Dr. Abdulrahman Ráafat Bacha
Tradução: Prof. Samir El Hayek
“Que Allah tenha misericórdia de Khabbab; ele abraçou o Islam com todo o seu coração, realizou a Égira espontaneamente, e viveu a vida como um mujahid.” (Áli b. Abi Tálib)
A Umm Anmar, procedente do clã dos Khuzá, vagava pelo mercado de escravos de Makka, pois desejava comprar um rapaz que a iria servir e lhe trazer um pouco de lucro, com o seu trabalho. Cuidadosamente ela escrutava os rostos dos escravos que estavam à venda, e, por fim, decidiu-se por um rapaz que ainda não tinha chegado à puberdade. Parecia ser a melhor escolha, pois ele estava estourando de boa saúde, e parecia ser inteligente. Pagando por ele, ela o levou para sua casa. Enquanto estavam caminhando, ela perguntou:
“Qual o teu nome, filho?” “Khabbab.”
“Qual o nome do teu pai?” “Al Arat.”
“De onde és?” “De Najd.”
“Então és árabe!” ela exclamou.
“Sim, eu procedo dos Banu Tamim”, ele respondeu.
“E como vieste cair nas mãos dos mercadores de escravos?” ela perguntou.
“Nossas terras tribais foram invadidas por uma tribo beduína; eles pegaram os nossos animais domésticos, raptaram as mulheres, e vanderam as crianças como escravas. Eu era uma das crianças, e fui vendido e revendido, até que acabei na tua posse, aqui em Makka.
A Umm Anmar mandou o seu novo escravo para a oficina de um ferreiro, em Makka, para que ele pudesse aprender o ofício dele, que era o de fazer espadas. Bem logo ele se tornou tão perito em fazer espadas, que se igualava ao seu professor. Após ele se tornar um pouco mais velho e forte, a Umm Anmar comprou uma oficina e todas as ferramentas necessárias pera o novo ofício do Khabbab, e o pôs a trabalhar na frágua. Ele teve sucesso, e a Umm Anmar começou a colher os frutos financeiros da confecção de espadas do rapaz. Ele se tornou famoso em Makka, sendo que as pessoas apinhavam a sua oficina, não apenas por causa da suas espadas lindamente feitas, mas porque ele era confiável, e honesto nos tratos comerciais.
Embora o Khabbab fosse ainda um tanto jovem, possuía a inteligência e maturidade de um homem na sua planitude, e a sabedoria de um encanecido. Quando o seu período de trabalho terminava, sentava-se, só, e refletia sobre a sociedade em que vivia. Era uma sociedade de al jahiliya, embebida em decadência e corrupção. Ficava consternado com a cega ignorância daquele desnortedo povo, e não podia esquecer-se de que a sua escravização tinha sido o resultado da anarquia que dominava a Arábia daquele tempo. Dizia consigo memsmo:
“Esta longa noite deverá ter fim!” e esperava que fosse viver bastante para testemunhar o nascimento de uma nova era.
Na realidade, o Khabbab não teve que esperar muito tempo, pois logo ouviu a notícia de que um raio de esperança aparecera no horizonte. Tratava-se da notícia de que um jovem do clã dos Banu Háchim, chamado Mohammad b. Abdullah (S), estava a conclamar o povo para algo novo. Khabbab o procurou, na primeira oportunidade, e ouviu o que ele estava pregando. Ele ficou pasmádo pela beleza e verdade da Divina mensagem, e estendeu a mão para o Profeta (S), em declaração do testemunho de fé, dizendo:
“Presto testemunho de que não há outra divindade além de Allah, e que Mohammad (S) é o Seu servo e Mensageiro.”
Ele foi o sexto indivíduo a aceitar o Islam, e foi dito dele, mais tarde, que, por um período de tempo, ele constituía um sexto da comunidade do Islam.
