quarta-feira, julho 09, 2014

ZAKAT: O terceiro Pilar do Islão

Uma reflexão sobre as dimensões espirituais do terceiro pilar do Islão, a contribuição obrigatória ou Zakat.
Prezado Irmão e Irmã, 
Assalamu Alaikum: 

Zakat não só se recomenda no Islão, é uma obrigação de cada muçulmano economicamente estável. Dar àqueles que o merecem faz parte do carácter do muçulmano e é um dos cinco pilares da prática islâmica. Zakat pode traduzir-se como “contribuição obrigatória”; responder às necessidades daqueles membros da sociedade que o necessitam é uma obrigação para aqueles que foram benditos por Deus (ár. Allah), com riquezas. Algumas pessoas desprovidas de sentimentos de amor, só sabem acumular riqueza e multi-plicá-la com a usura e juros bancários. Os ensinamentos do Islão são a antítese desta atitude. O Islão alenta a uma repartição da riqueza, ajudando a que as pessoas se valham por si mesmas e se convertam em membros produtivos da sociedade. 

Em árabe é conhecido como Zakat, que significa literalmente “purificação”, porque o Zakat purifica o coração da cobiça. O amor pela fortuna é natural no ser humano, mas a crença em Deus leva a compartilhar com o próximo. Zakat deve ser paga em diferentes categorias de propriedade – ouro, prata, dinheiro, gado, produção agro-pecuária e matéria-prima – e paga-se cada ano na altura do balanço anual. Deve-se entregar 2,5 % anual dos lucros e dos ativos individuais. 

Como a Oração (Salat) é uma responsabilidade indi-vidual e comunitária, Zakat expressa a adoração do muçulmano e o agradecimento a Allah, ajudando aos mais necessitados. No Islão, o verdadeiro dono das coisas não é o ser humano, mas Deus. A aquisição da riqueza para seu exclusivo benefício ou viver somente para incrementar a riqueza é uma maldição. A mera aquisição de riqueza não conta aos olhos de Deus. Não dá ao ser humano nenhum mérito nesta vida nem no mais além. O Islão ensina que as pessoas devem adquirir riquezas com a intenção de gastá-las nas suas próprias necessidades e nas do próximo. 

Disse o Profeta Muhammad – a paz esteja com ele- : “O ser humano diz: ‘Minha fortuna! Minha fortuna!’ Mas por acaso tens outra fortuna excepto a que gastas em caridade, e dessa maneira se eterniza, o que vestes e se desgasta, e o que comes?” 

O conceito de riqueza no Islão considera-se como um presente de Deus. É Deus quem provê a pessoa, Quem destinou uma porção dele para o pobre, pelo que o pobre tem direito sobre a fortuna dos mais abastados. Zakat recorda o muçulmano que tudo o que possui pertence a Deus. As pessoas recebem a riqueza como uma confiança de Deus, Zakat libera a pessoa do amor e ganância pelo dinheiro. Zakat não é algo que Deus necessita. Ele está por cima de qualquer tipo de ne-cessidade ou dependência. Deus, na Sua infinita mise-ricórdia, promete recompensas por ajudar aos necessitados com a condição de que Zakat se pague em nome de Deus, sinceramente de coração, sem esperar retribuição alguma dos beneficiários, nem esperar que seu nome apareça numa lista de filan-tropos. Os sentimentos de quem recebe Zakat não devem ser feridos, fazendo-o sentir inferior ou re-cordar-lhe o que recebeu. 

Quando uma instituição levanta Zakat dos muçulma-nos, o dinheiro recolhido como Zakat só pode ser utilizado para coisas específicas decretadas por Deus. A legislação islâmica estipula que a caridade se utiliza para alimentar os pobres, os órfãos e as viúvas, para libertar escravos ou prisioneiros, para os devedores, para a causa de Allah e para o viajante, como se menciona no Alcorão (9:60). Zakat, que se estabeleceu há 14 séculos, funciona como a segurança social na sociedade muçulmana. 

