quarta-feira, abril 16, 2014

Um olhar sobre o noivado e casamento Por: Sheikh Abdur-Rahmán Ravat



Antes de iniciar o presente artigo, é necessário esclarecer que o conceito de noivado não tem qualquer fundamento no Isslam. Perante o Shari’ah, o que existe é Khitbah, ou seja, pedido de casamento.
O noivado é uma prática não isslâmica que vem sendo realizada após o pedido de casamento ter sido aceite, onde se dá uma festa com o objetivo de comemorar esse ato, festa essa que muita das vezes ultrapassa não só os limites traçados pelo Shari’ah como também supera a envergadura de muitos casamentos, o que não deixa de ser uma ostentação.
Geralmente, o noivado tem sido realizado com o intuito de informar à comunidade que os noivos já estão comprometidos e para apresentá-los aos familiares. Nesse dia, é comum o noivo oferecer um anel à noiva, ato que se repete na altura do casamento; de salientar que também não se encontram bases que sustentem estas práticas.
De maneira alguma se deve achar que a festa de noivado faz parte do Sunnat, pois tal prática não é encontrada nas tradições do nosso querido profeta Muhammad (S) e nem mesmo dos seus prestigiados companheiros (R).

A religião deixada por ALLAH e Seu Mensageiro (S) é completa e não requer acréscimos nem diminuições. ALLAH diz no sagrado Al-Qur’án:
«Este dia, Eu aperfeiçoei para vós a vossa religião, completei o Meu favor sobre vós, e escolhi para vós o Isslam como religião.»
[Al-Qur’án 5:3]
E o Profeta (S) disse: «Quem introduzir algo de novo nesta religião será rejeitado». [Bukhari e Musslim]
Portanto, tudo o que não fazia parte da religião naquela altura, jamais fará em qualquer outro dia; o Isslam já está completo e aperfeiçoado.

