quarta-feira, novembro 13, 2013

A Economia no Islão (2ª. Parte - Continuação)

Prezados Irmãos,

Assalamu Alaikum Wa ráhmatullahi Wa barakatuh:

O Islão dignifica a economia

O Islão dignifica a economia. Traz ensinamentos abun-dantes sobre questões financeiras, como garantir a subsistência das pessoas, a defesa dos direitos dos despojados, a eliminação de toda a miséria e pobreza no âmbito das sociedades e a tendência para um nível equilibrado entre as massas. Para isso, fica atento a que se preserve a justiça nas relações humanas, pois a economia só pode ser reformada se o for através da justiça. A reforma social só se concretiza através da observação da justiça social e econômica. A piedade e virtude só se alcançam com a aplicação dos princípios de equidade entre as pessoas.

O Nobre Alcorão exclama de viva voz que «Deus prescreve a justiça e a bondade (ou beneficência) …» (16:90). O Grande Profeta Muhammad (que a Paz e as Bênçãos de Allah estejam com ele) disse que «O mais ignominioso perante Deus é aquele que administra os assuntos dos muçulmanos, mas que não concretiza a justiça entre eles».

Além disso, o Imame Ali ibn Abi Talib (que Allah esteja satisfeito com ele) proclamou: «Não reformeis as pessoas, mas sim a justiça». E quando ensinou os fundamentos do Islão, segundo o que nos transmitiu o Imame Sadiq (que a Allah esteja satisfeito com ele), disse: «Conhecei… as autoridades com o ordena-mento do bem, com a justiça e a prática da bondade». (Ou seja, as autoridades que se devem acatar, segundo o Alcorão, são as que apresentam estas condições, não qualquer uma que ostente o poder sem justiça nem bondade).

A justiça: elemento primordial da Mensagem islâmica

A doutrina original e pura do Islão consiste em dedicar--se à justiça e à sua aplicação, assim como à recupe-ração dos direitos dos despojados nos distintos sectores da humanidade. Os mais fiéis seguidores do Profeta (que a Paz e as Bênçãos de Allah estejam com ele) dedicaram-se às grandes revoluções e aos maiores sacrifícios ao longo da história do Islão em busca deste objectivo elevado. No entanto, a conduta daqueles que assumiram o governo após os "khulafa-ur-rashidin" (ou seja, após a governação dos primeiros 4 califas), em particular os Omíadas e os Abássidas, foi totalmente o oposto, privada de justiça e repleta de sumptuosidade, luxo e acumulação de riquezas usurpadas aos seus donos legítimos (o próprio povo). Apoderaram-se dos bens do Tesouro Público como riqueza pessoal, do próprio cargo de governante como um bem hereditário, dos prazeres de uma vida de ostentação como um direito indiscutível, sendo a pobreza, de que um amplo sector da população padecia, um inconveniente natural e irremediável ao qual as pessoas deviam acostumar-se e resignar-se. Quão afastada da justiça se encontra esta atitude! E quão afastada da Mensagem original de todos os Profetas (que a Paz de Allah esteja com eles)!

Para um autêntico líder revolucionário islâmico, as dificuldades das pessoas famintas são as suas próprias dificuldades e a luta contra os fastuosos usurpadores e os tiranos econômicos é o fundamento dos seus prin-cípios. Nunca permanece calado perante um devorador perverso dos bens públicos nem perante um oprimido faminto.

Este tipo de conduta sócio-religiosa revolucionária é o verdadeiro espírito dos ensinamentos do Profeta (que a Paz e as Bênçãos de Allah estejam com ele), seguido pelos seus justos sucessores. É, portanto, dever de todos os muçulmanos, sem dúvida alguma, imitar os antecessores justos e, neste caminho, defender os opri-midos e despojados, enfrentar os males da multiplicação e do luxo e não ficar calado perante a opressão dos tiranos e o sofrimento dos subjugados.

A multiplicação

Numa sociedade, não podem estar presentes a multi-plicação de bens e os acumuladores sem que haja, simultaneamente, a sumptuosidade e a extravagância. A multiplicação e a abundância são inseparáveis e são a raiz da opressão económica.

