Shaikh Mohamad Al Ghazali
Tradução: Prof. Samir El Hayek
As pessoas reagem de modo diferente às motivações e ocasiões que geram sentimentos de tristeza e de dor. Algumas pessoas são provocadas por coisas comuns, e se tornam alheias as demais coisas e acabam por precipitar-se a agir com insensatez. Mas há também aquelas pessoas que apesar de enfrentarem todo tipo de privações e adversidades, não se esquecem de proceder com seriedade, sabedoria, tolerância e boas maneiras.
É verdade que a natureza primitiva do homem e seu temperamento natural terem um papel preponderante na formação da sua personalidade como pessoa de temperamento esquentado ou bondosa, séria ou precipitada, correta ou mesquinha. Mas existe uma profunda relação entre a autoconfiança de um homem e seu comportamento solene para com os outros, e em perdoar os erros alheios. Na realidade, quanto mais bem-educado e perfeito um homem é, seu coração será grande na mesma proporção, e amplo o alcance da sua tolerância e indulgência. Ele sempre tentará encontrar justificativas atenuantes para os erros dos outros e aceitará as desculpas deles sempre que lhe forem pedidas. Se alguém calhar de com a intenção de o caluniar, ele encarará tal pessoa como um filosofo encara crianças jogando bolas de gude na rua e o ignorara.
Já vimos que a ira leva o homem à loucura. Um homem se desgraça diante de si mesmo, quando sente que foi submetido a alguma grande humilhação, e sente que tal mancha não pode ser redimida se não se verter sangue.
Pode um homem de elevada caráter moral dar um passo assim só porque teve que sofrer tristeza e dor? Jamais. Aqueles que infligem insultos aos outros habitualmente se desgraçam diante de si mesmos muito antes de insultar alguém.
É isto que entendemos da tolerância e indulgência demonstrada por Hud. Ele conclamou sua nação a aceitar a crença na unicidade de Deus. Sua nação reagiu a ele com abusos, maldições e acusações às quais ele tolerou calmamente. O povo de sua nação declarou:
“Porém, os chefes incrédulos, dentre seu povo, disseram: Certamente, vemos-te em insensatez e achamos que és mentiroso. Respondeu-lhes: Ó povo meu, não há insensatez em mim, e sou o mensageiro do Senhor do Universo. Comunico-vos as mensagens do meu Senhor e sou vosso fiel conselheiro.” (7ª:66-68).
Os abusos e as maldições da nação de Hud não o provocaram, porque havia uma grande diferença entre os dois grupos. De um lado havia Deus que escolhera Seu Mensageiro. Este era um representante da bondade e da correção. Do outro lado, estavam as pessoas imbuídas pela ignorância e insensatez, que competiam entre si na adoração de pedras. Devido à insensatez delas, pensavam que as pedras eram donas do seu destino. Como pode um grande mestre ficar desanimado pelo mau comportamento de tal rebanho?
Como o Mensageiro de Deus imbuiu as virtudes da tolerância e da indulgência aos companheiros dele pode ser entendido da seguinte tradição, que mostra a insensatez de um árabe e o amor e serenidade do Profeta.
