“Muitos seres humanos
começaram a reconhecer na religião, um poderoso meio para alcançar a paz e a
reconciliação”.
Coord.
por: M. Yiossuf Adamgy
Prezados
Irmãos,
Saúdo-vos
com a saudação do Islão, "Assalam
alaikum", (que a Paz esteja convosco), que representa o sincero esforço
dos crentes por estender o amor e a tolerância entre as pessoas, seja qual for
o seu idioma, crença ou sociedade. O diálogo apenas pode acontecer em termos de
igualdade. Infelizmente, a História tem sido testemunha de muitos atos de
violência concretizados em nome da religião. Todavia, muitos seres humanos
começaram a reconhecer outro papel à religião, como um poderoso meio para
conseguir a paz e a reconciliação.
Consequentemente,
o número de estudiosos no que respeita ao “diálogo inter-religioso” cresce
de forma prometedora. O diálogo inter-religioso tem sido um tema
deveras controverso e muitas têm sido as discussões a esse respeito,
relativamente à sua necessidade, à sua justificação e às suas conquistas. Estas
questões revelaram que as pessoas não estão conscientes do verdadeiro
significado do diálogo inter-religioso. Perelman e Olbrechts-Tyteca (1969)
explicaram o diálogo da seguinte forma: «… não é suposto ser um debate… mas sim
uma pergunta através da qual os interlocutores procuram, sinceramente e sem
preconceitos, a melhor solução para um problema controverso». Relativamente a
esta descrição, Gülen (2000) descreve o diálogo inter-religioso como: «…
procurar para dar-se conta da unicidade da religião, da unidade básica e da
universalidade da fé. “A religião abarca todas as raças e credos
sob a fraternidade, e exalta o amor, o respeito, a tolerância, o perdão, a
misericórdia, os direitos humanos, a paz, a fraternidade e a liberdade através
dos seus Profetas».
Estas
descrições levam-nos a outra pergunta: “Quão útil e benéfico pode ser o diálogo
inter-religioso para a solução de problemas?”. O diálogo inter-religioso não
pretende alterar as idéias das pessoas no que respeita à sua própria religião
ou crenças; procura, sim, encontrar um terreno comum entre as religiões,
centrar-se nas comunidades e, através da ênfase na harmonia e na paz, pretende
encontrar soluções para muitos dos nossos problemas comuns.
De
fato, uma das razões para o diálogo inter-religioso é «proporcionar um ambiente
de liberdade». Outro importante autor do diálogo inter-religioso foi Seyyed
Hossein Nasr, professor de Estudos Islâmicos na Universidade George Washington.
Quando visitou o Vaticano em 1977, como membro de uma delegação, Nasr destacou
cinco áreas em que Cristianismo e Islão podem trabalhar juntos para a
construção de um mundo melhor. Essas cinco áreas são «os perigos da tecnocracia
moderna e a destruição ecológica, as crises energéticas, os problemas da
juventude e a decadência da moral e da fé» (Kot, 2009). Além disso, o Reverendo
Allman afirma: «A capacidade de discutirmos as nossas diferenças religiosas e
culturais é algo mais do que uma simples “atividade extracurricular”, é uma
capacidade vital para os participantes em Democracia, em especial numa
sociedade democrática como a nossa, repleta de gente com diferenças profundas e
complexas» (The Network, 1999). Estas declarações mostram a importância do
diálogo inter-religioso para o melhoramento da Humanidade e da boa vontade das
sociedades. A este respeito, devo dizer que no passado, na era da divergência,
podíamos viver isolados uns dos outros, podíamo-nos ignorar mutuamente. Agora,
na era da convergência, estamos obrigados a viver num mesmo mundo.
Vivemos
num mundo cada vez mais globalizado. Atualmente, as causas mais comuns
fomentadoras do conflito entre religiões ou entre pessoas de diferentes
religiões têm a ver com a falta de entendimento entre idéias ou crenças. Os
encontros de diálogo inter-religioso, os debates e conferências, ajudam a
superar estes equívocos e a falta de familiaridade desaparece. O resultado
destes diálogos pode ser de extrema importância. Como afirma Smock, ««... “Quando
duas ou mais religiões se unem para explorar ou promover a possibilidade da
paz, os efeitos podem ser particularmente poderosos». Os benefícios do
diálogo inter-religioso são evidentes, ainda que não seja um trabalho fácil.