Queremos esclarecer que o termo “multiplicação” (em árabe "takazzur") tem determinados significados asso-ciados como o “desejo pelo lucro”, a “ostentação”, a “ganância”, o “materialismo” e o “capitalismo”. Doravante, quando for utilizado este termo, dever-se-á ter em mente estes significados para uma melhor compreensão. Refere-se ao turbilhão competitivo e devastador no qual as pessoas imergem com o desejo de possuir, cada vez mais, para poderem levar uma vida extravagante, exuberante, com luxos extremos e abundância, exibidos publicamente para que todos possam vê-las e invejá-las. Trata-se de um mal que corrompe e aniquila qualquer vestígio de humanidade, tanto no indivíduo como na sociedade.

É evidente que uma existência fastuosa se ergue desprezando os direitos dos outros. Por conseguinte, os correctos e autênticos ensinamentos originais do Islão não deixam lugar à passividade perante os ricos osten-tadores e perdulários. E muito menos para a justificação das suas acções perversas e os seus comportamentos corruptos. Em muitos versículos o Sagrado Alcorão condena e rejeita aqueles que se dedicam a uma vida de luxos excessivos, bem como as suas condutas depra-vadas, por ser a base da opressão económica. Assim, os ensinamentos islâmicos, puros e originais, desarticu-lam os pilares de tal opressão em todos os seus aspectos. Por conseguinte, afirmamos que se tais ensinamentos tivessem sido aplicados, esta classe de tiranos não poderia ter existido nem permanecido.

O poder por trás do governo

Segundo o que referimos anteriormente, é evidente que a multiplicação e os multiplicadores (os ricos pode-rosos) não podem subsistir nem chegar ao governo, nem, ainda, superá-lo. Se não alcançarem o poder, a multiplicação não permanecerá. Pelo que devem sempre chegar ao governo e até mesmo superá-lo, formando um clã nas sombras acima da autoridade política. Isto é muito claro na atualidade, tanto nas democracias do “terceiro mundo”, onde os políticos que desejam ser “elegíveis para o cargo de Presidente” devem agradar ao FMI (Fundo Monetário Internacional), ao Banco Mun-dial e a organizações afins, bem como nas monarquias que, para acederem ao poder e manter-se no poder, também devem agir como fantoches de tais organismos. 

Contra o clã destrutivo que regula o poder dos go-vernos desde as sombras, o Islão implementou uma ampla defesa, começando por considerar a riqueza excessiva como ilícita, a vida luxuosa e sumptuosa como maldita e os ricos e poderosos como ocupadores per-versos. O Islão pede aos sábios e a todas as pessoas que abandonem a companhia dos ricos e todo o tipo de contacto ou relação com eles, até derrubá-los dos seus níveis sociais. “Abandonar a sua companhia” não significa ignorá-los nem ser-se indiferente a eles, significa sim não lhes dar nenhuma participação nas decisões políticas que o governante justo estabeleça. O primeiro passo que um governante deveria adotar para levar adiante tal revolução social é fechar as portas aos ricos e poderosos e considerá-los como verdadeiros criminosos até os obrigar a devolverem o erário usurpado, ilegalmente. 

A revolução do Islão 

Isto faz parte dos grandiosos ensinamentos do Islão revolucionário, aqueles que surgiram há 14 séculos atrás, condenando os opressores dos povos e os usurpadores dos direitos do homem, para que não pudes-sem gozar de uma existência orgulhosa, nem superar facilmente os assuntos estabelecidos nem agir na terra corrompendo-a, subjugando as pessoas, nem promover a instabilidade e a negligência em todos os domínios. O Islão não se conforma em condenar até exterminar a multiplicação e os opressores poderosos, mas também 

ataca qualquer manifestação de ostentação pomposa para que todas as pessoas reconheçam tal atitude como a raiz da corrupção e da perversão moral e a destruam. A multiplicação das riquezas (sendo uma das suas for-mas o capitalismo atual) e a pomposidade na existência estão associadas à dependência econômica, o principal inimigo do Islão e dos muçulmanos (e de todos os povos). 