Relata-se que um certo beduíno foi a presença do Profeta para pedir algo a ele, e o Profeta lhe deu qualquer coisa, e perguntou : “Trate-te bem?” O beduíno respondeu: “Não, você não me tratou bem.” Ao ouvirem isso, os muçulmanos se zangaram e avançaram sobre ele. O Profeta fez-lhes um sinal para pararem. Então, levantou-se e foi até a casa dele, e dali deu-lhe mais alguma coisa de presente, e novamente perguntou : “Tratei-te bem?” Ele respondeu: “Sim, que Deus te conceda prosperidade e à tua família.” O Profeta disse a ele: “O que quer que me tenhas dito, está certo no seu devido lugar, mas os meus companheiros estão zangados contigo, e se quiseres, poderás repetir diante deles o que quer que me tenhas dito para que a ira dos corações deles seja removida.” Ele disse que por ele ficava bem. Quando amanheceu, ele veio novamente, e o Profeta apontou para ele e disse: “Pelo que este árabe havia dito, eu lhe dei mais alguma coisa, e agora ele diz que esta satisfeito e feliz. Não e isto?” O beduíno respondeu: “Sim, que Deus conceda prosperidade à tua família.” Então o Mensageiro de Deus disse: “Meu exemplo é o exemplo deste homem e igual aquele do homem cuja camela havia se extraviado, e as pessoas saíram a procurá-la, mas o animal ficou ainda mais assustado de modo que o homem disse aos seus companheiros: “Deixem a mim e à minha camela em paz. Eu conheço os modos dela melhor e posso fazê-la retornar ao seu lugar certo.” E dito isso, tomou algum capim do chão em ambas as mãos e mostrou-o à camela, que voltou e deitou-se aos seus pés. Ele amarrou a Kajawa (sela?) nela e a montou. Se eu não vos tivesse impedido quando este homem estava falando grosseiramente, tê-lo-íeis morto e ele teria ido para o inferno.”
Vê-se que o bondoso Profeta não se sentira provocado no começo com a malcriação do beduíno. Ele havia compreendido sua natureza e temperamento que eram como os dos analfabetos que estão acostumados a usar uma fala selvagem e grosseira. Se tais pessoas fossem punidas sumariamente, então elas seriam destruídas e isto não seria justo.
Mas os grandes reformadores não permitem que os erros das pessoas lhes resultem em tão tristes fins. Eles tentam remover a ignorância e a emotividade das pessoas com a tolerância e indulgência deles próprios, com tal persistência que elas tem de se voltar para as coisas rigorosas, e se tornam admiradores seus.
O mais sábio dos intelectuais eruditos, e o mais rico dos homens não atingirão igual destino, por mais caridosos e generosos que possam ser. De que adianta a caridade que pretende tornar as pessoas devedores de quem a faz?Não e improvável que o beduíno cujo contentamento foi comprado dando-se-lhe dinheiro, não viesse a se tornar um homem rico eventualmente por seu próprio esforço e podia realizar um grande feito oferecendo sua vida espontaneamente. Na realidade, a riqueza doada por tais grandes reformadores se destina às pessoas necessitadas, ou, em outras palavras, tal riqueza é como o capim que cresce no solo e que foi apanhado nas mãos e mostrado à camela, a qual, por tal demonstração de carinho, essas montarias desgarradas são atraídas para que possam ser usadas nas grandes viagens.
O Profeta às vezes ficava zangado, mas jamais ultrapassou os limites da decência ou à etapa do perdão. Como é brilhante este aspecto do seu caráter, de não ter ele jamais se vingado por ter sido ele mesmo o ofendido, mas jamais hesitou de exigir vingança do homem que violasse a santidade das leis de Deus.
Certa vez, quando ele distribuía o botim, certo beduíno rude o insultou dizendo: “Divida com justiça,” pois que na distribuição desse botim se almejava satisfazer somente a Deus. O Profeta não disse nada além do seguinte: “Que vergonha a tua. Se eu não fizer uma distribuição justa, quem mais o fará? E se eu não fizer assim, então terei ‘ fracassado, e eu terei sofrido uma perda.” E com tais palavras, ele não só retrucou à ignorância dele como também evitou que seus companheiros o matassem, o que teriam feito em outras circunstâncias.
