sexta-feira, dezembro 06, 2019

A grandeza do Profeta Muhammed (s.a.w.): A história da senhora que atirava lixo para o Profeta

"A verdadeira misericórdia e perdão é quando a pessoa o escolhe de bom grado, apesar de ter o poder de punir, mesmo que esse poder seja seu o direito"

Prezados Irmãos,

Saúdo-vos com a saudação do Islão, "Assalam alaikum", (que a Paz esteja convosco), que representa o sincero esforço dos crentes por estender o amor e a tolerância entre as pessoas, seja qual for o seu idioma, crença ou sociedade.

Pode-se argumentar que algumas pessoas acreditam que o Profeta do Islão, Muhammad صلى الله عليه وسلم seja um ser humano impiedoso e violento. No entanto, é preciso apenas ler o Alcorão, os ditos autênticos do Profeta صلى الله عليه وسلم e a sua biografia para entender que isso está longe de ser o caso.

Neste ponto, é importante observar que os muçulmanos acreditam que o Alcorão é a infalível e inalterada Palavra de Deus. Isso significa que, se algo é encontrado nos ditos ou na biografia do Profeta que é contrária ao espírito e aos valores do Alcorão, essa informação não é considerada um relato verdadeiro. Há muita informação na Internet que é simplesmente inventada ou mal interpretada, e é por isso que os muçulmanos consideram a Palavra do Alcorão tão importante.

Mesmo ao abordar o Alcorão, no entanto, ainda existem certos pré-requisitos que se deve conhecer.

Aqui está uma orientação útil sobre como abordar o Alcorão para um público não muçulmano.

Os muçulmanos conhecem o Profeta صلى الله عليه وسلم como a 'Misericórdia para a Humanidade'. Este título é encontrado no capítulo 21, versículo 107 do Alcorão. A partir disso, podemos dizer que o Profeta صلى الله عليه وسلم foi enviado para praticar indulgência, bondade e gentileza com as pessoas - uma extensão das qualidades de seu Senhor, que as possui em sua forma absoluta. Cada capítulo do
Alcorão apresenta Deus como o Mais Misericordioso.

Deus é muito particular quanto à escolha de palavras e nenhuma palavra é usada por acidente. O fato de Ele ter descrito o Profeta صلى الله عليه وسلم como uma misericórdia para a 'humanidade', mostra que as qualidades que o Profeta صلى الله عليه وسلم possui podem ser uma fonte de inspiração e emulação para qualquer pessoa. Não é restrito apenas aos muçulmanos.

Portanto, mesmo que uma pessoa não siga ou acredite na mensagem abrangente que o Profeta صلى الله عليه وسلم pregou sobre o monoteísmo e a adoração de um Deus, essa pessoa ainda pode observar a vida dele e obter lições valiosas.

É uma dessas histórias da vida em que quero me concentrar, que exemplifica esse mesmo título de
misericórdia para a humanidade: O Profeta صلى الله عليه وسلم e a senhora que atirava lixo nele.

Ao longo de sua vida, o Profeta صلى الله عليه وسلم enfrentou muita oposição da sociedade árabe de seu tempo por pregar a religião do Islão, porque era contrário ao que eles acreditavam. O Profeta صلى الله عليه وسلم tentou afastar os árabes da discriminação por mulheres e pessoas de cor, assim como muitas outras coisas. 

Ele foi recebido com muita hostilidade e, um exemplo disso, foi o incidente da senhora que jogava lixo no Profeta صلى الله عليه وسلم ou no seu caminho, sempre que passava pela casa dela. Já neste estágio, apesar de enfrentar isso em várias ocasiões, o Profeta صلى الله عليه وسلم permanece paciente e não retribui esse favor" com qualquer hostilidade, em palavras ou ações.

Quantos de nós podemos dizer, honestamente, que os comportaríamos da mesma forma se alguém jogasse lixo em nós, uma única vez. No mínimo, mostraríamos nosso nojo. Alguns de nós podem até
argumentar que é o nosso direito de retaliar, o que é verdade; até as diretrizes islâmicas afirmam que os muçulmanos têm o direito de se defender de provocados ataques, e ninguém na época ou agora provavelmente culparia o Profeta صلى الله عليه وسلم por reagir. Talvez a própria senhora estivesse esperando algo em troca também.

O Profeta صلى الله عليه وسلم, no entanto, tinha algo muito maior em mente.

Aqui é onde a história fica interessante. Num dia normal, o Profeta صلى الله عليه وسلم novamente se vê passando pela casa dela no caminho de sua jornada. Ele, provavelmente, estava esperando uma ação repetida dessa dama, mas desta vez nada acontece.

