domingo, dezembro 11, 2016

Rumo a uma sociedade e a uma educação multiculturais

Prezados Irmãos,

Assalamu Alaikum:

Há 1438 anos, Deus disse no Alcorão:

«Ó seres humanos! Na verdade, Nós vos criamos de macho e fêmea e vos dividimos em povos e tribos, para reconhecerdes uns aos outros. Por certo, o mais honrado dentre vós, perante Deus, é o mais temente. Na verdade, Deus é Omnipresente e Omnisciente». (49:13).

— «… A cada um de vós, Nós temos prescrito uma Lei e um caminho aberto. E se Deus qui-sesse tinha feito de vós um só Povo; mas fez-vos como sois, para vos testar por aquilo que vos concedeu; portanto, competi uns com os outros nas boas ações. Todos voltareis para junto de Deus, Que então vos esclarecerá a respeito das vossas divergências». (49:13).

A importância da interação na educação

As sociedades democráticas fortalecem-se através de princípios fundamentais, tais como a liberdade, a igualdade e a justiça. Manter a identidade de pessoas que produzem conhecimento e investigação parece bastante paradoxal numa sociedade democrática. Quando as variáveis, como a cultura, a etnia e a diversidade, são utilizadas para dar privilégios às pessoas de certos grupos e rejeitar outras, então a capacidade de oferecer igualdade de oportunidades converte-se num desafio importante para a sociedade. Significativamente, todo o ser humano procura reagir contra qualquer forma de dominação e tem um desejo intrínseco de liberdade. Por esta razão, mais do que nunca, a educação na e para a sociedade deve proporcionar o ensinamento que cada estudante necessita, para que possa desenvolver os seus próprios interesses e aprender a viver, se não em cooperação com os outros, pelo menos pacificamente. Dewey, provavelmente o filósofo e pensador mais influ-ente da educação progressiva, opõe-se firmemente a classificar os estudantes em categorias fixas ou a tratá- -los como membros de uma classe ou grupo.1 Noutras palavras, a escola deve proporcionar um bom equi-líbrio entre o plano de estudos, os professores e administradores, bem como garantir as condições físicas e morais.

O que é educação multicultural?

Uma boa maneira de começar é com uma definição construtiva do que se entende por “multiculturalismo” e “educação multicultural”. A educação multicultural é uma análise progressiva para a transformação da educação, à qual critica de uma forma holística, abordando as suas deficiências atuais, os erros e as práticas discriminatórias na educação.

2 Baseia-se na justiça social, na equidade educativa e no respeito pelo pensamento. Mais concretamente, os componentes necessários para garantir uma educação multicultural são: a integração dos conteúdos, o processo de construção do conhecimento, a redução dos preconceitos, a pedagogia da equidade e uma cultura escolar e social emanciadora.

3 Parece evidente que cada elemento se relaciona, de alguma maneira, com os outros. Cada um deles requer uma atenção considerável, sobretudo quando se pensa nos esforços pela resolução de conflitos no mundo. Neste paradigma, ser tolerante nas interacções sociais, valorizar cada opinião e não criticar, nem opor- -se aos outros, parecem ser os traços distintivos de uma sociedade multicultural.

Quando as pessoas são demasiado rígidas, o resultado é a destruição, ao passo que, quando as pessoas procuram ser construtivas proporcionam riqueza e reflexão. A ideia de “se não gostas de algo, faz algo melhor”, encaixa muito bem na ideia da educação multicultural, na qual a tarefa principal consiste em reduzir os moldes, os estereótipos, os preconceitos e a descriminação fora e dentro dos diversos grupos.

Por que é que a educação multicultural é necessária?

