sexta-feira, setembro 26, 2014

Sobre a Metodologia da Compreensão do Alcorão

Já houve numerosas interpretações do Sagrado Alco-rão. Isto por si, mostra o grande significado desta Extraordinária Escritura revelada ao sagrado Profeta do Islão, Muhammad (p.e.c.e.), há 1400 anos.

O Alcorão inspirou milhões de pessoas à volta do globo e continuará a fazê-lo enquanto existirem seres humanos neste planeta. Muitos inimigos do Islão atacam esta Extraordinária Escritura e tentam “provar”, à sua maneira, que ela “destila ódio contra os não crentes … providenciando um rígido e fanático sistema de crenças … que fazem com que os muçulmanos sejam fanáticos e derramem tanto sangue na terra”.

Infelizmente, também muitos racionalistas, embora não inspirados pelo ódio do Alcorão, mas pela sua aversão à religião, têm acreditado, frequentemente, nestes argumentos, pois abordam o Alcorão com uma perspectiva pré-concebida que irá apenas atrasar o seu progresso e deturpar a compreensão da sua verdadeira mensagem, o que redunda num impacto confuso.

É tendo em conta estas objecções e interpretações erradas do Alcorão que é necessário desenvolver uma metodologia adequada, para entender a Escritura de imenso significado.

A primeira questão importante neste contexto é saber se será possível haver apenas um único tipo de interpretação?

Em segundo lugar, pode qualquer interpretação particular do Alcorão ser obrigatória para as gerações posteriores, ou mesmo para o povo da mesma geração, por mais eminente que seja o intérprete?

Em terceiro lugar, os companheiros do Profeta (p.e.c.e.) fizeram algum acordo sobre uma determinada interpretação ou significado de um versículo do Alcorão? Se não, por que eles não concordam com os outros?

Em quarto lugar, qual é o papel dos ahadith na compreensão do Alcorão? Pode-se compreender o Alcorão sem a ajuda dos ahadith?

E em quinto lugar, se aqueles ahadith usados para explicar o significado do Alcorão são unanimemente aceites pelos intérpretes e comentadores?   

Estas são questões cruciais para desenvolver a metodologia adequada para compreender o Alcorão.

Uma interpretação, por vezes, pode não ser a única interpretação. Isto é fundamental para entender os vários aspectos dos pronunciamentos do Alcorão. Um comentador poderia ter essencialmente uma perspectiva teológica, outro, uma perspectiva sociológica, um terceiro pode olhá-lo do ponto de vista científico e assim por diante. Cada um terá uma contribuição a dar a partir das próprias perspectivas. A este respeito, é importante notar que o Alcorão usa palavras que podem ter vários significados ou linguagem simbólica …

Nós, como muçulmanos, acreditamos que o Alcorão é eterno em sua relevância e vai direto à nossa alma se o deixarmos, pois fala a língua do coração humano, seja onde for que o ser humano se encontre ou seja qual for a era em que viva. Está escrito numa língua universal, profundamente enraizada na constituição natural do ser humano.

Os problemas e desafios enfrentados pelos muçulmanos, no passado, podem não ser os mesmos que enfrentam as gerações presentes.

Assim, a fim de obter orientação e inspiração do Alcorão, as pessoas pertencentes às novas gerações, vão ter de interpretar alguns aspectos Alcorânicos sob a perspectiva contemporânea.

É absolutamente verdade que o hadith desempenha um papel importante na compreensão do Alcorão, mas há alguns problemas com a literatura dos ahadith, que precisam de ser revistos, a fim de ponderar o seu papel na interpretação do Alcorão. O primeiro e mais importante problema é, naturalmente, o da autenticidade do hadith. Há algumas controvérsias sobre diferentes ahadith que são utilizados nas interpretações de vários versículos do Alcorão. E estes ahadith fazem uma diferença crucial para a compreensão dos versículos Alcorânicos. Aqui também há duas coisas que merecem destaque: primeiro, se os versículos pertencem ao que chamamos de crenças metafísicas (‘aqa’id e ibadát), então as eventuais controvérsias não terão qualquer impacto social; segundo, se os versículos dizem respeito a questões socioeconómicas e a leis pessoais, aquilo a que chamamos mu'amalaat, então a interpretação destes versículos terá grande impacto social e afetará a vida das pessoas aqui na terra.

Assim, o nosso próprio sistema de conhecimento e de bagagem cultural é crucial para a compreensão dos versículos do Alcorão. O texto religioso é sempre complexo, rico, multifacetado e multidimensional. Outra coisa que deve ser ressalvada é que os versículos do Alcorão podem ser divididos em cinco categorias:

1) - Os versículos referentes a 'ibadat que incluem a oração (salah), jejum (saum), peregrinação a Meca (hajj), taxa contributiva para o pobre (zakat) e outras práticas semelhantes que pertencem a esta categoria;

2) - Os versículos relativos à mu’amalat que incluem, entre outras coisas, casamento, divórcio, herança, testemunho, negócios, contrato de imóveis, agricultura e assim por diante.

3) - Os versículos referentes a crenças metafísicas como a unicidade de Deus, o Dia do Juízo, o inferno e o céu, os anjos e assim por diante;

4) - Os versículos relativos à orientação geral;

5) - Os versículos referentes a valor como justiça, igualdade, honestidade, etc.

