sexta-feira, março 26, 2010

QUESTÃO DO RELACIONAMENTO HOMEM E MULHERES QUE NÃO SÃO DA FAMILIA

O Louvor é para Allah. Nós O exaltamos, imploramos Sua ajuda e rogamos pelo Seu perdão. Aquele a quem Allah orienta não se desviará, e aquele a quem Allah permite que se desvie ninguém poderá orientá-lo. Testemunho que não há outra divindade além de Allah, o Único, e que Ele não tem parceiros. E testemunho que Muhammad (SAAS) é Seu servo e mensageiro, que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele, com seus familiares e companheiros, e todos que seguirem seus passos até o Dia Derradeiro.

Diz Allah em Seu Nobre Livro: Ó vós que credes! Temei a Allah como se deve temê-lO e não morrais se não como muçulmanos. A verdadeira palavra está no Alcorão. A melhor orientação é a do Profeta Muhammad (SAAS). A pior coisa é A Inovação, e toda inovação é desorientação. E toda desorientação leva ao Inferno.

Muitos irmãos me questiona sobre o relacionamento que devemos manter com as mulheres que não são de nossa familia. Eu digo, que não obstante vivermos no ocidente, especialmente no Brasil, e apesar de em nosso país existir costumes que até contemplam uma boa educação, com dar beijinhos, apertar as mãos, abraçar mulheres que não pertencemo ao nosso relacionamento familias,nós muçulmanos devemos seguir, em qualquer lugar do mundo e em qualquer situação o que prescreve o nosso Livro Sagrado o Alcorão e os ditos do Profeta Muhammad. Devemos no entanto usar o bom senso para não ferir e nem magoar as pessoas, o que também é um grande pecado no islamismo.

Para uma explicação mais teológica do assunto, já que sou leigo recorri a resposta de Sua Eminência Shaikh Muhammad Salih Al-Munajjid.

Foi perguntado a ele: É permitido um muçulmano beijar no rosto (amigavelmente) uma pessoa não-mahram (um pessoa com a qual é permitido o casamento, ou seja, alguém que não é irmão, esposo, pai, mãe, etc.) do sexo oposto? O pecado é da mesma magnitude se for feito quando se tem necessidade da companhia de amizade, a qual apenas aquela pessoa pode dar?

Veja sua resposta: O louvor é para Allah.

É haram um ter mulheres como amigas.

É preciso que a pessoa seja sensata, pois qualquer um que diz que um homem pode beijar sua amiga no rosto e abraçá-la de uma maneira amigável está dizendo algo que é considerado tolice e estupidez. É óbvio para qualquer pessoa sensata que este tipo de comportamento provoca desejo, e esse é o caminho que leva para a zina (fornicação, adultério). Não pode ser dito que a intenção dessa pessoa é pura, pois Allah criou os homens com uma inclinação a se sentirem atraídos pelas mulheres. Por isso Allah proibiu que os homens olhassem para as mulheres e ordenou a eles que baixassem seus olhares. Allah diz (interpretação dos significados):

"Dize aos crentes que baixem seus olhares (para não olharem para coisas proibidas), e que protejam suas partes íntimas (de atos sexuais ilícitos)" [An-Nur, 24:30]

O Profeta (que Allah exalte e lhe dê paz) disse: "O olho pode cometer zina, e sua zina é o olhar." (Narrado por Abu Dawud, An-Nikaah, 1840; classificado como sahih por Al-Albani em Sahih Sunan Abi Dawud, n. 1884).

Desta maneira é haram misturar-se com as mulheres ou ficar sozinho com uma mulher, mesmo se ela estiver usando hijab, o que dizer então de uma mulher que exibe seus atrativos? Há muitas ayat e ahadis que proíbem isso. Também é proibido trocar apertos de mãos com as mulheres; veja a questão n. 2459. Uma pessoa que se permite fazer essas coisas pode começar a cometer zina com ela a partir da amizade. Não pode ser dito que isso é por causa das circunstâncias difíceis, onde a pessoa está precisando de alguém que fique a seu lado como seu amigo. Tudo isso é haram e não é permitido. Todo aquele que cai em tais coisas deve apressar-se em arrepender-se sinceramente deste pecado, e deve voltar-se para Allah e sentir remorso do que fez.

O muçulmano precisa entender que se ele se volta para Allah buscando ajuda durante as calamidades e os problemas que recaem sobre ele neste mundo, Allah vai aliviá-lo desta dificuldade e concederá a ele alívio e uma saída, portanto ele deve temer Allah. Allah diz (interpretação dos significados):

"Mas, a quem temer a Allah, Ele lhe apontará uma saída." [At-Talaq, 65:2]

"Mas, a quem temer a Allah, Ele lhe aplainará o assunto." [At-Talaq, 65:4]

Allah sabe melhor, Shaikh Muhammad Salih Al-Munajjid

BISMILLAH AL-RAHMAN AL-Rahim•Wassalatu Wassalamu Ala Ashraful Mursaleen
Allahumma Sali Ala Muhammad ua Aali Muhammad. Imploramos a ALLAH (SW), que nos ajude, nos dê uma boa orientação para o benefício do Islã e dos muçulmanos, corrigindo nossos trabalhos, nossas intenções e nossas ações.

Agradecemos a ALLAH (SW) que é o único Senhor do universo.

Que ALLAH (SW), aceite este trabalho, nos dando uma boa recompensa nesta vida e na outra. Principalmente às pessoas que nos precederam nesse trabalho e nos serviram como orientadores! Subhanna Allah!(Louvado Seja Allah(SW).

"Ó fiéis, atendei a Allah e ao Mensageiro, quando ele vos convocar à salvação. E sabei que Allah intercede entre o homem e o seu coração, e que sereis congregados ante Ele." 8:24

Salam Alaikum Ua Rahmatullah ua Barakatu

HISTÓRIA DO PROFETA DAWUD- DAVI - TERCEIRA PARTE

A IDADE DE DAWUD (AS)

O Muhaddice Hákim narrou o seguinte Hadice: Abu Hurairah (r) narra que o Profeta (s) disse: “Quando os filhos de Ádam lhe foram apresentados, viu um homem de testa resplandecente, então perguntou: Ó ALLAH! Quem é esta pessoa? ALLAH respondeu que aquele era Dawud (as), um homem que apareceria muito mais tarde. Ádam perguntou qual seria a sua idade? ALLAH respondeu que a sua idade seria de sessenta anos. Ao ouvir isso Ádam disse à ALLAH que

daria quarenta anos da sua vida como prenda à Dawud (as).Porém, por altura da morte de Ádam, ele disse ao Anjo da Morte que dispunha ainda de quarenta anos de vida. Então, o Anjo da Morte recordou-lhe os quarenta anos que ele oferecera à Dawud (as).”

[Mustadrak Hakim]



Esta narração indica que Dawud (as) viveu cem anos. A Bíblia por outro lado, indica que ele faleceu numa idade avançada, após governar os israelitas durante um período de quarenta anos [1 Crónicas 29:26-28].

Jáfar Muhammad diz que Dawud (as) governou setenta anos [Musstadrak Hakim, Volume 2, Kitábul Tarikh].

Abudllah Ibn Abbass diz que Dawud (as) morreu repentinamente, num sábado, quando estava ocupado na adoração. Bandos de pássaros fizeram sombra sobre ele [Fathul Bari, Volume 2, Kitábul Ambiyá].

Consta na Bíblia que Dawud (as) foi enterrado na cidade de David [1 Reis 2:10].


LIÇÕES COLHIDAS


1. Quando ALLAH quer conceder honra e virtude a alguém, fá-lo resplandecer desde o princípio, apresentando-o dotado de uma sorte brilhante quanto uma estrela. Assim, quando ALLAH quis fazer de Dawud (as) um mensageiro Seu, dotou-o durante a sua juventude de uma coragem invulgar, de tal maneira que ousou confrontar e derrotar um tirano como Jalut (Golias), tornando-se assim muito querido para toda a nação, e ao revelar aquela coragem e bravura, todos o queriam como seu líder.

2. Por vezes nós consideramos que algo é insignificante, mas mais tarde tal se revela algo de valor inestimável. A diferença entre as condições em que Dawud (as) passou a juventude, o seu espírito perseverante na forma de assegurar a verdade e a sua profecia são um testemunho claro disso.

3. A diferença entre um khalifa de ALLAH e um governante vulgar, é que um khalifa demonstra humildade e serviço à Humanidade em todos os seus atos, enquanto que o governante vulgar demonstra arrogância e abuso do poder, considerando que a criatura é um meio para o seu próprio conforto.

4. A vida inteira de Dawud (as) testemunha que quem é grato a ALLAH depois de atingir os píncaros da honra e do prestígio, ser-lhe-ão concedidas graças em abundância, pois essa é a Lei Divina.

5. Apesar da religião estar mais relacionada à espiritualidade, a força material constitui um suporte. A religião garante a reforma da condição material e religiosa da pessoa. O Khalifa e o poder protegem o sistema de justiça traçado pelo Sharia’ah.