Depois do Khitbah ter sido aceite, o Nikah ou casamento deve ser efetuado com a maior brevidade possível. Infelizmente, muitos permanecem longos períodos sem a realização do matrimônio, algo que é condenável no Isslam. Na maioria dos casos, esses longos períodos de espera não chegam ao casamento, fazendo com que a demora seja um mau sinal quanto à possível ocorrência do mesmo.
É errado achar que se deve dar tempo para que os noivos se conheçam melhor, pois esses são pensamentos errados e condenáveis no Shari’ah. Contudo, muitas vezes são os próprios familiares que preferem retardar o casamentoalegando motivos injustificáveis dentro do Isslam, mesmo contra a vontade dos noivos. É necessário ressalvar que aquele que colocar obstáculos para a ocorrência duma união lícita, terá que responder perante ALLAH.
Infelizmente, tem sido comum deparar com situações em que após estarem comprometidos, os noivos saem a sós, tem momentos de intimidades que só ALLAH e Seus anjos sabem, etc., atos expressamente proibidos no Isslam. Perante o Shari’ah, enquanto o casamento não for realizado, ambos continuam estranhos um para o outro.
No Isslam não há espaço para o namoro antes do casamento, pois isso afasta as bênçãos depois deste ato solene. Os jovens devem entender que o namoro e seus preciosos momentos devem ser reservados para depois do casamento e continuados para o resto da vida, não sendo apenas para alguns meses, pois namorar antes reduz a sua graça no futuro.
Consta que o profeta Muhammad (S) disse: «Quem se assemelha a um povo, pertence a ele». Infelizmente, o ambiente em que vivemos tem sido influenciado pelo Ocidente, razão pela qual a nossa sociedade manifesta várias culturas e práticas ocidentais, sendo o namoro uma delas.
Hoje em dia já se considera habitual o fato das pessoas namorarem durante longos períodos e virem a casar quando chegam à conclusão de que já se conhecem “suficientemente bem”, mesmo que já tenham vivido “maritalmente” durante vários anos e tenham filhos crescidos.
Contudo, a realidade mostra-nos que muitos desses casos terminam antes do casamento. Enquanto que o matrimônio traz segurança e estabilidade à família, principalmente à mulher, o namoro ou “união de fatosó traz riscos e desgraças à sociedade, tais como mães solteiras, incapacidade de sustentar sozinhas as crianças, filhos abandonados, lares desagregados, etc.
Nota-se que o número de divórcios no Ocidente é muito superior comparado ao dos países onde o namoro não faz parte da cultura dos seus povos. Portanto, nem o namoro nem as tais uniões ilícitas representam alguma garantia para um casamento feliz e duradouro.
De fato, é verdade que muitos parceiros trocam promessas de casamento quando estão profundamente apaixonados e envolvidos na paixão, só que depois do casamento, o mesmo casal não demora em requerer o divórcio! Por isso, conclui-se que as relações pré-maritais não oferecem garantias para uma vida feliz e afastam o prazer e o contentamento pós-marital.
O direito à liberdade de escolha do parceiro é considerado um fator muito importante no Isslam. Hoje em dia tem sido atribuída a esta nobre religião o fato de ela advogar casamentos forçados. Isso não passa de práticas alheias ao Isslam, que são cometidas por pessoas pertencentes a certos povos e que estejam a aderir às suas próprias culturas. Portanto, é necessário averiguar concretamente o que o Isslam advoga, através do seu Livro sagrado e de tradições autênticas.
É necessário olhar para a pessoa com quem se pretende casar, pois em várias ocasiões o Profeta (S) insistiu neste aspecto dizendo: «Quando um de vós procura uma mulher para casar, se puder vê-la então deve fazê-lo». [Abu Dawud].
O casamento é uma tradição do Profeta (S) e também um ato sagrado, compartilhado por duas pessoas que voluntariamente se submetem às leis de ALLAH. Não é apenas uma união onde o homem e a mulher se juntam somente para satisfazer as suas necessidades carnais, pois se trata dum contrato social que envolve muitos outros direitos e obrigações.
De forma a cumprir melhor com essas responsabilidades, o Profeta (S) sempre recomendou que as pessoas optassem por parceiros que tenham piedade e temor por ALLAH, pois isso ajuda a estabelecer um ambiente religioso dentro do lar e traz felicidade e harmonia na família. O Profeta (S) disse: «Se um homem piedoso e respeitável vos propor o casamento (com vossa filha), então aceitai (a proposta), pois se assim não procederem, haverá muita tentação e corrupção na terra». [Tirmizhi].
E hoje já se nota essa corrupção, pois muitas propostas de casamento são rejeitadas devido a questões materiais. Nalgumas vezes, a realização do Nikah é adiada pelo simples fato de uma ou ambas as partes não puderem realizar as cerimônias conforme o desejado, com pompas e todo o aparato pretendido, devido à incapacidade financeira. Em certos casos, chega-se ao ponto de contrair dívidas apenas com o objetivo de exibir e mostrar o luxo.
De salientar que o Nikah propriamente dito é um ato Sunnat e bastante simples de se realizar, cujos requisitos são fáceis de cumprir. Tudo o que está para, além disso, é a sociedade quem tornou “obrigatório”, dificultando a vida das pessoas. Cabe a todos nós combater estes males que são fruto doutras culturas e que vêm afetando a vida de muitos solteiros, que manifestam o desejo de contrair matrimônio e satisfazer as suas necessidades de forma lícita.
Essas tradições alheias que não estão ligadas ao Isslam não trazem qualquer benefício; pelo contrário, só prejudicam a sociedade em geral e o casal em particular, pois afastam as bênçãos do seu matrimônio.
No dia do casamento, é triste ver a noiva, que está a iniciar uma nova fase da sua vida, perder alguns Salátes (Orações Obrigatórias) pelo simples fato de estar “presa” no palco ou por estar maquilada; certamente que ela não se deve encontrar no seu período menstrual. Mais triste ainda é que isso ocorre mesmo dentro do Massjid!(Mesquita – Templo Isslâmico).
Não é correto achar que os banquetes ou jantares que ocorrem dias ou semanas antes do Nikah façam parte da tradição isslâmica. Isto não significa que tais eventos sejam proibidos, mas transformá-los como um ato obrigatório ou oferecê-los pelo simples fato de imitar o que esteja em voga, de forma a evitar “bocas” caso o mesmo não seja proporcionado, torna-se algo condenável perante o Shari’ah. O mesmo acontece com a troca de presentes, escolha de carros e salões luxuosos, competição nas decorações, hotéis, etc. Deve-se refletir seriamente neste assunto e pensar naqueles que não têm capacidade financeira para tal, que com muito esforço pretender contrair matrimônio. Porque dificultar algo que o Isslam facilitou?
A mistura de homens e mulheres tornou-se vulgar no seio da comunidade muçulmana, algo que era impensável em tempos não muito remotos. A música e até mesmo espetáculos ao vivo também se tornaram algo indispensável, alegando que “não há graça” sem os mesmos, nem que para isso tenha que se contar com a ausência dalguns Ulamá. Até onde chegamos? Em que se faz de tudo para que o Shaitán esteja presente, mas não se esforça para atrair a bênção de ALLAH e a presença de pessoas a Ele ligadas.
Como pretendem que ALLAH derrame as Suas bênçãos sobre este matrimônio, se atraem a Sua fúria e agradam simultaneamente o Shaitán? Porque razão recorrem aos Massjides para efetuar o Nikah ? Será que não estão sendo abertamente hipócritas, tendo “duas caras”?
É dever de todos nós, cumpridores desta nobre e simples religião que é o Isslam, combater esses males, nem que para tal sejamos obrigados a boicotar eventos dessa natureza, que sejam realizados fora dos limites traçados pelo Shari’ah. Consta num Hadice em que o Profeta (S) disse: «Aquele de entre vós que vê algo abominável (a ser praticado), deve corrigi-lo com as suas mãos; se não for capaz, deve fazê-lo com a sua língua; se (mesmo assim) não for capaz de fazê-lo, então que condene isso no seu íntimo, e este é o mínimo de fé (que possui)». [Musslim].
Talvez enquanto não se optar por esta via, a presente situação jamais se alterará. E se de fato as condições para a recepção de pessoas piedosas não forem criadas, então significa que a presença delas bem como as bênçãos de ALLAH não são importantes.
Outras concepções erradas que se tem sobre o Nikah estão relacionadas com as testemunhas, o local onde o mesmo será realizado e a pessoa responsável pela cerimônia.
As duas testemunhas para o Nikah devem ser muçulmanos, adultos (que já tenham atingido a puberdade) e mentalmente sãos; portanto, não é requisito que esses indivíduos façam parte da família do noivo ou da noiva. Quanto ao local e pessoa responsável para realizar Nikah , pode ser acordado amigavelmente entre ambas as partes. Nenhuma das partes tem a prioridade de decidir quaisquer destes aspectos, pois esse é um conceito ligado a alguma tradição não isslâmica, oriunda de certas culturas.
No Isslam também não existe o conceito de padrinhos nem madrinhas no casamento.
Rogamos a ALLAH que nos conceda forças de forma a que possamos assegurar firmemente os ensinamentos do sagrado Al-Qur’án e do Sunnat e evitar quaisquer inovações na religião, tradições ou culturas não isslâmicas e esbanjamentos.
Fonte: http://www.sautulisslam.com/index.php/Artigos/Edicao-n1-28/Um-olhar-sobre-o-noivado-e-casamento

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