terça-feira, julho 23, 2019

O Arranjo Divino

Por: M. Yiossuf Mohamed Adamgy

Prezados Irmãos,

Saúdo-vos com a saudação do Islão, "Assalam alaikum", (que a Paz esteja convosco), que representa o sincero esforço dos crentes por estende r o amor e a tolerância entre as pessoas, seja qual for o seu idioma, crença ou sociedade.

Os Judeus e Cristãos foram ordenados por Deus para preservarem os seus Respectivos Livros sagrados, a Torah e o Evangelho. Por conseguinte, de início, a responsabilidade pela preservação dessas escrituras divinas, recaiu sobre os seus seguidores, enquanto Deus, Ele mesmo, assumiu a responsabilidade de manter intacto o Alcorão: "Nós revelamos a Mensagem e somos o Seu Preservador”. (15:9).

As escrituras anteriores eram Livros de Deus, assim como o Alcorão. A única diferença era que os portadores de tais livros falharam na sua tarefa de preservá-los, e, portanto, perderam as suas qualidades originais.

Quanto ao Alcorão, Deus guardou-o, fornecendo o Seu socorro divino especial para a sua salvaguarda, mantendo-o em seu estado primitivo. Isso, no entanto, não significa que os anjos desceram do céu, a fim de manter o Alcorão sob a sua proteção. No mundo atual, sendo um julgamento, as realidades do outro mundo permanecem escondidas de nós, nesta vida. Pode, portanto, nunca acontecer que os anjos venham praticamente descer a fim de proteger o Alcorão. Todas essas coisas são alcançadas neste mundo sob circunstâncias normais e não extraordinárias. Aqui, esta tarefa deve ser realizada por nós, seres humanos normais, e através de processos históricos, sem o véu do ser invisível levantado.

Eventos ao longo da história humana confirmam o cumprimento da vontade de Deus. No caso do último Profeta do Islão é distintamente diferente dos outros Profetas. Por ocasião da Hajjatul wida, a última Peregrinação, que o Profeta realizou dois meses e meio antes de sua morte, ele foi acompanhado por uma enorme multidão de muçulmanos nas planícies de Arafat. Este número é extraordinariamente grande, considerando-se que a população mundial nos tempos antigos era muito menor do que é hoje. Após a morte do Profeta (p.e.c.e.) esse número passou a aumentar, à medida que a nação abraçou o Islão. 

Desta forma, um vasto grupo humano surgiu como nunca tinha existido, anteriormente, para a guarda de quaisquer outras escrituras reveladas.

Outro evento útil que se seguiu foi uma série de conquistas dentro e fora da Arábia, através da qual os muçulmanos ganharam, progressivamente, o domínio sobre um vasto território habitado do mundo antigo e estabeleceram o maior e mais forte dos impérios do tempo. Este império, forte demais para ser superado por qualquer outro poder, era bem capaz de proteger a autenticidade do Alcorão, resistindo a todas as investidas por mais de mil anos. Depois, com o advento da era da imprensa, a possibilidade de o Alcorão ser destruído foi, finalmente, descartada. Na era da imprensa tornou-se possível imprimir um milhão de cópias de apenas um manuscrito - algo que tinha sido uma impossibilidade, nos tempos antigos, quando cada cópia foi separadamente escrita, à mão. Foi por isso que uma cópia era diferente de outra, em certa medida. Isso aconteceu com todos os livros antigos. Foi só no caso do Alcorão, da qual dezenas de milhares de cópias foram escritas à mão antes da idade de imprensa, (um grande número de cópias ainda estão disponíveis em museus e bibliotecas) em que, surpreendentemente, não havia a menor diferença entre um e outro manuscrito. Se os muçulmanos se tornaram tão atentos e sensíveis para manter a perfeição do Alcorão, foi por causa do socorro divino especial de Deus.

Além disso, havia um outro arranjo inspirado por Deus. Ou seja, o único método de gravar todo o Texto na memória, o que veio a ser praticado no caso do Alcorão — um método que nunca antes tinha sido aplicado a qualquer outro Livro na história da humanidade. 

Centenas de milhares de pessoas foram motivadas (por Deus) para aprender de cor o Texto do Alcorão, do começo ao fim. Desde o início do Alcorão até aos nossos dias, milhares e milhares de pessoas conhecidas como hafiz (aquele que decora todo o Alcorão de memória) existiram em cada geração. A história diz-nos que não há nenhum outro Livro cujos seguidores têm demonstrado tal extremo cuidado em memorizar o Texto. Foi esse costume de lembrar o Alcorão de cor que fez a sua preservação possível.

