quinta-feira, janeiro 05, 2012

A L M A D I N A - AS MEDIDAS DE AUSTERIDADE


Por: Sheikh Aminuddin Mohamad - 02.01.2012

Fala-se muito, nos dias que correm, sobre a austeridade, especialmente na Europa         onde, devido à crise económica que assola o Velho Continente, a maioria dos governos europeus estabeleceu várias medidas de austeridade, na tentativa de reverter a actual situação de recessão económica que por lá se vive.

Mas porque as respectivas populações não estavam habituadas a este estilo de vida caracterizado pela contenção de gastos, diariamente nos são reportados casos de greves, de movimentos de ocupação de praças e outros lugares públicos, de distúrbios, etc. Fala-se de tendência de agravamento da situação nos próximos tempos, temendo-se que a situação social se torne insustentável, pelo que os governos não têm alternativas, senão impor às suas populações medidas de austeridade ainda mais acentuadas, que os levarão a apertar ainda mais o cinto.
Para nós os muçulmanos, a austeridade não é algo novo, pois o Isslam sempre recomendou a austeridade. O estilo de vida ou o modelo de consumo constitui a base determinante das necessidades da pessoa.

O estilo de vida de luxo não pode ser adquirido e mantido sem que tal corresponda à riqueza à qual se recorre.

E para impedir essa necessidade, a religião ensina a austeridade. O conceito de austeridade não significa necessariamente a abnegação ou o esquecimento de si mesmo, mas sim a  satisfação das necessidades básicas a um custo mínimo, eliminando ao mesmo tempo tudo o que possa ser supérfluo.

A religião enfatiza a natureza passageira da vida mundana, pelo que o estilo de vida deve ser adoptado segundo esse conceito. O Al-Qur’án diz, no Cap. 4, Vers. 77:
“O gozo  deste Mundo é pouco. O Outro Mundo é melhor para quem é piedoso, e lá não sereis prejudicados em absolutamente nada”.

E o Profeta Muhammad S.A.W. disse: “Este Mundo é uma prisão para o crente, e um paraíso para o descrente”. (Musslim)

E consta ainda no Al-Qur’án, Cap. 17, Vers. 29:
“Não deixes a tua mão amarrada ao pescoço (ser agarrado, para não dar), mas também não a estendas inteiramente (ao dar tudo), pois ficarás sentado, censurado (por seres agarrado) e arruinado (por teres dado tudo)”.

Portanto, a religião ensina-nos a tomar um caminho intermédio, isto é, não sermos agarrados, e nem perdulários.
E diz ainda no Cap. 25, Vers. 67:
“E os que quando gastam, não esbanjam nem são agarrados, mas (os seus gastos) são moderados entre esses dois extremos”.

O Profeta S.A.W. diz: “Feliz é o Homem que cumpriu com os princípios da vida e viveu nas simples necessidades da sua existência”. (Ahmad)

E diz ainda: “A moderação é uma metade da vida económica, assim como o bom comportamento é uma metade da fé”.
E consta numa outra narração que diz: “A moderação nos gastos salvará as pessoas da pobreza”. (Kan’zul - Ummál)

Na mesma esteira, consta ainda numa outra narração: “É suficiente para ti, deste Mundo, aquilo que satisfaz a tua fome e cobre a tua nudez. Se juntamente com isso tiveres uma casa, já é muito bom. E se tiveres algo para montar (transporte), então não há nada igual”. (Ahmad)

A alimentação, o vestuário e a habitação são necessidades básicas, mas por vezes são também uma fonte de extravagância.

O Isslam não só diz que a alimentação é permitida, mas também diz que ela tem que ser boa, saudável (tayib), e isso depende de cada um, segundo o clima, a idade, a saúde, o temperamento, o gosto, etc.

Os crentes devem alimentar-se, mas nunca desperdiçar.