Nem as escrituras judias nem as cristãs apreciam a libertação dos escravos como um acto de adoração. De facto, o Islão é a única religião do mundo que requer que os crentes ajudem os escravos a ganhar a sua liberdade e que eleva os que emancipem os escravos reconhecendo o seu ato como um ato de adoração. 

Durante os califados, a recolha e a entrega de Zakat era uma função do estado. No mundo muçulmano contemporâneo, deixou-se para os indivíduos e institui-ções, excepto em alguns países nos quais o estado tem esse papel até certo ponto. A maioria dos muçulmanos no ocidente compartilha a Zakat com as instituições de beneficência islâmicas, as mesquitas, ou entregando-as directamente aos pobres. O dinheiro não se recolhe durante os serviços religiosos, mas algumas mesqui-tas têm uma caixa para os que desejem contribuir com a Zakat. De modo diferente ao Zakat, outros tipos de contribuições, feitas em segredo, são superiores, por-que a intenção é que somente Deus o saiba. 

Para além da Zakat, o Alcorão e a tradição do Profeta Muhammad (p.e.c.e.), também acentuam a Sadaqah ou contribuição voluntária para os mais necessitados. O Alcorão enfatiza a importância de alimentar os pobres, a vestimenta para os que carecem dela, a ajuda aos devedores; quanto mais uma pessoa ajuda, mais Deus ajuda essa pessoa. Quem cuida das necessidades das pessoas, Deus cuida das suas necessidades. 

«... E a esses que acumulam ouro e prata, e não os empregam na causa de Allah, anuncia-lhes (ó Mu-hammad) um fim de sofrimentos (doloroso casti-go)... No dia em que tudo for fundido no fogo infernal serão marcadas com isso as suas frontes, os seus flancos e as suas costas, e ser-lhes-á dito: aqui está o que entesourastes para vós mesmos! Provai agora do que costumáveis entesourar» - (Sura Al-Tawbah, 9:34-35) 

- Que Allah nos guie ao que está certo.■ 

segunda-feira, julho 07, 2014

O Mérito do jejum, a Oração e a Hospitalidade no Ramadão

Prezado Irmão e Irmã,

Assalamu Alaikum & Jumma Mubarak:

A maior recompensa, o grau mais elevado neste nosso mundo inferior, é a fé à qual devemos a ajuda e o favor da bondade de Allah (Deus). A nós, foi-nos dada a honra de termos sido feitos Seus servos e a Sua Comunidade bem-amada, e de termos recebido um lugar no Alcorão.

Temos agora mais uma bênção: Uma vez a cada ano, chega o mês do Ramadão, no qual "o começo é a misericórdia, o meio é o perdão, e o final é a salvação do Fogo".

Sempre que o Ramadão chegar, na nossa vida, deve-mos apreciá-lo! Ele passa muito rapidamente. A própria vida passa num ápice, assim como acontece com o tempo da oração. Não devemos dizer: "O Ramadão voltará outra vez", porque um Ramadão que tenha passado não voltará novamente. O próximo Ramadão, se voltar, será um Ramadão diferente. É possível que o Ramadão continue a chegar até à Ressurreição, mas este Ramadão pode ser, para alguns de nós, o último. 

Não se deve dizer: "eu perdi esta oração, mas outra virá". Quem sabe se esta oração não é a tua última.

Não se deve dizer: “Quando me aposentar e começar a ganhar a minha pensão, então me dedicarei à adora-ção!" Quem sabe se não farás a tua última viagem antes de chegar a receber a tua pensão… Vestir-te-ão uma mortalha, de modo a preparar-te para a acção imediata. Lamenta-te, copiosamente, pelos teus pecados. Mantém a vigilância pelo teu Senhor, recitando o Alcorão. Rindo, homenageia a Sua presença. Reflecte na tua própria natureza transitória, recordando que Ele é eterno… Reflecte nas tuas próprias debilidades, recordando-te que Ele é o Todo-Poderoso…