Em vez de ficar aliviado e continuar a sua jornada, o Profeta صلى الله عليه وسلم pergunta a alguém próximo do paradeiro dessa senhora que lhe foi tão abusiva. Todos ficaríamos felizes em seguir em frente, e perguntar sobre o atacante seria a última coisa na nossa mente!

A razão pela qual o Profeta صلى الله عليه وسلم perguntou foi porque ele teve preocupações com essa senhora. O Profeta صلى الله عليه وسلم provavelmente estava se perguntando o que havia acontecido com a tal senhora e acabou descobrindo que ela estava doente e descansando em casa.

No lugar do Profeta صلى الله عليه وسلم, qualquer outra pessoa ficaria muito feliz e aliviada. Alguns de nós podem até gostar de tirar proveito disso de alguma maneira para se vingar ou apenas se vangloriar. O Profeta صلى الله عليه وسلم teve uma ideia diferente; ele foi visitar essa senhora e perguntou como ela estava e se ofereceu para ajudá-la em casa para facilitar a vida dela durante a doença.

A senhora não apenas ficou chocada, mas também humilhada e envergonhada com o tratamento que fizera ao Profeta صلى الله عليه وسلم, e ficou com extrema admiração por ele ter retribuído o seu mal com bondade e, por isso, ela acabou se abraçando ao Islão.

Agora, o fato de ela ter se convertido ao Islão é muito bom para nós, muçulmanos, que lemos essa história. No entanto, quero focar nas lições que podemos extrair das ações daquele que é chamado de misericórdia para com a humanidade (não uma misericórdia apenas para os muçulmanos).

O que retiro dessa história é o poder da bondade e paciência. Sem nenhum ato de violência ou palavras duras, o Profeta صلى الله عليه وسلم conseguiu conquistar a senhora.

Quando alguém vence a oposição pela força, este não tem escolha a não ser se submeter, porque não tem o poder de retaliar. Não apenas o Profeta صلى الله عليه وسلم conquistou essa senhora, mas foi um reconhecimento voluntário em seu nome, no sentido de que o comportamento dele era tão poderoso que ela aceitou, de bom grado, a sua “loucura”.

Outra coisa importante a ser observada é que o Profeta صلى الله عليه وسلم nunca mencionou a ela o seu comportamento anterior. Tratou-a com genuína bondade desde o início.

Durante todo esse incidente, o Profeta صلى الله عليه وسلم estava a representar o seu título de misericórdia para a humanidade.

A verdadeira misericórdia e perdão é quando a pessoa o escolhe de bom grado, apesar de ter o poder
de punir, mesmo que esse poder seja o seu direito. O Profeta صلى الله عليه وسلم poderia ter exigido sua vingança, muito menos que isso, ele poderia tê-la deixado em paz e feliz por ser um dia em que ele não precisaria lidar com o lixo a ser atirado nele. No entanto, ele ainda foi ajudá-la.

Isto é conhecido como "makarim akhlaq" em árabe, que significa "traços morais exemplares". No pensamento islâmico, características morais exemplares não são apenas boas para as pessoas; está a ser bom para pessoas que não são boas para si.

Quando o Profeta صلى الله عليه وسلم anunciou a sua missão profética, ele disse: “Estou aqui para aperfeiçoar traços nobres”como o objectivo principal de sua missão. Este incidente é apenas uma instância dele, liderando pelo exemplo e mostrando o seu excelente carácter. Na verdade, todos nós podemos aprender com ele, independentemente da idade, sexo, raça ou religião. 

Não é de admirar que o Alcorão ateste isso quando o Livro Sagrado diz: "Na verdade, no Mensageiro de Deus, vós tendes um bom exemplo" (33: 6).

Que nós possamos sempre relembrar e nos esforçar para seguir o exemplo do maior homem que já existiu. 

Obrigado. Wassalam (Paz).
M. Yiossuf Adamgy
Diretor da Revista Islâmica Portuguesa AL FURQÁN

terça-feira, dezembro 03, 2019

Caaba: O Que é, Quem Construiu e O Que Significa

A Caaba, ou Casa Sagrada, é a construção mais sagrada do Islam . Muçulmanos do mundo inteiro fazem as orações obrigatórias em direção a ela . Todo muçulmano que possui condições deve fazer a peregrinação e visitar a Casa Sagrada em Meca.

Dúvidas frequentes sobre a Caaba

1. O que é a Caaba e qual a sua importância para os muçulmanos?

A Caaba é um templo sagrado em atual forma de cubo, construído por Abraão e seu filho Ismael, feito para a adoração de Deus único. O local de sua construção foi indicado por Deus. A Caaba é o local mais sagrado para os muçulmanos.

