sexta-feira, novembro 01, 2013

A Economia no Islão

Breve exposição relativa à Economia, do ponto de vista Islâmico, compilada pelo irmão Abdallah Yusuf de La Plata (Néstor D. Pagano), com base no prólogo do tomo III da obra "Al Haiat", traduzida em castelhano pelo sheikh Muallemi Zadeh. -Versão portuguesa de Al Furqán.

Assalamu Alaikum Wa ráhmatullahi Wa barakatuh:

O objetivo

Um dos objetivos sociais e humanos mais importantes dos Profetas (que a Paz de Deus esteja com eles), que constitui certamente uma das metas do seu aparecimento e das suas mensagens, é que as pessoas assegurem a equidade. O Alcorão diz o seguinte: «Com efeito, enviamos os Nossos Mensageiros com as evidências, e por eles, fizemos descer o Livro (ou seja, as Escrituras Sagradas) e a Balança, para que os humanos observem a equidade...» (57:25).

Por conseguinte, podemos afirmar que as religiões Divinas surgiram apenas para edificar uma sociedade humana que não conheça nada mais do que a justiça e que observe nada mais do que a equidade.

Este objectivo é muito vasto e importante, e a sua consecução passa pela eliminação de dois aspectos que poderíamos definir como os dois maiores flagelos de que padecem as sociedades: a jactância e a ostentação das classes mais ricas e poderosas (com as suas vidas repletas de luchos e abundância) e a humilhação econômica e a miséria de que padecem as classes mais pobres. Deve criar-se, portanto, um sistema econômico moderado e equilibrado, eliminando as classes muito ricas e as classes muito pobres.

Uma distribuição das riquezas que leve a um estado financeiro moderado entre as pessoas dá origem à firmeza da comunidade, da economia, da moral, da cultura, da política e da segurança, o que destaca a essência da religião, visto que a justiça é o espírito mesmo dos mandatos religiosos, e é com a mode-ração que a justiça e a equidade se aplicam. Por conseguinte, fazer descer a Balança juntamente com a Escritura (conforme mencionado no versículo Alcorânico atrás transcrito) assinala claramente uma estreita relação entre a moderação e a equidade, pois não há equidade se não houver moderação.

A riqueza

A riqueza possui um objectivo Divino justo e vital, que só pode ser alcançado pela aplicação de um sistema econômico equilibrado que garanta a subsistência das pessoas de todos os quadrantes. Concretiza-se, desta forma, o modelo da sociedade Alcorânica.

De fato, existem múltiplos vínculos entre a riqueza, o seu esquema de distribuição e a sua circulação entre as pessoas, por um lado, e a educação da humanidade, a manutenção social e a presença da religião e os seus ensinamentos na sociedade, por outro lado. A riqueza explorada de forma salutar e distribuída com justiça dá lugar à manutenção necessária para levar adiante uma vida nobre e digna, de acordo com os preceitos islâmicos, pois Deus Altíssimo estabeleceu nesta correta exploração e distribuição dos recursos financeiros todo o sustento que a humanidade necessita.

A acumulação exagerada da riqueza, assim como a miséria extrema, conduzem a vida humana à decadên-cia e à aniquilação. Assim, a ênfase definitiva dada à observância da justiça e da moderação somente se tor-na importante com a eliminação destes dois grandes corruptores, que ameaçam a permanência da religião (o Islão) e a própria existência humana. Daí a importância de estudar as questões económicas apoiando-se nos princípios fundamentais do Islão: o Alcorão e a Tradição ("Hadith"), um passo em busca da principal meta da religião.

A opressão econômica

A maior dificuldade que o ser humano teve de atravessar ao longo da sua vasta história foi a opressão econômica. Não foram as opressões políticas e sociais, pois estas derivam, na realidade, daquela. (Quanto à opressão cultural, que é sem dúvida muito importante, esta merece uma análise independente, que não realiza-remos neste trabalho.)

O Nobre Alcorão assinala claramente a necessidade de combater, de uma forma vasta e aprofundada, aqueles que são responsáveis pela opressão econômica: os acumuladores, os especuladores, os amantes do luxo e da ostentação. Adverte-nos sobre este grande perigo e orienta os nossos pensamentos em oposição a ele. Assim, os eruditos do Islão que se propõem consolidar os princípios da religião Divina, resgatar as instituições da humanidade e desenvolver a vida dos muçulmanos de acordo com os mandatos islâmicos, devem optar pela persistência na luta pela defesa dos despojados e dos oprimidos, assim como dos seus direitos usurpados, dos seus mantimentos roubados, das suas nobrezas perdidas e das suas personalidades maltrata-das. Este passo deve ser dado com o seu conhecimento e a sua orientação no cenário de uma liderança justa.

