sexta-feira, dezembro 13, 2019

A SUSTANTABILIDADE NO ISLAM

Assalamo Aleikum Warahmatulah Wabarakatuhu. Bismilahir Rahmani Rahim.

Fui convidado pelo Município de Guimarães (Portugal) para participar numa conferência acerca da sustentabilidade. Cada um dos palestrantes ficou com a responsabilidade de explicar o que os seus textos sagrados referem acerca deste importante tema, respondendo à pergunta: “Deus é Ecológico?” Segue o teor da minha intervenção:

MINHAS SENHORAS E MEUS SENHORES,

ASSALAMO ALEIKUM

Esta é a saudação dos muçulmanos que significa “A Paz de Deus esteja convosco”. Utilizamos esta expressão, para saudarmos os nossos irmãos de fé. Saudamos tantas vezes quantas as que encontrarmos com o mesmo irmão ou irmã e no mesmo dia. É uma forma de aumentarmos a harmonia e amizade entre nós.

Em nome do Centro Cultural Islâmico do Porto, agradeço à Câmara Municipal de Guimarães a oportunidade concedida para participarmos nesta tertúlia, no âmbito do Plano Municipal para a integração de migrantes.

Está a decorrer a Ciméria do Clima em Madrid. A escolha deste tema para a tertúlia, é uma oportunidade para refletirmos em conjunto a importância e a urgência dos países encontrarem um consenso comum para se travar a utilização indevida dos recursos naturais, com vista a atenuar as alterações climatéricas. Vamos então tentar responder á pergunta se “Deus é Ecológico”.

O Islão é uma religião monoteísta, cujo tronco comum é o Profeta Abraão. A nossa crença é baseada na Unicidade de Deus. Acreditamos nos Profetas do Judaísmo e do Cristianismo e no último Profeta Muhammad, que a Paz de Deus esteja com todos eles. Não fazemos distinção a nenhum deles.

O Islam é uma religião universal, atualmente com mais de um bilião e quatrocentos milhões de seguidores.

A Religião é o Islão e os seguidores são os muçulmanos e não de islamitas como outros nos chamam. Muçulmano significa ser submisso a Deus Único. Ser muçulmano é viver em Paz com o Criador, em Paz consigo próprio, em Paz com o próximo e em Paz com a natureza. Louvamos e agradecemos a Deus tudo o que nos concedeu para facilitar a nossa passagem curta por este mundo.

O Islão destaca a importância do meio ambiente, a proteção e a conservação dos recursos naturais. Os meios da natureza, a terra, o ar, a água, o fogo, a floresta e a luz, são bens comuns pertencentes não só à humanidade, como também a todos a outros seres vivos. O ser humano é o Khalifa, isto é, é o representante de Deus na terra e tem a obrigação de utilizar os recursos naturais da terra e os preservar para as futuras gerações. O Alcorão determina que a conservação do meio ambiente é um dever religioso e social e não opcional. O Alcorão refere a terra por mais de 60 vezes.

A moderação é um princípio estabelecido pelo Alcorão para todos os aspectos da vida do muçulmano. Os textos sagrados referem o equilíbrio na criação da terra e de tudo o que nos rodeia. O homem deve tomar todas as precauções para que esse equilíbrio não seja afetado e que os direitos de todos, incluindo os direitos dos outros seres vivos não sejam prejudicados. O Alcorão condena o consumo desnecessário e exagerado, como por exemplo, o desperdício da água e o consumo exagerado de alimentos e de outros bens que conduzem à degradação do meio ambiente. E Deus refere que não ama os que exageram nos gastos e os que se desviam.

O privilégio da exploração dos recursos naturais, foi concedido ao homem pelo Criador, a título de empréstimo. É como tomar por arrendamento uma propriedade pertencente a outro, com a promessa de que a deveremos preservar, não destruir ou danifica-la. O conceito islâmico da utilização dos recursos naturais é o da durabilidade. O homem sendo uma espécie de tutor, deve tomar todas as precauções para a entregar ao próximo, de modo que a utilização continue até ao final dos tempos. 

Todo o tipo de corrupção, não só a econômica, também a ambiental, que inclui a poluição industrial, danos ambientais, utilização imprudente e má gestão dos recursos naturais, não são amados pelo Senhor, o Criador e Sustentador dos mundos. Refere o Alcorão. “E não causeis corrupção na terra depois dela ter sido pacificada”. 7.85.
 
Na altura do Profeta Muhammad, que a Paz de Deus esteja com ele, para proteção das terras, das florestas e da vida selvagem, foram instituídas zonas denominadas de Haram e de Hima. Nesses locais foram estabelecidas importantes leis de proteção da natureza. As Palavras Haram e Hima referem-se a zonas protegidas e com a proibição de praticar certos atos que possam prejudicar o ecossistema. As áreas Haram foram traçadas à volta dos poços e fontes de água para proteger os caudais subterrâneos e do consumo excessivo do precioso líquido. As Hima referem-se às áreas destinadas à vida selvagem e à silvicultura, onde foram criadas zonas de pasto, terras agrícolas, cortes de madeira e proteção de animais especiais. Foram criadas zonas proibidas de caça ao redor da cidade de Madina. Eram zonas invioláveis com a intenção de uso sustentável dos recursos naturais e da proteção da vida animal e das terras agrícolas.