2. Onde a Caaba está localizada?

Ela está dentro da Mesquita al-Haram, na cidade de Meca, na atual Arábia Saudita.

3. Quem construiu a Caaba?

A Caaba foi construída pelos profetas Abraão e Ismael.

4. O que é a Pedra Negra?

A Pedra Negra é um objeto que tem sua origem desde a época de Adão e Eva. Ela representa a aliança entre Deus e a humanidade e se encontra guardada em um dos lados da Caaba. Apesar de relevante, os muçulmanos não adoram a Pedra Negra.

5. Por que a Caaba é importante?

A Caaba é um templo de adoração ao Deus único. Ela é a qibla, ou seja, a direção na qual os muçulmanos devem orar.

6. A Caaba é sagrada?

Sim, para os muçulmanos ela é a construção mais sagrada do mundo.

7. Quais passagens do Alcorão falam sobre a construção da Caaba?

A primeira Casa (Sagrada), erigida para o gênero humano, é a de Bakka (Makka), onde reside a bênção, servindo de orientação para a humanidade. (Alcorão 3:96)

E (recorda-te) de quando indicamos a Abraão o local da Casa, dizendo: Não Me atribuas parceiros, mas consagra a Minha Casa para os circungirantes, para os que permanecem em pé, ou inclinados e prostrados. (Alcorão 22:26)

E quando Abraão e Ismael levantaram os alicerces da Casa, exclamaram: Ó Senhor nosso, aceita-a de nós pois Tu és Oniouvinte, Sapientíssimo. (Alcorão 2:127)

O Significado da Caaba

Mesmo que as doutrinas do Islam sejam pouco conhecidas no Brasil e em outros países ocidentais, muitos já devem ter ouvido falar que os muçulmanos rezam para uma determinada direção, ou até mesmo já escutaram algo sobre o cubo negro na cidade de Meca, na Arábia Saudita. Esses fatores estão ligados a uma construção muito especial para a fé islâmica: a Caaba. 

Esta construção é conhecida pelos muçulmanos como a Casa Sagrada, e é o local mais importante do mundo para os seguidores do Islam. Ela também é a qibla, ou seja, a direção para onde os fiéis devem fazer as suas orações obrigatórias.

Seu nome traduzido para o português significa “cubo”, o que se deve ao formato de sua arquitetura.
História da Construção da Caaba

A Caaba foi construída pelo Profeta Abraão e seu filho Ismael. Na ocasião, a cidade de Meca era apenas um deserto árido, e não havia naquela região um local de adoração monoteísta.

O relato de sua construção foi registrado no Alcorão:

“E quando Abraão e Ismael levantaram os alicerces da Casa, exclamaram: Ó Senhor nosso, aceita-a de nós pois Tu és Oniouvinte, Sapientíssimo.” (Alcorão 2:127)

O local da construção foi indicado diretamente por Allah, e foi consagrado para ser a casa de peregrinação dos muçulmanos. Através do Anjo Gabriel, Deus deu o que é a atual Pedra Negra a Abraão, que ficou fixada ao leste do templo.

A princípio, era uma pedra de cor clara, mas que foi escurecendo devido aos pecados da humanidade. Esta rocha representava a aliança entre o Criador e suas criaturas.

Após sua construção, com o passar do tempo, o poder da Caaba ficou concentrado na mão dos idólatras e diversas estátuas de barro foram construídas para o culto a outras divindades. Na época do Profeta Muhammad ﷺ haviam 360 ídolos ao redor e dentro da Casa Sagrada. 

Por vários anos, o local foi motivo de peregrinação dos idólatras, que também consideravam a Caaba como um lugar sagrado.

A Caaba e o Profeta Muhammad

Ilustração representando o momento em que o Profeta Muhammad ﷺ coloca a Pedra Negra sobre o pano, para acabar com a disputa dos líderes tribais

A Caaba possui um papel importante no reconhecimento do Profeta Muhammad ﷺ como o mensageiro de Deus. No tempo em que vivia em Meca, a Casa Sagrada estava sendo reconstruída após sofrer uma inundação, e as tribos da cidade brigavam para ver quem colocaria a Pedra Negra em seu devido lugar. 

Esta disputa chegou ao ponto dos clãs quase entrarem em guerra e, para solucionar este conflito, eles concordaram que a próxima pessoa que entrasse no santuário, os ajudaria a resolver aquela discussão. Para o alívio deles, quem passou naquele momento foi o Profeta Muhammad ﷺ que, naquela ocasião, era reconhecido como o Confiável, devido à maneira como lidava com os assuntos da comunidade.

