sexta-feira, novembro 28, 2014

A Mentalidade Aberta do Islão

Prezados Irmãos,

Assalamu Alaikum:

Foram as capacidades desenvolvidas pelo entendimento islâmico que permitiram que os muçulmanos sem uma cultura científica a tal ponto avançada. Uma dessas capacidades era, tal como já referimos, a motivação de conhecer o universo e a natureza de acordo com os princípios do Islão. Outra capacidade desenvolvida pelo Islão foi a abertura de espírito. A verdade é que tanto a sabedoria do Alcorão como os ensinamentos proféticos facultaram aos muçulmanos uma visão global do mundo, ultrapassando todas as fronteiras culturais. No Alcorão, Deus afirma:


"Ó Humanidade! Fizemos-vos homem e mulher e distribuímos-vos por povos e tribos, para que pudessem conhecer-se uns aos outros." (Alcorão, 49:13).


Este versículo incita claramente ao enraizamento de relações culturais entre diferentes nações e comunidades. Noutro versículo do Alcorão, afirma-se o seguinte: "Tanto o Oriente como o Ocidente pertencem a Allah." (2:115). Assim sendo, os muçulmanos devem ter uma visão universalista e cosmopolita do universo. 

Os ahadith ou ditos do Profeta Muhammad (p.e.c.e.) incitam, igualmente, a este tipo de abordagem. Num hadith muito conhecido, o Profeta (p.e.c.e.) diz o seguinte aos muçulmanos: 

"A sabedoria é o bem perdido dos muçulmanos; eles adquirem-na onde quer que a encontrem." 

Ora, o significado deste hadith é que os muçulmanos devem ser pragmáticos e ter a abertura de espírito para se adaptarem, recorrendo aos avanços culturais e científicos alcançados pelos não-muçulmanos, pois estes são igualmente criaturas e servos de Deus, mesmo que não o reconheçam. O "Povo do Livro", ou seja, os cristãos e judeus, são particularmente com-patíveis com os muçulmanos, pois acreditam em Deus e obedecem ao código moral que Ele revelou ao ser humano.

Na ascensão da ciência islâmica, a importância desta mentalidade aberta foi bastante óbvia. John Esposito, da Universidade de Georgetown, um dos mais proeminentes especialistas ocidentais no Islão, fez o seguinte comentário:

«A gênese da civilização islâmica surgiu, na verdade, de um esforço no sentido da cooperação, incorporando a aprendizagem e a sabedoria de muitas culturas e línguas». Tal como aconteceu na administração do governo, os cristãos e os judeus, que haviam sido a trave mestra em termos intelectuais e burocráticos dos impérios persa e bizantino, também integraram este processo, em colaboração com os muçulmanos. Este esforço "ecumênico" tornou-se evidente na Casa de Sabedoria do Califa al-Mamun (reinou entre 813-33) e no Centro de Tradução dirigido por um reconhecido escolástico de nome Hunayn ibn Isaq, um cristão nestoriano. A este período de tradução e assimilação seguiu-se uma fase de criatividade intelectual e artística muçulmana. Os muçulmanos deixaram de ser discípulos e tornaram-se mestres durante o processo da criação da civilização islâmica, dominada pela língua árabe e pela perspectiva islâmica, dando um importante contributo em muitas áreas, tais como: literatura e filosofia, álgebra e geometria, ciência e medicina, arte e arquitetura. Com efeito, os grandes centros culturais de Córdoba, Bagdad, Cairo, Neishabur e Palermo surgiram e ofuscaram a Europa cristã, na época embrenhada na Idade das Trevas. [1]

Segundo Seyyed Hossein Nasr, um dos mais proeminentes acadêmicos muçulmanos da nossa era, a ciência islâmica foi "a primeira ciência a ter uma natureza verdadeiramente internacional".[2]

Ainda assim, os muçulmanos não se limitaram a incorporar outras culturas, tendo igualmente desenvolvido a sua própria cultura. Alguns teóricos desvalorizam este facto e procuram associar o desenvolvimento científico muçulmano apenas à influência da Grécia Antiga e do Extremo Oriente. No entanto, as verdadeiras fontes da ciência islâmica foram a experimentação e as observações dos cientistas muçulmanos. No seu livro O Médio Oriente, o professor Bernard Lewis, um incontestado especialista em história do Médio Oriente, expôs o seguinte:

"A ciência islâmica medieval não se limitou a conseguir a preservação do saber grego, nem à incorporação no seu corpus de elementos provenientes de um Oriente ainda mais remoto e antigo. A herança que a ciência medieval islâmica transmitiu ao mundo moderno foi enormemente enriquecida pelo seu próprio empenho e contribuição. A ciência grega, em termos gerais, tendia a ser um pouco teórica, ao contrário da ciência medieval do Médio Oriente, que era muito mais prática. 

E a verdade é que em áreas como a medicina, a química, a astronomia e a agronomia, o legado dos Clássicos foi clarificado e complementado pelas experiências e estudo da ciência medieval do Médio Oriente”. [1]

Tal como é referido pelos ocidentais, a avançada cultura científica do mundo islâmico abriu caminho ao Renascimento Ocidental. Os cientistas muçulmanos agiam com o conhecimento de que a sua investigação relativamente à criação de Deus era o caminho que poderiam percorrer para O conhecer. 

Esposito salienta que: "Os cientistas muçulmanos, que frequentemente eram também filósofos e místicos, observavam o universo físico de acordo com o contexto e a perspectiva islâmica, enquanto uma manifestação da presença de Deus, o Criador, a fonte, a unidade e a harmonia na natureza." [2]

Com a transferência deste paradigma e a acumulação de conhecimento que, através dele, perpassou para o mundo ocidental, iniciou-se o desenvolvimento do Ocidente.


Obrigado. Wassalam. 

M. Yiossuf Adamgy - 27/11/2014 

[1] - Bernard Lewis, O Médio Oriente, 1998, p. 266. 

[2] - John L. Esposito, Islão: O Caminho da Virtude, s. 54. 

[1] - John L. Esposito, Islão: O Caminho da Virtude, Oxford University Press, 1991, s. 52-53. 

[2] - Citado in Weiss e Green, p. 187.

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