6. A seguinte afirmação de Ussmán é bem conhecida:

“Sem dúvidas que ALLAH defende através de um poderoso khalifa muito mais do que aquilo que Ele defende por meio do Al-Qur’án” [Al-BidáyaWan-Niháya, Volume 2, Página 10].

7. A história dos grandes reis deste mundo testemunham que dar e retirar o poder está nas Mãos de ALLAH:

“Diz, ó Deus, rei do reino, Tu concedes o reino a quem queres e retiras o reino de quem queres. Na Tua Mão está todo o bem. Na verdade, Tu tens o poder sobre todas as coisas.”

[Al-Qur’án 3:26]

Mas ALLAH decretou uma lei para conceder ou arrancar o poder. A Lei estabelece que as nações têm dois tipos de governo, sendo um por meios Divinos e outro por meios materiais e físicos.

No primeiro caso, é concedido o governo a uma nação quando esta cumprir com as exigências do Criador ao ter crenças corretas e ser piedosa e reta.

Tal nação merece que lhe seja concedido o khiláfat Divino.

ALLAH prometeu o Khiláfat à nação que tem crenças correctas e pratica boas ações, independentemente dos obstáculos que se possam interpor no seu caminho. ALLAH diz no Al-Qur’án:

“Temos prescrito, nos Salmos, depois da Mensagem (dada a Moisés), que a terra, herdá-la-ão os Meus servos virtuosos.”

[Al-Qur’án 21:105]

E diz:

“Na verdade a terra é de Deus. Ele a faz herdar a quem quer entre Seus servos.”

[Al-Qur’án 7:128]

Se alguma nação não possuir esta qualidade, não herdará a Terra, ainda que difunda muitos slogans gritando a prática do Islam. ALLAH não prometeu honra a tal nação. Contudo, tendo em conta a administração e operação do sistema do mundo, ALLAH, segundo a Sua Prudência, faz nações diferentes governar a terra. O Homem não pode perceber a prudência de ALLAH em

conceder o governo a alguns e arrancá-lo aos outros. A pior situação que pode ocorrer é quando uma nação muçulmana é escravizada e governada por um governo káfir.

Tal é um castigo de ALLAH à nação, pois esta está cheia de pecadores, tendo perdido a aptidão para o bem. O governante káfir não recebeu o governo por ALLAH gostar dele, mas porque os verdadeiros herdeiros do poder perderam o seu direito de governar devido às suas más ações.

Se os muçulmanos mudarem as suas vidas, resgatando uma vez mais o título de “piedosos”, a promessa de ALLAH reverterá a seu favor:

“ALLAH prometeu a esses que de entre vós crêem e praticam boas ações, dar-lhes a sucessão nesta terra, tal como deu a sucessão aos seus antecessores; e que por certo, estabelecerá para eles a Sua religião que escolheu para eles, e lhes dará em troca a segurança depois do medo. Eles Me adorarão e não Me associarão a alguém.”

[Al-Qur’án 24:55]


Talut (Saul) era um pastor e ALLAH colocou-o numa elevada posição. Um líder não é eleito na base da sua tribo ou família, mas sim na base da sua habilidade na assumpção das responsabilidades de Estado. No que respeita aos assuntos das nações, a qualidade tem maior peso que os números.

O poderoso pode cair pelas mãos dos que parecem ser fracos. Diz-se que o poder corrompe e a suspeita pode criar inveja e insegurança, especialmente aos que ambicionam o poder e a glória pessoal.

O ato de bravura de Dawud (as) e a sua bondade para com o seu inimigo Talut, fê-lo vitorioso e também mudou a vida de Talut. As pessoas quando se apercebem do seu erro, devem arrepender-se perante ALLAH.

O Profeta (s) disse: “Quem se candidatar a um cargo, sabendo de antemão que há outras pessoas merecedores desse cargo, então ele terá traído a ALLAH, a Seu Mensageiro e aos crentes”.

Alertou-nos também contra os que correm e disputam a ocupação de cargos.

Quando Abu Bakr (r) foi nomeado khalifa, ele disse às pessoas: Eu fui nomeado khalifa, não porque sou o melhor de entre vós. Se eu obedecer a ALLAH e Seu Mensageiro nos vossos assuntos então apoiai-me, e se eu desobedecer, corrigi-me.

Dawud (as) temia tanto a ALLAH que sendo rei, e dominando o tesouro do reino, ganhava o sustento com as suas próprias mãos.

Uma crença errada e sobre tudo prejudicial é que muita gente geralmente considera merecedoras de cargos governamentais apenas os ricos, os influentes e os que detêm uma posição distinta, mercê da sua riqueza e linhagem.

Essa crença era tão comum naqueles tempos que até as nações civilizadas e evoluídas acolheram-na. Nem mesmo os filhos de Israel estavam imunes aos efeitos dessa ideologia, daí que eles tenham posto objeções à governação de Talut, devido às mesmas razões.

Querer enganar a ALLAH é provocar a Sua ira. Assim como aconteceu com os pescadores, que depois de serem proibidos de pescar aos Sábados, transgrediram essa ordem inventando artimanhas e justificações.

Hoje também entre nós existem alguns que se intitulam de muçulmanos, mas transgridem as Leis de ALLAH e tentam justificar-se.

Por exemplo, alguns praticam a usura e dizem que isso é comissão e é semelhante ao comércio. Esses tentam enganar a ALLAH, mas que se cuidem pois o castigo d’Ele é muitíssimo severo.

BISMILLAH AL-RAHMAN AL-Rahim•Wassalatu Wassalamu Ala Ashraful Mursaleen
Allahumma Sali Ala Muhammad ua Aali Muhammad. Imploramos a ALLAH (SW), que nos ajude, nos dê uma boa orientação para o benefício do Islã e dos muçulmanos, corrigindo nossos trabalhos, nossas intenções e nossas ações.

Agradecemos a ALLAH (SW) que é o único Senhor do universo.

Que ALLAH (SW), aceite este trabalho, nos dando uma boa recompensa nesta vida e na outra. Principalmente às pessoas que nos precederam nesse trabalho e nos serviram como orientadores! Subhanna Allah!(Louvado Seja Allah(SW).

"Ó fiéis, atendei a Allah e ao Mensageiro, quando ele vos convocar à salvação. E sabei que Allah intercede entre o homem e o seu coração, e que sereis congregados ante Ele." 8:24

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quinta-feira, março 25, 2010

HISTÓRIA DO PROFETA DAWUD - DAVI (AS) – SEGUNDA PARTE‏

A HONRA DO REINADO

Tanto o Al-Qur’án como a Bíblia e a História Universal prestam testemunho de que Dawud (as) era possuidor de qualidades valiosas, arbítrio correto, bem como aptidão organizativa. Ele sempre teve êxito em todas as campanhas, independentemente da dimensão do inimigo. Num período demasiado curto ele reinou na Síria, na Palestina, na Jordânia e também na região situada entre Aqabah e o Rio Eufrates. Foi durante o seu reinado que se uniram todos os povos semíticos. O seu grande exército e extenso reino apoiados pela Revelação Divina, aumentaram a sua honra e grandeza. Os seus súbditos tinham certeza de que ele fora informado com a realidade de todas as coisas, daí que ninguém ousasse desobedecer-lhe.

Abdallah Ibn Abbass (r) narra que certa vez duas pessoas foram ter com Dawud (as) devido a uma disputa relacionada com um touro. Cada um dizia que o bovino lhe pertencia, acusando o outro de ser ladrão. Dawud (as) adiou a decisão para o dia seguinte. Nesse dia, ele disse ao queixoso que ALLAH lhe revelara que aquele touro deveria ser morto, pelo que ele deveria aceitar a verdade. Então o queixoso disse: Ó verdadeiro Profeta de ALLAH! Neste meu caso eu sou completamente verdadeiro. Mas antes desta disputa, eu enganei e assassinei o pai do réu (demandado).

Ao ouvir isso, Dawud (as) ordenou que o queixoso fosse executado, como compensação pelo assassínio que cometera. Foram decisões daquele tipo que levaram a que as pessoas lhe obedecessem, submetendo-se às suas ordens e ao julgamento justo.

A grandeza do seu reino foi expressa no seguinte versículo do Al-Qur’án:
“Nós fizemos o seu reino forte, demos-lhe sabedoria (Al-Hikmah) e a arte de
julgar (Fasslul-Kitáb).”[Al-Qur’án 38:20]

A palavra Hikmah usada neste versículo, pode-se estar referindo à profecia assim como a maior parte dos comentadores escreveram, mas também pode estar referindo ao discernimento e capacidade mentais de tal calibre em que ninguém pode escolher qualquer parte desviada. Alguns Álimos são da opinião de que isso refere-se a Zabur (Salmos ou a Cânticos de David).

Da mesma maneira a frase Fasslul Khitáb pode-se estar referindo a dois fatores. Um relacionado ao fato de ele ter sido um excelente orador, pois expressava-se de tal forma que cada palavra e frase suas eram perfeitamente perceptíveis, o que fazia com que as suas palestras fossem belas e eloqüentes. O segundo relacionava-se ao fato de que a sua deliberação fosse de caráter decisório nas disputas entre o bem e o mal.

