quinta-feira, setembro 03, 2015

A cegueira da União Europeia face à estratégia militar dos Estados Unidos

Os responsáveis da União Europeia enganam-se completamente acerca dos atentados islamitas na Europa e as migrações para a União de gente fugindo das guerras. Thierry Meyssan mostra aqui que tudo isto não é a consequência acidental dos conflitos no Médio-Oriente alargado e em África, mas sim um objectivo estratégico dos Estados Unidos. or: Thierry Meyssan - ede Voltaire | Damasco (Síria) | 27 de Abril de 2015 - http://www.voltairenet.org/article187425.html.

Prezados Irmãos, 

Saúdo-vos com a saudação do Islão, "Assalam alai-kum", (que a Paz esteja convosco), que representa o sincero esforço dos crentes por estender o amor e a tolerância entre as pessoas, seja qual for o seu idioma, crença ou sociedade. Os dirigentes da União Europeia encontram-se subitamente confrontados com situações inesperadas. Por um lado, atentados ou tentativas de atentados perpetrados, ou reparados, por indivíduos que não pertencem a grupos políticos identificados; por outro lado um afluxo de migrantes, via mar Mediterrâneo, dos quais vários milhares morrem às suas portas.

Na ausência de análise estratégica, estes dois acontecimentos são considerados a priori como não tendo relação entre si e são tratados por administrações diferentes. Os primeiros recaem sobre os serviços de Inteligência e da polícia, os segundos sobre os serviços de alfândega e da Defesa. Ora, eles têm no entanto uma origem comum: a instabilidade política no Levante e em África.

Se os políticos da União Europeia tivessem viajado um pouquinho, não apenas no Iraque, na Síria, na Líbia, no Corno de África, na Nigéria e no Mali, mas também na Ucrânia, eles teriam visto com os seus próprios olhos a aplicação desta doutrina estratégica. Mas, eles contentaram-se em vir falar num prédio da Zona Verde em Bagda de, num palanque em Trípoli ou na praça Maidan de Kiev. Eles ignoram aquilo que as populações vivem e, a requisição do seu «Grande Irmão-big brother» fecharam muitas vezes as suas embaixadas de tal modo que se privaram de ter olhos e ouvidos no local. Melhor, eles subscreveram, sempre a requisição do seu «Grande Irmão», embargos, de modo que nenhum homem de negócios pudesse ir, nunca mais, até aos locais testemunhar o que acontecia por lá. 

Um número indeterminado de migrantes morreu no Mediterrâneo. Por vezes, as vagas depositam corpos nas praias italianas ou os controlos das alfândegas apreendem uma O caos não é um acaso, é o objectivo . Contrariamente ao que disse o presidente François Hollande, a migração de Líbios não é a consequência de uma «falta de acompanhamento» da operação «Protector unificado», mas o resultado pretendido por esta operação na qual o seu país desempenhou um papel de líder. O caos não se instalou porque os «revolucionários líbios» não se puseram de acordo entre si após a «queda» de Muammar el-Kadafi, ele era o objectivo estratégico dos Estados Unidos. E estes conseguiram atingi-lo. Não houve uma «revolução democrática» na Líbia, jamais, mas sim uma secessão da Cirenaica. Jamais houve uma aplicação do mandato da ONU visando «proteger a população», mas o massacre de 160.000 Líbios, três quartos dos quais civis, sob os bombardeamentos da Aliança (dados da Cruz-Vermelha Internacional).

Eu lembro-me, antes de me juntar ao governo da Jamahiriya Árabe Líbia, ter sido solicitado para servir de testemunha aquando de uma reunião em Trípoli, entre uma delegação dos EUA e representantes líbios. Durante esta longa reunião, o chefe da delegação dos EU explicou aos seus interlocutores que o Pentágono estava pronto a salvá- los de uma morte certa, mas exigia que o Guia lhe fosse entregue. Ele acrescentou que, quando el-Kaddafi estivesse morto, a sociedade tribal não conseguiria aceitar uma nova liderança antes de, pelo menos, uma geração,  o país seria então mergulhado num caos que jamais havia experimentado. Eu relatei esta conversação em numerosas ocasiões e não parei, desde o linchamento do Guia, em Outubro de 2011, de predizer aquilo que acontece hoje em dia.

A «teoria do caos»

Quando, em 2003, a imprensa norte-americana começou a referir a «teoria do caos», a Casa Branca ripostou evocando um «caos construtivo», insinuando que se iriam destruir estruturas de opressão para que a vida pudes-se fluir em liberdade. Mas jamais Leo Strauss, nem o Pentágono até então, haviam usado esta imagem. Pelo contrário, segundo les, o caos seria tal ordem que nada aí se pudesse estruturar, para além da vontade do Criador da Ordem nova, os Estados Unidos [3].

O princípio desta doutrina estratégica pode ser resumido assim: o modo mais simples para pilhar os recursos embarcação cheia de cadáveres. guerras do «Médio-Oriente Alargado», mas que são comandados por aqueles que, igualmente, comanditaram o caos nesta região. Nós preferimos continuar a pensar que os «islamitas» querem atacar os judeus e os cristãos, quando a imensa maioria das suas vítimas não são nem judias nem cristãs, mas muçulmanas. Com sobranceria, nós os acusamos de promover a «guerra de civilizações», quando o conceito foi forjado no seio do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos e é estranho à sua cultura [5].