A Sharia, a jurisprudência islâmica, é um conjunto de leis islâmicas baseadas no Alcorão, nas tradições do Profeta Muhammad, analogia e no consenso dos juristas. A Sharia incentiva os governos para tomarem medidas legais contra pessoas ou organizações e mesmo contra outros estados, quando considerados culpados de provocarem danos ambientais.

É estimulada a plantação de árvores de fruto ou simplesmente destinados à sombra. Sobre este aspecto, disse o Profeta Muhammad: “Se um muçulmano plantar uma árvore ou semear (algo) e depois um pássaro ou um animal vir a comer dos seus frutos, isto será considerado um presente de caridade da parte dele”. Bukhari. Toda a caridade será recompensada. A devastação das árvores foi proibida e a destruição das culturas foram proibidas, mesmo em tempos de guerras.

O Profeta também referiu que se estivermos a um passo final da nossa existência e portadores duma semente ou de um rebento duma planta na nossa mão, deveremos plantá-la. E disse também: “Quem plantar uma árvore e cuidar dela diligentemente até que ela cresça e dê frutos, será recompensado”.

No Alcorão, Deus compara uma boa palavra a uma árvore: “Não reparas como Deus exemplifica? Uma boa palavra (pura) é como uma árvore nobre, cuja raiz está profundamente firme e os ramos se elevam ao céu”. Cur’ane 14:24

A água é o símbolo de pureza e fonte da vida. Sem água não há vida. O corpo humano é composto por cerca de 70% de água. Deus refere no Alcorão: “…. E criamos todos os seres vivos da água….” Cur’ane 21:30. A água acompanha o crente, no seu nascimento, na sua vida, na sua morte e na vida após a morte. Quando ouvimos as palavras “as águas rebentaram”, elas anunciam que um novo ser está para nascer. Uma nova vida vai iniciar!

O ser humano tem a obrigação de preservar a água, este líquido precioso, não só para si, como também para todos os outros seres vivos. A água tem um papel fundamental no cumprimento dos nossos rituais religiosos, ao ponto de compararmos a higiene, à metade da fé. As fontes, as cisternas e os banhos públicos são comuns em todas as cidades muçulmanas. Na cidade de Silves (Portugal) e outras cidades onde passaram os muçulmanos, podemos ver as antigas e grandes cisternas destinadas ao armazenamento de águas para o abastecimento das populações.

Desde o aparecimento do islão e até hoje, uma das contribuições de caridade é a cedência e construção de poços de água, para consumo dos mais 

necessitados. Os ensinamentos do Profeta referem; “As ações do homem chegam ao fim com a sua morte, porém, a recompensa das ações mantêm-se com uma escola que tenha construído ou tenha deixado um poço de água que possa beneficiar pessoas e animais”.

A água da chuva, a água dos rios e a água das fontes, correm pelas páginas do Alcorão e nos ensinamentos do Profeta, transmitindo aos crentes a benevolência de Deus para com os Seus servos. A água foi o primeiro elemento criado, conforme refere o Alcorão: “E Ele criou os céus e a terra em 6 dias, quando antes, abaixo do Seu Trono, só havia água.” 11:7

A água pura é a que vem diretamente dos céus, através da chuva, da neve e do granizo. Refere o Alcorão: “Ele é Quem envia os ventos alvissareiros, mercê da Sua Misericórdia; e enviamos do céu água pura”. Cur’ane 25:48.

Rumi, um dos eminentes poetas sufis, referiu acerca da água: “Ele chegou…. Chegou aquele que nunca partiu; Esta água nunca faltou a este riacho; Ele é a substância do almíscar e nós, o seu perfume; Alguma vez se viu o almíscar separado do seu cheiro?”.

Infelizmente, os rios, riachos, lagoas e outros reservatórios naturais de águas, estão a ser contaminados pela ação do homem.

O planeta está a sofrer sérios danos, devido às consequências dos exageros do ser humano. O homem está destruindo a terra. Se não estamos a tempo de recuperar o que foi perdido, pelo menos tentemos parar ou minimizar a catástrofe que se avizinha. Estamos a caminhar alegremente para o abismo!

A utilização excessiva do petróleo e do carvão e a utilização indevida e abusiva dos recursos da terra, estão a criar graves problemas ambientais. A Organização das Nações Unidas incentiva todos os países para criarem condições para a utilização das energias renováveis, através do vento, das ondas do mar e do sol. Estas são as dádivas da natureza e é preciso saber aproveitá-las.