O ZABUR (SALMOS)

O Torah era a fundação para a orientação dos filhos de Israel. Mas devido às condições e à mudança de era, ALLAH deu a Dawud (as) _ o Zabur, mas que se manteve dentro dos limites das leis do Torah. Dawud (as) reavivou o Shari’ah de Mussa. Ele mostrou aos filhos de Israel o caminho reto. Tendo sido abençoado com a iluminação da Revelação Divina, ele apagava a sede dos sedentos que queriam o reconhecimento do Criador.

ALLAH concedeu a Dawud (as) uma voz tão melodiosa que ao recitar o Zabur, todas as pessoas, os Jinn’s até mesmo os animais ficavam estáticos ao ouvi-lo. Por isso, até hoje, a frase “A melodia de Dawud (as)”, é citada como um provérbio, para descrever alguém que tem uma boa e doce voz. Consta no Mussannaf Abdul Razaq, que o profeta Muhammad (s) quando ouvia a bela voz de Abu Mussa Al-Ash’ari dizia: “ALLAH deu a Abu Mussa o tom melodioso de Dawud (as)”.

Zabur que significa “uma parte”, foi revelado como complemento do Torah. Portanto, é como se fosse uma parte do Torah. O Zabur continha muitos poemas com cânticos de louvores a ALLAH, tópicos sobre o desamparo do Homem assim como tópicos sobre conselhos e admoestações.

No Mussnad Ahmad consta que o Zabur foi revelado no mês Ramadhán e em termos de prudência, continha tópicos bastante preciosos. Continha igualmente algumas boas novas, bem como previsões de eventos do futuro. Alguns comentadores mencionam que o seguinte versículo do Al-Qur’án em referência a um incidente de Zabur, na realidade refere-se ao Profeta Muhammad (s) e aos seus companheiros:

“E com efeito, escrevemos nos Salmos depois da recordação, que a terra
será a herança dos Meus servos justos.”[Al-Qur’án 21:105]

ALLAH menciona em vários versículos do Al-Qur’án que o Torah, o Evangelho) e o Zabur (Salmos) são Revelações Divinas. Ao mesmo tempo o Al-Qur’án também mencionou que os israelitas deliberadamente fizeram interpolações nesses livros sagrados. Eles alteraram-nos de tal maneira que se tornou difícil, se não impossível, distinguir o original da versão interpolada:

“Eles (os judeus) deturparam o sentido das palavras das escrituras.”
[Al-Qur’án 5:13]

Além do Torah e do Indjil, o Zabur é um testemunho vivo disso. O Atual Zabur contém cento e cinquenta (150) partes ou capítulos. Os nomes dessas partes claramente indicam que as mesmas não são Salmos de David, porque alguns contêm nomes de Corá, Sosanim, Gitite, etc., e alguns nem nomes têm. Alguns Salmos foram escritos séculos após a era de Dawud (as).

Por exemplo, o seguinte versículo refere-se à destruição de Jerusalém causada por Bukhte Nasr (Nabuchodonosor ou Nabuchodorosor) – Rei da Babilónia, 604-561 AC – que conquistou Jerusalém, destruiu-o e expulsou os judeus dali para a Babilónia:

“Ó Deus, as nações entraram na Tua herança; contaminaram o Teu santo templo; reduziram Jerusalém a montões de pedras.”[Salmos 79:1]

Este incidente sobre a destruição de Jerusalém, ocorreu séculos após a morte de Dawud (as).

O Al-Qur’án considera Dawud (as) um grande rei e também um mensageiro. Pelo contrário a Bíblia só se refere a ele como “Rei David”, não aceitando a sua profecia.

AS PARTICULARIDADES DE DAWUD (AS)

ALLAH abençoou todos os Profetas com nobreza e grandes favores. Contudo, entre eles existe uma diferença na categoria e grau.

“Entre Nossos mensageiros, temos preferido uns sobre os outros.”
[Al-Qur’án 2:253]

O Al-Qur’án também menciona algumas particularidades de Dawud (as). Mas isso não quer dizer que mais ninguém tivesse essa qualidade. Significa que essa qualidade existe nele num grau mais completo e perfeito. Quando se menciona essa particularidade, a mente de qualquer pessoa vai imediatamente para tal profeta, embora outros profetas também possam tê-la numa dimensão menor.

A RECITAÇÃO DO ZABUR

“E Nós preferimos a uns Profetas sobre outros; e a David demos o Salmos.”
[Al-Qur’án 17:55]

Consta no Al-Bukhari que Dawud (as) costumava recitar o Zabur num curto espaço de
tempo. Ele começava a recitar o Zabur quando aparelhava o seu cavalo. O período de tempo que decorria entre a colocação da sela no dorso do cavalo e a sua fixação, era o tempo que ele levava para a recitação integral do Zabur. O milagre da recitação de Zabur estava relacionado ao movimento da língua. ALLAH enrolava o tempo para Dawud (as), de tal maneira que em condições normais, isso poderia levar horas. Foi-lhe dada a habilidade de dizer palavras em tão curto espaço de tempo, o que outra pessoa levaria horas. Mesmo hoje é um princípio aceite que não existe limite para a velocidade de movimentos.

A SUBSERVIÊNCIA DAS MONTANHAS E DOS PÁSSAROS

Dawud (as) costumava cantar longamente os louvores de ALLAH. Tinha uma voz extraordinariamente melodiosa, ao ponto de que ao começar o seu tassbih, todos os animais, pássaros e mesmo as montanhas se lhe juntavam na recitação dos louvores.

O Al-Qur’án mencionou essa particularidade de Dawud (as) nos capítulos Al- Ambiyáh,
Sabá e Sád:

“E Nós demos a Dawud (as) uma graça da Nossa parte (e dissemos): Ó
montanha! Cantai com ele os louvores do Senhor. E vós, pássaros também.

E para ele, amolecemos o ferro. (E dissemos): Faz com ele cotas de malha e
adapta-as às malhas. E praticai o bem. Na verdade Eu observo tudo o que fazeis.”
[Al-Qur’án 34:10-11]

“Por certo, Nós submetemos as montanhas, para com ele glorificarem a
ALLAH, ao anoitecer e ao amanhecer. E também as aves reunidas à sua
volta. Cada um para ALLAH voltará arrependido.”[Al-Qur’án 38:18-19]

Alguns Álimos são da opinião que o cantar de louvores aqui aludido,
refere-se à maneira como cada coisa foi criada. A sua beleza e forma,
indicam claramente a existência de um Criador. Contudo, outros Álimos
são de opinião de que os animais, plantas e objectos inanimados também na
realidade cantam os louvores de ALLAH.

ALLAH diz:

“Glorificam-No os Sete Céus e a Terra e tudo o que neles existe. E não existe
nada que não glorifique os Seus louvores. Porém, vós não compreendeis as
Suas glorificações.”[Al-Qur’án 17:44]

Este versículo indica que todos os seres do Universo cantam os louvores de ALLAH e que o Homem não é dotado da capacidade de perceber o louvor cantado por esses seres. Ainda hoje existem provas suficientes que indicam que até mesmo as plantas têm vida. ALLAH manteve o Ser Humano desconhecido dos louvores cantados por outras criaturas. Não só os animais,mas também os insetos se regozijam com a religiosidade do Ser Humano e da bênção que disso resulta na terra. Por isso fazem duá, pedindo perdão a favor do Ser Humano.

Consta num Hadice, que o Profeta(s) diz: “ALLAH, seus anjos e todos os
habitantes dos Céus e da Terra, até mesmo a formiga no seu buraco, os peixes nos oceanos enviam bênçãos e oram a favor daquele que ensina o bem às pessoas”.
[At-Tirmizi]

E consta que os animais no dia de Jumu’ah (Sexta-feira) estão atentos, com receio de que o Quiyámah possa acontecer nesse dia [Ahmad].

E consta também num Hadice que indica que o galo adora ALLAH. O Profeta (s) disse: “Não insultai o galo, pois chama-vos para a oração (isto é, no Al-Fajr quando ele canta)”.

[Ahmad e Abu Dawud (as)]

E quanto às formigas, elas são uma comunidade de entre as outras que glorificam a ALLAH apesar do seu pequeno porte e à insignificância com que o Homem lhes encara.
O Profeta (s) disse: “Uma formiga mordeu a um profeta e então este ordenou que toda “vila” de formigas fosse queimada. Então ALLAH enviou-lhe uma revelação censurando-o por ter mandado queimar uma comunidade inteira que glorifica a ALLAH só porque uma formiga lhe mordera”.
[Al-Bukhari]

E quanto às árvores, ALLAH diz no Al-Qur’án:

“E as ervas e as árvores prostram-se em adoração.”
[Al-Qur’án 55:6]

E o Profeta(s) diz: “Ninguém recita o Talbiyah sem que este seja também
recitado por tudo o que está do seu lado direito e esquerdo, de entre árvores
e pedras”.
[Ibn Májah]

Contudo, era uma particularidade de Dawud (as) que ao começar a cantar os
louvores de ALLAH, as outras criaturas também se lhe juntassem.