Khabbab não fez segredo quanto à sua conversão ao Islam, e a Umm Anmar foi a primeira pessoa a saber daquilo. Ela se encheu de fúria, e mandou chamar o seu irmão, o Siba b. Abd al Uzza. Seguido por uns membros do clã dos Khuza’a, foram para a oficina, onde encontraram o Khabbab absorto em seu trabalho. Siba o confrontou, dizendo:
“Ouvimos uma coisa inacreditável sobre ti!”
“Que foi?” perguntou o Khabbab.
“Todos estão a dizer que te tornaste herético, e que passaste a acreditar naquele rapaz(Rapaz – desrespeito ao Profeta (S) que, naquela altura, tinha 40 anos) dos Banu Háchim!”
“Eu não me tornei herético, mas passei a crer no Allah Único, sem ninguém a se associar a Ele. Pus de lado a crença nos vossos ídolos, e prestei testemunho de que Mohammad (S) é o servo e Mensageiro de Allah.”
Logo que o Khabbab acabou de dizer aquilo, o Siba e sua turma pegaram o jovem, bateram nele, chutaram-no, e arremesaram as ferramentas contra ele, até que ele perdeu a consciência, e ficou estendido no chão a sangrar.
Logo todos da cidade de Makka ouviram dizer da conversão do Khabbab. Como um relâmpago, a notícia de como um mero escravo havia desafiado sua própria ama se espalhou; era a primeira vez que alguém se havia adiantado, declarando, intrépida e abertamente, que tinha aceitado a religião pregada por Mohammad (S).
Até os chefes do Coraix ficaram abalados pela notícia sobre Khabbab. Estava além das mais desenfreadas imaginações deles o fato de que um ferreiro, que era apenas um escravo pertencente à Umm Anmar, sem parentes para o protegerem, nem tribo para lhe dar abrigo, pudesse ser tão arrojado ao ponto de desafiar a autoridade dela, e tratar com desprezo os ídolos e o culto dos ancestrais dela. Eles estavam certos de que um evento tal podia ter conseqüências abrangentes. E eles não estavam errados, porque a coragem de Khabbab fez com que um grande número dos seus companheiros anunciasse sua crença na mensagem da verdade.
Os líderes do Coraix se reuniram na Caaba, liderados por Abu Sufyan b. Háris, Al Walid b. al Mughira, e Abu Jahl b. Hicham. Discutiram a questão sobre Mohammad (S), e concordaram com que ela se estava tornando séria, num curto espaço de tempo, e não havia um fim visível. Concordaram em lidar com o problema, e pôr um fim ao Islam, antes que este se disseminasse pela sociedade, e por fazerem com que cada tribo fosse responsável pelos seus membros que se convertessem. Essa tribo deveria perseguir os convertidos, até que estes ou abjurassem suas crenças, ou morressem. Certamente, o mister de perseguir o Khabbab foi para o lado do Abd al Uzza e do seu bando de desordeiros. O método de o torturarem era esperarem até ao meio-dia, quando o calor do sol era tão intenso, que podia atear fogo à relva. Então eles levavam o Khabbab para uma clareira, despiam-no, e o vestiam com uma armadura. Deixavam-no ao calor, até que estivesse quase a morrer de sede, e então o interrogavam:
“Que dizes acerca de Mohammad (S), agora?”
“Digo que ele é o servo de Allah e o Seu Mensageiro, e que nos trouxe a religião da diretriz e da verdade, para nos tirar das trevas e nos levar para a luz.”
Batiam nele de modo brutal, antes de lhe perguntarem:
“E que tens a dizer sobre Al Lat e Al Uzza(Al Lat e Al Uzza – dois dos ídolos de Makka. Al Lat era uma pedra assentada no velho túmulo de um homem chamado Al Lat; e Al Uzza era uma árvore dedicada ao planeta Vênus.)?”
“São dois ídolos surdos e mudos, incapazes de causar mal e fazer o bem”, era a sua resposta. Então eles pegavam pedras de enxofre que haviam sido aquecidas numa fogueira, e as pertavam contra as costas dele, até que suas costas e seus ombros ficassem em carne viva.
