quinta-feira, outubro 10, 2013

A L M A D I N A O Q U R B Á N

Por: Sheikh Aminuddin Mohamad
07.10.2013

Designa-se “Qurbán” o sacrifício de um animal quadrúpede, por ocasião da festa do Eid-Ul-Ad’há, a festa alusiva à peregrinação à cidade santa de Makkah. Tal ritual tem lugar nos dias 10, 11 e 12 de Dhul-Hidja, décimo segundo mês do calendário lunar. A hora para o seu início é logo a seguir ao Salaat (oração) do Eid, estendendo-se até ao pôr do sol do dia 12.


Embora se permita que o Qurbán se faça à noite, tal não é aconselhável. O melhor dia para a prática do Qurbán é o dia de Eid (dia 10), devendo obrigatoriamente ser feito depois da oração, pois se for feito antes, perde a sua validade.

De acordo com a interpretação de um dos quatro mais proeminentes Imaam’s, Abu Hanifa, o Qurbán só é obrigatório para o muçulmano (homem ou mulher) que possua nos três dias a ele consagrados, riqueza correspondente ao valor de Zakát.

Os animais que podem ser sacrificados são o camelo, o búfalo e o boi, (que podem ser partilhados por sete pessoas), o cabrito e o carneiro (para uma única pessoa, pois não são partilháveis). O boi deve ter mais de 2 anos de idade, o cabrito e o carneiro devem ter pelo menos 1 ano de idade.

É recomendável que se procure o animal destinado ao Qurbán alguns dias antes de sacrificá-lo, devendo ser bem tratado, pois destinando-se ao sacrifício para agradar a Deus, o animal deve ser do melhor que encontrarmos, pois não deve ser defeituoso (cego, zarolho, perneta, doente, com orelhas ou rabo cortados, chifre partido, etc.)

Ao viajante, o Qurbán não é obrigatório, mas caso regresse à casa antes do pôr de Sol do dia 12 de Dhul-Hidja, então deverá fazê-lo se par tal dispuser de meios materiais.

É sempre melhor (sunnat) que seja a própria pessoa, i. é., o adquirente do animal, a proceder à sua degolação caso tenha robustez física suficiente para o fazer, pois caso contrário, pode delegar a alguém, sendo porém recomendável que assista ao acto.

Aos menores não é obrigatório, mesmo que possuam riqueza.

No caso de o animal sacrificado ser de grande porte (camelo, búfalo ou boi) a divisão pelo grupo de sete pessoas deve ser feita por igual, em função do peso e não por estimativa. A porção de carne que couber a cada integrante do grupo pode ficar na totalidade na sua posse, pode doá-la na totalidade, ou pode dividi-la em três partes iguais, sendo uma para os pobres, outra para os familiares e amigos, retendo a restante para si mesmo. O mesmo critério é aplicável caso o animal sacrificado seja de pequeno porte (cabrito ou carneiro).

Considerando algumas bolsas de fome existentes um pouco por algumas das províncias do nosso País, havendo milhares de pessoas desprovidas de quase tudo, sem dúvidas que o melhor acto de momento será mitigar a fome destes nossos concidadãos. Portanto, doar a totalidade da carne aos pobres e necessitados afigura-se sendo a melhor opção.

Ainda de acordo com a interpretação do Imam Abu Hanifa, é permitido doar a carne de Qurbán aos não-muçulmanos.

A intenção de Qurbán não deve ser apenas o consumo da carne, pois se assim for o acto é inválido. Perde igualmente a sua validade se a carne for vendida ou distribuída aos empregados como forma de compensar o seu labor.

Se alguém tenciona fazer o Qurbán adquirindo o animal, mas por qualquer razão não conseguir fazê-lo nos três dias prescritos, então deve num ato de caridade doar o animal aos pobres.

Segundo o Imam Shafei, se alguém adquirir um animal para o Qurbán e o mesmo se perder, for roubado ou devorado, a aquisição de um outro animal para o substituir não é obrigatória. É sunnat para quem tenciona fazer o Qurbán abster-se de cortar as unhas, cabelo ou pelos do seu corpo desde o primeiro dia do mês lunar de Dhul-Hidja até ao dia da degolação do animal. Diz ainda o Imaam Shafei, que não é permitido fazer o Qurbán da parte de uma pessoa viva, sem a sua autorização. E quanto ao defunto, só é permitido se este tiver deixado dinheiro e um testamento para o efeito. Neste caso é obrigatório doar a totalidade da carne aos pobres.

Este ritual do Qurbán é de tão grande importância, que o Profeta Muhammad, (S.A.W.) diz: "Esse, que dispondo de meios, não fizer o Qurbán, que não se aproxime do local de Salaat de Eid".

Veja-se a gravidade da abstenção do Qurbán, a ponto de o Profeta (S.A.W.) querer distanciar-se desse tipo de gente.

Apelo a todos os muçulmanos com posses, que cumpram com este ritual que é uma tradição do patriarca dos profeta, Abraão (que a paz esteja com ele), e que distribuam aos pobres e necessitados a carne dos animais abatidos. Lembrem-se daqueles que neste momento de crise estão angustiados, sem nada para vestir e sem nada para comer.

É esta a única forma de perpetuar o espírito de sacrifício demonstrado por Abraão quando lhe foi ordenado por Deus que sacrificasse o seu único filho, Ismael.

Não devemos tomar isto como um ritual pesado, pois muitos muçulmanos, e não só, degolam animais obedecendo à recomendação de curandeiros para pretensamente agradar a santos e a espíritos. Outros ainda degolam generosamente animais de médio ou grande porte para comemorar aniversários, não raras vezes regados com álcool, com alguma devassidão à mistura.

O muçulmano deve, muito particularmente neste momento em que o desconforto atingiu milhares de lares de irmãos moçambicanos por esse País fora, mostrar-se mais generoso, fazendo o Qurbán, pois de um lado vai agradar a Deus, e de outro vai estender a seu braço em solidariedade para com os infortunados.

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