O AMOLECIMENTO DO FERRO

Apesar de ser rei, Dawud (as) não tomou para si nenhum cêntimo do tesouro público para o seu uso pessoal. Não colocou o fardo das suas despesas e o dos da sua família sobre o Baitul-Mál (Tesouro Público). Ele ganhava o seu sustento de forma Halál com as suas próprias mãos.

Detinha uma boa experiência na arte de fabricar armas. Fabricava-as e vendia-as, vivendo da receita daí proveniente.

O Profeta _ mencionou esse aspecto num dos Hadices: “O melhor sustento que a pessoa pode ganhar é o proveniente do trabalho desenvolvido pelas suas próprias mãos. E o Profeta de ALLAH, Dawud (as), costumava ganhar, trabalhando com as suas próprias mãos”.[Al-Bukhari]

O Sheikh Badruddin Aini, um dos comentadores de Al-Bukhari, diz que Dawud (as) costumava suplicar a ALLAH para lhe dar uma forma fácil de ganhar o seu sustento, porque ele não quis sobrecarregar o Baitul-Mál [Sharah Al- Aini, Volume 7, Página 420].

Esta excelente postura de Dawud (as), fazia parte das características distintas,que foram dadas a cada profeta.

O Al-Qur’án diz que quando cada profeta pregava junto ao seu povo dizia:
“Não vos peço, por isso, recompensa (salário) alguma, porque a minha recompensa virá do Senhor do Universo.” [Al-Qur’án 26:109]

Ibn Hajar diz que embora seja permitido um salário do Baitul-Mál ao governante de um Estado Isslámico, a melhor e a mais preferida opção é a não sobrecarga do Tesouro Público de forma indiscriminada. Na altura da sua morte, o primeiro Khalifa Abu Bakr reembolsou ao Tesouro Público todo o dinheiro que havia tomado como salário [Fathul Bari, Volume 4, Página 243].

Dawud (as) dedicava-se ao fabrico de armaduras de ferro. ALLAH aceitou a súplica de Dawud (as) ao amolecer o ferro nas suas mãos como a cera. Ele facilmente moldava o ferro para qualquer forma que ele quisesse, sem ter que derretê-lo e nem precisar de usar martelo.

“E ensinamos-lhe a arte de fazer couraças para vós, para vos proteger das
vossas violências. Não estais agradecidos?”[Al-Qur’án 21:80]

Naquela era, o ferro com que se faziam as armaduras era muito pesado e tinha que ser carregado por homens de boa compleição física. O peso das armaduras criava também muitas dificuldades no campo de batalha.

Dawud (as) foi o primeiro homem a quem ALLAH dotou de arte e engenho para o fabrico de armaduras leves. A armadura leve permitia que o soldado facilmente se manobrasse no campo de batalha, o que se revelou muito benéfico na luta contra o inimigo.

A LINGUAGEM DOS PÁSSAROS

ALLAH abençoou Dawud (as) e Suleiman (s) com a habilidade de conversar com os pássaros. Eles podiam entender os pássaros assim como uma pessoa entende outra. Isto não era um mero exercício de adestramento e estudo, semelhante ao dos zoólogos, mas sim uma realidade com que ALLAH lhes agraciou.

DOIS EPISÓDIOS IMPORTANTES

Há dois episódios ocorridos na vida de Dawud (as), que são considerados importantes devido à discussão entre os mufasserin (comentadores) relacionados com esses versículos. É essencial saber a verdadeira realidade desses versículos do Al-Qur’án, em particular o segundo, que se tornou num assunto de acesos debates:

O primeiro episódio está reportado nos seguintes versículos:

“E Dawud e Suleiman, quando julgaram o caso de um campo cultivado onde rebanhos (cabritos) de certo povo, dispersos, pastaram durante a noite. Nós fomos testemunhas de seu julgamento. Então fizemos Salomão compreendê-lo e a cada um dos dois, demos sabedoria, e ciência. E submetemos com David as montanhas e os pássaros para Nos glorificarem. Fomos Nós que fizemos isto.”
[Al-Qur’án 21:78-79]

A maioria dos mufasserin cita a narração de Ibn Mass’ud e Ibn Abbass relacionada àqueles versículos:

Certa vez, um agricultor pediu a Dawud (as) que interviesse num conflito que o opunha a um vizinho que era armazenista de produtos agrícolas. Ele disse: Eu tenho uma extensão de terra onde plantei trigo, milho e fruta. A colheita estava bem crescida, mas antes de eu a colher, as ovelhas do meu vizinho, devido à negligência do seu pastor, entraram na minha propriedade, num campo cultivado, à noite, destruíram toda a minha colheita e comeram as plantas novas (brotos tenros), causando danos do montante talvez, da colheita de um ano.

O armazenista de produtos agrícolas, reconheceu o prejuízo que causara ao seu vizinho e disse que aquilo era verdade. Ao ouvir as duas partes, Dawud (as) que era rei, considerou o assunto tão sério, pelo que sentenciou de acordo com o seu conhecimento e prudência ao ordenar que, as ovelhas que causaram o prejuízo, deviam ser entregues ao agricultor como compensação pelo dano, porque o valor do rebanho era igual ao valor dos danos provocados.

Tal veredicto serviria de lição ao armazenista, por se ter negligenciado ao permitir que os seus animais vagueassem sem se fazerem acompanhar do respectivo pastor.
Seu filho Suleiman (as), que tinha apenas onze anos de idade, e estava sentado junto ao seu pai, levantou-se e pediu permissão para falar, tendo o pai anuído.

Suleiman (as) disse que embora a decisão do pai fosse correta, discordava dela por ser demasiado penalizante, sugerindo portanto, que se optasse por um outro veredicto mais consentâneo com as circunstâncias. A corte do rei ficou constrangida com a ousadia do rapaz, pois a sua contestação criou algum desconforto.

Então, o rei David, sorrindo, disse ao filho para explicar como ele poderia julgar o caso. Uma vez que o prejuízo foi a perda dos frutos ou do produto do campo; o “corpus” da propriedade não fora perdido, então a sugestão de Salomão foi de que o dono do campo não deveria tomar as ovelhas todas, mas sim estas deviam apenas ser colocadas sob o seu cuidado por um período fixo. E ele podia retê-las o tempo suficiente que lhe permitisse beneficiar-se dos seus produtos, até que recuperasse o prejuízo real, usufruindo do leite, da lã e eventualmente das crias. E paralelamente devia-se ordenar que o armazenista cultivasse a terra do agricultor por uma época (estação), até restaurá-la à sua situação original, mas antes de colheita deveria devolvê-la ao agricultor. No fim da época, só o número original de ovelhas deveria ser devolvido ao pastor, mas as crias não. Essa seria a penalização por não ter cuidado convenientemente das suas ovelhas. Assim, ele ao menos não se sujeitava a perder por completo as suas ovelhas. Em simultâneo, ele terá trabalhado sem pagamento, para restaurar a colheita perdida do agricultor até atingir a fase da ceifa. O agricultor teria que fazer a sua própria ceifa, pois essa era a situação antes das plantas serem devoradas pelas ovelhas.

Toda a sala de audiências da corte escutava em silêncio o adolescente Suleiman. Então o rei Dawud (as) declarou que ele iria revogar a sua sentença a favor da do seu filho, que era melhor, justa e baseada na prudência.

O mérito de Dawud (as) reside no fato de ter aceite a sugestão, apesar de ela provir de um moço.

O mérito de Suleiman (as) reside no fato de ter distinguido entre ‘corpus’ e produção, embora muito jovem, não tivesse vergonha de expôr o caso perante seu pai.

Os dois – agricultor e armazenista – expressaram a sua satisfação e deixaram a sala de mãos dadas.

O Al-Qur’án também indica que a decisão de Suleiman era a mais apropriada e a sua compreensão nesse assunto ultrapassou a de Dawud (as). Contudo, isso não significa que Suleiman tivesse mais virtudes que seu pai. Este episódio, retrata apenas um incidente isolado em que o filho tinha uma opinião mais apropriada que a do pai. No aspecto geral, as virtudes de Dawud (as) são maiores que as de seu filho.

O segundo episódio

É característica do Torah e da Bíblia nas versões adulteradas, menciona alguns incidentes acerca dos profetas, sem contudo fundamentá-los o que não é digno, nem para pessoas normais, muito menos para mensageiros escolhidos por ALLAH.
A Bíblia menciona um incidente acerca de Dawud (as) [2 Samuel 11:1-27]. Segundo a Bíblia, Dawud (as) envolveu-se com a mulher de Urias, um dos seus generais, de nome Bate-Sebá, resultando na sua gravidez. A seguir mandou o general para a frente de combate, num dos mais perigosos ramos do exército, na expectativa de que fosse morto, para que assim ele pudesse desposar a viúva.
Esta narração é deveras escandalosa, o que pode levar as pessoas menos esclarecidas a considerarem o Profeta David um vulgar criminoso, portanto, indigno de ser profeta de Deus.