A Umm Ammar não ficava atrás do seu irmão, quanto à crueldade contra o Khabbab. Um dia, ela viu o Mensageiro de Deus (S) passando pela oficina dela, e o viu parar e conversar com o rapaz. Com aquilo, sua fúria não teve limites, e fez do ato de pegar uma barra de metal ao rubro e o marcar na cabeça, sua prática diária. Conforme a carne dele se dilacerava e ele caía ao chão, desmaiando, ele orava em voz alta para que Allah Se vingasse dela e do Siba.
Quando o Profeta (S) anunciou aos seus companheiros a decisão de permitir que emigrassem para Madina, o Khabbab começou a se preparar para juntar-se aos crédulos, naquela hégira. Antes de deixar Makka, entretanto, ele soube que Allah havia respondido as suas orações, e repagado a Umm Anmar por sua crueldade. Ela começou a sentir dores de cabeça, de cujas agudezas jamais se ouvira falar. Eram tão agudas, que os berros dela, por causa da dor, pareciam os uivos de um cão. O filho dela começou a levá-la de um médico a outro, na busca da cura, e foi-lhe dito que a única cura para ela seria a cauterização da sua cabeça, e que a dor do rubro metal queimente iria fazer com que esquecesse as dores de cabeça.
Quando o Khabbab estava finalmente a salvo, em Madina, foi capaz de desfrutar do descanso que lhe havia sido negado por tanto tempo. Foi capaz de desfrutar da companhia do Profeta (S), sem passar por qualquer contrariedade que pudesse dilapidar a sua felicidade. Sob o estandarte do Profeta (S), o Khabbab lutou na batalha de Badr. Na batalha de Uhud, Allah permitiu que ele testemunhasse a morte do seu atormentador, o Siba, a lutar contra o Hamza b. Abdul Muttalib, o “leão de Allah”. Ele viveu o bastante para testemunhar as lideranças dos quatro califas(Califas de conduta reta (al khulafa al rashidun) – os que foram os líderes da comunidade muçulmana após à morte do Profeta (S): Abu Bakr, Ômar b. al Khattab, Otman b. Affan, e Áli b. Abi Tálib) de contdutas retas, que, de acordo com ele, mereciam toda a honra e todo o respeito.
Um dia, o Khabbab entrou na assembléia de Ômar b. al Khattab, que era califa na ocasião, e que teve óbvia pressa em fazer com que se sentasse no melhor lugar, dizendo:
“Somente o Bilal seria merecedor desse lugar.” Ômar quis saber dele qual havia sido a pior parte da perseguição nas mãos dos pagãos. Por timidez, o Khabbab não quis em princípio responder. Quando o Ômar se tornou insistente, Khabbab tirou o manto das costas e mostrou para o Ômar o quão desfigurado estava. Ômar recuou espantado, e perguntou:
“Como isso aconteceu a ti?”
Khabbab respondeu:
“Os pagãos faziam uma fogueira e esperavam até que as madeiras se queimassem todas e só restassem as brasas; depois me despiam e me arrastavam para lá e para cá sobre o braseiro, até que minha carne se destacasse dos meus ossos, e o fogo fosse apagado pelo líquido que saía dos meus ferimentos.”
No último período da sua vida, o Khabbab se tornou rico, após ter passado uma vida inteira de pobreza. Veio a possuir ouro e prata, em quantidades que ele jamais sonhara ter. De como ele dispunha do seu dinheiro, era algo que ninguém jamais imaginara. Ele guardava suas moedas e numismas num local da sua casa que era conhecido dos pobres e indigentes. Ele não tinha o dinheiro guardado ou trancafiado, sendo que as pessoas iam a sua casa e se serviam do que precisassem. Ele nem mesmo esperava que elas pedissem permissão. A despeito de toda aquela liberalidade, o Khabbab ainda temia que a sua riqueza o afastasse da recompensa da Vida Futura, e que fosse motivo para ele ser punido.
