Prezados Irmãos,
Assalamu Alaikum Wa ráhmatullahi Wa barakatuh:
A cultura islâmica, desde o princípio dos seus tempos (século VII d.C.), foi evoluindo até aos nossos dias, entre momentos de glória e esplendor, outros de decadência e pobreza, tecendo um tapete na ilustre história do Islão. Muitas destas mudanças, quem sabe por falta de informação, nem sempre resultaram claras para a Europa; ainda hoje, estas relações com o Oriente criam desconfiança, receio e enfrentamentos.
Ignora-se igualmente que, para além de umas escassas conquistas militares realizadas pela força, a crença no Islão difundiu-se basicamente por canais pacíficos. O que é sabido, é que um dos fenômenos mais surpreendentes e significativos da história produziu a aparição do Islão no mundo. A sua concepção religiosa alterou o destino de muitos povos, não só a nível espiritual mas também no que se refere a questões políticas, econômicas, culturais e científicas. Atualmente está a experimentar um momento de grande vitalidade, tendo um grande protagonismo a nível internacional e sendo objeto de estudo desde os diversos campos do saber.
Vários estudos trataram e investigaram a contribuição das mulheres muçulmanas em vários campos da sociedade, como a jurisprudência, a educação ou a literatura; até agora existem poucas fontes onde se encontre descrições do papel das mulheres no desenvolvimento da ciência, especialmente em medicina e enfermagem.
Após a profissão médica, a enfermagem foi o segundo tipo de trabalho praticado por mulheres muçulmanas em ciências. Um fator importante foi a descrição na lei islâmica, ou Sharia, com preocupações sobre a sociedade na qual mora e da importância de buscar conhecimento, o que levou muitas mulheres a cultivar a sua aprendizagem e conhecimento.
Sabemos o orgulho com que o mundo ocidental fala de Florence Nightingle Florencee, do seu trabalho na área de enfermagem, mas também é uma obrigação devolver o mesmo orgulho ao papel das mulheres muçulmanas que serviram, muito antes, como enfermeiras, cuidando de pacientes e cobrindo as necessidades a nível de prevenção, hospitalar e social. A enfermeira muçulmana desta primeira época participava de todos os serviços de saúde, de assistência de emergência, tanto em tempos de guerra e paz, para atendimento domiciliário para pacientes que não podiam mover-se por conta própria.
Há poucos documentos que contam o papel da enfermagem nos primeiros dias do Islão, mas a sua figura está relacionada com a atenção, especialmente das mulheres, a muçulmanos feridos durante as guerras que ocorreram entre tribos e clãs, quando foram feridos no campo de batalha.
"Desde os primeiros dias do Islão, as mulheres estavam envolvidas na guerra e comércio (Khadijah [r.a.], a primeira esposa do Profeta, era uma mulher de negócios que trabalhou para o Profeta Muhammad [s.a.w.] antes de receber a revelação), exerciam enfermagem e medicina, e davam aulas privadas nas mesquitas".
O nome pelo qual os árabes chamaram as mulheres que cuidavam das pessoas era assiya (derivado da palavra muassat, aliviar a dor mental ou física) ou awassi (tratamento de feridas). A função destas enfermeiras era fornecer água para os feridos, atender e cuidar dos ferimentos e administrar medicamentos que estavam disponíveis na época. Era tão importante e reconhecido o seu trabalho que há até mesmo um hadith que as autoriza a atuar como ajudantes e enfermeiras, curando os feridos no campo de batalha.
Também marchavam com os homens durante as batalhas transportando contentores de água e materiais para curar feridas (curativos) e tratar fraturas ósseas (material para gesso). Elas penetraram entre os soldados para atender emergências e tratar dos feridos caídos em combate, e até mesmo, algumas vieram a participar na luta. Encontramos uma referência no livro de Ahmad Chalabi Ach, o livro da história da educação islâmica em que ele menciona o trabalho dessas mulheres, especialmente Nuganán, semelhante ao que atualmente executam algumas organizações globais: "As mulheres muçulmanas executaram durante as guerras islâmicas o mesmo papel hoje realizado pela Cruz Vermelha. "
As mulheres também eram especializadas na assistência ao parto. As enfermeiras ajudavam os médicos no seu trabalho. O médico Azaharawi, explica como dava ordens através de uma cortina semitransparente para ensinar as enfermeiras que tinham de entregar os bebês recém-nascidos e executar a técnica por si dirigidas pelo médico. Aparece uma figura que corresponde à parteira, hoje.
