Prezados Irmãos,
Saúdo-vos com a saudação do Islão, "Assalam alaikum",(que a Paz esteja convosco), que representa o sincero esforço dos crentes por estender o amor e a tolerância entre as pessoas, seja qual for o seu idioma, crença ou sociedade.
Jerusalém é uma cidade sagrada para as três maiores religiões monoteísta – Judaísmo, Cristianismo e Islão. Por causa da sua história que abrange milhares de anos, ela é conhecida por muitos nomes: Jerusalém, al-Quds, Yerushaláyim, Aelia e muito mais, todos refletindo a sua herança diversificada. É uma cidade à qual muitos Profetas muçulmanos chamaram de lar, desde Sulayman (Salomão) e Daud (David) a Issa (Jesus), que Allah esteja satisfeito com eles.
Durante a vida do Profeta Muhammad صلى الله عليه وسلم ,este fez uma viagem milagrosa, numa noite, de Meca a Jerusalém e depois, de Jerusalém ao Céu - a Isra' e Mi'raj. Durante a sua vida, no entanto, Jerusalém nunca esteve sob o controle político muçulmano. Isso mudaria durante o califado de Umar ibn al-Khattab (r.a.), o segundo califa do Islão.
Na Síria
Durante a vida do Profeta Muhammad صلى الله عليه وسلم ,o Império Bizantino deixou claro o seu desejo de eliminar a nova religião muçulmana, que crescia nas suas fronteiras ao sul. Assim, a Expedição de Tabuk começou em Outubro de 630, com Muhammad صلى الله عليه وسلم liderando um exército de 30.000 pessoas até afronteira com o Império Bizantino. Esta expedição marcou o início das guerras bizantinas que continuariam por décadas.
Durante o governo do califa Abu Bakr (r.a.), de 632 a 634, nenhuma ofensiva maior foi levada para a terra bizantina. Foi durante o califado de Umar ibn alKhattab que os muçulmanos começaram a expandir -se seriamente para o norte, para o reino bizantino. O califa Umar enviou alguns dos mais competentes generais muçulmanos, incluindo Khalid ibn al-Walid e Amr ibn al-'As para combater os bizantinos. A batalha decisiva de Yarmuk, em 636, foi um enorme golpe para o poder bizantino na região, levando à queda de inúmeras cidades em toda a Síria, nomeadamente Damasco.
Em muitos casos, os exércitos muçulmanos foram recebidos pela população local - tanto judeus como cristãos. A maioria dos cristãos da região era monofisista, que tinham uma visão mais monoteísta de Deus, que era semelhante ao que os novos muçulmanos estavam a pregar. Eles receberam bem o domínio muçulmano sobre a área, em vez dos bizantinos, com os quais eles tinham muitas diferenças teológicas.
Conquista de Jerusalém
Por volta de 637, os exércitos muçulmanos começaram a aparecer nas vizinhanças de Jerusalém. No comando de Jerusalém estava o patriarca Sophronius, um representante do governo bizantino, bem como um líder na Igreja Cristã. Não obstante numerosos exércitos muçulmanos, sob o comando de Khalid ibn al-Walid e Amr ibn al-'As (r.a.), começassem a cercar a cidade, Sophronius recusou-se a entregar a cidade, a menos que o Califa Umar viesse, para se render perante ele.
Tendo ouvido falar de tal condição, Umar ibn al-Khattab (r.a.) deixou Medina, viajando sozinho com um jumento e um servo. Quando chegou a Jerusalém, foi saudado por Sophronius, que sem dúvida deve ter ficado surpreso com o fato de que o Califa dos Muçulmanos, uma das pessoas mais poderosas do mundo naquele momento, estava vestido com não mais do que simples vestes e era indistinguível do seu servo.
Umar fez uma visita pela cidade, incluindo a Igreja do Santo Sepulcro. Quando chegou a hora da oração (islâmica), Sophronius convidou Umar para orar dentro da Igreja, mas Umar recusou.
Ele insistiu que, se orasse ali, mais tarde os muçulmanos o usariam como uma desculpa para convertê-lo numa Mesquita - privando assim a cristandade de um de seus locais mais sagrados. Em vez disso, Umar (r.a.) orou fora da Igreja, onde uma Mesquita (chamada Masjid Umar - a Mesquita de Umar) foi, posteriormente, construída.