Ele não escolheu nenhum dos líderes para colocar a pedra. Ao invés disso pediu para que trouxessem um pano e colocassem-na no centro dele. Cada representante de uma tribo segurou uma ponta do tecido, e assim puseram a rocha em seu lugar.

Esta foi uma das ocasiões que todo o povo de Meca pôde testemunhar a sabedoria dele para reconciliar as brigas e discussões. 
A Caaba como fonte de renda para os Coraixitas

Após o início da revelação do Alcorão, à medida em que o Profeta ﷺ foi ensinando o monoteísmo para a população de Meca, ele começou a desagradar a tribo dos coraixitas, que lucrava bastante com a peregrinação dos idólatras à Caaba.

Com medo de que a propagação do Islam prejudicasse os negócios da tribo, foi oferecido ao Profeta Muhammad ﷺ quantias de dinheiro altíssimas, para que ele desistisse da mensagem.

Ao falharem em convencer o Profeta ﷺ, as perseguições aos muçulmanos se intensificaram e culminaram, posteriormente, na fuga do Profeta ﷺ e seus seguidores para Medina.
A Viagem Noturna começou na Caaba

No decorrer do recebimento da revelação divina, o Profeta Muhammad ﷺ viveu outro momento muito importante para a fé islâmica nas mediações da Caaba. Ele estava dormindo próximo à Caaba quando foi visitado pelo anjo Gabriel montado em um corcel com asas. Então, subiu na montaria celestial e foram juntos para Jerusalém

Durante o caminho, o Mensageiro de Deus ﷺ teve visões da vida após a morte, do paraíso e do inferno. Ao chegarem no destino final, os profetas Noé, José, Isaac, Jacó, Abraão, Moisés, Jesus, e outros estavam o aguardando e, juntos, eles fizeram uma oração que foi guiada pelo Profeta Muhammad ﷺ.

Depois disso, o Profeta ﷺ foi guiado novamente pelo anjo Gabriel através dos sete céus. Quando atingiu o limite, ele esteve na presença de Allah que, neste momento, ordenou que os muçulmanos fizessem as cinco orações obrigatórias. Após o encontro divino, o Profeta ﷺ retornou a Meca para fazer a oração da manhã.

Esta noite ficou marcada para sempre na teologia islâmica como a Viagem Noturna e a Ascensão do Profeta Muhammad ﷺ. 

A Conquista da Caaba pelo Profeta Muhammad

A Caaba consumou sua importância para os muçulmanos quando o Profeta ﷺ conquistou a cidade de Meca. Naquela ocasião, um exército enorme de muçulmanos marchou sobre a cidade, que foi tomada sem praticamente qualquer resistência. O fato se tornou um grande marco da paz na Arábia.

O Profeta ﷺ orou no Santuário Sagrado em frente à Caaba e a circundou. Enquanto fazia isso, ele apontava o cajado em direção a cada um dos ídolos, dizendo “A verdade chegou e a falsidade pereceu. Por certo a falsidade é perecível” (Alcorão 17:81), e as estátuas, uma a uma, caíram de cabeça no chão.

Após este momento, os árabes pensaram que seriam dizimados pelos muçulmanos, pois este era o costume da região naquele tempo. Então, o Profeta Muhammad ﷺ citou uma passagem dita pelo Profeta José e gravada no Alcorão, que dizia “Hoje não sereis recriminados” (Alcorão 12:92). Naquele instante, todo aquele povo foi perdoado e a paz finalmente reinou em Meca.
Modificações e reconstruções ao longo da história

O formato original da Caaba possuía uma das paredes em formato semi-circular, chamada de hatim, que ficava no lado norte do templo. Uma pequena estrutura desta parede existe até os dias atuais, no entanto, atualmente ela fica na parte externa da construção.

O atual projeto arquitetônico da Caaba não sofreu grandes mudanças desde os tempos dos coraixitas. Eles ergueram uma estrutura cúbica para a Casa Sagrada após ela ser destruída por dilúvios, saques e incêndios. No entanto, devido a falta de recursos na época, a construção ficou sem o teto, e manteve-se coberta apenas com um tecido simples.

Por ser uma estrutura muito antiga, a Caaba já passou por muitas reformas e reconstruções. No ano 692, ela precisou ser totalmente restaurada após sua demolição durante os ataques do Califado Omíada contra Ibn Zubair, que danificou não somente sua estrutura, mas também a Pedra Negra, que acabou se partindo em três pedaços. 

