Bismillah Arahman Arahim
Os coraixitas saíram para a batalha de Uhud não deixando atrás nenhum dos seus enumerados, nem os nobres, nem os de baixa condição, para encetarem a batalha contra Mohammad b. Abdullah (S). Seus corações estavam cheios de raiva e de ódio, e ferviam de desejo de se vingarem das suas perdas da batalha de Badr. Como se aquele número de homens não bastasse, levaram consigo as esposas e as filhas dos nobres da tribo. O papel destas era o de encorajarem os homens na batalha, “esporeando-os” à intrepidez e ao heroísmo, e reacenderem o entusiasmo, sempre que se enfraquecessem e negaceassem.
Entre as mulheres que foram para a batalha com os coraixitas, estavam a Hind b. Utba (a esposa de Abu Sufyan), a Raytah b. Sad (juntamente com seu marido), a Tal-ha, acompanhada dos seus três filhos, o Musafi, Al Julas, e o Kilab, juntamente com muitas outras mulheres. Quando a batalha entre os dois exércitos começou, a Hind b. Utba e as mulheres que estavam com ela se alinharam atrás das fileiras de soldados, batendo nos tamborins e entoando o seguinte cântico:
“Se fordes em frente, nós vos abraçaremos e disporemos almofadas para vós;
“Se recuardes, nós vos desertaremos, e nada de amor para vós!”
O cântico delas incitou os lutadores a uma maior intrepidez, sendo que o seu efeito foi como mágica para os seus respectivos maridos.
Quando a batalha chegou ao fim, e os coraixitas se saíram vitoriosos, as mulheres foram para a frente, intoxicadas com a excitação da vitória. Elas deram livre e devastador curso à ira, no campo de batalha, uivando de júbilo, conforme mutilavam hediondamente os corpos dos mortos. Elas os estripavam, arrancavam-lhes os olhos, cortavam fora suas orelhas e seus narizes. Uma delas sentiu que sua ira não estaria aplacada se não fizesse colares e braceletes daqueles gloriosos troféus, em vingança pelo seu pai, tio e irmão, todos eles tombados na batalha de Badr.
O que aconteceu com a Sulafah b. Sad foi diferente dos feitos das outras coraixitas. Ela estava ansiosa e inquieta, esperando pela volta do seu marido ou de um dos seus filhos, do campo de batalha. Queria saber como eles se haviam saído, para que pudesse juntar-se às suas amigas, na comemoração da vitória. Ao ver que sua longa espera não a estava levando a nada, ela se pôs a andar para cima e para baixo no campo de batalha, olhando para os rostos dos mortos. De súbito, ela deparou com o corpo do marido, encharcado de sangue. Ela pulou como uma leoa alarmada, e se pôs a correr em todas as direções, à procura dos seus filhos, Musafi, Al Julas e Kilab. Não demorou muito, e ela os encontrou jazendo no sopé do Monte Uhud. O Musafi e o Kilab já estavam mortos, mas ela viu que Al Julas ainda tinha um sopro de vida. A Sulafah se curvou sobre ele, que estava no limiar da morte, colocou a cabeça dele no seu colo, e lhe limpou o sangue da testa e da boca. Ela tinha os olhos secos por causa da catástrofe que se abatera sobre ela. Ela encostou o seu rosto no dele, e perguntou:
“Quem te cortou todo, ó meu filho?” Ele tentou responder, mas o sopro da morte embargou-lhe a garganta, impedindo-o de falar. Ela repetiu insistentemente a pergunta, e ele disse:
“Foi o Azim b. Sábit; foi ele, e ele matou o meu irmão Musafi e...” e ele morreu antes de terminar de falar.
A loucura tomou conta da Sulafah. Bramando e soluçando, ela jurou pelos ídolos Al Lat e Al Uzza que sua dor e seu pesar não iriam ser aplacados, a menos que os coraixitas se vingassem por ela, quanto ao Azim b. Sábit, levando-lhe o crânio dele, no qual ela iria beber vinho. Ela jurou que iria pagar a quem o pegasse, e lhe levasse o crânio dele, tanto dinheiro quanto desejasse.
Os coraixitas rapidamente souberam sobre ela, então, e cada jovem de Makka desejava que ele fosse o felizardo a pegar o Azim b. Sábit, apresentar a cabeça deste para a Sulafah, e receber o prêmio, em troca.
Após a batalha de Uhud, os muçulmanos voltaram para Madina. Puseram-se a comentar o que havia acontecido durante a batalha, invocando a misericórdia de Allah para os heróis que haviam sido martirizados, e louvando os bravos lutadores que permaneceram no campo, e perseveraram. O nome de Azim b. Sábit veio à baila, e todos estavam admirados de como ele havia conseguido matar três irmãos numa só batalha. Um dos presentes disse:
“Qual a causa da admiração? Acaso não estais lembrados de que, antes da batalha de Badr – quando o Mensageiro de Allah (S) nos perguntou como planejávamos lutar?–, o Azim b. Sábit ficou de pé para lhe responder, com o seu arco na mão, dizendo:
“‘Se o inimigo estiver a trinta metros de distância, irei usar flechas. Se estiverem ao alcance das nossas lanças, então será chegada a hora de duelarmos com eles até que as lanças se quebrem, para depois lutarmos mano a mano com nossas espadas.’
“E o Profeta (S) então disse:
“Eis a maneira de batalhar. Qualquer um que for lutar deverá lutar como o Azim b. Sábit.”