Alguns dos seus companheiros foram ao seu quarto, quando ele estava no seu leito de morte, e ele lhes disse:
“Há oito mil dirhams ali (e ele apontou); eles não estão escondidos, e sabei que eu nunca decepcionei ninguém que me pedisse dinheiro”, e então começou a chorar.
“Que é que te faz chorar, ó Khabbab?” perguntaram-lhe.
“Estou chorando porque meus companheiros que já morreram seguiram seus caminhos sem receberem qualquer recompensa nesta vida terrena. Eu adquiri esta riqueza e tenho vivido dela, e temo que esta seja a minha recompensa, que estive a receber pelos meus feitos, sem nada para mim, na Vida Futura!”
Quando o Khabbab passou desta vida para a Futura, o califa Áli b. Abi Tálib se postou no túmulo do Companheiro, e disse:
“Que Allah tenha misericórdia de Khabbab; ele abraçou o Islam com todo o seu coração, realizou a hégira espontaneamente, e viveu sua vida como um mujahid. Allah nunca irá reduzir a recompensa a alguém que praticou tantos feitos de retidão!”
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"São aqueles aos quais foi dito: Os inimigos concentraram-se contra vós; temei-os! Isso aumentou-lhes a fé e disseram: Allah nos é suficiente. Que excelente Guardião! Pela mercê e pela graça de Deus, retornaram ilesos. Seguiram o que apraz a Deus; sabei que Allah é Agraciante por excelência." (03: 173-174)
يُرِيدُونَ أَن يطفئوا نُورَ اللّهِ بِأَفْوَاهِهِمْ وَيَأْبَى اللّهُ إِلاَّ أَن يُتِمَّ نُورَهُ وَلَوْ كَرِهَ الْكَافِرُونَ
......Desejam em vão extinguir a Luz de Deus com as suas bocas; porém, Deus nada permitirá, e aperfeiçoará a Sua Luz, ainda que isso desgoste os incrédulos!
Mohamad ziad -محمد زياد
Tradução: Prof. Samir El Hayek
“Que Allah tenha misericórdia de Khabbab; ele abraçou o Islam com todo o seu coração, realizou a Égira espontaneamente, e viveu a vida como um mujahid.” (Áli b. Abi Tálib)
A Umm Anmar, procedente do clã dos Khuzá, vagava pelo mercado de escravos de Makka, pois desejava comprar um rapaz que a iria servir e lhe trazer um pouco de lucro, com o seu trabalho. Cuidadosamente ela escrutava os rostos dos escravos que estavam à venda, e, por fim, decidiu-se por um rapaz que ainda não tinha chegado à puberdade. Parecia ser a melhor escolha, pois ele estava estourando de boa saúde, e parecia ser inteligente. Pagando por ele, ela o levou para sua casa. Enquanto estavam caminhando, ela perguntou:
“Qual o teu nome, filho?” “Khabbab.”
“Qual o nome do teu pai?” “Al Arat.”
“De onde és?” “De Najd.”
“Então és árabe!” ela exclamou.
“Sim, eu procedo dos Banu Tamim”, ele respondeu.
“E como vieste cair nas mãos dos mercadores de escravos?” ela perguntou.
“Nossas terras tribais foram invadidas por uma tribo beduína; eles pegaram os nossos animais domésticos, raptaram as mulheres, e vanderam as crianças como escravas. Eu era uma das crianças, e fui vendido e revendido, até que acabei na tua posse, aqui em Makka.
A Umm Anmar mandou o seu novo escravo para a oficina de um ferreiro, em Makka, para que ele pudesse aprender o ofício dele, que era o de fazer espadas. Bem logo ele se tornou tão perito em fazer espadas, que se igualava ao seu professor. Após ele se tornar um pouco mais velho e forte, a Umm Anmar comprou uma oficina e todas as ferramentas necessárias pera o novo ofício do Khabbab, e o pôs a trabalhar na frágua. Ele teve sucesso, e a Umm Anmar começou a colher os frutos financeiros da confecção de espadas do rapaz. Ele se tornou famoso em Makka, sendo que as pessoas apinhavam a sua oficina, não apenas por causa da suas espadas lindamente feitas, mas porque ele era confiável, e honesto nos tratos comerciais.