Lançar um olhar lascivo para a esposa de alguém, cometer adultério e de seguida mandar matar um inocente, são atos criminosos que só podem ser perpetrados por gente desclassificada. Como então aceitar que se façam estas graves acusações contra um nobre Profeta?

A CONTRADIÇÃO NA BÍBLIA

Antes de provarmos a inocência de Dawud (as), vamos examinar como a Bíblia se contradiz ao mencionar a castidade de Dawud (as) noutros versículos:
“E disse Natã ao rei: Vai e faz tudo quanto está no teu coração, porque o Senhor está contigo.

Porém, sucedeu naquela mesma noite, que a palavra do Senhor veio a Natã dizendo: Vai e diz ao meu servo, a Davi: Assim diz o Senhor: Edificar-meias tu, casa para minha habitação? Porque em casa alguma habitei desde o dia em que fiz subir os filhos de Israel do Egito até ao dia de hoje, mas andei em tenda e em tabernáculo.
E, por todo lugar onde andei com todos os filhos de Israel, falei, porventura, alguma palavra com qualquer das tribos de Israel, a quem mandei apascentar o meu povo de Israel, dizendo: Por que me não edificais uma casa de cedros?

Agora, pois, assim dirás ao meu servo, a Davi: Assim diz o Senhor dos Exércitos: Eu te tomei da malhada, de detrás das ovelhas, para que fosses o chefe sobre o meu povo, e sobre Israel.”
[2 Samuel 7:3-8]

“Livrou-me do meu possante inimigo e daqueles que tinham ódio, porque eram mais fortes do que eu. Encontraram-me no dia da minha calamidade; porém o Senhor se fez o meu esteio.

E tirou-me para o largo e arrebatou-me dali, porque tinha prazer em mim.
Recompensou-me o Senhor conforme a minha justiça, conforme a pureza de minhas mãos me retribuiu.Porque guardei os caminhos do Senhor e não me apartei impiamente do meu
Deus. Porque todos os seus juízos estavam diante de mim e de seus estatutos me não desviei.

Porém fui sincero perante ele e guardei-me da minha iniqüidade.
E me retribuiu o Senhor conforme a minha justiça, conforme a minha pureza
diante dos seus olhos.”
[2 Samuel 22:18-25]

“E estas são as últimas palavras de Davi:

Diz Davi, filho de Jessé, e diz o homem que foi levantado em altura, o ungido do Deus de Jacó, e o suave em salmos de Israel: O Espírito do Senhor falou por mim, e a sua palavra esteve em minha boca.

Disse o Deus de Israel, a Rocha de Israel a mim me falou: Haverá um justo que domine sobre os homens, que domine no temor de Deus.”
[2 Samuel 23:1-3]

“E disse Salomão: De grande beneficência usaste tu com teu servo Davi, meu pai, como também ele andou contigo em verdade, e em justiça, e em retidão de coração, perante a tua face; e guardaste-lhe esta grande beneficência e lhe deste um filho que se sentasse no seu trono, como se vê neste dia.”
[1 Reis 3:6]

“E, se andares nos meus caminhos, guardando os meus estatutos e os meus mandamentos, como andou Davi, teu pai, também prolongarei os teus dias.”
[1 Reis 3:14]

“E ele disse: Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que falou pela sua boca a Davi, meu pai e, pelas suas mãos, o cumpriu, dizendo:
Desde o dia em que tirei o meu povo da terra do Egipto, não escolhi cidade alguma de todas as tribos de Israel, para edifi car nela uma casa em que estivesse o meu nome; nem escolhi homem algum para ser chefe do meu povo Israel.

Porém escolhi Jerusalém, para que ali estivesse o meu nome, e escolhi Davi, para que tivesse cargo do meu povo Israel.

Também Davi, meu pai, teve no seu coração o edifi car uma casa ao nome do Senhor, Deus de Israel.”[2 Crónicas 6:4-7]

“Agora, pois, Senhor, Deus de Israel, guarda ao teu servo Davi, meu pai, o que falaste, dizendo: Nunca faltará de ti varão de diante de mim, que se as sente sobre o trono de Israel; tão somente que teus filhos guardem seu caminho, andando na minha lei, como tu andaste diante de mim.”[2 Crónicas 6:16]

“Porém todo o reino não rasgarei, uma tribo darei a teu fi lho, por amor de Meu servo Davi e por amor de Jerusalém, que tenho elegido.”
[1 Reis 11:13]

“E há de ser que, se ouvires tudo o que Eu te mandar, e andares pelos Meus caminhos, e fizeres o que é recto aos Meus olhos, guardando os Meus estatutos e os Meus mandamentos, como fez Davi, Meu servo, Eu serei contigo, e te edificarei uma casa firme, como edifiquei a Davi, e te darei Israel.”
[1 Reis 11:38]

Estes versículos da Bíblia indicam claramente que Dawud (as) era um escolhido e querido servo do Criador. Ele falou diretamente com ALLAH. Ele obedeceu totalmente às Leis do Shari’ah de ALLAH, ele era reto e casto.

Ele era Khalifa de ALLAH e líder dos Filhos de Israel.
Por isso, temos sérias dúvidas sobre como é que os Ahl-Kitab (adeptos do livro) reconciliam esses versículos contraditórios da Bíblia e qual é o grau que Dawud (as) ocupa na sua perspectiva.

Se na sua opinião Dawud (as) é um Profeta ou possuidor de bom carácter, então que resposta é que eles têm acerca do incidente com Bathsheba (Bate-Seba) e Uriah?
E se o incidente de Uriah é verídico, então de que David é que falam quando tecem os elogios acima citados?

Pelo contrário, o Al-Qur’án indica que Dawud (as) foi um nobre Profeta, livre da mancha do pecado:

“E agraciamos a Dawud com Suleiman. Que excelente servo! Eis que foi contrito!”
[Al-Qur’án 38:30]

“E demos a ciência a David e a Salomão e ambos diziam: Louvado seja
Deus que nos elevou acima de muitos dos Seus servos crentes.”
[Al-Qur’án 27:15]

Todos estes versículos do Al-Qur’án rejeitam as interpolações feitas nas escrituras sagradas anteriores. Eles arraigaram-se às escuras cortinas da história ao revelar as características nobres dos dois mensageiros: Dawud (as) e Suleiman (as).
Contudo, nota-se com muita pena, que alguns mufasserin citaram sem provas o incidente engendrado de Uriah, o Hittite e sua mulher.

Deve-se evitar citar tais narrações. É mais surpreendente notar que alguns sábios tentaram provar a autenticidade desse incidente ao procurar um bom significado disso. Os comentadores narraram esse incidente no tafssir dosseguintes versículos:

“E chegou ao teu conhecimento a história dos disputantes, quando subiram o muro do santuário e entraram nos seus aposentos! Quando chegaram junto de Dawud (as), este assustou-se com a sua presença. Eles disseram: Não tenhas medo! Nós somos dois disputantes, um de nós cometeu transgressão contra outro. Portanto, julga entre nós conforme a verdade. Não sejas parcial, e indica-nos a senda da retidão. Por certo, este é meu irmão; ele tem noventa e nove ovelhas e eu tenho uma só. E ele disse-me: Deixa-me guardá-la! E ele convenceu-me com a sua fala! Dawud (as) disse: Com efeito, ele foi injusto para contigo ao te pedir para acrescentar a tua ovelha às ovelhas dele. Na verdade muitos sócios cometem transgressão uns contra outros exceto os que crêem e praticam boas ações; e esses são poucos.

E Dawud (as) percebeu que Nós o tínhamos posto à prova, então pediu perdão ao seu Senhor e caiu em prosternação. E arrependeu-se. Por conseguinte, Nós perdoámos-lhe isso. E, por certo, ele terá, junto de Nós um lugar próximo e excelente local de retorno. (E dissemos-lhe) ó Dawud (as)! Por certo, Nós fizemos de ti Khalifa na terra (nosso representante), portanto julga entre as pessoas com justiça e não sigas a paixão, pois ela te afastará do caminho de ALLAH.

Na verdade os que se afastam do caminho de ALLAH, terão um castigo severo, por terem
esquecido o Dia de prestação de contas.” [Al-Qur’án 38:22-26]

O TAFSSIR (EXPLICAÇÃO) INCORRECTO

Foi aqui mencionado um teste a que Dawud (as) foi submetido por ALLAH e ele não se apercebeu disso, mas de repente, ocorreu-lhe que isso era de fato um teste da parte de ALLAH. Imediatamente ele recorreu ao arrependimento indo em busca do perdão, tendo o seu arrependimento sido aceite, o que o fez aproximar mais à ALLAH.
Isto é tudo o que foi mencionado no Al-Qur’án, pois não foram fornecidos detalhes desse teste.