 Os versículos relativos à ibadát, conforme atrás referidos, podem ser entendidos à luz do hadith autêntico. O Profeta (p.e.c.e.) explicou como rezar, como realizar a peregrinação a Meca, questões relacionadas com o jejum, etc. Não há necessidade de qualquer nova interpretação ou de repensar estes versículos. Eles devem ser entendidos como explicados pelo Profeta. É o conceito de ibadát e os rituais a eles associados que fornecem a singularidade de qualquer religião. Cada religião tem desenvolvido o seu sistema espiritual e sistema de oração, adoração, etc. Meditação para repensar sobre estas questões é como mexer com essa singularidade estética e destruir a sua espiritualidade, se assim se pode dizer. Portanto, a compreensão dos versículos referentes a ibadát não pode mudar. Mas é claro que as diferenças sectárias, neste contexto irão persistir. Há muitas diferenças, algumas vezes até mesmo de natureza significativa, em matéria de Salah, etc. Entre as várias escolas de jurisprudência no Islão Sunita (Hanafitas, Chafiítas, Malikitas, Hanbalitas, Zahiritas) e no Islão Chi'ita (Ithna-Asharis, Zaiditas, Ismailitas, etc., essas diferenças permaneceram e permanecerão no futuro também. De certa forma, essas diferentes práticas sectárias também fornecem a singularidade de cada grupo e tornam-se em significação de identidade. Estas diferenças também são baseadas nos ahadith aceitáveis para todas as escolas de pensamento. Algumas escolas de pensamento (madhahib) aceitam alguns ahadith como autênticos quando outros aceitam os outros como autênticos e duvidam da autenticidade de outros ahadith.

Quanto aos versículos relativos à mu'amalat que incluem, como já foi referido, assuntos como casamento, divórcio, herança, negócios e assim por diante, há quem, entre os eruditos contemporâneos, quem discuta se re-pensar nesses versículos é necessário tendo em conta os problemas e desafios emergentes. Por exemplo, a permissão Alcorânica para casar com quatro mulheres tem necessidade de ser repensada. Os versículos do Al-corão relacionados com a pluralidade de esposas foram compreendidos sob o espírito medieval e as práticas hebraicas e arábicas vigentes da época. Há, portanto, modernistas que afirmam a necessidade de releitura desses versículos. As mulheres, que se tornaram muito mais conscientes dos seus direitos islâmicos, também estão na vanguarda desta demanda. A mesma coisa po-de-se dizer dos versículos referentes ao divórcio.

Quanto à terceira categoria de versículos ou seja, aqueles referentes a crenças metafísicas como a Unicidade de Deus, o Dia do Juízo, Céu e Inferno, anjos, etc., estes são parte do que podemos chamar de "fé (aqa'id e imán). Estes versículos também, como os pertencentes à primeira categoria, estão fora de qualquer mudança e dizem respeito aos fundamentos da religião. A crença na Unicidade de Deus (Tawhid) é fundamental para o ensino islâmico. Da mesma forma as crenças no Dia do Juízo Final, na Profecia, nas Escrituras, nos Anjos, etc., também pertencem aos ensinamentos básicos do Islão. A crença de que o Profeta Muhammad (p.e.c.e.) é o último Profeta é igualmente fundamental para a crença islâmica e é parte integrante dos ensinamentos do Alcorão. Estas crenças estão fora de qualquer reinterpretação e devem ser aceites sem qualquer questão, pois são parte da singularidade do Islão e fazem a distinção de outras religiões.  

A quarta categoria dos versículos do Alcorão dizem respeito à orientação geral para difundir o que é bom (o termo Alcorânico para isso é Ma'ruf) e conter o que é mau (o termo Alcorânico para isto é unkar) e não têm necessidade de mudança. Estas são verdades universais compartilhadas por outras religiões também. É claro que o entendimento do que é e o que é ma'ruf e munkar pode variar ao longo do tempo e de lugar para lugar e, nessa medida, pode haver pequenas diferenças de opinião.

A quinta categoria dos versículos do Alcorão ou seja, aqueles referentes a valores como a justiça, a igualdade, a compaixão, a criação de justa ordem social, etc., são, evidentemente, de natureza eterna. O Alcorão coloca grande ênfase nesses valores. Pode-se dizer que estes valores são fundamentais para o Islão. Não há mais nenhuma questão para repensar porque esses valores são universais e eternos. Além disso, houve completo acordo entre os teólogos e juristas muçulmanos acerca desses valores e que refletem-se em todas as formulações teológicas e jurídicas do Islão. No entanto, pode haver, e há, diferenças acerca do que é justo e do que não é e o que constitui a igualdade e em que sentido. Por exemplo, o versículo Alcorânico 4:129, acerca do tratamento de mulheres era assim interpretado, pois que o tratamento igual para todas as quatro esposas foi pensado ser o suficiente para cumprir o sentido de justiça.

Assim, o que parece ser justo hoje poderá já não ser justo amanhã. Mas o que é mais importante é a justiça, não a sua compreensão em determinadas circunstâncias. Assim, a interpretação dos juristas islâmicos dos versículos do Alcorão relacionados com a justiça, ou quaisquer outros valores semelhantes, terá que mudar de acordo com o espírito do tempo/conjuntura. Este é um elemento importante da metodologia a ser utilizada para compreender os versículos do Alcorão. Em outras palavras, tem de haver um elemento de dinamismo na compreensão dos versículos do Alcorão.

A literatura de hadith também requer abordagem semelhante. Mesmo o mais autêntico hadith em que há unanimidade completa, não deve impor restrição à descoberta de novos significados ou potencialidades do determinado versículo do Alcorão. O Profeta (p.e.c.e.) não podia ter ignorado as limitações do seu próprio tempo em relação a certas práticas, embora com relutância. Por exemplo: ainda que, pessoalmente, tenha emancipado escravos, não poderia ter abolido a escravidão. O Islão foi provavelmente a primeira religião a pregar a igualdade de todos os seres humanos, com a proclamação do Alcorão de que todos os filhos de Adão são iguais e honrados, mas a instituição da escravatura estava tão profundamente enraizada na estrutura social da época que não podia ser totalmente abolida. Mas isso não significa que deveria ser perpetuada, por se citarem alguns versículos do Alcorão ou hadith.

Aqui devemos considerar outro elemento importante da metodologia do Alcorão que é colocar versículos normativos acima de versículos contextuais. Alguns versículos do Alcorão proclamam normas e valores, enquanto outros permitem determinadas práticas ou instituições dentro daquele contexto. Em outras palavras, os versículos normativos são mais importantes do que os versículos contextuais, porque são eternos na sua aplicação.