Embora o Khabbab fosse ainda um tanto jovem, possuía a inteligência e maturidade de um homem na sua planitude, e a sabedoria de um encanecido. Quando o seu período de trabalho terminava, sentava-se, só, e refletia sobre a sociedade em que vivia. Era uma sociedade de al jahiliya, embebida em decadência e corrupção. Ficava consternado com a cega ignorância daquele desnortedo povo, e não podia esquecer-se de que a sua escravização tinha sido o resultado da anarquia que dominava a Arábia daquele tempo. Dizia consigo memsmo:
“Esta longa noite deverá ter fim!” e esperava que fosse viver bastante para testemunhar o nascimento de uma nova era.
Na realidade, o Khabbab não teve que esperar muito tempo, pois logo ouviu a notícia de que um raio de esperança aparecera no horizonte. Tratava-se da notícia de que um jovem do clã dos Banu Háchim, chamado Mohammad b. Abdullah (S), estava a conclamar o povo para algo novo. Khabbab o procurou, na primeira oportunidade, e ouviu o que ele estava pregando. Ele ficou pasmádo pela beleza e verdade da Divina mensagem, e estendeu a mão para o Profeta (S), em declaração do testemunho de fé, dizendo:
“Presto testemunho de que não há outra divindade além de Allah, e que Mohammad (S) é o Seu servo e Mensageiro.”
Ele foi o sexto indivíduo a aceitar o Islam, e foi dito dele, mais tarde, que, por um período de tempo, ele constituía um sexto da comunidade do Islam.
Khabbab não fez segredo quanto à sua conversão ao Islam, e a Umm Anmar foi a primeira pessoa a saber daquilo. Ela se encheu de fúria, e mandou chamar o seu irmão, o Siba b. Abd al Uzza. Seguido por uns membros do clã dos Khuza’a, foram para a oficina, onde encontraram o Khabbab absorto em seu trabalho. Siba o confrontou, dizendo:
“Ouvimos uma coisa inacreditável sobre ti!”
“Que foi?” perguntou o Khabbab.
“Todos estão a dizer que te tornaste herético, e que passaste a acreditar naquele rapaz(Rapaz – desrespeito ao Profeta (S) que, naquela altura, tinha 40 anos) dos Banu Háchim!”
“Eu não me tornei herético, mas passei a crer no Allah Único, sem ninguém a se associar a Ele. Pus de lado a crença nos vossos ídolos, e prestei testemunho de que Mohammad (S) é o servo e Mensageiro de Allah.”
Logo que o Khabbab acabou de dizer aquilo, o Siba e sua turma pegaram o jovem, bateram nele, chutaram-no, e arremesaram as ferramentas contra ele, até que ele perdeu a consciência, e ficou estendido no chão a sangrar.
Logo todos da cidade de Makka ouviram dizer da conversão do Khabbab. Como um relâmpago, a notícia de como um mero escravo havia desafiado sua própria ama se espalhou; era a primeira vez que alguém se havia adiantado, declarando, intrépida e abertamente, que tinha aceitado a religião pregada por Mohammad (S).
Até os chefes do Coraix ficaram abalados pela notícia sobre Khabbab. Estava além das mais desenfreadas imaginações deles o fato de que um ferreiro, que era apenas um escravo pertencente à Umm Anmar, sem parentes para o protegerem, nem tribo para lhe dar abrigo, pudesse ser tão arrojado ao ponto de desafiar a autoridade dela, e tratar com desprezo os ídolos e o culto dos ancestrais dela. Eles estavam certos de que um evento tal podia ter conseqüências abrangentes. E eles não estavam errados, porque a coragem de Khabbab fez com que um grande número dos seus companheiros anunciasse sua crença na mensagem da verdade.