Alguns comentadores recorreram ao incidente entre Uriah e David, narrado na Bíblia, e aplicaram-no sem ponderarem no resultado. Ibn Kassir diz que a história de Uriah mencionada por alguns mufasserin, foi colhida das narrações israelitas, sendo a maior parte dela, uma fabricação deles. Por isso, ele acha que nem se deve mencionar essa história, pois taisnarrações não têm lugar na literatura islámica, devendo ser totalmente evitadas.

Abu Muhammad Ibn Hazam diz no [Kitábul Fassl], que a afirmação do Al- Qur’án é verdadeira, não indicando de forma alguma a narração inventada pelos judeus.

Da mesma maneira, Allama Khafaji, Qadi Iyád, Ibn Hayyan Andalusi, Imám Razi e outros Álimos rejeitaram tais lendas imaginárias e provaram que nenhuma afirmação desse tipo foi narrada pelo Profeta Muhammad (s).

O TAFSSIR CORRECTO

Deixando de lado todas as narrações fabricadas, os mufasserin autênticos explicaram esses versículos na base das afirmações dos Sahábas ou analisando minuciosamente o conteúdo e o contexto dos versículos do Al- Qur’án. Esta será, portanto, a interpretação correcta do tafssir.

1. Ibn Hazam diz que o incidente resume-se à entrada de duas pessoas no quarto de Dawud (as) onde se encontrava, ocupado na adoração a ALLAH. Eles saltaram o muro e entraram de rompante porque tinham uma disputa a resolver e estavam apressados. Dawud (as) ouviu a versão do queixoso, e tendo em conta o conselho e a admoestação, mencionou a corrupção dos tempos. Ele disse que os governantes e as autoridades sempre consideraram os menos privilegiados como instrumentos do seu próprio conforto. Contudo, esses que crêem em ALLAH e praticam boas acções, abstêm-se de tais formas de opressão e temem ALLAH. Pessoas desse tipo são de número reduzido. A seguir, Dawud (as) pronunciou a decisão justa, pondo termo ao caso. Quando os litigantes se foram embora, Dawud (as) ponderou nos favores de ALLAH sobre ele e perguntou a si mesmo como ele podia cumprir os direitos do Criador, que lhe fez arbitrar entre duas pessoas. Essa meditação teve um efeito tão grande sobre ele, que caiu em prostração, arrependendo-se. ALLAH gostou desse ato de David, tendo-o envolvido com a Sua Misericórdia.

Ibn Hazam diz que pedir perdão é um ato tão bom que dispensa a necessidade de antes ter tido lugar algum pecado.

E é por isso que consta no [Al-Qur’án 39:7], que os anjos também pedem perdão, estando eles completamente livres de pecado.
Para além disso, o Al-Qur’án não faz a mínima menção acerca de Dawud (as) ter cometido qualquer pecado. Só diz que ALLAH pô-lo em teste. E não é necessário que se tenha cometido algum pecado para que alguém seja submetido ao teste assim como aconteceu com Ayub(as) (Job). Esta passagem de Dawud (as) também não se deveu a algum pecado, mas sim a simples manifestação decorrente da percepção de uma obrigação, expressando assim a sua humildade de acordo com o grau profético que ele possuía.

Embora este significado do versículo sob discussão possa acomodar este tafssir (explicação), também indica o alto grau de Dawud (as). Porém, é uma explicação à qual se chegou por dedução, não estando mencionada em nenhum versículo do Al-Qur’án ou no Hadice.

2. Abu Musslim diz que quando os dois homens apresentaram o seu caso a Dawud (as) na forma de queixoso e demandado, Dawud (as) não deu ao demandado a oportunidade de se expressar e o conselho que ele deu, parecia que aparentemente apoiava o caso do queixoso. Em casos normais, isso é considerado injusto, portanto o conselho dado por ele, embora fosse um simples conselho e não uma decisão final no caso. Contudo, não ficava bem para o alto cargo que ele ocupava. Portanto, esse foi o teste a que Dawud (as) foi submetido. Em tais ocasiões, ALLAH imediatamente chama a atenção dos Seus servos próximos da situação e repreende-os.

Neste caso também, Dawud (as) imediatamente apercebeu-se que tinha errado e que isso constituía um teste para ele. Então, arrependeu-se e o seu arrependimento foi aceite. Não só, isso tornou-se num meio para ele alcançar um grau mais alto. Depois de tudo aquilo que aconteceu, ALLAH aconselhou a Dawud (as) o seguinte:

“Ó Dawud! Tu não és como os reis e governantes normais deste mundo
que não se interessam da justiça, fazem as suas vontades na criatura de
ALLAH e governam para motivos meramente pessoais. Tu foste nomeado
representante (Khalifa) de ALLAH na terra. Servir a Humanidade é a tua
característica distinta. Não deve haver nenhuma deficiência nesse aspecto.
Considere o caminho reto como o teu.”

Segundo as duas explicações (tafssir), os mufasserin disseram que o caso do tribunal foi real e as duas partes não eram anjos mas sim seres humanos. O texto aparente do Al-Qur’án indica isso.

Apesar de esta explicação ser uma dedução, mesmo assim está de acordo com o texto dos versículos e por isso os mufasserin, largamente aceitaram isso.

Contudo, uma objeção pode ser levantada nas duas explicações acima citadas. Se aceitarmos a primeira explicação, de Ibn Hazam, então o versículo 26 não terá qualquer relação com os versículos anteriores e a corrente de pensamento será interrompida. Qual foi a necessidade de mencionar tão grande virtude de Dawud (as) que só foi mencionada para Ádam (as)?

Segundo a explicação de Abu Musslim, aqui pode surgir a questão: se é um princípio aceite para o juiz escutar o queixoso e o demandado antes de pronunciar qualquer sentença, então como é que um mensageiro de alto grau deixou passar tal princípio?

Vamos mencionar um terceiro tafssir que confirma muito bem o texto dos versículos e está baseado numa afirmação de Abdallah Ibn Abbass:
Abdallah Ibn Abbass _ diz que Dawud (as) tinha dividido o seu dia de trabalho em quatro partes, de tal maneira que, uma parte era dedicada apenas para adorar ALLAH; outra para casos judiciais, para auscultação de problemas da sua gente, outra para tratar dos seus assuntos pessoais, ganho do sustento e descanso e uma outra parte para orientar os israelitas e pregar-lhes sermões.

A parte fixada para adorar ALLAH era muito importante, embora Dawud (as) O adorasse a todos os momentos. Mas nessa parte fixa, ele não fazia nenhuma outra coisa. O Al-

Qur’án diferencia isso ao enfatizar:

“Eis que ele (Dawud) foi contrito!”
[Al-Qur’án 38:30]

Consta também na história, que Dawud (as) costumava fechar o seu quarto e adorar ALLAH para que ninguém o incomodasse. Consta num Hadice em que o Profeta (s) disse: “O melhor Salát perante ALLAH é o Salát de Dawud (as); o melhor Jejum perante ALLAH é o Jejum de Dawud (as). Ele dormia metade da noite e fazia Ibádat num terço da noite e dormia um sexto da noite. E jejuava alternadamente (um dia sim, outro dia não)”.
[Al-Bukhari e Musslim]

Na distribuição dos tempos, esse era o único período em que era muito difícil para qualquer pessoa chegar a Dawud (as). Nesse tempo o seu contato com os israelitas estava completamente cortado.

Durante os outros períodos de tempo, em caso de emergência, Dawud (as) poderia ser contatado.

Não há dúvidas que adorar ALLAH e glorificá-Lo é o objetivo principal de um crente.

Mas para os que foram escolhidos para guiar e servir a Humanidade é preferível que cumpram com as suas obrigações no lugar de se dedicarem à adoração intensiva. Sem dúvidas, um místico (sufi ) alcançará graus muito altos ao dedicar-se exclusivamente na adoração à ALLAH. Pelo contrário, o objectivo da concessão de profecia ao Homem é fazer com que este guie e sirva a Humanidade. Portanto, o grau perfeito de cumprimento da missão incumbida por ALLAH, reside na exaltação das Suas ordens ao estar em contacto com a criatura e não na procura da exclusão, retiro e isolamento.

Não obstante a distribuição de trabalho executada por Dawud (as) ser digna de nota, a determinação de um período de tempo reservado unicamente à adoração, era incompatível com o seu grau da profecia, pois tal não era apropriado para um mensageiro do seu calibre. Ele foi escolhido para ser khalifa,

BISMILLAH AL-RAHMAN AL-Rahim•Wassalatu Wassalamu Ala Ashraful Mursaleen
Allahumma Sali Ala Muhammad ua Aali Muhammad. Imploramos a ALLAH (SW), que nos ajude, nos dê uma boa orientação para o benefício do Islã e dos muçulmanos, corrigindo nossos trabalhos, nossas intenções e nossas ações.

Agradecemos a ALLAH (SW) que é o único Senhor do universo.

Que ALLAH (SW), aceite este trabalho, nos dando uma boa recompensa nesta vida e na outra. Principalmente às pessoas que nos precederam nesse trabalho e nos serviram como orientadores! Subhanna Allah!(Louvado Seja Allah(SW).