Ao desenvolver a metodologia para a compreensão adequada do Alcorão devemos sempre que ter em men-te que o Islão era muito mais que um conjunto de cren-ças ou rituais — era a proclamação da revolução social, criando uma nova sociedade humana baseada na igual-dade, justiça e dignidade humana. Acreditava em derru-bar qualquer "status quo" com base na hierarquia, a dis-criminação com base na tribo, casta, credo, raça ou nacionalidade. Há uma dimensão transcendental nos ensi-namentos islâmicos que nunca pode ser ignorada. Mas, como se viu, alguma interpretação do Alcorão que her-dámos está mergulhada em alguns valores medievais. Temos, assim, de juntar esforços para resgatá-la a partir deste medievalismo, mas reconhecendo a sua importân-cia histórica. Temos de voltar ao Alcorão e aos versícu-los normativos para criar uma nova ordem justa e huma-na no século XXI. A nova metodologia de compreensão do Alcorão deveria permitir-nos agitar a actual estrutura injusta de nossa sociedade, deveria permitir-nos ultra-passar a nossa situação social, dar uma nova esperança e construir um novo futuro para a humanidade.
Obrigado. Wassalam.

M. Yiossuf Adamgy - 23/09/2014.

O DIA DE ARAFAH – O IDUL- ADHÁ – O SACRIFÌCIO (QURBANI).

Assalamo Aleikum Warahmatulah Wabarakatuhu (Com a Paz, a Misericórdia e as Bênçãos de Deus) Bismilahir Rahmani Rahim (Em nome de Deus, o Beneficente e Misericordioso) JUMA MUBARAK

LABBAIKA, ALLAHUMMA LABBAIK… Abdurrahman Bin Yamur Ad-Dail (Radiyalahu an-hu – Que Deus esteja satisfeito com ele), referiu que ouviu do Profeta Muhammad (Salalahu Aleihi Wassalam) dizer: “O Haj é Arafah, O Haj é Arafaf”. Relato de Baihaque. Ainda referiu o Profeta: “O melhor dia, é o dia de Arafah”.

O Dia de Arafah é o dia 9 de Dhul Hiija. Em Arafah, os muçulmanos que se encontram a cumprir o Haj, ouvem falar línguas que nunca tinham ouvido falar. É uma prova de que o Islam é uma religião universal. Vemos irmãos e irmãs da mesma fé, de todas as raças e nacionalidades, trajando o mesmo tipo de vestuário (os homens embrulhados em panos brancos) e todos movidos pela mesma causa que é de obter o perdão de Deus, nosso Criador e Sustentador. Faz-nos pensar o dia da Ressurreição, em que todos seremos levantados das nossas sepulturas e reunidos para a derradeira prestação de contas.

Nesse dia em Arafah, o Haji (peregrino) deverá estar o mais tempo possível de pé, com as mãos levantadas fazendo duás (preces), com muita humildade e sinceridade, pedindo a Deus que lhe perdoe e que o encaminhe para o caminho daqueles que ganharam a Sua satisfação. Deve também aproveitar o tempo fazendo o Zikr (recordando e louvando a Deus) e lendo o Cur’ane.

Há algumas décadas atrás, muitos pensavam que a importância do Dia de Arafah era só para os que se encontravam a cumprir com o Haj. Graças a Allah, os muçulmanos começam agora a aperceber-se de que o dia Dia de Arafa, que acontece na véspera do dia do Idul Adhá, beneficia também os muçulmanos que se encontram nos seus países de residência. Ao longo do ano, existem dois dias muito especiais para o muçulmano. Os álimos referem que nos 10 últimos dias do mês de Ramadan são muito importantes porque neles existe uma noite abençoada, a Noite de Lailatul Kadr. Também afirmam que que 10 primeiros dias do mês de Dhul Hijja, existe um dia importante para todos os muçulmanos que se encontram em peregrinação (Haj) e para todos aqueles que se encontram nos seus países. É o Dia de Arafah. Aisha (Radiyalahu an-há) referiu que o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) disse: “Em nenhum outro dia, Allah livra tantos servos do inferno, como no dia de Arafa”. Muslim.

Dada a importância do Dia de Arafa, o Profeta Muhammad (Salalahu Aleihi Wassalam) deixou a recomendação para que os muçulmanos que não se encontram em peregrinação (Haj), para jejuarem no dia de Arafah. Abu Catada (Radiyalahu an-hu), referiu que foi perguntado ao Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) acerca do jejum no dia de Arafah; respondeu: “Isso permite emendarem-se as faltas (cometidas) durante o ano anterior e o ano seguinte”. Muslim.

Deve ser recitado o Takbir, após cada oração farz, começando no dia 9 de Dhul-Hajja, na hora de Al Fajr, até ao dia 13 do mesmo mês, depois da oração de Assr. ALLAHU AKBAR, ALLAHU AKBAR; LÁILAHA IL-LALLÁHU-WALLÁHU AKBAR. ALLÁHU AKBAR WALIL-LÁHIL-HAMD. Deus é o Maior. Deus é o Maior. Não há outra divindade excepto Deus. Deus é o Maior, Deus é o Maior e todos os louvores pertencem só a Deus.

Os Muçulmanos têm dois dias festivos. O Idul Fitre, depois de terminado o mês de Ramadan e o Idul Adhá, no dia 10 de Dhul Hiija, em comemoração do final do período de Haj, em que todos os que não participam nos rituais do Haj, celebram o dia, fazendo a oração e depois o Curbani (sacrifício). Abu Huraira (Radyiallahu anhu) narra que o Profeta (Sallalahu Aleihi Wassalam) disse: “Quem tem capacidade financeira para fazer o curbani (sacrifício), mesmo assim não o faz, esse que fique longe e não se aproxime do nosso idegáh (local da oração de Ide).