Vivemos num mundo em que os conflitos inter-raciais e as tensões parecem ter-se convertido num fenómeno inevitável da vida quotidiana. De um ponto de vista positivo, contudo, o último milênio tornou-nos mais capaz de adquirir conhecimentos sobre a natureza do reconhecimento global, a situação da igualdade de estados e as expectativas compartilhadas. Na sociedade atual, à medida que entramos no século XXI, o profundo fundo étnico das nações, a diversidade dentro das sociedades e uma percentagem, cada vez maior, de pessoas que falam uma segunda língua, fizeram da educação multicultural algo crucial. A educação multicultural é vista como uma oportunidade para melhorar as relações raciais e para ajudar a todos os estudantes a adquirir os conhecimentos, atitudes e habilidades necessários para serem partícipes das interações interculturais. As crianças aprendem a diferenciar quando jogam umas com as outras.4 O mesmo acontece na educação, pois o ensinamento converteu-se numa experiência multicultural. Em vez de temer ou ignorar a diversidade na aula (e na sociedade), os professores podem utilizar tal diversidade para enriquecer o ensinamento. A educação multicultural ajuda os professores a utilizar a variedade como um recurso que pode proporcionar mais significado, tolerância e oportunidades à aula multicultural.

Tanto os professores como os estudantes pertencem a diversos grupos que se distinguem por variáveis, tais como a idade, a classe social, o gênero, a raça e a etnia.

A educação multicultural é um mundo em mudança

Nas escolas públicas e colégios norte-americanos, cerca de 46% da população estudantil é formada por estudantes de origem étnica diferente. Cerca de 14% dos jovens em idade escolar vivem em lares em que o Inglês não é a língua nativa.5 Actualmente, o mais pro-vável é que a maioria dos professores tenha nas suas turmas estudantes de diversas origens étnicas e cultu-rais. Isso implica o problema de que muitos estudantes são assimilados nos processos de socialização e enfren-tam a assimilação cultural.

Para superar estas dificuldades, os educadores continuam a procurar movimentos de reforma educativa que sejam mais criativos, reflexivos e significativos. Neste sentido, a educação multicultural é capaz de ajudar os estudantes a desenvolver simpatia e compreensão para com cada grupo e ponto de vista. Dewey insiste na importância da interação na educação. Esta interação é um processo contínuo entre o indivíduo, os temas e outras pessoas. Dewey fala sobre uma pessoa que procura construir um castelo no ar; mesmo quando está empenhada nisso, não deixa de interagir com os objetos que constrói, na sua imaginação. Como seres humanos, somos criaturas mais complexas do que os animais. Cada ser humano é uma criatura especial, composta por sentimentos e características diferentes. A interação contínua, proposta por Dewey, entre o indivíduo e outras pessoas é verdadeiramente importante quando se pensa na existência de culturas dotadas da sua singularidade e peculiaridade. Tendo isto em conta, a escola é um lugar de interação social entre professores e alunos.

O ensinamento e a aprendizagem num ambiente escolar ocorrem principalmente através de interações sociais entre grupos. Ajudar os estudantes a desenvolver um sentido de identificação reflexiva e positiva com os seus grupos culturais não implica fechar-se à possibilidade de estabelecer um intercâmbio intercultural entre outros grupos. Isto quer dizer que, através do desenvolvimento e a clarificação dos limites das identidades culturais, se espera que os estudantes adquiram uma atitude mais positiva nos seus bairros e comunidades.

O aumento da educação multicultural

As mudanças democráticas ajudam a estimular o crescimento da educação multicultural. Proporcionar às pessoas a liberdade de agir, mais além das suas fronteiras étnicas e culturais, faz com que as sociedades sejam mais democráticas e livres. A aplicação dos princípios da educação multicultural (por exemplo, reduzir os preconceitos) pode ajudar os estudantes a desenvolver valores e atitudes democráticas. Além disso, melhorar os esforços de diálogo e tolerância, através deste tipo de educação, pode ajudar os estudantes a compreender, investigar e determinar como a igualdade de oportunidades pode conseguir-se quando se dá voz a todos. Os educadores de hoje enfrentam desafios inusuais e querem soluções rápidas para os problemas educativos. Em particular, os problemas relacionados com o racismo, a etnicidade e os preconceitos fazem com que a situação seja intolerável devido às grandes expectativas públicas. Considerando isso, a educação multicultural pode ser um fator promissor de incremento de intercâmbios culturais, ajudando os estudantes a obter valores e atitudes democráticas. Uma das maneiras mais eficazes de ensinar o respeito pela diversidade é a eliminação da ignorância. Se queremos entender outras culturas, quer seja de forma superficial ou pro-funda, é melhor adquirir um sentido de percepção que nos permita distinguir as coisas com mais clareza e com menos preconceitos.6 Por esta razão, o estabelecimento de programas de intercâmbio cultural demonstrou ter êxito na melhoria do entendimento, da compreensão, da tolerância e, finalmente, na aula. Ministrar lições que, direta ou indiretamente, conduzem a temas relaciona-dos com as comunidades multiculturais na aula é outra táctica importante que os professores podem adotar quando se trata de ajudar as crianças e jovens a compreender a importância do respeito da diversidade. Os professores que levam os seus bons valores e virtudes para a aula podem influir fortemente nas atitudes dos seus alunos.