A batalha de Uhud mal havia ficado para trás dos muçulmanos, quando o Profeta (S) designou seis dos mais reputados Companheiros para irem numa missão, e deu o comando dela ao Azim b. Sábit. Aquele pequeno mas virtuoso grupo saiu para realizar sua tarefa, e os seis estavam numa estrada que não ficava longe de Makka, quando foram vistos por alguns homens da tribo de Hudhayl. Estes correram até eles, circundaram-nos e os rodearam tão de perto, que eles não tiveram como escapar. O Azim b. Sábit e os seus companheiros desembainharam as espadas, prontos para lutarem contra os inimigos que os rodeavam. Os de Hudhayl disseram para eles:
“Não há como vos defenderdes de nós, pois que não sois páreo para nós. Não pretendemos fazer-vos mal, e tendes a nossa promessa perante Allah que isso não faremos, caso vos rendais a nós.”
Os seis Companheiros olharam uns para os outros como se estivessem consultando-se mutuamente para verem o que iriam fazer, e o Azim b. Sábit disse:
“Não irei depender da promessa de um pagão!” Então, lembrando-se da jura de vingança contra ele, feita pela Sulafah, ele orou em voz alta:
“Ó Allah, eu luto em defesa da Tua religião; protege minhas carnes e meus ossos, para que não caiam nas mãos de qualquer dos Teus inimigos!”
Então ele atacou os de Hudhayl, seguido por dois dos seus camaradas, e continuaram a lutar, até que foram mortos, um após outro. Os restantes dos seus camaradas se renderam aos de Hudhayl, mas eles, também, foram impiedosamente traídos e mortos.
Primeiramente, os de Hudhayl não se deram conta de que entre suas vítimas estava o Azim b. Sábit. Mas quando um do grupo reconheceu-o e contou para os outros, eles ficaram alegres, antecipando o gozo de receberem uma vultosa quantia como recompensa pelo que haviam feito. Que poderiam esperar, depois que a Sulafah jurara que se pusesse as mãos no Azim b. Sábit, iria beber vinho do seu crânio? Não jurou ela que iria pagar a quem o levasse a ela, vivo ou morto, tanto dinheiro quanto desejasse?
Em poucas horas, a notícia da morte do Azim b. Sábit chegou ao Coraix, pois os de Hudhayl viviam numa área nos arredores de Makka. Os líderes dos coraixitas enviaram uma mensagem aos matadores do Azim, pedindo pela cabeça dele, para que pudessem aplacar a raiva da Sulafah b. Sad, e fazer com que ela cumprisse o seu juramento. Eles esperavam aliviá-la do seu pesar pelos seus três filhos que morreram lutando com o Azim b. Sábit.
Os coraixitas fizeram com que o mensageiro levasse consigo uma grande quantia em dinheiro e lhe disseram que pagasse generosamente em troca da cabeça do Azim.
Os de Hudhayl foram para perto do corpo do Azim, a fim de lhe cortarem a cabeça, mas viram que um enxame de abelhas e de marimbondos havia pousado sobre ele, rodeando-o por todos os lados. Por mais cuidadosamente que tentavam se aproximar do corpo, as vespas voavam e pousavam nos seus rostos e pelos seus corpos, fazendo com que ficassem longe. Após terem tentado inúmeras vezes, e perdido as esperanças, um deles sugeriu:
“Deixemo-lo até que caia a noite; quando escurecer, as abelhas irão embora, deixando-o para nós.”
Então eles se sentaram ali por perto, e esperaram. Porém, quando o dia terminou e o crepúsculo começou a se fazer presente, o céu se encheu de pesadas e escuras nuvens. O tempo se tornava ameaçador, à medida em que os trovões ribombavam, e a chuva começou a cair duma maneira jamais vista, mesmo pelos mais velhos da tribo. As enxurradas se juntaram e se puseram a correr pelas ravinas e pelas áreas mais baixas, enquanto as torrentes rugiam, correndo pelos leitos secos dos rios. Toda a área foi inundada como se uma represa se tivesse rompido.
Quando a manhã finalmente chegou, os de Hudhayl procuraram por toda parte o corpo do Azim b. Sábit, mas não encontram nem vestígios. A enchente o levara para longe, para além do alcance deles.
Desse modo, eis que Allah respondeu as orações do Azim b. Sábit, pois Ele evitou que o seu corpo puro fosse mutilado, e protegeu o crânio dele de ser aviltado, de ser usado por uma pagã para beber vinho. Em suma, Ele evitou que os pagãos tivessem algum motivo para se vangloriarem, em detrimento aos crédulos.
“Qualquer um que lutar deverá lutar como o Azim bin Sábit.” (Mohammad b. Abdullah {SAAS})
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"São aqueles aos quais foi dito: Os inimigos concentraram-se contra vós; temei-os! Isso aumentou-lhes a fé e disseram: Allah nos é suficiente. Que excelente Guardião! Pela mercê e pela graça de Deus, retornaram ilesos. Seguiram o que apraz a Deus; sabei que Allah é Agraciante por excelência." (03: 173-174)
يُرِيدُونَ أَن يطفئوا نُورَ اللّهِ بِأَفْوَاهِهِمْ وَيَأْبَى اللّهُ إِلاَّ أَن يُتِمَّ نُورَهُ وَلَوْ كَرِهَ الْكَافِرُونَ
......Desejam em vão extinguir a Luz de Deus com as suas bocas; porém, Deus nada permitirá, e aperfeiçoará a Sua Luz, ainda que isso desgoste os incrédulos!
Mohamad ziad -محمد زياد
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Dr. Abdulrahman Ráafat Bacha
Tradução: Prof. Samir El Hayek