Para manter viva a tradição de Ibrahim (Aleihi Salam), foi instituído que todo o muçulmano, após a oração do Idul Adhá (festa religiosa em comemoração do final da peregrinação a Makka), deve sacrificar um carneiro, uma vaca, um camelo, etc..

Uma galinha não serve para o curbani. Um carneiro dá para uma pessoa e uma vaca para 7 pessoas. Jabir b. Abdullah (Radiyalahu an-hu) referiu: “No ano de Hudaibiya (6 da Hegira), nós, na companhia do Mensageiro de Deus, sacrificámos camelos para 7 pessoas e vaca para 7 pessoas”. Muslim. É recomendável que a carne seja distribuída em 3 partes iguais. Uma para seu consumo próprio, uma parte para os necessitados e outra parte para os amigos e vizinhos, de modo que todos possam passar o dia de festa, convivendo em harmonia.

O Curbani é obrigatório para todo o muçulmano, adulto, financeiramente capaz. O Curbani pode ser efectuado nos dias 10 11 e 12 de Dhul Hijja. Mas é recomendável que seja efectuado no dia 10, dia de Ide, mas só depois da oração do Idul Adhá.

Acerca da carne do Curbani, Allah refere no Cur’ne: “…Comei, pois, dele e alimentai o indigente e o pobre”. 22.28. O Curbani que é feito no dia de Idul Adhá, não tem nada a ver com os sacrifícios que alguns povos ainda fazem, invocando espíritos ou ídolos. “Deus vos proibiu carne de animais mortos (que morreram por si), o sangue, a carne de porco e o que foi imolado sob a invocação de qualquer outro nome, que não seja o de Deus…” 2.173.

Certa vez os Sahabas (Radiyalahu an-huma) - companheiros do Profeta, quiseram saber o significado do Curbani (Sacrifício) e o Profeta (Salalahu Aleihi Wassam) respondeu: “É Sunnat (tradição) do vosso pai Ibrahim.” Então eles perguntaram: “Que recompensa obteremos pelo sacrifício? O Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) disse: “Por cada pêlo do animal, tereis uma recompensa.” Relato de Ibn Majah.

O Mensageiro de Deus (Salalahu Aleihi Wassalam) fez o curbani durante todos os anos que permaneceu em Madina.

Dar prendas no dia de Ide, aumenta ainda mais as nossas amizades. O Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) disse: “Ofereçam prendas uns aos outros, porque a prenda remove o rancor do peito”. – Relato de Tirmizi. As prendas devem ser úteis e não necessariamente dispendiosas. Devemos ter em atenção a utilidade das mesmas. Também é uma prenda o cumprimento, um abraço efusivo entre amigos, uma visita de cortesia, um sorriso, um telefonema para os familiares e amigos que se encontram distantes. Aicha (R.T.A.) disse que o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) aceitava prendas e em troca também dava prendas. - Relato de Al- Bukhari.

Nos dias de Ide, devemos dar prendas, em especial às nossas crianças, de modo que não fiquem constrangidas ao verem as outras crianças a receberem prendas na altura do natal. Assim compreenderão os motivos porque temos prendas nos nossos dias de festa. A orientação de dar prendas, surgiu há mais de 1.400 anos...

Cumprimentos

Abdul Rehman Mangá

25/09/2014


OS DEZ PRIMEIROS DIAS DO MÊS DE DHUL HIJJAH

Centro Islâmico de Brasília-DF -  Khutuba : Sheikh Muhammad Zidan

Em nome de Allah , O Clemente, O Misericordioso. Louvado seja Allah , criador do céu e da terra. Nos recordamos e nos voltamos humildes a Allah (SWT), pedimos o Seu perdão e suplicamos a Sua misericórdia.

Testemunho que não há Divindade a não ser Allah (SWT), e testemunho que o Profeta Muhammad (SAAW) é seu servo e Mensageiro, o escolhido entre as criaturas. Aquele que divulgou a mensagem, zelou pelo que lhe foi confiado, aconselhou o povo, aboliu a injustiça e serviu em nome de Allah (SWT).

Que Allah (SWT) abençõe e de paz ao Profeta (SAAW), bem como para a sua família, companheiros e seguidores até o Dia do Juízo Final.

Meus irmãos e irmãs muçulmanos, estamos entrando nos dez primeiros dias do Mês de Dhul Hijjah, o 12º mês do calendário lunar islâmico. E da graça de Allah(SWT), que estabeleceu épocas para a obediência durante as quais muito se faz de beneficio, e que os aproxima de seu Senhor. Esse mês que é o mês do HAJJ(da perigrinação), e no qual ficamos no Monte de Arafah, louvando, recordando o nome de Allah(Louvado Seja) lendo o Alcorão Sagrado e Súplicando-O. Disse Allah(SWT) no Alcorão Sagrado na Surat AL-FAJR vers 2 : « E pelas dez noites ! » referindo-se as 10 noite do mês Dhul Hijjah. Também disse Allah no Alcorão Sagrado na Surat AL-HAJJ vers 28 : « ...Mencionar em dias determinados, o nome de Allah,.... »

Como sabemos o mês de Dhul Hijjah é o mês da perigrinação o HAJJ, um dos pilares do Islam que é um dia no qual devemos recordar de Allah(SWT), deixando de lado as coisas mundanas, materiais, e sim recordar e lembrar de Allah(SWT) e dizermos : « Eis-me aqui Senhor. »,

O dia de Arafah e nono dia do mês Dhul Hijjah esse é o melhor dia em que nasce o sol. No Hadith Kudisi disse Allah(SWT): « Não há um dia melhor que o dia de Arafah, Allah(SWT) desce ao primeiro céu, vangloriando o povo da terra com os do céu. E diz vê meus servos vieram de todas as partes aleatoreamente para o sacrifício, pedindo a Minha Misericordia e os afastar do Meu castigo. »

Disse Allah(SWT) no Alcorão Sagrado na Surat AL-MAI’DA vers 3 : « É –vos proibido o animal encontrado morto e o sangue e carne de porco e o que é imolado com a invocação de outro nome que o de Allah ;... »