O Tratado de Umar (r.a.) Como fizeram com todas as outras cidades que conquistaram, os muçulmanos tiveram que elaborar um tratado, detalhando os direitos e privilégios em relação ao povo conquistado e aos muçulmanos em Jerusalém. Este tratado foi assinado por Umar e pelo patriarca Sophronius, juntamente com alguns dos generais dos exércitos muçulmanos. O texto do tratado dizia: Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso. Esta é a garantia de segurança que o servo de Deus, Umar, o comandante dos fiéis, deu ao povo de Jerusalém. Ele deu-lhes uma garantia de segurança para si mesmos, pela sua propriedade, suas Igrejas, suas cruzes, os doentes e saudáveis da cidade e por todos os rituais que pertencem à sua religião. As suas Igrejas não serão habitadas por muçulmanos e não serão destruídas. Nem eles, nem a terra em que se encontram, nem a cruz e nem a sua propriedade serão danificados. Eles não serão convertidos à força. Nenhum judeu viverá com eles em Jerusalém.
O povo de Jerusalém deve pagar os impostos como o povo de outras cidades e deve expulsar os bizantinos e os ladrões. Aqueles do povo de Jerusalém que queiram sair com os bizantinos, tomar os seus bens e abandonar as suas igrejas e cruzes, estarão a salvo até chegarem ao seu local de refúgio. Os aldeões podem permanecer na cidade se quiserem, mas devem pagar impostos como os cidadãos. Aqueles que desejam podem ir com os bizantinos e aqueles que desejam podem voltar para as suas famílias. Nada lhes deve ser tirado antes que a sua colheita seja feita.
Se eles pagam os seus impostos de acordo com as suas obrigações, então as condições estabelecidas nesta carta estão sob o pacto de Deus, são da responsabilidade de Seu Profeta, dos califas e dos fiéis. — Citado nas Grandes Conquistas Árabes, de Tarikh Tabari.
Na época, esse foi de longe um dos tratados mais progressistas da história. Em comparação, apenas 23 anos antes, quando Jerusalém foi conquistada dos bizantinos pelos persas, foi ordenado um massacre geral. Outro massacre se seguiu quando Jerusalém foi conquistada dos muçulmanos pelos cruzados, em 1099.
O Tratado de Umar permitiu aos cristãos de Jerusalém a liberdade religiosa, como é ditado no Alcorão e nos ditos do Profeta Muhammad صلى الله عليه وسلم .Esta foi uma das primeiras e mais significativas garantias de liberdade religiosa na história. Quanto à cláusula no tratado sobre a proibição de judeus em Jerusalém, a sua autenticidade é discutível, pois um dos guias do Califa Umar (r.a.) em Jerusalém era um judeu chamado Kaab al-Ahbar. Umar permitiu ainda que os judeus adorassem no Monte do Templo e no Muro das Lamentações, enquanto os bizantinos os proibiam de tais atividades. Assim, a autenticidade da cláusula relativa aos judeus está em questão.
O que não está em questão, no entanto, foi à importância de tal tratado de rendição progressista e equitativa, que protegia os direitos das minorias. O tratado tornou-se o padrão para as relações entre muçulmanos e cristãos em todo o antigo Império Bizantino, com os direitos das pessoas conquistadas serem protegidos em todas as situações, e as conversões forçadas nunca serem um acto sancionado.
Revitalização da cidade
Umar (r.a.) começou de imediato, a transformar a cidade num importante marco muçulmano. Limpou a área do Monte do Templo, de onde o Profeta Muhammad صلى الله عليه وسلم ascendeu ao Céu. Os Cristãos tinham usado a área como um depósito de lixo para ofender os judeus, e Umar e o seu exército (juntamente com alguns judeus) limparam-no, pessoalmente, e construíram aí uma Mesquita – Masjid al-Aqsa.
Masjid al-Aqsa foi originalmente construído por Umar ibn al-Khattab em 637 Durante todo o restante do califado de Umar e no reinado do Império Omíada sobre a cidade, Jerusalém tornou-se um importante centro de peregrinação e comércio religioso. O Domo da Rocha foi adicionado para complementar a Masjid al-Aqsa em 691. Numerosas outras mesquitas e instituições públicas foram, em breve, estabelecidas por toda a cidade.
A conquista muçulmana de Jerusalém sob o califado de Umar em 637 foi, claramente, um momento importante na história da cidade. Nos próximos 462 anos, seria governado pelos muçulmanos, com liberdade religiosa para as minorias protegidas de acordo com o Tratado de Umar.
Mesmo hoje, com a continuação da luta pelo futuro estatuto da cidade, muitos muçulmanos, cristãos e judeus insistem, que o Tratado mantém a legitimidade legal e ajuda-os a resolver os problemas atuais de Jerusalém.
Obrigado. Wassalam (Paz).
M. Yiossuf Adamgy - Diretor da Revista Islâmica Portuguesa.