O registo da Mesquita-Catedral pela Igreja, em 2006, pagando 30 euros: “é um ato que está fora de tudo o que a comunidade cristã deve exercer” - 27/02/2014 - Autor: Carmen Reina - Fonte: El Diario - Versão Portuguesa: Al Furqán /Yiossuf Adamgy
Milhares de assinaturas pedem à Unesco que evite que o Bispado se aproprie da Mesquita-Catedral.
Relevantes grupos de cristãos de base unem-se à petição popular da titularidade pública da Mesquita-Catedral de Córdoba.
As Comunidades Cristãs Populares de Espanha e da Europa, assim como Redes Cristãs ou a Associação de Teólogos Juan XXIII mostraram a sua adesão à Plata-forma Mesquita-Catedral, para que o monumento seja “património de todos”.
“Como cristão provoca-me indignação que o Bis-pado queira apropriar-se sem o mínimo pudor de um edifício Património da Humanidade. Senti-me rouba-do”, explica o porta-voz da plataforma que já reuniu mais de 85.000 adesões.
A Basílica de São Pedro do Vaticano, sede do Papa, é o maior templo cristão com os seus 15.160 metros quadrados de superfície. As restantes igrejas do cristia-nismo têm-na como referência e serão sempre de menores dimensões que o templo que guarda a cabeça da Igreja. Por isso, desde o Vaticano, só se reconhece como catedral de Córdoba o cruzeiro maior da Mesquita-Catedral porque, ao reconhecer como templo cristão todo o monumento como faz crer o Bispado de Córdoba, a sua superfície de 15.600 metros quadrados - sem contar com o Pátio das Laranjas - superaria São Pedro do Vaticano, algo inadmissível pela própria Igreja.
Este facto, que é mais do que uma anedota, indica como a mera e única denominação de Catedral que o Bispado de Córdoba dá a todo o conjunto da Mesquita-Catedral, não corresponde à realidade, mas é a prova da apropriação que a Igreja fez nos últimos anos do monumento Património da Humanidade. E é também desde a própria Igreja, desde os movimentos de cristãos de base, de onde se alçam vozes contra essa usurpação.
Não é casualidade que a Plataforma Mesquita-Cate-dral de Córdoba, que recusa essa apropriação e luta pela titularidade pública do monumento, tenha no-meado como seu porta-voz Miguel Santiago, professor de Biologia, assessor da Cátedra de Interculturalidade da Universidade de Córdoba e reconhecido cristão de base que participou na fundação da Escola Teológica Universitária de Córdoba. Ele simboliza que a petição da Plataforma Mesquita-Catedral é uma petição de cida-dãos, incluindo os cristãos, para que o monumento seja “património de todos”.
“Como cristão provoca-me indignação que o Bispado queira apropriar-se sem o mínimo pudor de um edifício Património da Humanidade”, conta ao eldiario.es/andalucia Miguel Santiago, que assinala que o registo que a Igreja fez da Mesquita-Catedral em 2006 para apropriar-se dela, por 30 euros, “é um acto que está fora de tudo o que a comunidade cristã deve exercer. Senti-me roubado, porque é um património de todas as pessoas, de toda a humanidade”.
Por isso, no trabalho de difusão que foi levado a cabo pela Plataforma Mesquita-Catedral para conseguir a adesão de cidadãos e personalidades de distintos âmbi-tos, Miguel Santiago foi a pessoa encarregada de veicu-lar o movimento de cristãos de base, pela sua própria experiência e conhecimento. E, até ao momento, essa adesão foi conseguida desde os grupos referentes do cristianismo de base a nível estatal e também europeu.
“Esta petição também é dos cristãos”
Assim, entre aqueles que mostraram o seu apoio a esta causa, assinaram o seu manifesto e trabalham na sua divulgação, encontram-se as Comunidades Cristãs Populares a nível estatal que “endossaram imediatamen-te” a iniciativa da plataforma e as que se somaram, através do seu secretário Luis Ángel Aguilar, suas homólogas Comunidades Cristãs Populares da Europa.
Junto a eles, uniram-se a “esta grande aventura cidadã para manter a Mesquita-Catedral como algo de todo o mundo” - em palavras de Miguel Santiago - as Redes Cristãs, através do seu porta-voz, Evaristo Villar, teólogo madrileno muito implicado nos movimen-tos sociais e na Igreja de base da sua cidade.
Igual adesão mostrou a Associação de Teólogos Juan XXIII, um grupo formado por “pessoas da inte-lectualidade da Igreja mais significativas em Espa-nha”, a propósito do porta-voz da plataforma. Entre es-ses teólogos destacados encontram-se Juan José Tamayo, professor da Universidade Carlos III de Madrid e perito em interreligiosidade e interculturalidade, bem como José María Castillo, jesuíta de Granada referente na luta de base social. E desde o seu próprio grupo de trabalho, Enrique de Castro, conhecido como “El Cura Rojo de Vallecas” (Curador Vermelho de Vallecas), tam-bém se encontra entre os cristãos de base que se mobilizaram pela titularidade pública da Mesquita-Cate-dral.
Nessa soma de apoios dos cristãos de base contra a apropriação que a Igreja fez do monumento, também se pôs à disposição da causa a revista Éxodo, publica-ção de cabeceira da Igreja de base em Espanha, que está recolhendo assinaturas de apoio a esta petição pública para adicioná-las às mais de 85.000 adesões que a plataforma reuniu, em duas semanas, através de uma página web.
“Que nós cristãos façamos nossa esta petição que nos dá força para que a Igreja não utilize argumentos fáceis contra. Esta petição também é dos cristãos”, reivindica Miguel Santiago, que insiste que “qualquer monumento declarado de interesse cultural é patri-mónio da cidadania, do estado, não de ninguém em particular”. E aclara: “Posso entender o uso da cate-dral, respeito-o e aceito-o. Mas daí à apropriação de todo o monumento… Isso provoca-me indignação”.
Por tudo isto, na folha de rota que a Plataforma Mesquita-Catedral marcou para desfazer o registo do monumento como próprio que fez a Igreja e conseguir a titularidade pública do mesmo, Miguel Santiago explica que também está a levar a sua mensagem até ao próprio Vaticano, até ao templo cristão maior do mundo e até ao próprio Papa Francisco: “Que esteja consciente do que ocorre”.■
Obrigado, boas leituras.
M. Yiossuf Adamgy 21/03/2014 alfurqan04@yahoo.com
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