Os líderes do Coraix se reuniram na Caaba, liderados por Abu Sufyan b. Háris, Al Walid b. al Mughira, e Abu Jahl b. Hicham. Discutiram a questão sobre Mohammad (S), e concordaram com que ela se estava tornando séria, num curto espaço de tempo, e não havia um fim visível. Concordaram em lidar com o problema, e pôr um fim ao Islam, antes que este se disseminasse pela sociedade, e por fazerem com que cada tribo fosse responsável pelos seus membros que se convertessem. Essa tribo deveria perseguir os convertidos, até que estes ou abjurassem suas crenças, ou morressem. Certamente, o mister de perseguir o Khabbab foi para o lado do Abd al Uzza e do seu bando de desordeiros. O método de o torturarem era esperarem até ao meio-dia, quando o calor do sol era tão intenso, que podia atear fogo à relva. Então eles levavam o Khabbab para uma clareira, despiam-no, e o vestiam com uma armadura. Deixavam-no ao calor, até que estivesse quase a morrer de sede, e então o interrogavam:
“Que dizes acerca de Mohammad (S), agora?”
“Digo que ele é o servo de Allah e o Seu Mensageiro, e que nos trouxe a religião da diretriz e da verdade, para nos tirar das trevas e nos levar para a luz.”
Batiam nele de modo brutal, antes de lhe perguntarem:
“E que tens a dizer sobre Al Lat e Al Uzza(Al Lat e Al Uzza – dois dos ídolos de Makka. Al Lat era uma pedra assentada no velho túmulo de um homem chamado Al Lat; e Al Uzza era uma árvore dedicada ao planeta Vênus.)?”
“São dois ídolos surdos e mudos, incapazes de causar mal e fazer o bem”, era a sua resposta. Então eles pegavam pedras de enxofre que haviam sido aquecidas numa fogueira, e as pertavam contra as costas dele, até que suas costas e seus ombros ficassem em carne viva.
A Umm Ammar não ficava atrás do seu irmão, quanto à crueldade contra o Khabbab. Um dia, ela viu o Mensageiro de Deus (S) passando pela oficina dela, e o viu parar e conversar com o rapaz. Com aquilo, sua fúria não teve limites, e fez do ato de pegar uma barra de metal ao rubro e o marcar na cabeça, sua prática diária. Conforme a carne dele se dilacerava e ele caía ao chão, desmaiando, ele orava em voz alta para que Allah Se vingasse dela e do Siba.
Quando o Profeta (S) anunciou aos seus companheiros a decisão de permitir que emigrassem para Madina, o Khabbab começou a se preparar para juntar-se aos crédulos, naquela hégira. Antes de deixar Makka, entretanto, ele soube que Allah havia respondido as suas orações, e repagado a Umm Anmar por sua crueldade. Ela começou a sentir dores de cabeça, de cujas agudezas jamais se ouvira falar. Eram tão agudas, que os berros dela, por causa da dor, pareciam os uivos de um cão. O filho dela começou a levá-la de um médico a outro, na busca da cura, e foi-lhe dito que a única cura para ela seria a cauterização da sua cabeça, e que a dor do rubro metal queimente iria fazer com que esquecesse as dores de cabeça.
Quando o Khabbab estava finalmente a salvo, em Madina, foi capaz de desfrutar do descanso que lhe havia sido negado por tanto tempo. Foi capaz de desfrutar da companhia do Profeta (S), sem passar por qualquer contrariedade que pudesse dilapidar a sua felicidade. Sob o estandarte do Profeta (S), o Khabbab lutou na batalha de Badr. Na batalha de Uhud, Allah permitiu que ele testemunhasse a morte do seu atormentador, o Siba, a lutar contra o Hamza b. Abdul Muttalib, o “leão de Allah”. Ele viveu o bastante para testemunhar as lideranças dos quatro califas(Califas de conduta reta (al khulafa al rashidun) – os que foram os líderes da comunidade muçulmana após à morte do Profeta (S): Abu Bakr, Ômar b. al Khattab, Otman b. Affan, e Áli b. Abi Tálib) de contdutas retas, que, de acordo com ele, mereciam toda a honra e todo o respeito.