No dia de Arafah todos os servos se unem de todas as parte do mundo indepedente da cor, raça, lingua todos com o mesmo proposito indepedente de ser rico ou pobre , branço ou negro, pois todos somos iguais perante Allah(SWT) e todos em louvor a Ele. Assim meus irmãos muçulmanos o Dia de Arafah é o HAJJ disse o Profeta Muhammad(SAAW) : « O HAJJ é Arafah, o HAJJ é Arafah »

Os peregrinos se reunem nesse dia no Monte da Misericordia, para louvor, súplicas e recordar de Allah(O Todo Poderoso), nesse Dia o nosso amado Profeta Muhammad (SAAW) fez um sermão no Monte de Arafah, e esclareceu a nossa religião proibindo a mantaça, o roubo, e que respeitassemos a honra, e proibindo o juros, e defendendo os direitos das mulheres. Os que não se encontram na perigrinação devem jejuar esse dia, súplicar a Allah(SWT) recordar de Seu nome, louva-Lo, ler o Alcorão Sagrado, orar e pedir perdão de nossos pecados. Pois quem jejuar o Dia de Arafah Allah(SWT) expia o pecado do ano anterior e do ano seguinte.

Devemos nos preparar para EID ADHA (Festa do Sacrifício), e uma das melhores ação nesse dia é o sacrifício do animal em nome de Allah(SWT), é um ato de adoração, uma forma de se aproximar de Allah(SWT). que deve ser feita no período de comemoração do EID ADHA (festa do sacrificio), só podendo ser feita após a oração do EID, não sendo aceita antes da oração esse sacrificio.

Disse Allah(SWT) no Alcorão Sagrado na Surat AL-KAWTHAR vers 2 : «Então, ora a teu Senhor e imola as oferendas »

Meus irmãos muçulmanos o sacrifício é uma SUNNA verdadeira. E é aconselhado que se sacrifíque um animal por família, ou pelos moradores da mesma casa. Então para cada residência de um muçulmano é recomendado o sacrifício de um animal.

E quando a pessoa que realizar o sacrifício, deve ter condição financeira para tal, e não afete suas despesas famíliares, caso não tenha dinheiro para tal não é obrigado, e não podendo cortar as unhas e o cabelo durante os dez dias do mês Dhul Hijjah, isso para se assemelhar aos que estão fazendo a perigrinação, e que tenha condições físicas e espiritual e consiência sã para faze-lo, caso não tenha condição para realizar o sacrifício pode nomear outra pessoa capaz desde que ele testemunhe o sacrifício do animal. Pois a primeira gota de sangue que desce do animal, Allah(SWT) perdoará os pecados de cada pessoa que testemunha esse ato. Abu Huraira(R.A) relatou que o Profeta Muhammad(SAAW) disse : « Quem tem capacidade financeira para fazer o sacrifício, mesmo assim não faz, esse que fique longe e não se aproxime do nosso local de oração. » Também disse Anas(RA) relatou que : « O Mensageiro de Allah(SAAW) sacrificou com suas próprias mãos, dois carneiros saudável com chifres e com manchas pretas, recitando o nome de Allah e glorificando-O dizendo «BISMI ILLAH. ALLAH AKABAR ». Ele colocou seu pé em seus lados ao sacrificar. »

O animal sacrificado deve ser saudável e sem defeitos, se for camelo que tenha no mínimo cinco anos, vaca dois anos, cabrito um ano, ovelha seis meses, os animais deficientes, como cego ou zarolho. deformados e aleijados ou muito magro, não são permitidos para o sacrifício. É permitido à pessoa que faz o sacrifício comer a carne ou oferecer a quem desejar pobre ou rico ; no entanto, é recomendável dividir a carne em três partes iguais sendo uma para o seu uso, outra para os familiares, vizinhos, amigos e a terceira parte para os pobres. Porém o melhor é doa-lo todo, para se aproximar mais de Allah(SWT). Muitos muçulmanos sacrificam os animais para se mostrarem para outras pessoas mas Allah(SWT) Que Allah(SWT) aceite nosso HAJJ e o nosso esforço, e tenha insha Allah nos escrito dentre os salvos do fogo do inferno e dentre o Povo do Paraíso.

Ó Allah conceda gloria ao Islam e aos muçulmanos, proteja a unidade de sua religião, destrua os inimigos do Islam. Ó Allah conceda a vitória a sua religião e do seu Livro e a Sunna do Profeta Muhammad (SAAW) Ó Allah conceda piedade a nossas almas. Ó Allah cure aqueles que estão doentes. Ó Allah abençoe as almas daqueles que já morreram. Ó Allah nos pedimos que nos perdoe e tenha misericórdia de nós. Ó Allah nos faz pacientes tanto na dificuldade como na facilidade da vida. Ò Allah socorra nossos irmãos muçulmanos em todo mundo. Que a Paz e as bênçãos estejam com nosso amado Profeta Muhammad sua família, companheiros . 

E Todo o Louvor a Allah, O Senhor do Universo!

(SWT) SUBAHANA WA TAALA (LOUVADO SEJA ALLAH)

 (SAAW) SALA ALLAHU ALEIRI WA SALAM ( QUE A PAZ DE ALLAH ESTEJA COM ELE)

ALLAH= DEUS

AS=ALEIRI SALAM ( QUE A PAZ ESTEJA COM ELE)

 HAJJ= PERIGRINAÇÃO A CAABA EM MEKKAH ARABIA SAUDITA, PELO MENOS UMA VEZ NA VIDA, O 5 PILAR DO ISLAM.

 EID ADHA= FESTA DO SACRIFÍCIO. SERÁ REALIZADA A ORAÇÃO DIA 15/10/2013 AS 8 :30H DA MANHÃ. DE TERÇA-FEIRA.

HADITH KUDISI= DITO DIRETO POR ALLAH AO MENSAGEIRO E RELATADO PELO PROFETA..

