sexta-feira, fevereiro 21, 2014

O Amor no Islão (I)

Quem ler as fontes do Islão e, em primeiro lugar o Alcorão, numa leitura global e objectiva, descobrirá que o Islão, na sua essência e origem, é a religião da orientação, da crença, do amor e da beleza. É uma religião cujos principais objectivos se traduzem nas virtudes morais e nos seus valores humanos: educação, cultura e relações sociais. Entre estes grandes valores destaca-se o amor.

No nobre Alcorão e na Tradição do Profeta Muhammad [Maomé] (p.e.c.e. = paz esteja com ele), encon-tramos vários versículos e ditos que desembocam na consolidação dos valores da fé, a orientação, as virtudes morais, a cooperação e o carinho, que superam o número dos versículos e ditos do Profeta (p.e.c.e.) que tratam os assuntos políticos, militares ou econômicos, em-bora o Islão se interesse por todos os assuntos da vida.

A partir desta investigação comprova-se que estes valores ocupam uma grande parte nas duas fontes mais importantes da religião islâmica: o Alcorão e a Tradição correcta do Profeta (p.e.c.e.). Daí que toda a pessoa equitativa estará convencida de que o Islão, geralmente, com os seus objetivos e origens, é a religião da misericórdia, da irmandade, do amor, da beleza, da paz e da cooperação entre toda a gente… e que os outros casos como as guerras, os litígios e tudo aquilo que implica a discórdia, a inimizade, o ódio e a aversão, são excepções.

A entrada natural e correcta para dar a conhecer o Islão ao outro ou para chamar os outros ao Islão, é a da boa palavra e a boa obra. O Alcorão descreveu o efeito que tem a palavra de uma forma bela, profunda e vigorosa:

«Não reparas em como Deus propõe um exemplo? Uma boa palavra é como uma árvore benigna, cuja raiz está profundamente firme e cujos ramos se se alçam ao céu. Frutifica em todas as estações com o beneplácito do seu Senhor. E Deus propõe exemplos aos humanos para que meditem». (Alcorão, 14:24-25).

O amor em relação a Deus

O amor em relação a Deus vem no cimo da pirâmide destes círculos. É uma relação de significados compos-tos. Alguns são mentais, que se repercutem na reflexão sobre as criaturas de Deus nos céus, na terra e nos mares. São criaturas magníficas atrás das quais está o grande e o Primeiro Inovador: Deus, Glorificado e Enaltecido seja…; outros são existenciais e sentimentais, que se manifestam ao ler, escutar e refletir sobre o Alcorão.

A grande evidência sobre o amor do servo para o seu Criador é obedecer as Suas ordens, ser fiel em aplicá- -las e levá-las a cabo com perfeição, tanto quanto possível.

Quem é fiel no seu amor a Deus, Glorificado e Enaltecido seja – submetendo-se aos Seus princípios – na sua crença, atos de adoração e comportamento, aproximar-se-á ou chegará à meta do amor espiritual e existencial. Este amor que eleva o ser humano e os seus comportamentos de modo a que todos os seus ditos e atos se efetuem na obediência de Deus, conertese num sinal de devoção e de bem que se estenderá para abarcar os outros.

«Mas o amor por Deus dos que acreditam é mais forte». (Alcorão, 2:165).

Deus é Quem criou o ser humano, honrou-o com a mente, fez dele o Seu representante na terra, outorgou- -lhe as Suas graças, manifestadas e ocultas, e submeteu a ele muitos assuntos nesta vida mundana, tanto na terra como no céu.

Por todas estas graças, o servo agradecido deve amar o Seu Criador, traduzindo este amor em com-portamentos que confirmem a sua obediência, em conformidade com as Suas normas e com tudo o que ordenou através dos seus Livros e Mensageiros…

Pessoalmente, acho que o amor frutífero é aquele que o muçulmano (todo aquele que se submete à Vontade de Deus) adquire mediante a compreensão, a luta e o sofrimento através da viagem da vida. Com este amor ele converte-se num servo agradecido que ama Deus e o Seu último Mensageiro. 

No capítulo do Alcorão "O Arrependimento" há um versículo longo que confirma que a pirâmide do amor está baseada no amor para com Deus e para o Seu Mensageiro: "Dize: Se os vossos pais, filhos, irmãos, esposas, o vosso clã familiar, os bens que tendes obtido, o negócio cuja falta de benefício temeis, as moradas que os satisfazem, são-vos mais amados que Deus e o Seu Mensageiro e a luta no Seu ca-minho, então esperai até que Deus faça chegar a Sua ordem. E Deus não guia o povo perverso". (9:24).

Assim, o muçulmano que ama Deus aspira, constante-mente, à sublimidade e à devoção. Esta sublimidade e piedade conduzem também à perfeição ao realizar o trabalho, que é uma acção louvada por Deus: "E fazei o bem. Na verdade, Deus ama os que fazem o bem". (Alcorão, 2:195).

O Xeique Mohammad Hussein Fadlallah comenta este versículo Alcorânico dizendo: "Deus fala do amor dos benfeitores. Estes que viveram o bem nos seus pensamentos, um pensamento que apresenta o bem a toda a gente que busca soluções para os seus proble-mas em geral, e um acto que oferece à gente para melhorar a sua vida, essa vida que busca a força peran-te a sua debilidade, a riqueza perante a sua pobreza e a vitalidade para o seu movimento. Desta forma alça o seu nível fazendo-lhes muito bem em todos os seus assun-tos e estados… Isto é o que representa o seu apego a Deus e ao seu movimento com o objectivo de se aproxi-mar a Ele. Deus vê estas pessoas nos lugares onde se busca fazer o bem para si próprios, para a gente e para a vida através do seu amor a Deus e da sua aproxima-ção a Ele. Deus outorga-lhes um amor divino que os cobre de felicidade e de delícias e que os faz ascender os graus da Sua proximidade". — (No livro: Interpre-tação através da inspiração do Alcorão, por Mohammad Hussein Fadlallah. 

Num dito do Profeta (p.e.c.e.) lê-se: "Ó Deus, outorga--me o Teu amor, os atos que me façam amar-Te e o amor para os que Te amam. Ó Deus, faz com que o Teu amor seja mais querido para mim que o meu ser, a minha família e a água fria".■ 

(Continua, in cha Allah, na próxima reflexão) 

«Ó Deus! É de Ti que dependemos,  é a Ti que recorremos, e é para Ti que todos nós regressaremos». — (Alcorão, 15:19).  
Obrigado, boas leituras. 
M. Yiossuf Adamgy

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