Por esta razão, o Islão rejeita-as veementemente. Diz o Sagrado Alcorão: 

«Deus jamais concederá a supremacia aos incrédulos sobre os crentes» (4:146). 

Assim, os muçulmanos devem resgatar os seus países das garras destes selvagens que, desde o poder, estabelecem laços de dependência econômica com poderes estrangeiros. 

Este clã superior à autoridade política promove a pobreza destrutiva, aquela que o Islão combate, ensinando as suas raízes ou consciencializando as pessoas para que se oponham a ela. 

A origem da pobreza 

Entre os ensinamentos que o Islão enfatiza e proclama, constatamos que a carestia dos despojados, a fome dos famintos, a nudez dos andrajosos, as penúrias dos necessitados e a indigência dos pobres não provêm do Decreto de Deus, Altíssima seja a Sua Posição. Ele criou os seres, estabelecendo para eles os seus mantimentos e o sustento para as suas vidas. Diz o Sagrado Alcorão: «… Nós dispensamos- -lhes os seus sustentos na vida do mundo…» (43:32). Pois, todas as criaturas são a Sua família «para as quais (Deus) garantiu os seus mantimentos e decretou os seus sustentos» (como disse o Imame Ali [que Allah esteja satisfeito com ele]). O Imame Sadiq disse: «A riqueza foi distribuída e assegurada para vós. Foi distribuída por um Justo entre vós…» (Al Kafi, tomo I, pág. 30). 

Mas de onde surgem as terríveis situações de que vemos padecer muitos setores da humanidade? Estas são questões impostas para as quais a sociedade foi arrastada devido aos pecados dos ricos, ao domínio dos ocupadores, à iniquidade dos ímpios e à opressão dos tiranos. Vejamos uma declaração contundente sobre isto: disse o Grande Profeta Muhammad (que a Paz e as Bênçãos de Allah estejam com ele): «Deus estabeleceu as provisões dos pobres nas riquezas dos ricos. Se existem famintos e desnudos isso deve-se ao pecado dos ricos» (in Al Mustadraq, tomo I, pág. 509). Disse o Imame Ali ibn Abi Talib (que a Allah esteja satisfeito com ele): «Um pobre não passa fome se não por aquilo que lhe nega um rico». Disse o Imame Ja’far as Sadiq Talib (que a Allah esteja satisfeito com ele): «… As pessoas não são pobres, nem necessitadas, nem famintas, nem desnudas, salvo pelos pecados dos abastados» (in Uasail, tomo VI, pág. 4). 

Todos estes ensinamentos sagazes, em linha com as diretivas do Glorioso Alcorão, moldam os princípios do Islão, surgindo como uma obrigação legal eminente para os sábios, o governo islâmico e os muçulmanos. Esta obrigação consiste em dedicar-se à equanimidade econômica e ao combate contra a opressão financeira, afastando os tiranos econômicos do poder, da legislação e da economia que regem a sociedade. Neste sentido, Deus Altíssimo ordenou ao Profeta Muhammad (que a Paz e as Bênçãos de Allah estejam com ele), na noite da viagem celestial, segundo o que nos transmitiu Amir Al Mu’minin Ali ibn Abi Talib (que Allah esteja satisfeito com ele): «… Ó Ahmad! Afasta-te dos ricos e evita participar nas suas reuniões!...» (in Irshad, pág. 201). 

Toda a autoridade na sociedade islâmica, todo o homem religioso (sábio, erudito ou "sheikh") e todos os governantes em geral deveriam ter no Profeta Muhammad (que a Paz e as Bênçãos de Allah estejam com ele) um claro e excelente modelo a imitar, afastando-se dos potentados e das suas reuniões se forem realmente seguidores da conduta do Profeta (que a Paz e as Bênçãos de Allah estejam com ele). Como já o referimos anteriormente, é cerrar-lhes a porta e considerá-los criminosos até que devolvam tudo o que acumularam ilegitimamente, usurpando os direitos dos outros. 

(Conclusão, na próxima reflexão, in cha Allah) 
Wassalam aleikom wa Ramatulahi wa Baraketuhu
Obrigado, boas leituras. 

M. Yiossuf Adamgy 

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