DIA DE ARAFAH= UM DIA ANTES DO EID ADHAH SERÁ O DIA DE ARAFAT ACONSELHA-SE JEJUAR NESTE DIA 14/10/2013.

INSHA ALLAH= SE DEUS QUISER

 BISMI ILLAH= EM NOME DE ALLAH

 ALLAH AKBAR= DEUS É MAIOR

 SUNNA= EXEMPLO E DITOS DO NOSSO PROFETA MUHAMMAD(SAAW)

 DHUL HIJJAH= DECIMO SEGUNDO MÊS DO CALENDÁRIO LUNAR MUÇULMANO

 HADITH=DITOS DO PROFETA MUHAMMAD(SAAW)

 Estamos conscientes de que a tradução do sentido tanto da khutuba (Sermão) quanto do Alcorão Sagrado, seja qual for a precisão, é quase sempre precisa para destacar o magnífico sentido do texto , a tradução pode conter falhas ou lapsos como todo ato humano. (Que Allah (SWT) nós perdoe).

quarta-feira, setembro 24, 2014

O Islão e a Violência

"Os meios de comunicação converteram-se em aliados dos extremistas muçulmanos"

O dramático desenvolvimento, dia a dia, de acontecimentos mundiais, serviram para reforçar a percepção, amplamente compartilhada, de que o Islão está, de alguma maneira, especialmente ligado com a violência terrorista. 

Para poder discernir sobre a veracidade da afirmação que se faz comummente de que o Islão tem uma especial propensão para a violência necessitaríamos de analisar esta questão fazendo referência aos ensinamentos morais do Islão contidos na escritura sagrada do Islão, o Alcorão, e na conduta do Profeta Muhammad (p.e.-c.e.), assim como também ao atual contexto geopolítico mundial. 

Seria o mais conveniente começar esta análise com uma simples formulação maniqueísta. Como já se disse, a violência terrorista nunca está longe da compreensão popular do Islão. Inclusivamente desde a perspectiva académica convencional que se considera que o projeto político dos Islamitas (ou melhor "fundamentalistas islâmicos", como pejorativamente são denominados na bibliografia) tem uma especial predileção pela violência como instrumento para realizar a mudança social. 

Segundo esta visão, é a dimensão religiosa, o Islão, a fonte primária da violência terrorista contemporânea. No pólo oposto estariam os muçulmanos apologéticos que negam profundamente que o Islão tenha alguma relação com a violência terrorista. Segundo eles, toda a violência na qual se veem envolvidos muçulmanos não é senão uma vil distorção e uma corrupção dos autênticos e nobres ensinamentos do Islão. 

Como ocorre sempre nestes casos, há elementos de verdade em ambas as formulações. A primeira delas subestima em grande medida as condições sociopolíticas e económicas sob as quais o Islão se vê implicado na violência, e a segunda ignora o facto de que prati-camente a totalidade dos muçulmanos aceita que o Islão não é uma tradição pacifista e que o Islão permite e legítima o uso da violência sob certas condições, cuja definição varia de um jurisconsulto muçulmano para outro. Aqui radica grande parte do problema. 

Sob que condições admite o Islão o uso da violência? 

Este crítico dilema não é exclusivo do Islão. Todas as grandes tradições/religiões sentem grande preocupação por saber quais são as características de uma "guerra justa", preocupação que se acentua em tempos de mortífero conflito. 

O ponto central que devemos ter em conta é que dita justificação religiosa da violência não se produz num vazio sócio histórico. O ex-vice-presidente do Conselho de Inteligência Nacional da C.I.A., Graham Fuller, num recente artigo na revista "Foreign Affairs", ilustra poderosamente este extremo ao dizer: "Se uma sociedade e a sua política são desgraçadas e violentas, o seu modo de expressão religiosa provavelmente também o será." (Fuller: 2002) 

● A violência e a vida de Muhammad (p.e.c.e.) 

Para entender corretamente as normas morais do Islão acerca da violência contidas na escritura sagrada, o Alcorão, e na conduta do Profeta Muhammad (p.e.c.e.), é necessário analisar o meio histórico em que se desenvolveram. 

Quando o Profeta Muhammad (p.e.c.e.) [570-632 d.C.] trouxe o Alcorão aos árabes no começo do século VII, a Arábia pré-islâmica era socialmente opressiva e encontrava-se envolvida num círculo vicioso de violência. A mensagem igualitária que Muhammad (p.e.c.e.) trazia consigo converteu-se rapidamente numa ameaça para a elite de Meca, que se opôs aos seus ensinamentos com grande veemência. Muhammad (p.e.c.e.) viu-se obrigado a mandar uma parte dos seus primeiros seguidores refugiar-se em Abissínia, e ele próprio, mais tarde, teve que emigrar para Medina em 622 d.C. 

Durante o período de Meca os primeiros muçulmanos fizeram frente à angústia, aos insultos e às ameaças de morte com uma resistência passiva. Unicamente aos treze anos da sua missão profética foi permitido a Muhammad (p.e.c.e.) e aos primeiros muçulmanos a re-sistência armada, e sob umas condições muito restritas: 

"Aqueles que lutarem por ter sido vítimas de alguma injustiça é-lhes permitido lutar, e, na verdade, Allah tem poder para ajudá-los. Os que foram expulsos, injustamente, dos seus lares, só porque disseram: Nosso Senhor é Deus. E se Deus não tivesse refreado os instintos malignos de uns em relação aos outros, teriam sido destruídas ermidas, sinagogas, oratórios e mesquitas, onde o nome de Deus é frequentemente celebrado …" (Alcorão, 22, 39-40). 

É interessante ressaltar que os versículos do Alcorão acima citados dão precedência à proteção de ermidas e sinagogas sobre a das mesquitas, para sublinhar a sua inviolabilidade e o dever do muçulmano de protegê-las de todo o ataque ou abuso, assim como o dever do muçulmano de proteger a liberdade de crença. O propósito da violência, segundo estes versículos, é a defesa, não só do Islão, mas da liberdade religiosa em geral. 