- Nenhum dirigente europeu-ocidental, absolutamente nenhum, ousou publicamente considerar que a próxima etapa será a «islamização» das redes de distribuição de drogas como no modelo dos Contras da Nicarágua vendendo as drogas na comunidade negra da Califórnia com a ajuda e sob as ordens da CIA [6]. Nós decidimos ignorar que a família Karzai retirou a distribuição da heroína afegã à máfia Kosovar e a encaminhou para o Daesh (Exército Islâmico- ndT) [7].

Os Estados-Unidos jamais quiseram que a Ucrânia se junte à União As academias militares da União Europeia não estudaram a «teoria do caos», porque elas a isso foram interditas. Os poucos professores e pesquisadores que se aventuraram neste campo foram severamente sancionados, enquanto a imprensa qualificava de «conspiracionistas» os autores civis que a tal se interessavam.

Os políticos da União Europeia pensavam que os acontecimentos da praça Maidan eram espontâneos e que os manifestantes queriam deixar a órbita autoritária da Rússia e entrar no paraíso da União. Ficaram estupefatos aquando da publicação da conversa da subsecretária de Estado, 

Victoria Nuland, evocando o seu controlo secreto dos acontecimentos e afirmando que seu objectivo era o de «f...a União» (sic) [8]. A partir daquele momento, eles não compreenderam mais nada do que se estava a passar.

Se eles tivessem permitido a livre pesquisa em seus países, eles teriam percebido que, ao intervir na Ucrânia e aí ter organizado a «mudança de regime», os Estados Unidos asseguravam-se que a União Europeia permaneceria ao seu serviço. A grande angústia de Washington, após o discurso de Vladimir Putin na Conferência sobre a Segurança em Munique de 2007, é que a Alemanha perceba onde está o seu interesse: não com Washington, mas sim com Moscovo [9]. Ao destruir progressivamente o Estado Ucraniano, os Estados Unidos cortam a principal via de comunicação entre a União Europeia e a Rússia. Vós podeis virar e revirar, em todas as direções, a sucessão dos eventos, e não conseguireis achar-lhe um sentido diferente. Washington não deseja que a Ucrânia se junte à União, como o atestam as declarações da Srª. Nuland. O seu único objectivo é transformar este território numa zona de circulação perigosa.

A planificação militar do E.U.Eis-nos pois face a dois problemas que se desenvolvem muito rapidamente: os atentados «islamitas» apenas começaram. Os migrantes triplicaram no Mediterrâneo em apenas um único ano.

Se a minha análise for exata, nós vamos assistir ao longo da próxima década aos atentados «islamitas» ligados ao Médio-Oriente Alargado e à África, copiados como atentados «nazis» relacionadas com a Ucrânia. Descobriremos, então, 

[5] “O "choque de civilizações"”, Thierry Meyssan, Tradução Resistir.info, Rede Voltaire, 4 de Junho de 2004. [6] Dark Alliance, The CIA, the Contras and the crack cocaine explosion (Ing- «Aliança Maléfica, A Cia, os Contras e a explosão do tráfico de cocaina» - ndT), Gary Webb, foreword by Maxime Waters, Seven Stories Press, 1999. 7] «La famille Karzaï confie le trafic d’héroïne à l’Émirat islamique» (Fr- A Família Karzai e o tráfico de heroína para o Emirado islâmico» - ndT), Réseau Voltaire, 29 novembre 2014.[8] «Conversation entre l’assistante du secrétaire d’État et l’ambassadeur US en Ukraine» (Fr- «Conversa entre a assistente do secretário de Estado e o embaixador dos E.U. na Ucrânia» - ndT), par Andrey Fomin, Oriental Review (Russie), Réseau Voltaire, 7 février 2014.[9] “O carácter indivisível e universal da segurança global”, Vladimir Putin, Tradução Resistir.info, Rede Voltaire, 11 de Fevereiro de 2007.[10] O documento mantêm-se classificado, mas o seu conteúdo foi revelado em «US Strategy Plan Calls For Insuring No Rivals Develop» (Ing - «Plano Estratégico E.U. Exige a Certeza que Nenhum Rival se Desenvolva» - ndT), por Patrick E. Tyler, New York Times de 8 de março de 1992. O quotidiano publica igualmente extensos extractos na página 14: «Excerpts from Pentagon’s Plan: "Prevent the Re-Emergence of a New Rival"» (Ing - «Excertos do Plano do Pentágono: “Previna-se a Reemergência de um Novo Rival”» - ndT). Informações suplementares são publicadas em «Keeping the US First, Pentagon Would preclude a Rival Superpower» (Ing- «Mantendo os E.U. na Dianteira, o Pentágono Impediria um Rival como Superpoder» - ndT) por Barton Gellman, The Washington Post de 11 de março de 1992. [11] «Attaque contre l’euro et démantèlement de l’Union européenne» (Fr- «Ataque ao Euro e desmantelamento da União Europeia» - ndT), par Jean-Claude Paye, Réseau Voltaire, 6 juillet 2010.

Obrigado. Wassalam. 

M. Yiossuf Adamgy - 03/09/2015