Um dia, o Khabbab entrou na assembléia de Ômar b. al Khattab, que era califa na ocasião, e que teve óbvia pressa em fazer com que se sentasse no melhor lugar, dizendo:
“Somente o Bilal seria merecedor desse lugar.” Ômar quis saber dele qual havia sido a pior parte da perseguição nas mãos dos pagãos. Por timidez, o Khabbab não quis em princípio responder. Quando o Ômar se tornou insistente, Khabbab tirou o manto das costas e mostrou para o Ômar o quão desfigurado estava. Ômar recuou espantado, e perguntou:
“Como isso aconteceu a ti?”
Khabbab respondeu:
“Os pagãos faziam uma fogueira e esperavam até que as madeiras se queimassem todas e só restassem as brasas; depois me despiam e me arrastavam para lá e para cá sobre o braseiro, até que minha carne se destacasse dos meus ossos, e o fogo fosse apagado pelo líquido que saía dos meus ferimentos.”
No último período da sua vida, o Khabbab se tornou rico, após ter passado uma vida inteira de pobreza. Veio a possuir ouro e prata, em quantidades que ele jamais sonhara ter. De como ele dispunha do seu dinheiro, era algo que ninguém jamais imaginara. Ele guardava suas moedas e numismas num local da sua casa que era conhecido dos pobres e indigentes. Ele não tinha o dinheiro guardado ou trancafiado, sendo que as pessoas iam a sua casa e se serviam do que precisassem. Ele nem mesmo esperava que elas pedissem permissão. A despeito de toda aquela liberalidade, o Khabbab ainda temia que a sua riqueza o afastasse da recompensa da Vida Futura, e que fosse motivo para ele ser punido.
Alguns dos seus companheiros foram ao seu quarto, quando ele estava no seu leito de morte, e ele lhes disse:
“Há oito mil dirhams ali (e ele apontou); eles não estão escondidos, e sabei que eu nunca decepcionei ninguém que me pedisse dinheiro”, e então começou a chorar.
“Que é que te faz chorar, ó Khabbab?” perguntaram-lhe.
“Estou chorando porque meus companheiros que já morreram seguiram seus caminhos sem receberem qualquer recompensa nesta vida terrena. Eu adquiri esta riqueza e tenho vivido dela, e temo que esta seja a minha recompensa, que estive a receber pelos meus feitos, sem nada para mim, na Vida Futura!”
Quando o Khabbab passou desta vida para a Futura, o califa Áli b. Abi Tálib se postou no túmulo do Companheiro, e disse:
“Que Allah tenha misericórdia de Khabbab; ele abraçou o Islam com todo o seu coração, realizou a hégira espontaneamente, e viveu sua vida como um mujahid. Allah nunca irá reduzir a recompensa a alguém que praticou tantos feitos de retidão!”
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"São aqueles aos quais foi dito: Os inimigos concentraram-se contra vós; temei-os! Isso aumentou-lhes a fé e disseram: Allah nos é suficiente. Que excelente Guardião! Pela mercê e pela graça de Deus, retornaram ilesos. Seguiram o que apraz a Deus; sabei que Allah é Agraciante por excelência." (03: 173-174)
يُرِيدُونَ أَن يطفئوا نُورَ اللّهِ بِأَفْوَاهِهِمْ وَيَأْبَى اللّهُ إِلاَّ أَن يُتِمَّ نُورَهُ وَلَوْ كَرِهَ الْكَافِرُونَ
......Desejam em vão extinguir a Luz de Deus com as suas bocas; porém, Deus nada permitirá, e aperfeiçoará a Sua Luz, ainda que isso desgoste os incrédulos!
Mohamad ziad -محمد زياد
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