.a.w.) dizer o seguinte: “Aquele que procura satisfazer a Deus decepcionando as pessoas, Deus o protegerá das pessoas. No entanto, aquele que busca satisfazer as pessoas decepcionando Deus, Deus deixá-lo-á como prisioneiro das pessoas. Salam”. [3]

Para instaurar uma espécie de monarquia hereditária durante o seu reino, Muawiyya aboliu o califado, primeiro sistema político da cidade muçulmana no qual, o califa é eleito depois de ser consultada a comunidade (shura). Desta maneira, lançou uma campanha, através de todos os territórios muçulmanos, favorecendo um juramento de fidelidade política para o seu filho Zayd.

Marwan ibn al-Hakam, filho do inimigo mais hostil do Mensageiro (s.a.w.), converteu-se num fervoroso apoiante da sucessão do filho de Muawiyya e pronunciou um discurso no qual justificava esta nova visão de poder. Isto provocou a ira de Abd ar-Rahman Ibn Abi Bakr, irmão de Aisha (r.a.), que respondeu:

“É mais parecido com uma ditadura hereditária como a de César. Agora vocês prestam juramentos de fidelidade aos vossos filhos!”[4]

Marwan, muito lastimoso com esta resposta, espalhou falsos rumores sobre Abd ar-Rahman, provocando um verdadeiro conflito no seio da comunidade. [5]

Aisha (r.a.) protestou violentamente contra o que dizia Marwan e defendeu o seu irmão neste contencioso político, optando pela shura (princípio da consulta). Ao recusar a designação de um sucessor entre família, o clã ou os amigos do califa, o Profeta (s.a.w.) decidiu um futuro e uma orientação específica para o conjunto dos muçulmanos. A mensagem que transmitiu sugeria o direito da comunidade eleger a pessoa mais qualificada e competente, sem ter em conta o sangue, a raça ou a etnia.

Aisha (r.a.) opôs-se a esta nova visão do poder no Islão que se converteria numa profunda chaga na história da civilização muçulmana: a monarquia hereditária despótica, verdadeira perversão do poder político que evoluirá até um verdadeiro despotismo arcaico (mulk).

Os leitores interessados em saberem mais sobre a nobre biografia de Hazrat Aisha (r.a.), poderão ler, em livro, a vida de "Aisha (r.a., Esposa do Profeta (s.a.w.)", de autoria de Asma Manrabet. Este livro encontra-se traduzido em português, e foi editado pela Al Furqán. A Sinopse completa sobre este livro pode ser vista neste link:

Wassalam.
M. Yiossuf Adamgy
(Director de Al Furqán)

[1] - Said Ramadan al Bouti, Aisha um al-muminin, al Farabi, Damas,1998, p. 66.

[2] -Ver a este respeito a interessante análise política desta época no livro de Nadia Yassine, Todas as velas para fora, Alter Editions, Paris. 2002.

[3] - Said Ramadan al-Bouti, o. cit. p. 132.

[4] - A resposta às rectificações feitas por Aisha (r.a.) aos companheiros encontra-se na obra do Imam Az-Zarkashi, Edition al-Khangi, 2001, Cairo, p. 126.

[5] - Sobre esta questão, ver o debate dos ulemas. Ibid. P. 126

quinta-feira, setembro 12, 2013

TEMA DA SEMANA: A LÍNGUA – Terceira e Última Parte.

Assalamo Aleikum Warahmatulah Wabarakatuhu (Com a Paz, a Misericórdia e as Bênçãos de Deus) - Bismilahir Rahmani Rahim (Em nome de Deus, o Beneficente e Misericordioso) - JUMA MUBARAK

Outra forma de difamar um crente, é chamá-lo à atenção em frente de outras pessoas. É uma humilhação que alguns sentem o prazer de cometer. Se vermos alguém a praticar algo que consideramos errado, deveremos chama-lo à parte e conversar com ele. Nunca o devemos fazer à frente de todos e ainda em voz alta, para dar ênfase ao “nosso saber”. A melhor maneira é pedir ao responsável da Mesquita, ou alguém mais erudito para falar com ele. Lembremo-nos de que com a globalização, estamos juntos nas orações com irmãos de todos os quadrantes. Cada um aprendeu nos seus países, de acordo com as 4 escolas sunitas. O desconhecimento da existência dessas pequenas diferenças, podem causar estranheza e discussões desnecessárias. Já temos assistido a discussões violentas de duas pessoas, cada uma defendendo a sua posição e cada uma pensando que sabe mais do que o outro, quando na realidade, nada sabem. “Depois de assentar a poeira, verás se montavas num cavalo ou num burro.” (ditado popular muito utilizado no meio muçulmano). Os eruditos têm uma responsabilidade acrescida. Como responsáveis religiosos, dão orientações religiosas à comunidade e muitas vezes não seguem essas mesmas orientações. “Faz aquilo que eu digo e não aquilo que eu faço”. Ammar (Radiyalahu an hu), referiu que o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) disse: “Quem tiver duas caras neste mundo, terá duas línguas de fogo no dia da Ressurreição” . 41-4855 Sunan Abudawud.