O Perdão e a Remissão
Certa vez, na hora da oração Asr (oração da tarde), ao fazer o sermão ao povo, ele falou:
“Os filhos de Adão foram criados diferentes uns dos outros. Há uns que demoram muito a se zangar mas também muito rapidamente voltam ao normal. Algumas pessoas se zangam rapidamente e também não demoram a voltar ao normal, e ainda algumas pessoas que demoram a se zangar e também demoram a voltar ao normal, o que parece mostrar que a regra de normalidade é proporcional à velocidade com que se fica zangado. Mas cuidado, algumas pessoas se zangam logo e demoram muito a voltar ao normal. Escutai, os melhores dentre (todos) esses são aqueles que tardam a ficar zangados e se arrependem imediatamente, e os piores dentre eles são os que se zangam logo e demoram muito para voltar ao normal. Do mesmo modo, há entre as pessoas aquelas que reembolsam um empréstimo de maneira educada e correta, e também exigem se o faça de modo correto. Alguns tem preguiça de reembolsar empréstimos, mas não para cobrá-los. Outros cobram com maus modos mas reembolsam corretamente, isto é, eles possuem uma boa qualidade e uma qualidade ruim. Algumas pessoas provam ser ruins tanto para cobrar quanto para pagar. Ouvi atentamente, pois os melhores dentre esses todos são aqueles que são corretos no cobrar tanto quanto no pagar, e os piores são aqueles que são ruins em ambas as coisas.
“Não vos esqueceis que a ira se transforma em fagulha na alma do filho de Adão. Não vedes que quando zangado, os olhos de um homem ficam vermelhos, e suas narinas infladas? Se alguém notar que algum homem está com esses sinais, deve permanecer quieto onde estiver.” (Tirmizi)
Isto é, ele deve ficar quieto no seu canto, sem se mover até, para não piorar a situação.
Isto porque as chamas da raiva e da ira consome a todas as coisas. A inteligência e a consciência desaparecem diante delas, e se vê prisioneiro da magia das suas emoções. Quando isto acontece, esses problemas não melhoram.
A tradição acima citada explica quais os tipos de homens e seus atos e o valor da grandiosidade e moralidade deles. Sempre que necessário, o crente se humilha.
Um homem zangado é capaz de praticar vários tipos de atos insensatos. As vezes ele xinga a porta por esta não se abrir imediatamente para ele. Em sua raiva ele quebra qualquer coisa que possa porventura estar em suas mãos, e xinga o animal que não se deixa submeter.
O manto de certo homem foi arrancado pelo vento e ele o amaldiçoou. O Mensageiro de Deus disse: “Não o amaldiçoe, porque ele está submetido aos mandamentos de Deus e está sob o controle d‘Ele. Aquele que amaldiçoar uma coisa que não o mereça, verá a maldição se voltar contra ele próprio.” (Tirmizi).
Há vários males na ira, e seus resultados são tanto mais devastadores. Diz-se portanto, que para saber se dominar quando se está irado, é demonstração da força de auto domínio merecedora de louvores e também a força nobre da tolerância.
Ibn Mas’ud narrou que certa vez o Mensageiro de Deus perguntou: “A quem costumais chamar de forte?” As pessoas responderam: “Àquele que não pode ser derrubado por outra pessoa é chamado de forte por nos.” Ele disse: “Não, forte é aquele que tem domínio sobre si mesmo quando está zangado.” (Musslim)
Um homem perguntou ao Profeta: “Dê-me um algum conselho, mas que não seja tão longo que eu o esqueça facilmente.” O Profeta disse: “Não fique zangado.” (Málik).
Que outra resposta poderia ser melhor ou mais breve que esta?
O Mensageiro de Deus sempre deu muito valor ao temperamento e ao ambiente dos indivíduos e grupos ao lhes comunicar seus ensinamentos e instruções. De acordo com a ocasião ele costumava alongar ou encurtar seus ditos.
Os esforços que foram feitos para remover a ignorância tem dois fundamentos: Um era a rebeldia diante do saber e o segundo a intolerância. O primeiro ele (o Profeta) removeu com a ajuda de mais conhecimento, compreensão, sermões e conselhos, enquanto que o segundo foi removido com a ajuda de contenção dos desejos rebeldes, o impedimento de transgressões etc. Os árabes dos dias pré-islâmicos tinham orgulho de sua ignorância e perversidade. Como disse um poeta árabe daquela época:
“Cuidado! Ninguém deve demonstrar possuir qualquer ignorância ou perversidade diante de nós, senão nós provaremos sermos capazes de ser mais ignorantes e perversos do que qualquer um..”