No ano de 1611, a Pedra Negra foi fixada na parede com uma cinta de cobre para evitar que ela caísse.

Por estar localizado em um vale, o templo sempre esteve suscetível à inundações. No ano de 1630, uma enchente de grandes proporções causou a queda de uma das paredes, e a Casa Sagrada precisou ser completamente reconstruída, desta vez com um novo telhado. 

A última mudança na Caaba foi em 1982, quando foram instaladas as novas portas da Casa Sagrada, feitas em ouro maciço.

Detalhes da Caaba

A atual estrutura da Caaba possui 15 metros de altura, e suas laterais medem 10,5m por 12m.

Ela é feita de granito e é coberta por um tecido preto de seda decorado com uma caligrafia bordada em ouro. 

O tecido que envolve o templo é chamado kiswah, que em português significa “mortalha”, um tipo de pano usado para envolver os caixões. Ele é trocado anualmente durante o nono dia do mês do calendário islâmico Dhu al-Hijja.

A Pedra Negra continua fixada na parede leste. Atualmente ela é segurada por uma armação feita de prata. Entre a rocha e a porta do templo, há um vão de dois metros chamado de al-Multazam, que é um espaço considerado recomendável de se tocar, ou até mesmo de se fazer súplicas em frente a ele. 

A Caaba possui calhas ao seu redor que servem para evitar os danos causados por enchentes. Nela também há uma bica em seu teto, que é feita em ouro, para poder escoar a água das tempestades. Essas duas estruturas foram adicionadas na reforma em 1630.

Na parte externa há um pequeno muro em frente a parede do norte chamado de hatim, que originalmente era parte da construção. Ele é feito em mármore e possui um formato semi-circular. Suas medidas são de 1,31m de altura e 1,50m de largura, 

Fora da Caaba também está o Maqam Ibrahim, uma estrutura feita de vidro e metal, onde há as marcas dos pés do Profeta Abraão. 

Em volta da construção há uma marcação feita em mármore que ajuda os peregrinos a contarem cada circundação feita em torno da Casa Sagrada.

O que há dentro da Caaba?

A entrada da Caaba possui 2,13m, e as portas são de ouro maciço. O chão e as paredes são feitos de mármore, e possuem detalhes em calcário. 

No templo, há seis placas gravadas com versos do Alcorão, e no canto superior das paredes há panos verdes que também contém passagens corânicas. 

O local é ungido com um óleo aromático, que também é usado na Pedra Negra. Dentro da Caaba há três pilastras, onde se encontra uma mesa entre elas. Em cima dela costuma ficar alguns perfumes, e outros objetos. 

No teto há algumas lâmpadas, e na parede da direita há uma porta dourada que direciona para uma escada que vai até o teto do templo. 

Em 2016, o Google Street View disponibilizou um recurso que permite aos curiosos explorarem a parte interna da Caaba. Você pode conferir clicando.

Atualmente, a peregrinação à Casa Sagrada, o Hajj, é um dos cinco pilares do Islam. Todo muçulmano que tenha condição de fazê-la deve realizá-la pelo menos uma vez na vida.

A peregrinação é feita uma vez por ano, entre o oitavo e o décimo terceiro dia do mês de Dhu al-Hijja, o último mês do calendário islâmico.

Quando é feita em outras épocas do ano, se torna uma peregrinação menor, ou Umrah. Ela também é vista como uma boa ação e, embora seja recomendada pelos eruditos islâmicos, não é obrigatória aos muçulmanos.

Durante o Hajj, os peregrinos devem fazer os ritos nas mediações da Caaba, e também nas colinas de Safa e Marwah, onde bebem a água de Zamzam. Ao longo dos dias de peregrinação, eles também percorrem Mina e Arafat. 

Já na Umrah, todas as atividades são feitas na Mesquita al-Haram de Meca, onde está a Caaba.

Todos rituais seguidos durante as peregrinações conectam os muçulmanos com a história de sua construção e, também, com os locais onde foram feitos os sermões do Profeta Muhammad ﷺ

É importante lembrar que ela não é um destino turístico, portanto, seguidores de outras religiões não estão autorizados a entrar na mesquita onde a Caaba se encontra.
Conclusão

A Caaba é conhecida como a Casa Sagrada de Deus e é a construção mais importante para o Islam. 

Sua importância é devido ao fato dela ter sido construída em um local indicado por Deus, e através das mãos dos profetas Abraão e seu filho Ismael. Nela está fixada a Pedra Negra, que representa a aliança entre Allah e a humanidade.

Com a vinda do Profeta Muhammad ﷺ, a Casa Sagrada também se tornou importante por causa dos seus feitos naquele local, como as peregrinações, a noite da ascensão, e a conquista de Meca. 