Na década seguinte (622-632 d.C.), Muhammad (p.e.-c.e.) e os seus seguidores, cada vez mais numerosos, ver-se-iam envolvidos numa série de batalhas contra a agressão militar por parte dos seus adversários, incluindo as críticas batalhas de Badr, Uhud e Khandaq. Como o Alcorão também foi revelado em tempos de mortal conflito, contém diversas disposições sobre a ética da guerra (5: 49; 7: 61; 11: 118-9; 49: 9; 49: 13). O Alcorão deixa bem claro, no entanto, que os conflitos só podem ser evitados mediante a justiça, que transcende os interesses pessoais e sectários (4: 13; 7: 29). 

«Ó vós que credes! Sede firmes na justiça, como testemunhas de Deus, ainda que seja contra vós mesmos, contra os vossos pais ou parentes, e quer se trate de uma pessoa rica ou pobre; pois que a Deus incumbe protegê-los (a ambos). Não sigam, portanto, as vossas paixões, para não serdes injustos. E se alterardes (o testemunho) ou vos recusardes a testemunhar, sabei que, na verdade, Deus conhece de quanto fazeis». (4: 135). 

A guerra justa é sempre má, mas às vezes há que lutar para evitar a perseguição que Meca infligiu aos muçulmanos (2: 191; 2: 217), ou para a defesa de valores que merecem ser preservados (4: 75; 22: 40). A guerra era um assunto desesperado na Arábia do século VII. Não se esperava que um chefe mostrasse debilidade ante o inimigo durante a batalha, e algumas disposições Alcorânicas parecem compartilhar este espírito (4: 90) No entanto, outros versículos incluem exortações à paz: «E se se retiram e não vos combatem e vos oferecem a paz… Allah não vos dá nenhum meio para ir contra eles». 

O Alcorão cita a Tora, a escritura judaica, que permite às pessoas represálias mediante a lei de Talião, mas da mesma forma que os Evangelhos, o Alcorão sugere que é muito meritório renunciar à vingança num espírito de caridade (5: 45). As hostilidades hão de terminar tão brevemente quanto seja possível, e devem cessar no momento em que o inimigo peça a paz (2: 192-3). 

Durante a sua estadia em Medina, Muhammad (p.e.c.e.) tentou resolver o conflito com os chefes de Meca e os seus aliados mediante um tratado assinado num lugar chamado al-Hudaibiyyah. O tratado chegou a ser conhecido como Sulh al-Hudaibiyyah. Sulh é um termo importante em Direito Islâmico (Shari’a). O propósito de sulh é terminar com os conflitos e as hostilidades entre adversários de modo a que possam relacionar-se em paz e amizade (49: 9). A palavra em si foi utilizada para se referir tanto ao processo de justiça restauradora e de pacificação como ao próprio resultado do processo. Apesar de Sulh al-Hudaibiyyah nunca ter chegado a conseguir a sua finalidade devido ao incumprimento das suas disposições por parte dos habitantes de Meca, permanece como um exemplo instrutivo de estratégia de intervenção em conflitos. 

No ano 630 d.C., os muçulmanos obtiveram a sua vitória mais significativa ao conquistar a cidade de Meca, sem derramamento de sangue. Isto deu a Muhammad (p.e.c.e.) uma segunda oportunidade para estabelecer um genuíno processo de sulh. Num espírito de magnanimidade, perdoou os seus inimigos e estabeleceu um processo de reconciliação. Promulgou-se uma amnistia geral que pôs fim a todas as reivindica-ções de vingança das tribos. Três anos mais tarde, Muhammad (p.e.c.e.) morreu em Medina com a idade de 63 anos. 

O conceito islâmico de jihad e a sua relação com a violência 

O termo Alcorânico mais associado com a violência é o de jihad. A palavra jihad muitas vezes é incorretamente traduzida como "guerra santa" e tida por tal e, em consequência, para muitos no Ocidente chegou a repre-sentar o Islão como uma religião de violência e terrorismo. A insistência dos académicos ocidentais em usar categorias de pensamento como "guerra santa" e "fundamentalismo", que estão enraizados nos paradigmas cristãos ocidentais, não ajuda a interpretar os movimentos que atualmente se dão no Islão. De fato obscurece ainda mais a realidade e é mais um obstáculo à hora de iniciar a crítica tarefa com que se enfrentam cristãos e muçulmanos, depois do 11 de Setembro, a de construir pontes de entendimento entre as duas comunidades. 

Os acadêmicos muçulmanos sempre puseram objeções à estupidez que supõe confundir os termos "jihad" e "guerra santa". Mais recentemente, um jurisconsulto islâmico americano, Khalid Abou-el-Fadl, manifestou este contrassenso quando disse: "O conceito islâmico de jihad não deve ser confundido com o conceito medieval de ‘guerra santa’ uma vez que esta última expressão (al-harb al-muqaddasah, em árabe) jamais é utilizada nem no texto do Alcorão nem pelos teólogos muçulmanos. Na teologia islâmica a guerra pode ser justificada ou não, mas nunca é ‘santa’." (Boston Review 25/2/2002). 

"Jihad" é um amplo conceito que designa um esforço de qualquer tipo para a consecução de um fim louvável, e que compreende a persuasão pacífica (16:125), a resistência passiva (13:22; 23:96; 41:34), assim como a luta armada contra a opressão e a injustiça (2:193; 4:75; 8:39). 

Para além disso, a "jihad" não se dirige contra outras religiões. Numa afirmação que em árabe resulta determinante, o Alcorão diz: «Não há coerção em matéria de fé» (2: 256). Inclusivamente, a protecção da liberdade religiosa e de culto para os seguidores de outras religiões é uma obrigação sagrada para os muçulmanos. 