Quando chegou o Islam, ele removeu esta intensidade de sentimentos e emocionalismo, e introduziu a prática do perdão e da remissão na sociedade. Quando não se pudesse perdoar, então eram mandados agir com justiça. Este objetivo só podia ser atingido quando a raiva e a ira pudessem ser controladas pela mente.
Há um grande numero de ditados nos quais o Profeta deu orientações aos árabes neste sentido, tanto assim que todas as manifestações de tirania, agressão, raiva e ira foram declarados extintos no circulo do Islam. As coisas que não servem para unir um grupo, ou que servem para desfazê-lo, tais como os abusos etc. – foram declaradas agentes nocivos que rompem a unidade:
“Para o muçulmano, ofender é perversidade, assim como discutir (acoloradamente) ou brigar é uma infidelidade.” (Bukhári)
“Quando dois muçulmanos se encontram, existe entre eles uma divisória posta por Deus. E se um deles diz obscenidades para o outro, ele rompe essa cortina de Deus.” (Baihaqui).
Certo árabe foi ter com o Profeta para aprender os ensinamentos do Islam. Antes disso ele não houvera nem visto o Profeta nem soubera de sua Mensagem. O nome desse árabe era Jabir ibn Salim. E ele conta:
“Eu vi um homem cujas opiniões estavam sendo imitadas pelo povo. E quando ele dizia alguma coisa, as pessoas comunicavam seu dito a outras. Eu lhes perguntei quem era esse homem. Me disseram que ele é o Mensageiro de Deus. Eu disse a ele: “Esteja contigo a paz (Alaik-as-Salam) ó Mensageiro de Deus!” E ele disse: “Não cumprimente desse modo. Esse e o cumprimento dos mortos, mas diga ao invés, A Paz esteja contigo (As-Salamu Alaik).”
O tal árabe conta: “Eu perguntei: ‘Es tu o Mensageiro de Deus?’ Ele respondeu: “Sou o mensageiro daquele Ser a quem você apela na adversidade, e ele remove os seus problemas, e se a fome te alcança e tu apelas a Ele, Ele faz crescer grama para ti; e se perderes a tua montaria no deserto, então O chamas e Ele faz com que a tua montaria volte para ti.”
Conta ele que eu lhe disse: “Dê-me um conselho.” O Profeta respondeu: “Não ofendas a ninguém.” E conforme ele disse, dai para diante, eu não ofendi a mais ninguém, fosse homem livre, escravo, camelo ou cabra. Então ele disse: “Não considere qualquer virtude como mesquinha, mesmo que seja do teu irmão conversar com você sorrindo. Pois tal é um ato de virtude.” Então ele disse: “Se alguém se acercar de ti e te fizer sentir vergonha de algum defeito teu, não o faça envergonhar-se de qualquer dos defeitos dele, porque o ato dele já lhe será motivo de suficiente aborrecimento em si.” (Abu Daúd)
Censurar e Reprovar Alguém é um Sinal de Mesquinhez
Existem também algumas pessoas cuja raiva não esfria. Elas estão sempre tumultuadas, e essa tensão imprime-lhes uma feição de empedernidos e rudes. Se alguém entra em conflito com eles, cospem fogo como se fossem um forno. Raiva, ira, o estertor das narinas e a vermelhidão dos olhos e logo em seguida há uma explosão de palavrões e de maldições. O Islam é inocente de todas essas qualidades imundas.
O Mensageiro de Deus disse: “O Muçulmano não provoca, não amaldiçoa nem censura, nem usa falar ou agir de maneira indecente.” (Tirmizi).
Amaldiçoar e censurar são sinais de mesquinhez, e uma qualidade própria da baixeza (de caráter). Aqueles que xingam os outros por razões fúteis, expõem-se a uma grande ruína. É dever do homem evitar agir dessa maneira tão indigna, mesmo que ele seja profundamente ofendido por seu interlocutor.
A medida que a fé se estabelecer no coração, com ela crescerá a generosidade, abrir-se-á a mente, virá a tolerância e a indulgência, e surgirá um desprezo da raiva dos usurpadores dos nossos direitos e antipatia de se desejar a destruição deles.