Atualmente, o local é o destino de peregrinação obrigatório para muçulmanos que possuem condições de visitá-la. Além disso a Caaba também é a qibla, a direção na qual os muçulmanos devem fazer as suas orações obrigatórias. 

Zakat: Como Funciona a Doação Compulsória no Islam?

A Zakat um ato de amor.
O zakat é um ato de caridade obrigatório para muçulmanos que têm condições de doar .Os recursos devem ser destinados aos muçulmanos que passam por necessidades financeiras . A caridade pode ser um fator importante para reparar injustiças sociais, e para diminuir o ego. O zakat possui semelhanças com o dízimo ofertado pelos antigos hebreus.

O Zakat é o terceiro dos cinco pilares do Islam, e é uma forma de praticar caridade, considerada obrigatória para os muçulmanos que possuem uma riqueza equivalente a 85 gramas de ouro, ou 595 gramas de prata. Aqueles que precisam praticá-lo devem doar 2,5% de toda quantia que possuem, abatendo as dívidas que possuem.

Em cotação atual (Dezembro/2019), as 85 gramas de ouro, representam:
R$ 16.869,10
USD 4.000,52
Sobre quais bens é calculado o zakat?

A doação pode ser calculada sobre quatro tipos de bens materiais, que são:
Ouro, prata e finanças.
Rebanho de gados e outros animais, como camelos e ovelhas.
Comércio. 
Frutos, grãos e alimentos colhidos da terra.
Quando o pagamento do zakat deve ser feito?

A caridade purificatória do zakat deve ser feita pelo menos uma vez ao ano, e a maioria dos muçulmanos optam por realizá-la próximo ao final do mês sagrado do Ramadan, que é quando as recompensas por boas ações são aumentadas.
Quem pode receber o zakat?

Existem oito categorias de pessoas que podem ser beneficiadas pelo zakat:
Fakir – Muçulmanos pobres que não possuem trabalho.
Miskin – Muçulmanos que trabalham, mas que não possuem recursos suficiente para satisfazer suas necessidades e de sua família.
Amil – Coletores do zakat. Pessoas cujo o único pagamento é o dinheiro da própria caridade.
Mullaf – Os recém revertidos ao Islam, que, em razão da mudança de religião, estão passando por dificuldades financeiras.
Riqab – Escravos muçulmanos que querem se libertar de sua servidão.
Gharmin – Muçulmanos que contraíram dívidas tentando satisfazer as necessidades pessoais ou familiares.
Fissabillillah – Muçulmanos que lutam pela causa de Allah. Esta categoria pode incorporar iniciativas como construções de mesquitas, escolas, hospitais, obras que divulgam o Islam ou que protejam os muçulmanos da agressão.
Ibnus Sabil – Muçulmanos que estão longe de casa e não possuem dinheiro para viajar para sua terra de origem.

A doação é uma forma de esmola?

O gesto de doar não deve ser visto como uma esmola. A palavra “zakat” não possui uma tradução para português, mas pode significar “aquilo que purifica”. 

A doação não serve para beneficiar somente o necessitado, mas também a alma do doador, através do desapego material e da fraternidade com sua comunidade. 

No Islam, também é bastante difundida a maneira como a doação deve ser feita. É importante que o muçulmano faça suas doações de maneira discreta, e que ele não seja vaidoso em suas intenções, caso contrário, esta ação perde toda sua nobreza, transformando-se em uma obra do ego humano.

O muçulmano deve ter em mente que toda doação de riquezas é para a glória de Allah, e jamais para se obter recompensas, ou algum tipo de reconhecimento. Para o Islam, a caridade é um dos atos mais nobres de adoração a Deus, e ela está no mesmo patamar de outros gestos louváveis como a oração, o jejum e a peregrinação.
História e Significado

O pagamento do zakat foi revelado diretamente por Deus, e isto foi descrito no Alcorão:

“Praticai a oração, pagai o zakat e inclinai-vos, juntamente com os que se inclinam.” (Alcorão 2:43)

“Crede em Allah e em Seu Mensageiro, e fazei caridade daquilo que Ele vos fez herdar. E aqueles que, dentre vós, crerem e fizerem caridade, obterão uma grande recompensa.” (Alcorão 57:7)

A obrigatoriedade da caridade purificatória também está descrita nos relatos do Profeta Muhammad (SAWS)

“O Islam é: que testemunhes que não há divindade além de Allah, e que Muhammad é o mensageiro de Allah; que observe a oração, que pagues o zakat; que jejues no mês do Ramadan, e peregrines à Casa quando puderes’’. (Muslim)

Para o Islam, a riqueza pertence a Deus antes de qualquer coisa. O Criador provém a prosperidade à suas criaturas e, embora o detentor das posses tenha o direito de usufruir delas, os bens materiais devem ser gastos da maneira que Allah prescreve.