Este sistema único foi denominado por um orientalista francês por "duplo controle", ou seja, primeiro combinando o conteúdo de uma cópia com o outro e, em seguida, verificando-o, novamente, a partir da memória.

Todo o procedimento foi seguido, para a proteção do Alcorão, no decorrer de 14 séculos de História Islâmica,ser assistido por Deus. No entanto, a fim de que este mundo possa continuar a ser um campo de testes para a humanidade, tudo isso aconteceu sob um véu (ou seja, apesar de ter sido Deus quem influenciou eventos e motivou as pessoas, Ele permaneceu oculto, porque o ser humano está em julgamento neste mundo). No Dia do Julgamento, quando todas as realidades forem postas a nu, as pessoas irão observar como o próprio Deus estava a realizar, diretamente, a tarefa de proteger o Alcorão, desde o início da revolução islâmica ao advento da era da imprensa, que com o seu mais sofisticado método de replicação, facilitou a rápida propagação da Mensagem de Deus.

Há um outro aspecto vital desse arranjo Divino especial para a continuação eterna do Alcorão: Deus exige que os muçulmanos preservem não apenas a sua redação, mas, mais importante, os seus significados.

Considerando que o ensaio dos Povos do Livro estava em perpetuar os dizeres exatos das suas escrituras, o verdadeiro teste da Ummah muçulmana está na guarda do significado das suas escrituras. Aos antecessores dos muçulmanos falhou este teste, por isso o Próprio Deus assumiu a responsabilidade de manter o Alcorão intacto. Por uma questão de Julgamento Divino, os muçulmanos têm de provar que não se desviam do Texto nas suas explicações e interpretações, e de ter mantido tudo no lugar exato designado pelo Alcorão.

Nos seus comentários, devem ter o maior cuidado para que nenhuma mudança de ênfase ocorra, o que equivaleria a alterar os objetivos do Texto Sagrado. Ao apresentar o Alcorão aos outros, os muçulmanos devem transmitir exatamente o que ele afirma, nada menos e
nada mais. O fracasso dos muçulmanos, como o povo do Alcorão, reside no esquecimento do seu espírito e no uso do Alcorão simplesmente como um Livro de bênção, ao invés de um Livro de orientação. Quando a degeneração dos muçulmanos atinge esse estágio, as suas atividades tornam-se dirigidas para longe das noções básicas do Islão. Referem a sua religião, o seu Livro Sagrado, como sendo questões de orgulho nacional. Outros envolvem-se em show business em nome do Islão.

Outros há, ainda, que exploram-no para ganho político. Todas essas atividades, mesmo que sejam ativadas em nome do Alcorão e do Islão, são todos desvios dos princípios sagrados. Se os muçulmanos insistem em se engajar em tais atividades, não vão escapar da ira de Deus. Se eles se sentem satisfeitos que serão salvos na base que não pouparam esforços em preservar as palavras do Alcorão, estão grosseiramente enganados. Deus vai responsabilizá-los por terem desvirtuado os significados do Texto do Alcorão de todo o reconhecimento.

Deve ficar claro que os muçulmanos serão castigados por alterarem significado do Texto, assim como os povos anteriores (ao do Alcorão) foram castigados por terem alterado a redação das suas Escrituras.

É neste ponto que os muçulmanos são perenemente testados. Após, eventualmente, terem mudado o significado do Alcorão pelas suas auto-denominadas interpretações, não podem escapar da ira de Deus, simplesmente por dizerem que não fizeram nenhuma alteração ao Texto. Nenhum ser humano pode ser testado, a menos que lhe seja dada a liberdade de ação também.

Os muçulmanos são livres para interpretar o Texto, mas não para alterá-Lo. Neste sentido, deve-se compreender plenamente que o castigo imposto a outros povos do Livro, por alterar a redação do Texto Divino, será dado também aos muçulmanos por alterarem o sentido do seu Texto. Aqui reside a bitola dos muçulmanos. Se pelas suas auto-intituladas interpretações mudam o sentido do Texto Sagrado, não lhes pode ser poupado castigo divino, pelo simples fato de não terem alterado as palavras reais. Porque o teste do ser humano reside na sua esfera de poder. Agora, é proibido mudar as palavras do Alcorão; os muçulmanos só podem mudar o seu significado. Por isso, será sobre este ponto que serão castigados. 

Obrigado. Wassalam (Paz).

M. Yiossuf Adamgy
Diretor da Revista Islâmica Portuguesa AL FURQÁN

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