Certa vez pediram ao Profeta para invocar a ira de Deus contra os politeístas e amaldiçoá-los. Ele disse:
“Eu foi enviado como uma graça (rehmat). Eu não foi enviado como censor ou reprovador.” (Musslim).
O muçulmano, quanto mais seja capaz de se dominar, quanto mais saiba controlar sua raiva, mais capaz será de perdoar os erros dos outros, e quanto mais simpatizar-se com outros devido aos erros deles, em igual proporção será elevado o seu grau perante Deus.
Por esta razão, o Profeta desaprovou quando Abu Bakr amaldiçoou seu servo, e disse:
“E desde quando é apropriado a um homem verdadeiro censurar e reprovar.” (Musslim)
Em outra tradição, menciona-se que o Profeta teria dito: “Não é possível que você se dedique a censurar e a reprovar e ao mesmo tempo permanecer verdadeiro (siddique) e correto.” (Hakim).
Abu Bakr, para redimir-se do seu erro, libertou seu escravo e foi ao Profeta pedir desculpas e disse que não voltaria a fazer coisa igual novamente.
A razão disso é que o ato de censurar ou reprovar é um mal que é mais expressivo de nossa ira cega do que a ideia de punir os outros. E não é correto insultar a outra pessoa gritando com ela.
O Mensageiro de Deus disse. “Quando um homem amaldiçoa alguém, então a maldição sobe até o céu, mas encontra fechados os portões do céu. Então retorna em direção à terra. E aqui também encontra fechados os portões. Então fica vagando para lá e para cá, e se não encontrar um lugar adequado para pousar, retorna ao homem que foi amaldiçoado. Se ele merecer a maldição, tudo bem, mas se não, ai ela volta àquele que a pronunciou.” (Abu Daúd)
Praguejar e Insultar é Ilícito
O Islam declarou que praguejar e insultar usando palavras e atos obscenos é ilícito (haram).
Muitos conflitos ocorrem nos quais a honra de uma pessoa é agredida e ocorre uma série de mútuas acusações e xingamentos. A reputação dos parentes e principalmente das parentes femininas é ofendida, e tenta-se levantar a poeira de séculos passados. Existe somente um motivo para todo esse pecado imundo, e é o homem ter sido movido pela raiva abandonando inteiramente toda a decência e as boas maneiras que porventura tivesse.
A responsabilidade total por cometer esse tipo vil e mesquinho de pecado recai sobre o homem que primeiro acendesse a fagulha de material tão altamente combustível. Esta escrito na tradição:
“Todo o pecado de praguejar e insultar-se mutuamente, recairá sobre o homem que primeiro começou o conflito, a não ser que seu interlocutor ultrapasse seus limites.” (Musslim).
E só existe uma maneira de escapar dessas paixões intensas: é através da tolerância e da indulgência usadas para dominar a raiva e que o perdão e a remissão predominem sobre a paixão de vingança.
Não há duvida de que quando se vê atacada a própria pessoa do homem, ou a de parentes ou amigos seus, ele sofre, e tem então os meios e recursos para se vingar, o que tenta fazer imediatamente e não descansa enquanto não satisfaz sua paixão pela vingança.
Que a Rudeza seja Retribuída com Brandura
Mas em tais casos, há um outro procedimento que pode ser adotado, que é muito mais nobre e muito apreciado por Deus, e que demonstra a grandeza do homem e seu respeito pelo relacionamento com outrem, e de como é capaz de controlar sua raiva ao invés de se deixar levar a retrucar as pragas e insultos.
Para isso ele precisa conter-se e jamais deixar prevalecer o desejo de vingança.Ele deve se preparar para passar por cima dos erros dos transgressores como um sinal de gratidão para com Deus, que lhe deu sua posição, à qual pode retomar sempre que quiser por direito.