Que coisa bela encontrar o Senhor! Como poderei fazer chegar-te o Seu sabor? Pode falar-se aos cegos sobre a cor, aos surdos sobre a música, aos impotentes sobre o deleite da relação sexual, mas é possível realmente fazer com que eles compreendam essas experiências? Se o cego não pode ver, como pode ele descobrir a cor através das palavras? Como se pode mostrar a um olho que não vê as flores multicolores, as árvores, o sol, o céu, a dança dos peixes nos riachos? Ao que não tem o sentido do olfacto, como lhe pode-remos descrever o cheiro da rosa, a fragrância do jacinto, ou o perfume do junquilho? Como poderemos contar ao surdo acerca do chilrear dos pássaros, do murmúrio do fluir das águas, ou das cadências do Nobre Alcorão e as da chamada à Oração?

Se passares algum tempo a sós com o Senhor, um dia levantar-se-á o véu dos teus olhos e verás as cores. Adquirirás o sentido do olfacto e detectarás a fragrância das rosas, dos jacintos, dos junquilhos e dos narcisos. A tua surdez irá desaparecer e ouvirás a constante lem-brança de Allah. Os ouvidos do teu coração abrir-se-ão e deleitar-te-ás com a recitação do Alcorão. Sob os can-tos dos rouxinóis e do murmúrio das águas, ouvirás o som da afirmação da Unidade Divina. São estas as dádivas que serás capaz de obter neste mundo e que um dia terminarão. Quanto às dádivas que obterás no Além, in cha Allah, não têm fim, são eternas…

Quando o Ramadão chega, não consegues ouvir aquela Voz chamando todas as noites: "Ninguém Nos quer, ninguém Nos ama? Nós os amaríamos tam-bém!". Este apelo faz-se em todos os entardeceres e em todas as noites. Esta é outra dádiva divina carac-terística do nobre mês do Ramadão. Observa a conver-sa de que desfrutou o Profeta Moisés (a.s.). Moisés, o Kalimullah, aquele que falava com Allah, quando costumava ir ao Monte Sinai (tu tens o teu próprio “Monte Sinai” no momento de romper o jejum, quando podes suster mil e uma conversas). Quando Moisés dizia: "Ó meu Senhor, Tu falas comigo, Tu diriges-Te a mim. Não me mostrarás a beleza do Teu semblan-te? Deixa-me ver a Tua beleza!" Recebeu a resposta do Senhor: Lan taraani: "Não poderás ver-Me". [Alco-rão, 7:143].

"Moisés! Como poderás ver a Minha beleza, quando há setenta mil cortinas entre nós? Serias incapaz de Me ver. Mas na altura da Ressurreição dar-te-ei um mês, como um presente à Comunidade do meu bem-amado Muhammad. Esse mês chamar-se-á Ramadan. E a Comunidade de Muhammad deverá jejuar durante todo esse mês, e Eu Me manifestarei de forma tal na altura de romper o jejum, que não haverá absolutamente nenhum véu entre mim e a Comunidade de Muhammad, enquanto agora, entre Mim e tu, há setenta mil véus".

Numa Tradição Sagrada, o Altíssimo disse: "O jejum é para Mim, e Eu sou quem o recompensa".

A recompensa do jejum é a visão da Beleza Divina. O emblema do Ramadão é o perdão. O jejum deverá fazer-se com sinceridade e com afecto ardente. O nosso abençoado Mestre Muhammad (p.e.c.e.) disse: "Se a minha Comunidade soubesse que êxito e salvação residem no Ramadão, rogariam a Allah que lhes deixasse viver para sempre nesse mês!".

Os três tipos de jejum

Há três tipos de jejum. Que tipo de jejum praticas tu? Uma forma de jejuar é abster-se de comida, bebida e relações sexuais entre o alvorecer e o pôr-do-sol. É difí-cil imaginar que alguém se considere um adorador de Allah e não obstante não mantenha sequer esta classe de jejum; alguém assim não é pessoa digna de com-paixão.