Nos hospitais encontramos esta figura em vários textos de historiadores da época, como Ibn Jubayr, em que a profissão de enfermagem foi encarregada de cuidar 24 horas por dia de pacientes hospitalizados, bem como o fornecimento e controlo do tratamento e as dietas prescritas pelo médico:
"Ele designou um diretor homem, a quem confiou os armários de remédios e encomendou a elaboração de poções e administrar as variedades do seu gênero... Esse diretor tem com ele um subordinado cuja missão, de manhã e à noite, é verificar o estado dos pacientes e apresentar a comida e bebida que são adequadas para cada um. Ao lado deste edifício há um outro edifício separado para as mulheres doentes, e elas também têm quem as cuide. Em seguida a estes dois edifícios há outro edifício de grande extensão em que os quartos têm janelas com barras de ferro. Este é destinado a servir como células para a loucura. Também têm todos os dias de verificar o seu estado e trazer-lhes o que lhes convier".
De outro hospital escreveu:
“Um hospital para o cuidado de quem entre eles esteja enfermo. Procurou-lhes médicos que examinem o seu estado de saúde, e sob as suas ordens, criados a quem encarregam a inspeção do tratamento e do alimento que pelo bem deles é prescrito”.
Quanto ao pessoal nos hospitais que se descreve em vários relatos da época, encontramos a enfermagem. Entre eles, e por ordem de responsabilidade estava: O administrador (normalmente não formado em ciências médicas), o chefe de médicos, os médicos pagos para fazer guardas, visitar os pacientes e prescrever-lhes as suas terapias, farmacólogos e enfermeiros, homens e mulheres, que davam os cuidados básicos ao enfermo.
ENFERMEIRAS ILUSTRES
A primeira mulher muçulmana que realizou o papel de enfermeira e de quem se tem conhecimento é Koaiba Bint Saad Al Aslami, conhecida como Rufaida Al Aslamiya, da tribo de Bani Islam Khazraj. Nasceu em Yatrib antes da migração do Profeta e foi das primeiras de Medina a aceitar o Islão.
Seu pai, Saad Al Aslami, era médico e fez com que ela se interessasse desde o início na assistência ao paciente e trabalhou com ele como um atendimento de médico assistente. De acordo com esses documentos, tinha qualidades para ser uma boa enfermeira, era amigável, humana, tinha muita empatia com o paciente e facilidade de liderança para motivar outras pessoas a fazer um bom trabalho, era organizada, com boas habilidades clínicas. Além de ser uma boa enfermeira a nível assistencial, também se destacou no trabalho social para a prevenção e tratamento de doenças em casa, cuidou, deu comida e educação àqueles que não poderiam alcançá-los pelos seus meios para receber os cuidados de enfermagem, e os pobres, órfãos ou com deficiência. Definiram-na como uma enfermeira de saúde pública e assistente social.
Ela foi contemporânea do Profeta Muhammad (p.e.-c.e.) e ajudou no tratamento dos feridos caídos na bata
lha de Badr (624). Organizou e dirigiu grupos de enfermeiros para atender às vítimas no campo de batalha. Ela também participou nas batalhas de Uhud, Khandaq e Khybar. Era tão importante a sua atenção ao ferido que o Profeta se dirigia ao seu hospital de campanha de batalha para que os feridos fossem tratados e curados. Na Batalha de Khandaq, o Profeta (p.e.c.e.) deu ordens a Ibn Saad Maadh, que tinha sido ferido em batalha, para ser levado para o hospital de campanha de Rufaida a fim de ser atendido e acompa-nhado por ela. Ela cuidou dele, tirou a flecha do seu antebraço e fechou a ferida evitando a hemorragia.
O seu serviço durante as batalhas foi tão valorizado que o próprio Profeta Muhammad (p.e.c.e.) lhe deu o espólio delas em reconhecimento ao seu trabalho médico e de enfermagem, tornando-as equivalente em valor aos soldados que lutaram na linha de frente de combate.
Durante os tempos de paz, ela dedicou-se a cuidar dos doentes e montou uma tenda do lado de fora da Mesquita do Profeta em Medina, onde realizou os seus cuidados.
Há muitas semelhanças com Florence Nightingale. Ganhou aceitação como uma enfermeira cuidando de feridos no campo de batalha, é creditada como uma líder na área da saúde, estabeleceu as primeiras clínicas para o cuidado dos pacientes, perto da Mesquita, foi a fundadora da primeira escola de mulheres de enfermagem e desenvolveu, séculos antes de Florence Nightingale, o primeiro código de conduta e ética.
As atividades que organizou foram as seguintes:
• Formação de grupos de mulheres para cuidar dos primeiros socorros em feridos e cuidados de emergência e enfermagem.
• Deu muita importância às condições de higiene e ambientais para a cura e recuperação dos pacientes.
• Criou tendas especiais no campo de batalha, distribuídas por várias seções, uma para o cuidado dos muçulmanos feridos onde realizava os primeiros socorros e tratava das emergências e noutras proporcionava- -se a vigilância do processo de cura.
Outras enfermeiras que trabalharam como Rufaida foram: Ach Chifá Bint Al Abdalá, Umaima Bint Qais Al Afaria, Umm Senaán Al Aslamia, Um Salim, Um Aimán, Arrabia Bint Muauad e Nassiba Bint kaab Al Mazinia.
Assalamu Aleikom wa Ramatulahi wa Baraketuh!