Ibn Abbas narra que quando Ainia ibn Hasn chegou, ele ficou na casa do seu sobrinho Hur ibn Cais, que era muito respeitado por Ômar, porque aqueles que liam o Alcorão eram membros da Comissão Consultiva do Ômar, fossem anciãos ou jovens. O tio pediu ao sobrinho que o levasse ao Emir dos muçulmanos, Ômar Ibn Al Khattab. Obteve-se a devida permissão, e quando ambos chegaram na presença de Ômar, ele disse rudemente ao califa:
“Tenho pena de ti, ó filho de Khattab, porque nem nos fazes presentes nem nos tratas com justiça.” Ômar ficou irado diante disso e quis puni-lo. O sobrinho, Hur, imediatamente interveio e disse: “Ó Emir dos muçulmanos! Deus disse ao seu Profeta: “Adote o método da brandura e da remissão, aconselhe a prática de atos corretos e não conflitai com os mal-educados. Este homem é mal-educado, e pode ser remido.”
E foi assim que o Emir dos Crentes perdoou aquele homem para não se desviar nem um pouco dos ensinamentos daqueles versículos que lhe foram recitados porque ele era um seguidor fiel do Livro de Deus.” (Bukhári).
Ômar ficou enraivecido porque (percebeu) que aquele árabe havia vindo somente para provocá-lo. A ideia de puni-lo viera-lhe à mente porque ele não fora ao encontro com a intenção de dispensar conselhos ou reformulação corretos. O único propósito que o árabe tivera ao procurar o Emir fora o de criticá-lo para receber ricos presentes sem ter feito nada para os merecer. Mas quando foi dito ao Emir que o homem era um homem sem educação, ele controlou sua ira e permitiu que ele fosse em liberdade.
Está escrito na tradição: “Aquele que controla sua raiva apesar de ter o poder que lhe permita vingá-la, Deus o chamará antes dos outros no Dia do Juízo Final e lhe conferirá autoridade para selecionar a huri que ele preferir.” (Abu Daúd)
Ibada Ibn as Samit relatou que o Profetadisse:
“Não quereis que eu vos diga quais as qualidades pelas quais Deus vos dará os prédios mais altos no Paraíso e Ele vos poderá elevar de nível?” As pessoas responderam: “Certamente que sim, conte-nos, ó Mensageiro de Deus.” Ele disse: “Aquele que, se alguém se portar com ele mal-educadamente, ainda assim se comportar com ele com tolerância, perdoando os opressores, e dando àqueles que o oprimem, e àquele que tentar se afastar de vós, e fordes tentar reconquistá-lo.” (Tabarani).
O Alcorão proclamou três hábitos e qualidades como decentes e dignas do caminho do bem-estar pelo qual um homem pode entrar no Paraíso:
“Emulai-vos em obter a indulgência do vosso Senhor e um Paraíso, cuja amplitude é igual à dos céus e da terra, preparado para os tementes, que fazem caridade, tanto na prosperidade, como na adversidade; que reprimem a cólera; que indultam o próximo. Sabei que Deus aprecia os benfeitores“ (3ª:133-134)
O Exemplo Excelente
A maneira como o Profeta ignorou Abdullah ibn Ubai, a clemência com que o tratou e a maneira como remiu todos os seus crimes, são instantes cujo exemplo não pode ser encontrado em qualquer outro momento da história humana. Abdullah ibn Ubai era o pior inimigo dos muçulmanos. Ele costumava sempre estar buscando novas maneiras de infligir danos e prejuízos aos muçulmanos, e estava aliado ao diabo contra os muçulmanos. Ele nunca deixou passar uma única oportunidade que tivesse de causar algum mal aos muçulmanos, ou de derrotá-los ou de urdir toda uma rede de intrigas em torno deles. Ele lançou imprecações sobre a castidade da Mãe dos Fiéis, Aicha, e incitou algumas pessoas a participarem da campanha de rumores contra ela pretendendo assim enfraquecer a base da sociedade islâmica, pois que como nos tempos antigos, as tradições orientais sempre respeitaram a elevada posição da decência e nobreza das mulheres.