Apenas atrás da Suécia, Marrocos é o segundo país mais sustentável do mundo. Apostando no futuro que se avizinha, Marrocos lançou a primeira fase da maior central de energia solar do mundo, que irá reduzir a dependência do petróleo em cerca de 2,5 milhões de toneladas de petróleo e reduzir as emissões de carbono em 760.000 toneladas ano. Marrocos está na linha da frente na produção da energia alternativa, através do aproveitamento do sol. O objectivo é de que em 2030 mais de 50% da energia seja proveniente de fontes renováveis. Outros países do deserto, com abundantes recursos solares, estão a seguir o seu exemplo, aproveitando a dádiva do sol, que “queima” todos os dias do ano.

Deus deixou-nos importantes orientações para o planeta ser utilizado convenientemente em sistema de arrendamento por gerações após sucessivas gerações.

No entanto, estamos a assistir às consequências da má utilização que estão a pôr em causa a sobrevivência de todos os seres vivos. E não foi por falta de alertas.


“Wa ma alaina il lal balá gul mubin" "E não nos cabe mais do que transmitir claramente a mensagem". Surat Yácin 36:17. “Wa Áhiro da wuahum anil hamdulillahi Rabil ãlamine”. E a conclusão das suas preces será: Louvado seja Deus, Senhor do Universo!”. 10.10.

Cumprimentos

Abdul Rehman Mangá - www.abdulmanga.com 11/12/2019

Mesquita ecológica de Cambridge, uma iniciativa muçulmana para o meio ambiente

Fonte:ara.cat
Prezados Irmãos,

Saúdo-vos com a saudação do Islão, "Assalam alaikum", (que a Paz esteja convosco), que representa o sincero esforço dos crentes por estender o amor e a tolerância entre as pessoas, seja qual for o seu idioma, crença ou sociedade.

Cuidar do meio ambiente sempre ocupou um lugar importante no Islão. Hoje, inúmeras tecnologias modernas permitem mudar para fontes de energia alternativas. Painéis solares, reciclagem, uso sem desperdício de água e materiais ecológicos: esta não é a lista completa de mecanismos, graças aos quais as Mesquitas ecológicas foram abertas em todo o mundo no século 21: estruturas únicas já estão operando em várias cidades de Omã, Dubai, Astana e outras cidades. Uma dessas Mesquitas está localizada em Cambridge, Reino Unido.

A primeira Mesquita ambiental da Europa espera aproveitar o comando do Islão para combater as mudanças climáticas, incentivando os muçulmanos a participar de programas ambientais no nosso planeta.

A cidade de Cambridge tem um relacionamento de longa data com o Islão, que remonta a comerciantes e estudiosos da Idade Média. Os pedreiros da Síria chegaram à cidade no período após as Cruzadas, estabeleceram-se lá e começaram a criar amostras da arquitetura gótica inglesa. Hoje, mais precisamente em meados do século passado, os muçulmanos começaram a ir de novo para Cambridge. Eles vieram, principalmente, de países como Bangladesh e Paquistão. Hoje, a comunidade islâmica é composta por um grande número de turcos, curdos, argelinos, cazaques e muçulmanos convertidos, os britânicos nativos.

Em Maio deste ano, uma nova beleza, uma Mesquita, foi inaugurada em Cambridge. Este evento foi dedicado ao Ramadão, o mês do jejum sagrado. A primeira mesquita ecológica da Europa é decorada com postes de madeira curvados no interior, que sustentam o teto da grade. As paredes são compostas por tijolos cor de mel, bem como tijolos vermelhos em relevo. Para entrar na Mesquita pela rua, o visitante atravessa um jardim e a varanda, revestidos de azulejos de mármore turco com padrões geométricos.

Além do salão de oração para 1.000 pessoas, o complexo da Mesquita inclui um restaurante, salas de aula, um salão de casamento (nikyakha) e um salão de exposições para artistas locais de todas as religiões. Nos fundos do prédio há uma sala para lavar os mortos e no pátio há um jardim com uma área de jogos para as crianças.

A Mesquita simboliza o coração espiritual da Comunidade Islâmica. É o local central onde um crente se une a Deus”, disse o promotor da Mesquita, uma figura pública bem conhecida, Yusuf Islam (músico Kat Stevens).

Ele disse que os muçulmanos têm um papel importante a desempenhar na superação da crise climática.

“A Mesquita faz parte do processo de reeducação da sociedade. Mergulhe na verdadeira natureza do Islão para mostrar a harmonia dessa religião como equilíbrio do universo”, disse Yusuf Islam.

"Muitos muçulmanos esqueceram isso ou não estão contribuindo o suficiente para combater as mudanças climáticas".

Conforme planejado pelos projetistas da Mesquita,é bastante viável reutilizar a água da chuva para irrigação de jardins e aproveitar o calor para gerar energia. A mesquita produz quase zero de emissões de carbono e possui melhores certificados ecológicos do que os outros milhares de mesquitas espalhadas por toda a Europa.

"O Alcorão enfatiza a beleza e a harmonia do mundo natural como um sinal do poder criativo e da sabedoria de Deus", disse Timothy Winter, presidente do conselho da Mesquita e professor da Universidade de Cambridge, que se converteu ao Islã e é conhecido hoje como Abdul Hakim Murad. 

Fonte:M. Yiossuf Adamgy Director da Revista Islâmica Portuguesa AL FURQÁN