O excesso é sempre algo que gera desequilíbrio, e no caso das riquezas, elas causam avareza naqueles que as possuem, e provoca a inveja entre os que necessitam. O resultado dessa combinação é uma desarmonia na sociedade, onde as pessoas enxergam as outras por aquilo o que elas têm, ao invés de julgar pelo caráter. 

Desta forma, o muçulmano que paga o zakat com uma boa intenção estará enfraquecendo o seu ego, encorajando a boa vontade entre os seus irmãos, e se aproximando da presença de Deus.

Por outro lado, Deus prevê punições para aqueles que se recusarem a fazer a caridade. O castigo é inclusive narrado no Alcorão.

“Quanto àqueles que entesouram o ouro e a prata, e não os empregam na causa de Allah, anuncia-lhes (ó Muhammad) um doloroso castigo.” (Alcorão 9:34)

Zakat e a Erradicação da Pobreza

Durante o período do reinado do califa Umar Ibn Abdul-Aziz, entre os anos 717 e 720 (99 e 101 depois da Hijra), o zakat teve um papel muito importante na erradicação da pobreza nas terras dominadas pelo Califado Omíada.

Na época, o califado possuía um fundo econômico feito somente com recursos da caridade purificatória. Durante o reinado de Umar II, muitas riquezas foram acumuladas através das doações, mas em um determinado ponto, já não haviam pessoas que precisassem ou quisessem receber este dinheiro.

Este acontecimento se deve principalmente aos esforços de Umar II, que encorajava o pagamento do zakat, e a correta distribuição de todas as riquezas. Ele sempre acreditou no papel da caridade para a redução da pobreza. 

Com menos pessoas enfrentando necessidades, foi possível aplicar mais investimentos para o desenvolvimento da agricultura e, em pouco tempo, houve fartura de alimentos, o que tirou a população local da subsistência. 

Certamente o caso de Umar II é muito específico, e não se aplica a todos os reinados islâmicos, mas também revela o potencial do zakat, e o que ele é capaz de fazer quando é captado e aplicado com justiça.

Zakat equivale ao Dízimo?

Por se tratar de uma doação com motivos espirituais, alguns acabam relacionando o zakat ao dízimo que, no Brasil, é comumente associado às igrejas cristãs. No entanto, há alguns fatores que são necessários levar em consideração ao fazer esta comparação.

Originalmente, o dízimo era um imposto cobrado pelas antigas tribos judaicas, que correspondia a 10% das riquezas plantadas ou de rebanhos de animais. O seu pagamento estava previsto no livro de Levítico, na Bíblia hebraica:

Todos os dízimos da terra, seja dos cereais, seja das frutas das árvores, pertencem ao Senhor; são consagrados ao Senhor. Se um homem desejar resgatar parte do seu dízimo, terá que acrescentar um quinto ao seu valor. O dízimo dos seus rebanhos, um de cada dez animais que passem debaixo da vara do pastor, será consagrado ao Senhor. (Levítico 27:30 – 32) 

Essas riquezas eram repassadas à tribo dos levitas que, por ordem divina, não poderiam herdar terras, pois deveriam se dedicar exclusivamente ao sacerdócio. As doações também poderiam ser utilizadas para dar assistência aos órfãos, às viúvas e aos pobres.

No entanto, com a destruição do templo de Israel, muitas normas judaicas foram alteradas, e os hebreus passaram a praticar caridade de outras maneiras.

Mais tarde, os cristãos herdaram diversos mandamentos que foram dados aos judeus, no entanto, eles interpretaram que havia necessidade de alterar as regras sobre o dízimo, pois o sacerdócio da igreja seria outro. Essas mudanças são narradas no livro de Hebreus, no Novo Testamento. 

“Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei.” (Hebreus 7:12)

“Porque o precedente mandamento é ab-rogado por causa da sua fraqueza e inutilidade” (Hebreus 7:18)

Atualmente, o dízimo das igrejas preserva somente o nome da caridade original, pois na prática ele é muito diferente das prescrições que Deus havia feito ao povo judeu.

Entre os cristãos, é comum que sejam dadas quantias voluntárias, que podem ser destinadas a diversas obras diferentes.

