quinta-feira, junho 15, 2017

A Ecologia e os Valores Islâmicos (Parte II)

Prezados Irmãos,

Saúdo-vos com a saudação do Islão, "Assalam alaikum", (que a Paz esteja convosco), que representa o sincero esforço dos crentes por estender o amor e a tolerância entre as pessoas, seja qual for o seu idioma,crença ou sociedade.

A crise ambiental é, sem dúvida, essencialmente, uma crise humana. O ser humano alienado vive num estado de opressão contra si mesmo, contra as outras pessoas e contra a natureza. O crescente domínio do ser humano sobre a natureza é questionado hoje, porque ninguém pode dizer, com certeza, que a natureza não vai acabar sobrecarregando o ser humano nesta clara objectivação do mundo em que vivemos.

Primeiro dessacralizou-se (a natureza) com a visão que o homem europeu forjou de si mesmo. Então, de seguida, foi considerada como algo para usar e obter o máximo de alegria e prazer possível. A relação não era o de tirar o proveito, mas em vez de se sentir responsável por ela, tratou-a como uma prostituta para obter o máximo de prazer, sem sentir a mínima responsabilidade. Luxúria e ganância são cada vez mais exigentes da natureza. Os especialistas consideram que o modelo capitalista não é viável, porque se muitos mais países acedessem a ele com os níveis de consumo do primeiro mundo, o planeta não poderia resistir ao que eles dizem.

Estamos vivendo o espírito conquistador, o espírito dos europeus colonialistas que conquistaram e saquearam a América para a mergulhar na pobreza. Agora, conquista-se o espaço, o poder de fogo sobre o inimigo.

O homem desistiu da sua responsabilidade como regente de Deus na Terra, guardião e zelador.

Separou-se dele próprio e de Deus. É como um animal selvagem insaciável, que acredita que pode continuar a desfrutar eternamente. O adjectivo selvagem para o capitalismo tem essa conotação.

O conhecimento secularizado chamou-se ciência e o mundo natural e social ficou sem espírito.

O Nobre Alcorão chama ao mundo sinal de Deus. É ao mesmo tempo um véu e uma revelação do Criador.

Natureza e revelação proveem da mesma fonte divina, quando o homem se separou de uma separou-se da outra e rompeu a harmonia, a unicidade (ár. Tawhid). A Visão do Islão é monoteísta, isto é, coloca ênfase especial na unicidade do universo. O mundo, na mentalidade moderna, foi interpretado como uma grande máquina, as suas peças não formam um todo orgânico, mas sim, são vistas como separadas e independentes.

Neste mundo sem transcendência e sem fins, os media converteram-se em fins. O fim absoluto foi suplantado pelos media e estes são acreditados como sendo absolutos. A tecnologia, naturalmente, tornou-se um meio para um fim. O gozo material, essencialmente muito limitado, tornou-se o único fim.

Alguém disse, se seria lógico dizer a alguém que vive no campo, nas montanhas ou em frente ao mar, para deixar tudo e vir viver nas cidades, onde há os maiores avanços da civilização, mas que, para apreciá-los, terá que trabalhar doze horas numa fábrica e depois chegar a casa cansado e ver algo na TV como um reality show do estilo Big brother ou outro similar.

As únicas ciências aceitáveis e legítimas da natureza são quantitativas e experimentais e todos os outros conhecimentos são puro sentimento ou superstição.

Pareceria que só posso conhecer ou só é conhecimento aquilo que trata da superfície da realidade, não o que trata da raiz ou a profundeza da existência. Não há sabedoria, visão de totalidade, conhecimento do sentido, nenhum espírito.

Das escolas ocidentais de filosofia, a mais influente nos últimos anos tem sido a Inglesa do positivismo lógico, nascida no círculo vienense de Carnap, Frank,

Reichenbach e outros. Eles dizem que à ciência não corresponde descobrir a natureza das coisas ou algum aspecto da realidade; mas, sim, estabelecer conexões entre sinais matemáticos e físicos (aos que eles chamam de símbolos) que podem ser feitos por meio dos sentidos externos. E os instrumentos científicos, a respeito da experiência, são apresentados como o mundo inteiro. Uma função puramente linguística da filosofia.

Os cientistas muçulmanos acreditavam que, mesmo no domínio da matemática, o papel da ciência era descobrir um aspecto da realidade.

