Prezados Irmãos,
Saúdo-vos com a saudação do Islão, "Assalam alaikum", (que a Paz esteja convosco), que representa o sincero esforço dos crentes por estender o amor e a tolerância entre as pessoas, seja qual for o seu idioma, crença ou sociedade.
A gestão de desastres no Islão pode, pelo menos, ser explorada a partir de histórias escritas no Alcorão e no Hadith (ditos do Profeta Muhammad (s.a.w. = paz e bênçãos de Deus estejam com ele):
PRIMEIRO, o desastre do Dilúvio durante o tempo do Profeta Noé (a.s. = paz esteja com ele), que durou 40 dias e 40 noites e matou todos os seres vivos, excepto aqueles a bordo da Arca de Noé, conforme citado no Alcorão: «(Noé) disse: Ó Senhor meu! Certamente o meu povo rejeitou-me. Então, julga equitativamente entre mim e eles (i.e., castigando-o) e salva a mim e aqueles crentes que estão comigo! E o salvamos, juntamente com os que, com ele, estavam a Arca, completamente cheia.
Depois, afogamos os demais». (Ash-Shu'ara [Os Poetas], 26:117-120). «Enviamos Noé ao seu povo, ao qual disse: Sou para vós um elucidativo admoestador. Não deveis adorar senão a Deus, porque temo por vós o castigo de um dia doloroso». (Hud, 11:25–27).
SEGUNDO, a catastrófica chuva de pedras na época do Profeta Lot (Lut a.s.), nomeadamente na cidade de Sodoma (agora conhecida como fronteira de Israel com a Jordânia). Este desastre ocorreu como um castigo de Deus porque o povo do Profeta Lot tinha orientação sexual do mesmo sexo: «E quando se cumpriu o Nosso desígnio, reviramos a cidade nefasta e desencadeamos sobre ela uma ininterrupta chuva de pedras de argila endurecida». (Hud,11: 82).
TERCEIRO, a fome que durou 7 anos consecutivos, que é narrada no Alcorão, na Sura Yussuf (José), 12: 47-49: «Respondeu-lhe: Semeareis durante sete anos, segundo o costume e, do que colherdes, deixai ficar tudo em suas espigas, excepto o pouco que haveis de consumir. Então virão, depois disso, sete (anos) estéreis, que consumirão o que tiverdes colhido para isso, menos o pouco que tiverdes poupado (à parte). Depois disso virá um ano, no qual as pessoas serão favorecidas com chuvas, em que espremerão (os frutos)».
O Profeta Yussuf a.s. (José) não apenas mostrou o que aconteceria, mas ainda, sem isso lhe ser solicitado, sugeriu as medidas a serem tomadas para o trato com a calamidade, se ela chegasse.
Haveria sete anos de abundantes colheitas. Com um cultivo diligente e racional conseguir-se-iam espigas colossais. Destas, tomar-se-ia o estritamente necessário para o sustento, e armazenar-se-ia o esto na própria espiga, constituindo isto a melhor medida para preservá-lo das pestes que costumavam atacar as medas, quando passavam pela eira.
QUARTO, desastres de saúde na forma de surtos de doenças infecciosas (Tha’un) que ocorreram na terra de Shams, nos anos 638-639 DC (17-18 Hégira). Este desastre matou mais de 30% da população de Shams, incluindo o governador e os companheiros do Profeta (s.a.w.), Muadz bin Jabal e Suhail bin Amr, cuja devoção estava fora de dúvida.
Dos quatro desastres acima mencionados, apenas os desastres de Tha'un são relevantes para Covid-19, porque ambos são desastres de saúde. A pandemia “Tha’un” e Covid-19 têm muitas coisas em comum. O Profeta Muhammad (s.a.w.) disse: “Se você ouvir sobre a praga que assola um país, não entre nele; e se você estiver nessa área, não saia para fugir dela”. (Narrado por Bukhari & Muslim). Este hadith é muito relevante para a mitigação de Covid-19, como o confinamento, a auto-quarentena, o auto-isolamento, o ficar em casa, manter distância, lavar as mãos e assim por diante.
O Alcorão e os Ahadith têm o conceito de desastres que são ricos em significado, como Mussibah (eventos que se abateram sobre os seres humanos); Bala' (testes ou provações bons ou ruins); Fitnah (miséria devido a eventos sociais); 'Az ̇ab (tormento); Fassad (ruim e disputa); Halak (morte, perecimento e aniquilação); Tadmir (destruição); Tamziq (destruição para a humanidade); 'Iqab (represália ou punição) e Nazilah (trazendo punição).
Por um lado, o desastre pode causar sérias perturbações à vida humana, (muṣsibah), e também resulta em perda, dano, destruição (tadmir e tamziq) ou paralisia das funções sociais da sociedade (halak e fassad), bem como conflito e caos (fitnah). Desastres não acontecem apenas com aqueles que são culpados ou pecadores, mas também com aqueles que são bons e justos e têm fé. Se um ser humano pecador é atingido por um desastre, então isso pode ser visto como iqab, nazilah, ou mesmo az ̇ab, devido às suas acções.
Considera-se que, para pessoas boas e verdadeiras afetadas pelo desastre, significa bala' ou testes para melhorar a qualidade de sua fé. Quanto àqueles que morreram como resultado de um desastre, mas eram boas e inocentes, morreram como mártires (gloriosos aos olhos de Deus).
A gestão de desastres no Islão é muito determinada pela perspectiva de interpretar os desastres. No Alcorão, na Sura Al-Baqarah, 2: 155,afirma-se que um desastre é uma forma de amor de Allah SWT (Deus) e um meio de introspecção.
Portanto, os desastres devem ser tratados como um teste, que abre oportunidades para as pessoas melhorarem a qualidade de sua fé e devoção. Assim, os desastres no Islão devem ser superados com o espírito de uma vida melhor, não fatalista e pessimista.
A gestão de desastres deve ser realizada em três etapas, a saber: medidas preventivas, medidas deemergência e recuperação.
Em primeiro lugar, medidas preventivas, nomeadamente analisar as causas dos desastres e compreender o papel dos seres humanos como representantes de Deus na terra. Essa etapa foi inspirada na história do Profeta Yussuf (a.s.), na Sura Yussuf do Alcorão, versículos 47–49, acima mencionados. Deus ordenou que o povo do Profeta Yussuf fizesse plantações por sete anos consecutivos e a colheita fosse armazenada, excepto um pouco para ser consumido, porque iria haver uma fome que duraria 7 anos.
Em segundo lugar, a resposta de emergência a desastres, que é uma série de actividades realizadas imediatamente no momento de um desastre para lidar com os efeitos adversos, que incluem actividades de resgate e evacuação de vítimas, bens, atendimento de necessidades básicas, protecção de grupos vulneráveis, gestão de refugiados e recuperação de emergência. Esta etapa é inspirada na Sura do Alcorão al-Maidah, 5: 32, que afirma que quem cuida da vida de um ser humano é como se salvasse a vida de todos os seres humanos.
Em terceiro lugar, a recuperação é a reabilitação dos serviços públicos e a reconstrução da infraestrutura pós-desastre.
Esta etapa foi extraída da Sura do Alcorão Ar Ra'd, 13:11, que afirma: «Na verdade, Deus não muda o destino de um povo, a menos que este mude a sua própria condição (de pecadores, injustos e ingratos). Equando Deus quer castigar a um povo, ninguém pode impedí-Lo e não tem, em vez d’Ele, protector algum».
Obrigado. Wassalam (Paz).
M. Yiossuf Adamgy
Director da Revista Islâmica Portuguesa AL FURQÁN
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