sexta-feira, março 21, 2014

A L M A D I N A - UMA REALIDADE A NÃO ESQUECER

Por: Sheikh Aminuddin Mohamad - 17.03.2014

Assim que pomos os pés neste Mundo, começam logo os desejos e ambições infinitos. À medida que vamos avançando no tempo, novas aspirações e desejos começam a aparecer e a apoderar-se de nós. E depois, para alcançarmos esses desejos ficamos engrossados e envolvidos, de tal maneira que nem sequer queremos saber se os meios para alcançarmos os nossos desejos são lícitos ou ilícitos. Achamos que tudo vale na realização dos nossos anseios, mesmo o maquiavelismo. Ainda assim não conseguimos chegar à ao limite dos nossos desejos aliás, antes mesmo de se completar a realização de um desejo, pensamos logo num outro desejo, tornando-nos escravos disso. E assim um mundo de milhares de desejos vai habitando dentro de nós.

Essa preocupação, busca, desejo, e esperança, e exige de nós muito tempo, sacrifício e esforço, podendo decorrer séculos para a sua realização, mas mesmo assim o Ser Humano cuja idade média ronda para os relativamente longevos, os 60 ou 70 anos, não deixa de viver num mundo imaginário e ilusório, até que chega o tempo prometido que lhe dá uma chapada, fazendo-o dormir eternamente.

O resultado disso é que os dias preciosos de vida que Deus nos deu para um objectivo, para que fossem passados na sua adoração, ficam entregues ao prazer temporal deste Mundo.

Seria bom que soubéssemos valorizar a vida que Deus nos concedeu, aplicando-a em coisas úteis.

Cuidar da vida não significa ficarmos à margem das questões mundanas, mas o conceito de adoração é muito mais amplo. Cuidar da vida é cumprirmos com todos os nossos direitos relacionados a Deus ou relacionados às pessoas e até mesmo ao nosso corpo. Estamos ligados aos assuntos mundanos, mas não devemos permitir que estes invadam os nossos corações, induzindo-os à coisas ilícitas. Devemos estabelecer um limite e fazer os possíveis por viver dentro dele, e satisfazermos os nossos desejos em conformidade com as ordens divinas, pois cada momento da vida que Deus nos deu é valioso.

O Profeta Muhammad (S.A.W.) diz: “No Dia da Ressurreição os pés do Ser Humano não se moverão enquanto não for perguntado acerca de cinco coisas:
1) A sua vida, onde a aplicou; 
2) A sua juventude, onde a passou; 
3) A sua riqueza, como a ganhou; 
4) A sua riqueza onde a gastou; e
5) O seu conhecimento, onde o aplicou”. (At-Tirmizi)

A primeira coisa nessas cinco, é a pergunta acerca da vida, e a segunda é acerca da parte mais importante da nossa vida inteira, que é a “época da juventude”. Isso mostra a grande importância que a religião dá à vida. Por isso não fica bem ao Homem inteligente desperdiçar a sua vida em coisas fúteis, nos desejos infinitos deixando de edificar a sua vida futura.

Nós não fomos criados em vão, mas sim para um objectivo. Por isso não nos podemos esquecer e pôr de lado o objectivo para o qual fomos criados, ficando entretidos em coisas secundárias.

Hoje nós fazemos todos os planos, tomamos todos os tipos de medidas, e utilizamos centenas de medicamentos para estarmos saudáveis por forma a conseguirmos usufruir ao máximo dos prazeres deste Mundo, mas não pensamos no objectivo desta vida para o qual nos sacrificamos tanto, e tentamos alongá-la. Será que é apenas para a passarmos nas paixões, nos comes e bebes?

Se esse for o caso, então o que é que nos diferencia dos animais? Aliás há animais que fazem isso muito mais do que nós.

A ganância está a distrair-nos e a fazer-nos esquecer, desviando-nos do nosso objectivo principal da vida.

Por causa da ganância na aquisição de bens, hoje já não temos tempo para nada, nem para os pais, nem para os filhos, nem para a esposa, nem para a casa, nem para Deus. E nunca paramos de nos lamentar.

As facilidades que temos na vida são muito maiores que aquelas que os nossos pais conheceram, em todos os aspectos, pois não há comparação nenhuma.

Hoje em muitas casas toda a gente trabalha, desde o chefe de família, a esposa e os filhos, auferindo todos salários razoáveis com regalias, mas mesmo assim não paramos de nos lamentar que o que se ganha não chega. No tempo dos nossos pais o agregado familiar era muito maior, e o chefe de família era o único que trabalhava para o sustento da casa. E onde é que está a diferença? Está na ganância!

Consta que certa vez um senhor sonhou que caminhava na floresta, no meio de árvores e de flores que exalavam um aroma que perfumava o ambiente à volta. De repente ele apercebe-se que um leão que aparentava estar esfomeado, o estava a perseguir. De imediato encetou uma fuga durante a qual se deparou com um poço para o interior do qual desceu, agarrando-se a uma corda para evitar ir parar ao fundo e morrer afogado. Apercebeu-se então que estava entre dois perigos, o do felino que o perseguia e o do afogamento.

Decorridos uns instantes acalmou-se, respirou fundo, mas quando olhou para o fundo do poço viu uma cobra grande que se movimentava. Enquanto pensava na forma de se livrar dos múltiplos perigos, olhou para cima e viu dois ratos, um preto e um branco, que roíam a corda que o sustinha. Aí ficou assustado e sacudiu a corda na tentativa de afastar os roedores. Sacudia-a com muita força, para a direita e para a esquerda, baloiçando-se. Neste movimento pendular foi batendo com o corpo nas paredes do poço e de repente sentiu algo húmido e viscoso. Tentando chegar com a língua ao líquido que escorria dos seus ombros, percebeu que era mel, e ai continuou a deleciar-se, esquecendo-se da situação perigosa em que se encontrava.

De repente despertou assustado e de imediato procurou um teólogo a quem contou o sonho que tivera, pedindo que lhe interpretasse.

O teólogo disse-lhe: “O leão que viste a perseguir-te é a tua morte. O poço é a tua campa. A corda na qual estavas suspenso é a tua vida. Os ratos branco e preto são o dia e a noite, que vão roendo a tua vida. E o mel é o símbolo do Mundo e a sua doçura que te fazem esquecer que atrás de ti está a morte e a prestação de contas”.

Esta é a nossa realidade e não podemos esquecê-la. Para não nos esquecermos é recomendável que de vez em quando visitemos o cemitério, pois lá, cada montinho de areia representa uma pessoa que viveu aqui no Mundo, e apesar do silêncio total que lá reina, esses montinhos transmitem grandes mensagens, perceptíveis apenas para os Homens dotados de inteligência.

Uma das mensagens é a seguinte: “Ó visitante! Ontem eu era como tu és agora. Amanhã tu serás como eu sou agora”.

Assalamu Aleikom wa Ramatulahi wa Baraketuhu!

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