"Os massacres da população civil em Gaza são um autêntico genocídio que fere a consciência da humanidade 22/08/2014 - Autor: Redaccion AT Juan XXIII – Tradução de: M. Yiossuf Adamgy".
Prezados Irmãos, Assalamu Alaikum:
Transcrevo, na íntegra, a Declaração da Associação Teológica Juan XIII face ao genocídio israelita em Gaza:
«Unimo-nos à dor das pessoas que perderam os seus familiares. Ante a criminosa agressão de Israel contra o povo palestino, particularmente os bombardeios e o consequente arrasamento da Faixa de Gaza, a Associação Teológica Juan XXIII, retomando o comunicado do SICSAL, do qual membros da nossa Associação fazem parte, manifesta a sua indignação e a mais enérgica condenação, e declara:
1. Que o povo palestino é o legítimo dono desta terra que habita com pleno direito há vários milénios. Há ses-senta e seis anos a Palestina vive sob a ocupação israe-lita, não obstante as Nações Unidas e outras orga-nizações internacionais o considerem ilegal. 78% do território palestino está ocupado por Israel, que não ces-sa de construir novos assentamentos judaicos, usurpan-do pela força a terra e a água das comunidades pales-tinas, e inclusivamente expulsando de suas casas os seus legítimos donos. Cerca de seis milhões de palesti-nos sobrevivem como refugiados na sua própria terra.
2. Para além disso, o Estado de Israel levantou um gigantesco muro, declarado ilegal pela Tribunal Inter-nacional de Justiça e qualificado de vergonha para a Humanidade na sua recente viagem à Terra Santa pelo Papa Francisco, que disse que não são muros o que há que construir, mas pontes de comunicação e encontro.
3. Há mais de um mês vêm a produzir-se bombardeios israelitas, ataques da artilharia pesada desde os ca-nhões dos barcos de guerra contra as costas de Gaza e invasões terrestres, que custaram até ao presente a vida cerca de 2000 pessoas, a maioria, população civil e uma terça parte são meninos e meninas, e mais de 9.000 pessoas feridas, muitas com gravi-dade. Milhares de lares foram reduzidos a escom-bros, deixando sem tecto famílias inteiras. Foram destruídas universidades e escolas da ONU.
4. A Nações Unidas, na Resolução 3101 (Dezembro de 1973), afirma o direito legítimo dos povos sob do-mínio colonial estrangeiro ou sob regimes racistas, a lutar por sua autodeterminação. Paulo VI, no Populorum progres-sio afirma que no caso de evidente e prolongada tirania, que atentasse gravemente aos direitos funda-mentais da pessoa e danificasse o bem comum, estaria justificada a insurreição revolucionária (nº 31). Esta é a situação do povo palestino, que tem direito à indepen-dência e a uma vida livre e digna.
5. Os massacres da população civil em Gaza são um autêntico genocídio que fere a consciência da huma-nidade. Uma vez mais soam as palavras de Monsenhor Romero, que do coração dos povos oprimidos e ensan-guentados da terra, clama: “Em nome de Deus, pois, e em nome deste sofrido povo cujos lamentos sobem até ao céu cada dia mais tumultuosos, lhes suplico, lhes rogo, lhes ordeno! Cesse a repressão!”
6. Ante esta dramática situação, expressamos:
- A nossa condenação do sequestro e assassinato dos três jovens colonos judeus, da morte do adolescente palestino queimado vivo, das agressões destrutivas contra universidades e escolas da ONU, bairros e zonas inteiras, e de todas as mortes produzidas nesta guerra. Nenhuma morte se justifica sob nenhum pretexto. A vida humana é sagrada. A voz do sangue dos mortos grita da terra até ao coração de Deus (Gn 4,10).
- A nossa solidariedade com o irmão povo palestino e com o povo judeu perseguido e imolado pelos nazis. Unimo-nos à dor das pessoas que per-deram os seus familiares. Nossa opção, como seguido-res de Jesus de Nazaré, são os pobres, oprimidos e crucificados da terra. Caminhamos juntos, como irmãos e irmãs, lutando e sonhando com outro mundo de justiça e liberdade, sinal da presença do reino de Deus na história.
- A nossa mais enérgica condenação do Estado de Israel como violador do direito Internacional, das resoluções da ONU e da Convenção de Genebra de maneira sistemática, e a imposição de sanções econó-micas e políticas ante estes crimes de pouca Huma-nidade.
- O nosso reconhecimento ao direito que tem o Estado de Israel a viver seguro dentro das suas fronteiras, sem que a vida de seus habitantes se sinta ameaçada. Mas isso não o autoriza a invadir o território palestino e a semear o terror na população.
- A nossa indignação face ao silêncio e passividade da maioria dos governos, organizações internacio-nais e instituições religiosas, e, em alguns casos, a sua cumplicidade com o genocídio israelita.
7. Por tudo isto:
- Fazemos um chamamento a todas as organizações sociais e comunidades religiosas de Espanha e do mundo para que se exijam o cessar fogo e a retirada de Israel dos territórios ocupados.
- Reclamamos que se detenha o envio de armas a Israel como condição necessária para deter a sistemática agressão contra a população de Gaza.
- Exigimos aos nossos governos o cessar de acor-dos militares, comerciais, empresariais e culturais com Israel, enquanto não cumpra as resoluções da ONU, as leis e o Direito internacional. Nossos gover-nos falam de paz e aprovam resoluções da ONU, mas continuam contribuindo para perpetuar a violência negociando com países que violam os direitos hu-manos e o direito internacional.
- Fazemos um chamamento ao boicote de produtos de Israel, até que este país derrube o muro e regresse às fronteiras anteriores à guerra dos “seis dias”.
- Exigimos às autoridades de Israel e da Palestina que tentem o diálogo de paz, para procurar uma saída negociada e digna do conflito. A paz é fruto da justiça (Sal 85). Com razão proclamava João XXIII, na encíclica Pacem in terris, que o caminho para a paz é o reconhecimento da verdade, a liberdade, a justiça e a solidariedade.
8. Unimo-nos em oração com todas as pessoas e organizações cristãs das distintas confissões, crentes judeus e muçulmanos de todo o mundo que, num clima de colaboração e diálogo inter-religioso, trabalham pela paz, implorando a força do Espírito de Deus para não desfalecer nos sonhos e na luta por outro mundo possível, onde o direito, a liberdade e a paz que nascem da justiça se estabeleçam na terra.
9. Declaramos que é indigno e criminoso justificar as agressões descritas etiquetando como anti-semitas a quem as condena. Eram por acaso anti-semitas os grandes profetas (Natán, Jeremías, Amós, Oseas.... que são uma das glórias do povo judeu), quando denunciavam os crimes dos seus governantes? É anti-semita essa minoria de judeus, verdadeiro “res-to de Israel” que sofre e se sente pelos pecados do seu povo? Não são semitas também os palestinos? Não é moralmente baixo utilizar a dor do maior holo-causto da história no passado, para justificar novos genocídios no presente, ainda que sejam de di-mensões mais reduzidas? Não é hipócrita apelar a um “direito a defender-se” quando ninguém preten-de negar esse direito mas só denunciar a flagrante transgressão dos seus limites?»■
Obrigado. Wassalam.
M. Yiossuf Adamgy - 29/08/2014.
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