O Profeta Muhammad, S.A.W. diz: “O crente come num intestino, ao passo que o descrente come em sete intestinos”. (Musslim)

E diz: “Nenhuma pessoa enche o pior vaso (recipiente) que o seu estômago. Alguns bocados que possam manter a sua costa de pé, são suficientes para a pessoa, mas se ele tiver que comer mais, então deve encher um terço da sua barriga com comida, outro terço com água, deixando o terceiro terço para facilitar a respiração” (At-Tirmizi)

E disse: “A comida de um é suficiente para dois, e a comida de dois é suficiente para quatro. A de quatro é suficiente para oito pessoas”. (Al-Bukhari)

Sobre o vestuário, consta no Al-Qur’án, Cap. 7, Vers. 26:
“Ó filhos de Adão! Nós fizemos descer para vós, vestuário (isto é, criamos matéria-prima e ensinamo-vos como fazer roupa), que tapa a vossa nudez e vos proporciona protecção e beleza (ao vosso corpo). Mas o vestuário da piedade, esse é o melhor de todos, pois protege-vos de todos os males. Este (o vestuário) é um dos sinais de Deus, para talvez eles meditarem”.

E consta também no Cap. 16, Vers. 81:
“E Deus fez para vosso benefício, sombras provenientes daquilo que Ele criou, e fez para vós, abrigos nas montanhas. E fez para vós vestuário para vos proteger do calor e vestuário para vos proteger nas vossas guerras. Assim, Ele completa o seu favor sobre vós, talvez vos submetereis à Sua vontade”.

Portanto, o vestuário tem que ser funcional e simples. Não deve ser usado como forma de se adquirir fama. Infelizmente, hoje em dia, muita gente, especialmente as senhoras vestem-se para mostrar os seus atributos e não para si.

O Profeta Muhammad. S.A.W. disse: Coma e beba do que gostas, mas evite duas coisas: a extravagância e a arrogância”. (Al-Bukhari)

O Al-Qurá’n, menciona no Cap. 16, Vers. 80, o objectivo básico da habitação:
“Deus fez de vossas casas um lugar de conforto (e descanso) para vós”.

A austeridade não está confinada à casa ou a outros edifícios, até a construção de mesquita e local de culto também estão incluídos nisso.

Para enfatizar a necessidade de se ser austero, o Profeta Muhammad, S.A.W. diz: “Não desperdiceis! Sede austeros até mesmo quando estiverdes a fazer ablução no leito de um rio”.

O Isslam é contrário à qualquer forma de ostentação, mas encoraja a cada um a ter a sua casa. Sobre isso o Profeta S.A.W. disse: “Se alguém vender a sua casa e não usar o dinheiro daí proveniente para adquirir uma outra casa, então ele estará privado da bênção”. (Ibn Majah)

O objectivo da austeridade não é apenas poupar recursos a todos os níveis de receita, mas também para recomendar muitas virtudes espirituais como por exemplo, o senso de humildade, que é simplesmente incompatível com o estilo de vida luxuoso.

Os recursos que se poupam na austeridade, são para serem aplicados para a camada desfavorecida da sociedade, para os carenciados, os pobres e necessitados.

O Profeta Muhammad S.A.W. foi um exemplo paradigmático de austeridade, e os seus companheiros seguiram cuidadosamente todos os exemplos por si transmitidos. A sua alimentação e o seu vestuário era muito simples.

Actualmente há muitos líderes no Mundo que recomendam a austeridade e sacrifícios para os seus concidadãos, mas eles próprios tomam uma vida de luxo e extravagância.

Hoje, por termos deixado de seguir esses excelentes exemplos de simplicidade na alimentação, estamos a pagar um preço bastante elevado. A obesidade, o colesterol, a hipertensão e muitas outras doenças, são provocados pela alimentação que ingerimos, que muitas vezes nem é nutritiva, só tem aparência.

Devido à guerra que declaramos contra Deus, Ele está a privar-nos das Suas graças. A carência está a aumentar no Mundo de modo a tornar as comidas e bebidas fora do nosso alcance. E Ele retirou a Sua bênção fazendo com que sintamos a crise a tocar a nossa pele directamente. E a agravar tal situação temos ainda as calamidades, as doenças e a insegurança por todo o lado.

Arrependamo-nos e façamos as pazes com Deus para que a situação volte ao seu normal.


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