Os gestos também se expressam no bom e no mau sentido. Quantas vezes utilizamos gestos para ridicularizar, difamar e menosprezar os nossos semelhantes? Com os dedos das nossas mãos, fazemos gestos para caracterizar uma situação ou então para ofender as pessoas. Ai das mãos que também prestarão contas por tudo o que o nosso coração lhes ordenou! “Ó féis, evitai tanto quanto possível a suspeita, porque algumas suspeitas implicam em pecado. Não vos espreiteis nem vos calunieis mutuamente. Quem de vós seria capaz de comer a carne do seu irmão morto? Tal atitude vos causa repulsa! Temei a Deus, porque Ele é Remissório e Misericordiosíssimo”. Cur’ane 49:12

O Profeta proibiu a sua família de falar mal dos outros, como é referido numa passagem em que Aisha (Radiyalahu an-há), ao falar de Saffiya, dizendo tal e tal e um terno que significa de que ela é duma estatura baixa. O Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) repreendeu-a, dizendo: “Você disse uma palavra que se fosse misturado no mar, o mesmo mudaria de cor”. Sunan Abu Dawood. 41/4857. Aproveitemos a oportunidade, enquanto estiverem vivos aqueles que ofendemos, para lhes pedirmos desculpas pelo mal causado pelas nossas línguas , porque se não o fizermos, na prestação de contas as nossas boas acções serão entregues aos

ofendidos como compensação, até que se esgotem e passemos a assumir os pecados deles. Mas se o ofendido não aceitar o pedido de desculpas ou se a situação não for possível para essa remissão pelas teimosias dos ofendidos, então deve pedir perdão a Deus pelo sucedido e falar bem deles publicamente. “Ó meus servos que se excederam contra si próprios, não se desesperem da Misericórdia de Deus, certamente que Ele perdoa todos os pecados, porque Ele é o Clemente e Misericordioso. ” Cur’ane 39:53.

Habituemos a nossa língua a falar o bem e a verdade. A verdade conduz à virtude e a virtude conduz ao paraíso. A mentira leva à maldade e a maldade leva ao inferno. Falamos mentiras, como se fosse algo normal e quando alguém nos pede contas, dizemos: “eu estava a brincar”. Na presença ou não dos nossos amigos, da nossa família, em especial dos nossos filhos, não devemos utilizar palavrões, mesmo a linguagem grosseira que possa ser considerada menos ofensivas. Lembremo-nos de que os nossos filhos têm tendência de nos copiarem, das nossas atitudes e das nossas palavras. Assim eles se absterão do mal dizer. Quando os nossos filhos nascem, preocupamo-nos em ensina-los a transformarem os pequenos sons em palavras. Porque não incluir também “Lá ilah ilallah”? Para os mais adultos, a língua deve estar sempre úmida, na recordação de Deus. O Apóstolo de Deus (Salalahu Aleihi Wassalam) disse: “As duas palavras a seguir, são frases os expressões muito fáceis para a língua e muito pesadas na balança (da recompensa) e muito amadas pelo Misericordioso Todo-Poderoso: Subhan Allah Wa Bi-Hamdihi; Subhana Allahi-L-Ãzim”. Bukhari 78:673.

Wa ma alaina il lal balá gul mubin" "E não nos cabe mais do que transmitir claramente a mensagem" . Surat Yácin 3:17. “Wa Áhiro da wuahum anil hamdulillahi Rabil ãlamine”. E a conclusão das suas preces será: Louvado seja Deus, Senhor do Universo!” . 10.10. “Rabaná ghfirli waliwa lidaiá wa lilmu-minina yau ma yakumul hisab”. “Ó Senhor nosso, no Dia da Prestação de Contas, perdoa-me a mim, aos meus pais e aos crentes”. 14:41.

Cumprimentos

Abdul Rehman Mangá

12/09/2012