Nós vivemos num multiverso, em vez de universo, como disse Oppenhaimer.

A hipótese de evolução (uma criatura da filosofia do século XIX) torna-se um dogma da biologia e é apresentada ao mundo como uma verdade axiomática.

Não é estudada qualquer coisa em si, senão a sua história e sua evolução.

A filosofia neotomista marcou uma verdade simples (embora seja excessivamente racionalista e não metafísica num sentido real) do conhecimento de que o método utilizado na natureza não pode ser o mesmo que na metafísica.

Husein Nasr defende que só o intelecto (a gnosis) pode penetrar no real; a razão só explica. E é esta gnosis que pode unir a teologia, a filosofia e as ciências da natureza. Uma verdadeira teologia da natureza (significado a gnosis) não é uma mera defesa racional dos dogmas da fé (teologia cristã). Para Nasr, o Ocidente deve assumir esta forma de conhecimento presente nos Padres da Igreja ou metafísicos cristãos da Idade Média como Erígena ou Eckhart ou da teosofia de Jacobo Boehme.

O desaparecimento da gnosis, no seu verdadeiro sentido, como conhecimento intuitivo ou iluminador, e a sua substituição pelo misticismo emocional e a negligência gradual da teologia metafísica por uma teologia racional, são todos efeitos da mudança nas almas dos seres humanos.

O sistema cientifico está a entrar em colapso. As rachaduras nas suas paredes não devem ser preenchidas com o resíduo psíquico mais negativo, as novas encomendas espirituais que provêm de invenções humanas. Uma água ou luz do céu é necessária.

A tecnologia está subjugada à economia, à uma ética do mercado que, em vez de assinalar o desenvolvimento igualitário de todos os habitantes do planeta, enriqueceu a uns em detrimento de outros; não só não compartilhou o pão, mas acumulou a farinha para especular com ela, quando milhões de pessoas estão a morrer de fome, anualmente. Os interesses pessoais tomaram o lugar dos verdadeiros interesses.

A sua desmedida ambição procurou codificar, à vontade, o que a natureza tem aperfeiçoado durante milênios; e monitoriza a sua visão distorcida, esquecendo o enorme poder da natureza vegetal, animal e humana de retomar os seus procedimentos originais.

Eduardo Galeano diz o seguinte no seu livro usar e eliminar:

Vinte por cento da humanidade comete oitenta por cento das agressões contra a natureza, e é a humanidade inteira quem paga as consequências da degradação da terra, a intoxicação do ar, o envenenando da água, o enlouquecimento do clima e a delapidação dos recursos não renováveis.

Os governantes que nos prometem uma entrada para o primeiro mundo consumidor estão a fazer apologia do crime, pois este sistema se baseia na exploração dos outros e na destruição da natureza.

De acordo com o teólogo Leonardo Boff, o anticristo é o espírito da globalização econômica. Fala-se em ciências de um movimento para um novo paradigma, como o novo paradigma do desenvolvimento sustentável: economia solidária e equilíbrio entre crescimento econômico, equidade social e recursos biológicos.

O que o Islão tem para oferecer contra esse suicídio colectivo para não retirar o monoteísmo do mercado? Um sistema em que o objectivo final é Deus, não este mundo e os seus prazeres que se maximizam com a exploração dos outros e do meio ambiente.

O Islão tem uma concepção superadora da visão materialista e reducionista, que prevalece nesta cultura global atual, e os seus princípios econômicos regulam esta atividade de modo a opor-se à concentração da riqueza. Os bens vitais para a sociedade não podem ser privatizados, a usura ou a cobrança de juros é proibida, os minerais, florestas e mares são explorados pelo Estado e não podem ser privatizados.

Ninguém pode ser dono de uma terra e não a trabalhar sem justificação por não mais do que três anos consecutivos, depois disso, o governo tem o direito de expropriar e distribuí-la entre aqueles que estão capacitados para trabalhá-la e extrair os seus benefícios.

No Sagrado Alcorão, Deus ensina que a terra é um organismo vivo e consciente que não tolerará a submissão à exploração desenfreada. A sua reação será inevitável e será um dos despertadores que sacudirão a consciência adormecida do homem moderno.

O nosso maior flagelo: a ignorância.


Laila Qadr Mubaraka Inshallah.
Fonte:O Meio Ambiente e o Islão - Autor: Abdul Karim Paz– tradução portuguesa de: M. Yiossuf Adamgy

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