Um segundo tipo de jejum é aquele que se pode observar por aqueles que não apenas se abstêm dessas coisas desde ao amanhecer até anoitecer, mas que também evitam - de noite assim como de dia - olhar as coisas ilegais, escutar algo negativo, proferir palavras duras, abusivas, maldições ou mentiras, ir onde Allah não permite, e sentir alguma malícia ou inveja nos seus corações. Este tipo de jejum rompe-se não só por co-mer, beber ou ter relações sexuais (durante o dia), mas também por qualquer transgressão respeitante a qual-quer um dos temas enumerados. Este jejum é rompido inclusivamente por um olhar ilegal …. 

Há ainda um terceiro tipo de jejum que também o observam os sete membros do corpo. Mas este jejum é quebrado se qualquer outro, que não Allah, entre no coração daqueles que o mantêm. Àqueles que mantêm este jejum, chamam-se de a “Elite da Elite". O valor destes exaltados seres só é conhecido por Allah Mesmo. 

Esta é a classe de seres que querem a Allah e não lhes importa nada o Paraíso. Enquanto àqueles que deixam de lado uma centena de vezes o cumprimento dos deveres básicos do Islão, a Oração, a Peregrinação, o Jejum e o pagamento da Esmola devida, e que raras vezes se inclinam em adoração entre a Congregação de uma Sexta-Feira e a seguinte, ou entre a de um Dia de Festa (Dia de Eid) e a do seguinte, não têm qualquer direito de se considerarem amantes de Allah.

Observa a recompensa daqueles que jejuam! Quando chegar o dia da Ressurreição, Allah admitirá, secreta-mente, no seu Paraíso, um grupo de crentes jejuadores. Quando estiverem parados em frente ao Paraíso, Khazir far-lhes-á estas questões: “Não se apresentaram no sítio da Ressurreição? Não estiveram no Juízo Final? Não viram a violência e o horror do Poente?" Quando respon-derem: "Não, Allah absteve-se graciosamente de nos mostrar essas coisas"; ele continuará, perguntando: "Como, por que meios obtiveram esse nível?" E eles responderão: "No mundo inferior utilizámos nosso tempo para adorar Allah em segredo, agora, secretamente também, Ele trouxe-nos para o Seu Paraíso".

Todos os actos de adoração podem ser realizados em segredo. Quando qualquer acto de adoração que deve-ria ser realizado secretamente é trazido à luz, é tingido com ostentação, que é hipocrisia. No entanto, no jejum, não há espaço para a ostentação hipócrita. O jejum, pela sua natureza, é uma forma de adoração entre Allah e o Seu servo. O jejum é um escudo contra o fogo do Inferno. O fogo não pode tocar quem observa o jejum. 

Numa de suas nobres tradições, o nosso Mestre Muhammad (p.e.c.e.), a Glória do Universo, disse: "À minha Comunidade foram dadas cinco grandes graças divi-nas, que não foram dadas a qualquer outra Comunida-de, que não foram obtidas por nenhuma outra Comuni-dade. A primeira graça destas cinco é esta: na véspera do primeiro dia do Ramadão, o Mais Misericordioso de todos os misericordiosos, observa com compaixão aqueles que, da minha Comunidade, estão jejuando. E jamais torna a expor ao tormento aqueles que assim caíram nesse misericordioso olhar. A segunda graça concedida é esta: Ele ordena aos nobres anjos que orem, pedindo o perdão em nome da Comunidade de Muhammad. A terceira graça concedida é que o cheiro da boca de um crente que jejua é mais caro a Allah que o aroma de musk. A quarta graça é a seguinte: No Paraíso é dada a ordem: 'Embeleza-te e adorna-te para a Comunidade de Muhammad'. Porque Allah disse: 'Dá aos Meus servos que em Mim crêem, as boas novas de que são Meus amigos'. A quinta graça divina é que Ele perdoa e absolve toda a Comunidade de Muhammad que mantém o jejum".

Queira Allah conceder a Sua Misericórdia sobre os nossos corações e facilitar-nos o jejum. Ámen.■

Obrigado, boas leituras. Wassalam.
M. Yiossuf Adamgy - 04/07/2014.