Por esta razão é que o Mensageiro de Deus e seus companheiros tiveram sérias preocupações e angústias terríveis. Eles ficaram num dilema enorme diante dessa gritante e falsa acusação, até que, por fim, foram revelados os versículos da Surata An-Nur, que rejeitaram as acusações dos hipócritas, garantiram a castidade e pureza de Aicha e puseram por terra as maquinações dos inimigos:
“Aqueles que lançam a calúnia, constituem uma legião entre vós; não considereis isso coisa ruim para vós; pelo contrário, é até bom. Cada um deles receberá o castigo merecido por seu delito, e quem os liderar sofrerá um severo castigo“ (24ª:11)
Nessa tragédia, aqueles que haviam abertamente acusado (vilipendiado) os muçulmanos (Ummul Muminin) foram punidos, mas o germe que espalhara a enfermidade não foi tocado, e foi possível a ele continuar as suas nefastas atividades contra os muçulmanos.
Deus abençoou Seu Profeta e seus exércitos com a vitória e a glória. O Islam aperfeiçoou o governo desordenado durante séculos e reformulou a sociedade corrupta. Os inimigos do Islam foram então encontrados dentro das fronteiras da sociedade Islâmica. Abdullah ibn Ubai definhava dentro de si mesmo até cair doente e morrer, após deixar o mau fatal cheiro da degeneração atrás de si. Seus filhos foram ao Profeta para pedir o perdão do pai. Ele o perdoou. Então o filho pediu o manto do Profeta para servir de mortalha ao pai. Ele o deu a eles. Então eles lhe pediram para ir à frente do cortejo fúnebre e rezar pelo pai. Ele assim fez. O Profeta não lhes recusou nem este pedido. Ele levantou-se para rezar pela salvação de uma pessoa que no passado havia atacado sua honra e reputação.
Mas Deus negou-se a conceder todas essas concessões, e fez revelar o seguinte versículo:
“Quer implores, quer não (ó Mensageiro) o perdão de Deus para eles, ainda que implores setenta vezes, Deus jamais os perdoará, porque negaram Deus e Seu Mensageiro. E Deus não ilumina os depravados“ (9ª:80)
Neste acontecimento trágico de falsa acusação também estava envolvido um parente muito próximo de Abu Bakr, e que vivia às custas deste. Este homem não hesitou em falsamente acusar a pura e casta senhora, cujo pai lhe estava ajudando e sustentando. Ele esqueceu o direito do Islam, e não se importou com o relacionamento, rasgando em pedaços esse antigo costume. Abu Bakr ficou profundamente perturbado e jurou que não daria nada a esse parente seu nem lhe mostraria qualquer indulgência como fizera no passado. Diante disso, foi revelado o seguinte mandamento de Deus:
“Que os dignos e os opulentos, dentre vós, jamais jurem não favorecerem seus parentes, os necessitados e expatriados pela causa de Deus; porém, que os tolerem e os perdoem. Não vos agradaria, por acaso, que Deus vos perdoasse? Ele é Indulgente, Misericordiosíssimo.” (24ª:22)
E de acordo com esse mandamento, Abu Bakr voltou a ajudar esse seu parente dizendo: “Eu gostaria que Deus me perdoe.”
"São aqueles aos quais foi dito: Os inimigos concentraram-se contra vós; temei-os! Isso aumentou-lhes a fé e disseram: Allah nos é suficiente. Que excelente Guardião! Pela mercê e pela graça de Deus, retornaram ilesos. Seguiram o que apraz a Deus; sabei que Allah é Agraciante por excelência." (03: 173-174)
يُرِيدُونَ أَن يطفئوا نُورَ اللّهِ بِأَفْوَاهِهِمْ وَيَأْبَى اللّهُ إِلاَّ أَن يُتِمَّ نُورَهُ وَلَوْ كَرِهَ الْكَافِرُونَ
......Desejam em vão extinguir a Luz de Deus com as suas bocas; porém, Deus nada permitirá, e aperfeiçoará a Sua Luz, ainda que isso desgoste os incrédulos!
Mohamad ziad -محمد زياد
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