"Ó fiéis, atendei a Allah e ao Mensageiro, quando ele vos convocar à salvação. E sabei que Allah intercede entre o homem e o seu coração, e que sereis congregados ante Ele." 8:24

Salam Alaikum Ua Rahmatullah ua Barakatu

Compilado por Hajj Hamza Abdullah Islam – o menor dos servos de Allah

domingo, março 21, 2010

A HISTÓRIA DE DAVID (Dawud) E GOLIAS (JALUT) 1ªPARTE

Quando dois exércitos, de um lado o do rei Talut (Saul) e do outro, o do rei Jalut (Golias) se confrontaram, Jalut lançou um desafio para que um soldado do exército do rei Talut, o enfrentasse num combate individual corpo a corpo (reptos deste tipo era tradição em batalhas naqueles tempos), para além de que o “bruto” queria tornar patente a força invulgar de que era dotado. Este repto criou algum pavor nas pessoas, pois ninguém sentia coragem suficiente para aceitar o desafio.

Para estimular um eventual voluntário, o rei ofereceu em casamento a sua bela filha ao homem que aceitasse confrontar Jalut. Mas nem mesmo essa atraente proposta logrou quebrar o silêncio gélido reinante entre os seus soldados.

Quando um jovem de entre os soldados ouviu o desafio lançado por Jalut e perante o qual os israelitas se revelavam hesitantes, não resistiu e para asurpresa de todos avançou, pedindo permissão à Talut para responder ao desafio de Jalut.

Uma forte e estrondosa gargalhada ecoou da parte da horda inimiga, e até mesmo os homens de Talut menearam as cabeças.

O jovem que se propunha aceitar o desafio era Dawud (as), da cidade de Betlehem (Belém). Seu velho pai tinha escolhido três dos filhos para se juntarem ao exército de Talut. Instruiu o mais novo – Dawud (as) – para não participar no combate, limitando a sua ação à ajuda ao exército noutras tarefas. Uma das suas
tarefas era a de diariamente informar seu pai sobre o que ia acontecendo na frente da batalha, bem como sobre as condições em que estavam os seus irmãos.

Não era ainda conhecida fama alguma sobre a bravura de Dawud (as), pois ele não fora enviado para a frente de batalha com a missão de combater.

Apesar de o rei estar deveras impressionado com a coragem patenteada pelo jovem Dawud (as), tentou dissuadí-lo: Eu admiro a tua coragem ó jovem, mas tu não te podes comparar àquele poderoso guerreiro. És muito novo e inexperiente. Não pode combater um gigante como ele. Deixe que algum homem forte avance.

Não obstante, Dawud (as) estava determinado, insistindo com o pedido de enfrentar o desafio que fora lançado. Orgulhosamente, disse ao rei que um dia antes ele havia morto um leão que ameaçara as ovelhas de seu pai e que numa outra ocasião matara um urso. Pediu a Talut para que não o julgasse pela sua aparência, pois ele não tinha medo de nenhum homem nem de qualquer besta selvagem, pois o que conta é a força e não a idade.

Talut, revelando-se surpreendido com a coragem demonstrada pelo jovem Dawud (as), aceitou, tendo dito: Meu jovem soldado, se tu queres então ALLAH que te proteja e te dê forças!

O rei vestiu Dawud (as) com a armadura de batalha e deu-lhe uma espada. Mas Dawud (as), não estando habituado àquelas vestes de combate, não se sentia confortável pois estas dificultavam-lhe os movimentos, pelo que despiu a armadura. A seguir juntou algumas pedrinhas com as quais encheu o seu alforge de pele, pendurando-o ao ombro.

Levando na mão um pau de madeira, começou a caminhar em direção ao inimigo. Talut estava preocupado, tendo-lhe perguntado: Como é que te vais defender de um gigante apenas com uma funda e algumas pedrinhas?

Dawud (as) respondeu: ALLAH que me protegeu das garras do urso e das unhas do leão, certamente que me protegerá desse bruto!

Ato contínuo, Dawud (as) avançou, desafiando Jalut.

Quando o gigante Jalut olhou para o jovem magro, que parecia um adolescente, riu-se às gargalhadas e gritou: Vieste brincar ao jogo de paus com um dos teus colegas, ou já estás cansado da tua vida? Eu simplesmente vou decepar a tua cabeça com um único golpe da minha espada!

Dawud (as) respondeu: Tu podes ter armas, escudo, espada e arco, mas eu vou te enfrentar em nome de ALLAH, O Deus dos filhos de Israel, de cujas Leis tu zombaste. Hoje vais ver que não é a espada que mata mas sim o poder de Deus!

Depois de dizer isso, tirou algumas pedrinhas do seu alforge e colocou-as na funda. A seguir, revoluteou-a lançando certeiramente as pedras contra Jalut. Projetadas a uma velocidade semelhante à de uma lança curta, as pedrinhas atingiram a cabeça de Jalut com tamanha força, que lhe fizeram brotar sangue.

Jalut caiu sem vida, antes sequer de ter oportunidade de desembainhar a sua espada. Dawud (as) avançou e degolou-o. Quando os restantes homens que compunham a sua tropa viram o seu poderoso herói morto, o cenário alterou-se, fugindo todos eles. Os israelitas perseguiram-nos, atacando-os sem piedade, vingando-se assim dos anos do sofrimento a que tinham sido sujeitos às mãos dos seus inimigos. Mataram o maior número possível de soldados inimigos, derrotando-os copiosamente.

Nessa batalha os filhos de Israel recuperaram a glória e a honra que há muito haviam perdido. Esse episódio tornou Dawud (as) famoso, distinto, amado e herói, numa única noite.

Talut cumpriu com a sua palavra, dando em casamento a sua filha Miquel ao jovem combatente. Tornou-o igualmente membro da corte, como um dos seus principais conselheiros.

Tanto o Al-Qur’án como a Bíblia são unânimes na afirmação de que foi Dawud (as) quem matou Jalut e que com a morte deste os israelitas saíram vitoriosos.

Consta no Al-Qur’án:

“Não refletiste (ó Muhammad) os chefes dos Filhos de Israel, depois (da morte) de Moisés? Quando disseram a um profeta seu: Designa-nos um rei, para combatermos no caminho de Deus.

Ele disse: Não achas que, se vos for imposto o combate, possais não combater? Eles disseram: Porque não combateremos no caminho de Deus, uma vez que fomos expulsos das nossas casas e separados dos nossos filhos.
Então quando lhes foi ordenado o combate, todos eles voltaram as costas exceto poucos deles. Deus, porém, conhece os injustos.

E o seu profeta (Samuel) disse-lhes: Certamente, Deus designou para vós Talut (Saul) como rei.

Eles disseram: Como é que ele pode reinar sobre nós, se nós somos mais merecedores de reinar do que ele, e nem lhe foi dada bastante riqueza. O profeta disse: Deus elegeu-o sobre vós e aumentou-lhe com abundância a sabedoria e a estatura. Deus dá o reino a quem quiser e Deus é Todo- Poderoso, Omnisciente.

E o seu profeta (Samuel) disse-lhes: O sinal da sua realeza será, chegar-vos a caixa (Arca), onde há tranquilidade do vosso Senhor, e os restos (relíquias) do que foi deixado pela família de Moisés e de Arão, transportada pelos anjos. Certamente, nisso há um sinal para vós, se sóis crentes.

Quando Saul partiu com a sua tropa, ele disse: Certamente, Deus pôr-vos-á em prova com um rio. Quem beber da sua água em estravagância não é dos Meus e quem dela não provar, esse é dos Meus, salvo aquele que a tomar só com a concha da sua mão. Então todos beberam do rio, exceto poucos deles.

Depois, quando ele e os crentes que estavam com ele o atravessaram (o rio), disseram: Hoje não temos força para combater (contra) Golias e a sua tropa.

Aqueles que sabem que se irão encontrar com Deus (no Dia Derradeiro), exclamaram: Quantos grupos pequenos derrotaram grupos grandes com a permissão de Deus! E Deus está com os que são firmes.

E quando enfrentaram Golias e a sua tropa no campo de batalha, eles disseram: Ó Senhor nosso! Dá- nos constância, mantém firmes os nossos pés e ajuda-nos contra o povo infiel.

E com a vontade de ALLAH os derrotaram; Dawud matou Jalut (Golias) e ALLAH concedeu-lhe o poder e a sabedoria e lhe ensinou tudo quanto Lhe aprouve (isto depois da morte de Saul e Samuel). E se Deus não repelisse certas pessoas uns pelos outros, a terra corromper-se-ia. Mas Deus é Senhor da bondade para as criaturas do mundo.” [Al-Qur’án 2:246-251]

Vide também a Bíblia [I Samuel 8]

O INVEJOSO REI

Dawud (as) _ combateu com bravura no caminho de ALLAH. Sempre que ele combatia, saía vitorioso. As pessoas elogiavam-no e gostavam dele, não obstante os corações de muitos deles serem inconstantes e as suas memórias fracas. Mesmo os grandes homens são susceptíveis de se sentirem inseguros.