Esta obrigação foi instituída simultaneamente à concessão da autorização para a luta armada ["jihad al-qital"] (22:39-40). Na tradição mística do Islão, o sufismo, a mais importante forma de jihad, a jihad pessoal, consiste em purificar a alma e refinar a própria maneira de ser. Esta é considerada a luta mais importante e urgente, e está baseada numa tradição profética (hadith). Enquanto voltavam de uma batalha, o Profeta (p.e.c.e.) disse aos seus companheiros: "Regressamos da pequena jihad (a luta física) à grande jihad (a auto-disciplina)". 

Tradicionalmente, os sufistas entenderam esta forma maior de jihad como uma luta espiritual para submeter os impulsos primários e os baixos instintos da natureza humana. O célebre sufista do século XIII, Jalal ud-Dín Rumi, expôs esta noção de jihad ao escrever: “Os Profetas e os santos não iludem a luta espiritual. A primeira luta espiritual que empreendem é a aniquilação do ego e o abandono dos caprichos pessoais e os desejos sensuais”. Nisto consiste a "grande jihad". 

● O que diz o Islão sobre o terrorismo? 

O Islão, uma religião de misericórdia, não permite o terrorismo. 

Deus diz no Alcorão: «Deus não vos proíbe de tratar bem e com justiça os que não tenham combatido a causa da vossa crença nem vos tenham expulsado dos vossos lares. E, na verdade, Deus ama os equitativos». (60:8) 

O Profeta Muhammad (p.e.c.e.) costumava proibir os soldados de matar mulheres e crianças (Sahih Muslim, #1744, e Sahih Al-Bukhari, #3015) e ele os avisava: “...Não traiam, não sejam excessivos, não matem um recém-nascido” (Sahih Muslim, #1731, e Al-Tirmidhi, #1408). E ele também disse: “Quem quer que mate uma pessoa que fez um tratado com os muçulmanos não deve sentir a fragrância do Paraíso, embora a sua fragrância seja sentida por um período de quarenta anos” (Sahih Al-Bukhari, #3166, e Ibn Majah, #2686). O Profeta Muhammad (p.e.c.e.) também proibiu a punição com o fogo. (Abu-Dawud, #2675). 

Numa ocasião qualificou o assassinato como o segundo dos pecados grandes [capitais] (Sahih Al-Bukhari, #6871, e Sahih Muslim, #88). E advertiu que, os primei-ros casos a serem ouvidos, entre as pessoas, no Dia do Juízo, serão os de derramamento de sangue. (Sahih Muslim, #1678, e Sahih Al-Bukhari, #6533). 

Os muçulmanos também são encorajados a serem gentis com os animais e são proibidos de feri-los. Uma vez, o Profeta Muhammad (p.e.c.e.) disse: “Uma mulher foi punida porque aprisionou um gato até que ele morresse. Por causa disso, ela foi enviada ao Inferno. Para além de o ter encerrado não lhe deu de comer nem beber e não o deixou livre para que pudesse caçar”. (Sahih Muslim, #2422, e Sahih Al-Bukhari, #2365). Ele também disse que uma pessoa deu de beber a um cão muito sedento, e Deus perdoou-lhe os seus pecados por essa atitude. Perguntaram ao Profeta: “Ó Mensageiro de Deus! Nós somos recompensados pelo bom tratamento dispensado aos animais?” Ele disse: “Existe uma recom-pensa para a gentileza com qualquer animal ou criatura viva”. 

Para além disto, Deus ordena aos muçulmanos que quando tomem a vida de um animal para alimentar-se dele, o façam de maneira que lhe cause o mínimo sofrimento possível. O Profeta Muhammad (p.e.c.e.) disse: “Quando degolarem um animal, façam-no da melhor maneira. Deverão afiar (antecipadamente) as vossas facas para reduzir o sofrimento do animal”. (Sa-hih Muslim, #1955, e Al-Tirmidhi, #1409). 

À luz destes e outros textos islâmicos, o ato de incitar o terror nos corações de civis indefesos, a destruição desenfreada de prédios e propriedades, o bombardeio e mutilação de homens, mulheres e crianças inocentes são todos atos proibidos e detestáveis de acordo com o Islão. Os verdadeiros muçulmanos seguem uma religião de paz, misericórdia e perdão, e a vasta maioria não tem nada a ver com os eventos violentos que alguns associaram aos muçulmanos. Se um muçulmano cometer um acto de terrorismo, essa pessoa será culpada de violar as leis do Islão. 

Conclusão: Para retornar à nossa questão central: como se explicam os muitos conflitos violentos do mundo atual onde se veem implicados o Islão e os muçulmanos? A minha resposta honesta é a seguinte: A ordem mundial que impera não é precisamente justa, por muita imaginação que se queira ter. O Islão põe grande ênfase na justiça social. Os extremistas têm uma influência desmedida no âmbito muçulmano. Os meios de comunicação converteram-se "inadvertidamente" em aliados dos extremistas muçulmanos. 

A finalizar, apesar da imagem violenta do Islão gerada pelos meios de comunicação e da muito real violência que existe em algumas zonas do mundo islâmico, há que recordar que, certamente, a história do Islão não foi mais violenta que a de outras religiões.■ 

"O uso da religião para justificar o ódio e a violência para dar uma aparência de santidade que não tem, é um recurso popular dos grupos cujo objetivo não é, em caso algum, honrar a Fé. 

Se assim fosse, apresentariam a sua conduta para a paz, não para a morte. Rancores pessoais, interesses culturais, estratos políticos e econômicos, estão no fundo dessas atrocidades que em nada representam os muçulmanos em geral, e não são expressão do papel que Deus nos deu na terra. 

O confronto entre muçulmanos e cristãos não faz parte da nossa ética e devem ser rejeitados pelos verdadeiros crentes. O "ódio cego" não é islâmico, é um pecado mortal. A violência não é religiosa; é criminosa; é como se tivesse assassinado toda a Humanidade.".

Por: M. Yiossuf Mohamed Adamgy