O dever dos sábios

O dever dos sábios religiosos (especialmente no Islão) é imitar os Profetas (que a Paz de Deus esteja com eles) na aniquilação dos déspotas econômicos e dos opressores financeiros, bem como dos tiranos políticos. Devem combatê-los para recuperar os direitos usurpa-dos dos despojados, resgatando-os das garras dos dominadores para devolvê-los aos seus verdadeiros donos, os dominados. Desta maneira, as massas oprimidas poderão observar a religião e as suas cerimônias rituais, cumprindo na íntegra as obrigações de Deus, como a oração, o jejum, a peregrinação e outros mandatos.

Além de concretizar, nestes feitos, esta revolução social, os sábios devem instruir as gerações mais novas de forma correta. Mas esta instrução não é o seu único papel. Se os Profetas (que a Paz de Deus esteja com eles) tivessem surgido da parte de Deus Altíssimo exclusivamente para ensinar as pessoas e informá-las sobre as questões ritualísticas, não teriam dedicado tanto tempo e esforço às guerras revolucionárias, as quais foram muito intensas e sangrentas. Neste caso, o Alcorão não nos teria dito: «Quantos Profetas e, com eles, quantos grupos lutaram pela causa de Deus, sem desanimarem com o que lhes aconteceu; não se acovardaram, nem se renderam! Deus aprecia os perseverantes». (3:146).

Estas batalhas não eram levadas a cabo unicamente contra os tiranos políticos, mas também contra os opressores econômicos («os desmentidores que gozam de mercês», segundo a opressão Alcorânica — ver Alcorão 73:11). Eles atacaram os tiranos financeiros, que eram os mesmos opressores políticos ou os seus colabora-dores mais diretos e mais próximos, para quem, à sombra do poder, era mais fácil realizar qualquer tipo de opressão e saque. Vemos, por exemplo, que Moisés (que a Paz de Deus esteja com ele) foi enviado até ao Faraó e Corá, ou seja, até ao tirano político e ao opressor econômico que o secundava e aconselhava.

A importância da economia

Vemos que o Islão dá uma grande importância às questões financeiras. Por exemplo, considera que proce-der a uma distribuição equilibrada da riqueza entre as pessoas é uma ferramenta fundamental para incorporar o princípio da equidade no seio da sociedade.

Esta atenção centrada na economia como elemento de justiça e bem-estar que garante o desenvolvimento espiritual do ser humano é uma característica exclusiva desta religião Divina (o Islão) que se harmoniza com a realidade e com a natureza da criação e das pessoas. Nenhuma outra religião aborda esta questão de forma tão clara e contundente.

Segundo a sua natureza e os seus instintos, o ser humano necessita da subsistência e dos recursos ma-teriais relativos à alimentação, vestuário, saúde, aloja-mento, etc. Não é possível o ser humano dar um único passo sem eles, em qualquer aspecto que seja. É, por-tanto, lógico e natural que a religião celestial autêntica conceda uma grande importância ao tema da subsis-tência humana e se programe para garantir as neces-sidades do ser humano.

Assim, o Islão considera as riquezas como um meio de subsistência e de elevação para as pessoas, e ao pão como a causa da observância da oração, do jejum, da peregrinação e do cumprimento de outros deveres. Devido a isso, figura numa Tradição Profética: «Se não tivesse existido o pão, não teríamos rezado».

Vemos que se estabelece o pão como pilar da oração e não nos esqueçamos que a oração é o pilar da religião. O pilar do pilar é, portanto, por sua vez, o mesmo pilar. Por conseguinte, não há religião sem pão (sem o que é necessário para a subsistência elementar). De fato, a miséria converte-se rapidamente em motivo de impiedade.

A maior forma de tirania

A opressão económica é uma das formas mais peri-gosas de tirania. Além disso, é, em si mesma, uma opressão total, da qual derivam outras manifestações de despotismo. Por essa razão, o objectivo dos ensina-mentos dos Profetas (que a Paz de Deus esteja com eles) era alertar as pessoas sobre isso, assim como as suas acções concretas destinadas a derrubar este mal.

É evidente que para as pessoas que têm um mínimo de consciência de que a liberdade de disponibilidade e de consumo prepara o caminho para a opressão econó-mica, uma vez que abre as portas à multiplicidade e à sumptuosidade, promove o espírito classista e privativo e tende a esmagar cada uma das cores da justiça e da equidade. Por conseguinte, devemos colocar-nos a pergunta seguinte: é possível que o Islão não indique nenhuma posição definida perante tal manifestação destrutiva?

(Continua, na próxima reflexão, in cha Allah) - Wassalam. 

Obrigado, boas leituras.

M. Yiossuf Adamgy

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