O zakat possui alguma semelhança com o dízimo original dos hebreus, pois ambos fixam uma porcentagem para a doação de riquezas, e também dizem quais grupos de pessoas devem recebê-las. No entanto, a prática atual das igrejas cristãs estão menos próximas da caridade purificatória do Islam. Países Islâmicos que cobram o zakat. 

É muito comum que alguns países muçulmanos coletem o zakat sob a forma de imposto, e repassem este valor aos necessitados. Esta medida serve para evitar que os doadores não ajam de forma arrogante, ou que eles possam humilhar os aqueles que enfrentam dificuldades financeiras. 

Atualmente, 15 dos 47 países cuja maior parte da população é muçulmana ainda possuem um fundo monetário com as doações do zakat. No entanto, na maior parte deles o imposto é voluntário.

Nesses casos, o estado estabelece alguma instituição, pública ou religiosa, para ficar encarregada de captar esses recursos e repassar aos necessitados.

Ao todo, há nove países em que o zakat é regulamentado pelo estado, mas sua contribuição é feita de maneira voluntária: Bahrein, Bangladesh, Egito, Indonésia, Irã, Jordânia, Kuwait, Líbano e Emirados Árabes.

Por sua vez, há outros seis países em que a caridade purificatória é obrigatória, e o valor é coletado pelo estado: Líbia, Malásia, Paquistão, Arábia Saudita, Sudão e Iêmen.

Cada país possui um sistema próprio para calcular as riquezas, cobrar os impostos, e destinar as riquezas. No entanto, é comum que as instituições beneficiadas estejam ligadas à caridade, desenvolvimento social, ou à religião.

É importante ressaltar que mesmo nos países onde o governo não possui um sistema para a cobrança do zakat, os muçulmanos continuam tendo a responsabilidade de doá-lo anualmente. Neste caso, o dever de achar pessoas aptas a receberem a caridade fica a cargo do doador.

Em 2013, um levantamento feito pela fundação britânica Just Giving, mostrou que a cada dez adeptos do Islam, três praticam caridade. O estudo foi feito com mais de quatro mil pessoas na Grã-Bretanha, e mostrou que os muçulmanos doavam em média US$ 567, os judeus US$ 417, cristãos protestantes US$ 308, católicos US$ 272, e ateus US$ 177.

Outras formas de caridade

O zakat não é a única forma de caridade no Islam, há também a sadaqah, que não possui valor fixo, não é obrigatória, não precisa ser dada em dinheiro, e pode ser feita em qualquer época do ano. Neste caso, qualquer ajuda ao necessitado, que recebe a doação, é considerado um ato de generosidade.

Qualquer pessoa pode praticar a sadaqah, independente da condição financeira, e seus efeitos podem ser tão benéficos quanto o do zakat. O Profeta Muhammad ﷺ dizia que a caridade feita para a glória de Deus tem o poder de trancar setenta portões da maldade, e é capaz de garantir o paraíso aos crentes.

“Sorrir para o seu irmão é uma caridade. Recomendar o bem e repelir o mal é uma caridade. Guiar um homem perdido pela terra é uma caridade. Emprestar sua visão para um homem que não enxerga bem é uma caridade. Remover pedras, espinhos e ossos da estrada é uma caridade. Derramar o que sobra no recipiente do seu irmão é uma caridade.” (Timirdhi)
Conclusão

O zakat é um dos cinco pilares do Islam, e é considerado obrigatório para aqueles que possuem condições de praticá-lo. Seu valor corresponde a 2,5% de toda riqueza que o indivíduo possuir, abatendo suas dívidas.

A doação deve ser feita uma vez por ano, e deve ser destinada aos muçulmanos que passam por algum tipo de necessidade financeira. No entanto, o doador deve fazer a caridade com discrição e boas intenções. 

A caridade é um gesto que foi ensinado diretamente por Deus, e os muçulmanos têm a obrigação de seguirem essas orientações, afinal, o sustento e a prosperidade são favores que Allah concede às suas criaturas, e elas devem buscar retribuir da melhor maneira.

Quando os recursos do zakat são captados e doados com justiça, eles podem servir para reparar injustiças sociais, como no caso do califa Umar II, que conseguiu erradicar a pobreza de seu califado somente com as riquezas da caridade purificatória.

O zakat possui algumas semelhanças com o dízimo dos antigos hebreus, no entanto ele diverge em alguns pontos da caridade praticada pelas atuais igrejas cristãs.

A maioria dos países cuja a população é predominantemente muçulmana não possuem um fundo econômico com as doações do zakat, no entanto, há lugares que cobram uma taxa voluntária, e também há outros em que o valor da caridade purificatória é considerado obrigatório por lei.