Conclusão

A educação multicultural é uma nova tendência, e será integrada na maioria dos planos curriculares das escolas, nos próximos anos. Várias universidades de prestígio de todo o mundo exigem, atualmente, a todos os estudantes que frequentem aulas de estudos sociais. Deste modo, mediante o uso da educação multicultural, os professores, em particular, podem ajudar as crianças a valorizar a importância de gostar de todas as pessoas e de não julgar nenhum grupo pelas ações de algumas pessoas. Mais importante ainda, os professores devem modelar as suas palavras e comportamentos de forma tolerante e compassiva. Deveriam também incentivar as crianças a explorar os seus sentimentos sobre os pre-conceitos e o ódio. Ao fazerem isto, a sociedade disporia das melhores ferramentas para deter qualquer nova destruição e seria capaz de oferecer oportunidades potencialmente importantes para que a próxima geração possa aprender e integrar o respeito e a dignidade para com todas as pessoas.

Atualmente, muitas pessoas, mesmo aquelas que vivem numa sociedade multicultural, têm problemas relacionados com os “outros” e atacam-se umas às outras por determinados problemas ou por seguir diferentes caminhos. Culpar os outros por não terem as nossas origens e cultura não é a solução. Pelo contrário, procurar compreender e analisar as pessoas pelos seus valores pessoais e pela diversidade cultural contribuirá a mobilizar e construir uma sociedade solidária. É um fato que a religião nos ensina a tolerar os outros e a aceitar as pessoas que vivem em diferentes grupos e sociedades. A beleza e a singularidade da diversidade expressase no Sagrado Alcorão e no Novo Testamento:

Ó seres humanos! Na verdade, criamos-vos a partir de um homem e de uma mulher, convertemos-vos em tribos e famílias, para que possais conhecer-vos mutuamente (e assim estabelecer relações mútuas e cooperativas, não para que vos orgulheis das vossas diferenças de raça ou categoria social e façais inimigos). Por certo, o mais honrado dentre vós, perante Deus, é, certamente, aquele que é melhor na piedade, na retidão e na reverência a Deus. Deus é certamente Omnipresente e Omnisciente”. (Alcorão, 49:13).

“Ouvistes o que foi dito: Amarás ao teu próximo e odiarás ao teu inimigo. Mas eu digo-vos: Amai a vossos inimigos, bendizei os que maldizem, fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos ultrajam ou perseguem”. (Mateus, 5:43-44). ▀

1 - Dewey, J., Democracy and Education, Southern Illinois University Press Carbondale and Edwardsville, 1916. Edi-ção em castelhano: Democracia y Educación. Ed. Morata, Madrid, 1995.

2 - Gorski, P, Multicultural education and the internet: Intersections and integrations, McGraw-Hill, Boston, MA: 2000.

3 - Banks, J., Educating Citizens in a Multicultural Society, Teáceas College Press, New York and London, 1997.

4 - Dewey, J., Experience and Education, the Kappa Delta Pi Lecture Series Simon Schuster, 1938. Edição em Castelhano: Experiencia y educación. Biblioteca Nueva, 2004.

5 - http://www.census.gov/apsd/www/statbrief/ (U.S. Bureau of the Census).

6 - http://www.ncela.gwu.edu/practice/toleran-ce/3_stere-otypes.htm

Obrigado. Wassalam.

M. Yiossuf Adamgy - 30/10/2014

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