Por: Sheikh Aminuddin Mohamad -16.01.2012
Depois do colapso total do sistema económico socialista, a maior parte dos países abraçou o sistema económico capitalista, baseado no juro. Pouco mais de vinte anos após a derrocada do socialismo, o capitalismo está igualmente a conhecer momentos conturbados, tudo levando a crer que a economia capitalista será igualmente uma economia falida.
As convulsões sociais e os protestos um pouco por todo o lado, revelam que as coisas não andam bem, e os respectivos governos vão tentando implementar diariamente medidas de austeridade severas, num esforço para sair da grave crise que os afeta, devido ao injusto sistema capitalista.
Agora as pessoas estão a chegar à conclusão de que realmente quem manda no Mundo não são os políticos, representantes eleitos pelo povo através das eleições, mas sim as instituições bancárias como o FMI, o Banco Mundial, Clube de Paris, etc.
Os bancos constituem a espinha dorsal do capitalismo, e sugam os povos ao máximo através de juros. Quem ousar não reembolsar as dívidas para com estas instituições arrisca-se a que elas lhes tomem de hipoteca e expropriem tudo, sem o mínimo de piedade.
Com o objectivo de estabelecerem um sistema social justo, tanto o Al-Qur’án como a Bíblia proíbem o sistema econômico baseado no juro.
Designa-se juro ou usura, ao empréstimo efetuado sob condição de o devedor reembolsar uma quantia acima, ou para além da que tiver sido tomada por empréstimo. Consta na Bíblia, Êxodos 20: 25:
“Ao teu irmão não emprestarás à usura, nem à usura de dinheiro, nem à usura de comida, nem à usura de qualquer coisa que se empreste”.
Por seu lado o Al-Qur’án diz, no Cap. 2, Vers. 278 – 279:
“Ó crentes! Temei a Deus e deixai o que resta do “ribá” (juros/usura) se sois crentes. Se não o fizerdes, esperai a guerra da parte de Deus e de Seu Mensageiro. Se vos arrependerdes tereis o vosso capital. Não prejudicai ninguém para não ficardes prejudicados”.
Não parece correcto que alguém diga que o sistema econômico universal está baseado no juro, e que, se se abandonar esse sistema, se arrisca ao colapso económico, pois na realidade, o sistema econômico universal está baseado no processo de consumo, e não no juro. Este, até é uma grande barreira no processo de investimento e consumo.
Se todo o dinheiro for poupado, assim como os bancos encorajam, e nada for consumido, todo o processo econômico conhecerá a estagnação, pois o juro cria nas pessoas a tendência de poupança. E se tudo for poupado sem que nada seja investido, então o único resultado só pode ser o colapso econômico, enquanto que os investimentos em grande escala favorecem o sistema de bem estar.
De salientar que no sistema capitalista as poupanças só são investidas quando a taxa de lucro for mais alta que a taxa de juro. Isto significa que os investimentos têm que ultrapassar a barreira criada pelo juro. Na ausência do elemento de juros, haverá o mínimo de poupanças, e mais investimentos em vários sectores da economia.
O capital atua na sociedade como o sangue no corpo. Se o sangue não circular no corpo inteiro, o corpo não será saudável. Da mesma maneira, se o capital estiver parado por via da poupança, não circulando em toda a sociedade através de investimentos, a sociedade não será saudável. E isso é o que está a acontecer hoje. O capital não circula em toda a sociedade, ou circula apenas em algumas mãos e partes da sociedade, entre ricos, daí todos os males sociais que nos são dados ver.
É irônico que os juros não só criam barreira no caminho do crescimento econômico, mas também não conseguem proporcionar quaisquer benefícios reais àquele que empresta, ou àquele que pede emprestado.
Por exemplo, tomemos o caso de um indivíduo que nas suas poupanças ganha 18% de juros. Ele pode perder 10% do valor do seu capital devido à inflação, e outros 10% devido à desvalorização da moeda. Portanto, para eles, o resultado líquido da perda será de 2%.
Por seu lado, as instituições de crédito inclinam-se ao ganho de uma quantia limitada em juros, proveniente dos beneficiários do crédito, quando eles próprios podiam investir e ganhar uma melhor margem de lucros.
É melhor para esse tipo de instituições, que sejam elas próprias a investirem nas operações comerciais. E isso só é possível se os depósitos forem feitos na base de partilha de lucro e prejuízo, e não na forma como atualmente está sendo feito pelos bancos. Os bancos emprestam dinheiro com juros aos comerciantes, e estes por sua vez vendem a mercadoria depois de comprá-la ou fabricá-la, e nesse processo ganham algum lucro ou prejuízo.
Naturalmente que em tais arranjos o comerciante só recorre ao banco quando tem a certeza de que vai ganhar mais do que o que ele terá que pagar em juros à instituição de crédito.
O negócio de empréstimo também cria dinheiro invisível na economia, causando a oferta acrescentada de dinheiro, e consequentemente a inflação. Isso é evidente nos casos em que um governo pretende controlar a inflação. A primeira coisa que faz, é regular os empréstimos bancários, desencorajando as instituições de crédito de aumentar as taxas de juro.
Os governos e as nações são as piores vítimas de um sistema econômico baseado no juro. As taxas e impostos do governo, que representam uma parte das receitas nacionais, que devem ser usadas internamente, acabam tendo que ser retiradas do sistema para se conseguir pagar as exigências do serviço de dívidas, o que quer dizer que a nossa receita natural fica afetada pelo nosso sistema econômico baseado no juro.
No processo de empréstimo, o direito de propriedade não muda, enquanto que na transação de venda, o direito de propriedade muda, e a mercadoria é trocada por um preço.
O que determina o juro são as forças do mercado e o acordo mútuo entre aquele que empresta, e o que pede emprestado. Nos tempos atuais, são os bancos centrais.
Juro é sempre juro, independentemente de se tratar de quantia mínima ou máxima nas operações de agiotismo. Tudo isso é proibido na religião.
O sistema econômico isslâmico, conhecido por “mudaraba” e “musharaka”, em que as partes assumem tanto o lucro como o prejuízo, afigura-se sendo o melhor, pois no sistema de juros, em que o comerciante trabalha com o capital emprestado, este nunca pode crescer forte e seguro nestas condições de mercados permanentemente em flutuação, quando o comércio tem que assegurar o seu stock e esperar pelo momento certo para conseguir ganhar o máximo de lucro.
Em contrapartida, com o capital emprestado, este tem que vender, mesmo quando há baixa súbita de preços dos artigos ou dos valores no mercado, só porque ele tem que pagar os juros bancários, e cumprir com os compromissos assumidos.
Os juros não são só maus para a economia, mas também são maus para a moral, e destroem o humanismo e o sentimento de compaixão, pois se alguém, por exemplo, num momento de aflição, em que tem a sua mãe na eminência de morrer, for ter com um agiota para lhe pedir algum valor sob a forma de apoio (caridade) para suportar os custos de tratamento médico ou mesmo de despesas fúnebres da mãe, ele nunca aceitará. Fá-lo-á apenas na condição de o reembolso ser feito com juros, ainda que se trate de um moribundo às portas da morte.
A caridade e a usura são duas coisas diametralmente opostas. O agiota nunca pratica caridade. Em todo o dinheiro, ele apenas vê oportunidade de ganhar mais algum dinheiro em juros ao emprestar, explorando as necessidades e aflições dos outros.
Que Allah SW no perdoe e tenha piedade de nossas almas.
Assalamo Aleikom ua Matulahi ua Baraketu!