Numa .ocasião, Dawud (as) encontrou Talut muito preocupado. Notou algo de estranho na sua atitude para com ele. À noite, partilhou com a esposa o que sentia. Ela começou a chorar e disse: Ó Dawud (as)! Eu jamais guardarei segredos sem te informar.

Acrescentou que seu pai se tornara invejoso devido à popularidade de Dawud (as), receando perder o seu reino a favor deste. Miquel aconselhou-o a estar sempre atento. Esta informação deixou Dawud (as) deveras chocado. Orou para que o bom carácter de Talut prevalecesse e que a vertente feia e ruim nele fossem removidos.

No dia seguinte, Talut convocou Dawud (as) e disse-lhe que Canaan havia mobilizado as suas forças com o intuito de marchar contra o reino. Ordenou que Dawud (as) mobilizasse o exército e avançasse contra eles, e que não regressasse enquanto a vitória não fosse alcançada.

Dawud (as) suspeitou tratar-se de um pretexto para se livrar dele. O inimigo iria matá-ló ou então na confusão da batalha os agentes de Talut poderiam apunhalá-lo traiçoeiramente. Mas mesmo assim, ele apressou-se na mobilização do exército para enfrentar as tropas de Canaan.

Os seus homens combateram com galhardia contra os cananeus, sem pensarem na sua segurança pessoal. ALLAH concedeu-lhes a vitória e Dawud (as) sobreviveu mais uma vez, regressando para junto de Talut.

Mas esta vitória só serviu para aumentar os receios de Talut, tendo conspirado para matar Dawud (as). Tal era a inveja que ele tinha, que não se importava sequer com o bem-estar da filha. Miquel soube do plano do pai e apressou-se a avisar o seu marido. Dawud (as) juntou alguns víveres e outros mantimentos, e montando o seu camelo, fugiu. Durante a fuga chegou a uma caverna, onde se manteve escondido por muitos dias. Decorrido algum tempo os seus irmãos e alguns cidadãos juntaram-se-lhe.

Esta atitude enfraqueceu bastante a Talut. Começou a maltratar a sua equipe de sábios e intelectuais, a torturar os recitadores de Talmud e aterrorizar os seus soldados, o que agravou a sua posição e a do seu séquito, cujos membros começaram-se a rebelar contra ele. Decidiu então declarar guerra contra Dawud (as). Quando essa notícia chegou a Dawud (as), este optou por marchar com o intuito de confrontar o exército de Talut.

As tropas de Talut tinham já marchado uma grande distância, pelo que revelavam algum cansaço. Decidiram descansar num vale onde adormeceram. Silenciosamente, Dawud (as) rastejou até junto de Talut que dormia. Removeu a sua lança e afastou-se sobre os bicos dos pés.

Quando Talut acordou e não encontrou a sua lança, ficou agitado. Mais tarde, chegou um mensageiro que lhe trazia de volta a lança dizendo: Dawud (as) podia matar-te, mas ele é um homem nobre.

Ao ouvir isto, Talut ficou profundamente comovido, começando a chorar devido à sua própria injustiça, e por ter traído Dawud (as), quando este não merecia tamanha atitude.

Então, ele ordenou que o seu exército regressasse ao reino. Enviou uma mensagem a Dawud (as), pedindo-lhe para que regressasse à corte onde iria ocupar uma posição privilegiada ao seu lado.

Quando Dawud (as) e os seus homens regressaram, Talut deixou a cidade à busca do perdão de ALLAH devido às suas más ações. Passou o resto da sua vida numa casa pequena no campo, orando a ALLAH. Após a sua morte, Dawud (as) tornou-se rei, e todos os israelitas prestaram-lhe juramento de fidelidade.

Segundo a história bíblica, Saul foi o primeiro rei dos hebreus, que morreu na Batalha de Gelboé.

Dawud (as) foi um rei justo, proporcionando paz e prosperidade à sua gente, tendo mais tarde sido escolhido por ALLAH como profeta para guiar os filhos de Israel.

Há unanimidade em todos os historiadores na descendência de Dawud (as). Ele era descendente de Yahuda. Consta na Bíblia que Iysha tinha vários filhos dos quais Dawud (as) era o mais novo.

Muhammad Ibn Iss’háq cita uma narração de Wahb Ibn Munabbih, segundo a qual Dawud (as) era de estatura baixa e de olhos azuis. Contrariamente a muitos israelitas, ele tinha muito poucos pêlos no seu corpo. A pureza do seu coração e a sua natureza meticulosa refletiam-se na sua cara.

Dawud (as) foi mencionado em vários capítulos do Al-Qur’án. O seu nome aparece em dezesseis suratas, com alguns pormenores em alguns versículos e abreviadamente noutros.

A PROFECIA

O resultado do amor que os israelitas nutriam por Dawud (as) fez com que este ascendesse ao poder, tornando-se rei com Talut ainda vivo ou imediatamente após a sua morte. ALLAH também favoreceu-lhe com a profecia durante esse período.

Antes da era de Dawud (as), uma ramificação dos filhos de Israel controlava o governo, enquanto que à outra foi concedido o pedestal da profecia. A profecia continuou na família de Yahuda, enquanto a liderança continuou na família de Efraim.

Dawud (as) foi a primeira pessoa a quem ALLAH agraciou simultaneamente com o reino e com a profecia, pois ele era rei e profeta. O Al-Qur’án faz alusão a esse favor sobre Dawud (as) da seguinte forma:

“E com a vontade de ALLAH os derrotaram; Dawud matou Jalut (Golias) e ALLAH concedeu-lhe o poder e a sabedoria e lhe ensinou tudo quanto Lhe aprouve.”

[Al-Qur’án 2:251]

“Então fizemos Salomão compreendê-lo. E a cada um dos dois, demos
sabedoria e ciência. E submetemos, com Dawud, as montanhas e os pássaros,
para Nos glorificarem. Fomos Nós quem fizemos isto.”
[Al-Qur’án 21:79]

“E dissemos-lhe: Ó Dawud! Por certo, Nós fizemos de ti Khalifa na terra (nosso representante). Portanto, julga entre as pessoas, com justiça, e não sigas a paixão, pois ela te afastará do caminho de ALLAH.”
[Al-Qur’án 38:26]

De entre os mensageiros, além de Ádam _, o Al-Qur’án apenas atribuiu o título de Khalifa à Dawud (as). A prudência neste fato provavelmente possa ser atribuída ao fato de terem sido dados a Dawud (as) a profecia e o reino, contra o costume que a Séculos prevalecia no seio dos israelitas, daí que se revelasse importante atribuir-lhe um título que explicitamente manifestasse os atributos da sabedoria e poder de ALLAH. Para esse objetivo, no Shari’ah não há melhor título do que o de Khalifa.

Nos versículos acima citados fala-se de Khalifa. O que é Khalifa? A palavra Khalifa tem três significados, nomeadamente:

1. “Esse que vem depois ou a seguir” [Al-Qur’án 7:169]. ALLAH é um Ser que não tem antes nem depois. Ele é infinito. Portanto, os seres humanos não são Seus Khalifas nesse sentido.

2. Khalifa pode significar “deputado” (vice-rei). ALLAH não tem deputados nem vice-reis. Os reis e presidentes têm deputados ou vice-reis nos países e locais de cujos assuntos eles não podem administrar diretamente, pois os seus poderes e conhecimentos são finitos e limitados. Por isso eles enviam seus deputados e vice-reis. No caso de ALLAH, Ele abrange tudo e tem poder sobre todas as coisas. Ele é Omnipresente e Omnisciente.

3. Portanto a melhor tradução é: “Esse que pode mudar as coisas”. Ou “Esse que pode interferir nas coisas”. Essa é que é a função da Humanidade.
ALLAH criou a Terra, mas não criou uma casa, estrada ou mobílias. Ele incumbiu-nos a função de khalifas. Ele enviou os seus Profetas que ensinaram o modo de vida, de cultura e civilização, medicina e qualquer
ramo de vida, por isso ALLAH diz:

“E ensinámos-lhe (a Dawud) a arte de fazer couraças para vos proteger das vossas violências.”

A função de Dawud (as) não era apenas transmitir ensinamentos espirituais e morais, mas também ensinar formas de cultura, civilização e também tecnologia.

Nestes versículos do “Surah Sád” há um que ordena o Sajdah, porém existe divergência entre os imámes neste Sajdah do “Surah Sád”, se é obrigatório ou facultativo (Sajdatus-Shukr). Uns acham que não é obrigatório por se tratar de Shukr e outros acham que é obrigatório.

Dawud (as) foi escolhido para guiar os filhos de Israel, monitorando em simultâneo a sua vida social.

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“Ó fiéis, atendei a Allah e ao Mensageiro, quando ele vos convocar à salvação. E sabei que Allah intercede entre o homem e o seu coração, e que sereis congregados ante Ele.” 8:24

Asalamo Alaikom WA WB,

Hamzah Abdullah Islam - o menor dos servos de Allah SW