Uma vez mais, Smock (2002) evidencia que «o diálogo inter-religioso é uma
tarefa difícil e, frequentemente, dolorosa». Existem alguns requisitos prévios
para que o diálogo inter-religioso tenha êxito. Swidler (2003) classifica estes
requisitos da seguinte forma:
1)
Estar aberto a aprender com os outros.
2) O conhecimento da própria tradição.
3) Um companheiro de diálogo com idêntica
disposição e conhecedor da outra tradição».
A
importância de cada pré-requisito será pormenorizadamente explicado a seguir:
Ingredientes para que um encontro de diálogo inter-religioso seja bem-sucedido:
1)
O componente mais importante do diálogo inter-religioso consiste em recordar o
verdadeiro sentido do diálogo. Trata-se de uma discussão de duplo sentido que
requer respeito e compreensão. Este componente pode parecer extremamente fácil
de compreender, mas é muito fácil de esquecer. Swidler (2007) afirma que: «Caso
se mantenha este objetivo básico e se agir com imaginação e criatividade, o
diálogo prosseguirá frutífero e assistir-se-á a uma transformação crescente da
vida de cada participante e da das suas comunidades». Assim sendo, para a
obtenção dos melhores resultados em cada diálogo inter-religioso, há que não
esquecer o verdadeiro sentido do diálogo. Há que explicar o diálogo como ««…
uma questão em que os interlocutores procuram sinceramente e sem preconceitos a
melhor solução para um problema controverso».
2)
Nestas reuniões, os intervenientes devem estar conscientes do fato de que todos
os membros são de diferentes origens religiosas e culturais, pelo que o diálogo
inter-religioso se baseia na compreensão e no respeito mútuos. Num diálogo
inter-religioso nenhum dos participantes deve procurar ofender o sistema de
crenças dos restantes membros.
3)
Smock (2002) escreve que, para determinar o êxito de um diálogo, há que indicar
de forma clara o objetivo da reunião e escolher os participantes. O propósito
da reunião deve ser decidido pelos participantes antes das reuniões, ficando
claro e especificado.
4)
Ao descrever como iniciar o diálogo, Bohme (1991) afirmam que a interrupção é
uma parte importante do diálogo. Ouvir os restantes participantes é uma fase
obrigatória do processo. Durante estas reuniões, todos os participantes devem
estar livres de preconceitos e abertos à compreensão e ao reconhecimento de
novas perspectivas. Os encontros de diálogo inter-religioso são uma excelente
forma de aprender acerca das diferentes religiões e dos diferentes pensamentos.
5) A não esquecer que, nestes encontros, reunimo-
-nos como pessoas e não como sistemas de crenças, e que os mesmos nos
proporcionam uma oportunidade incrível para aprender, debater e entender outras
religiões do mundo deveria conduzir a um conhecimento e a uma melhor
compreensão recíproca e ao intercâmbio dos valores mútuos como um
enriquecimento da própria fé e da fé dos outros» (Cosijns e Braybrooke, 2008).
Contudo, um problema ou erro praticado nestes encontros não deve ser usado para
generalizar quanto a um sistema concreto de crenças. Kurucan (2006) afirma que,
quando falamos de diálogo inter-religioso, «referimo-nos ao diálogo de pessoas
de diferentes religiões». Assim sendo, as pessoas presentes nestas reuniões não
devem ser vistas como categorias ou como únicos representantes das suas
religiões, mas sim como pessoas individuais, com as suas virtudes e defeitos,
como todos nós.
6) O diálogo inter-religioso tem como objetivo
encontrar soluções para os problemas do mundo e das restantes pessoas,
centrando-se nas similitudes entre os sistemas de crenças e não nas diferenças
e em questões polêmica.
7) Smock (2002) afirma que um único encontro
inter-religioso pode não ser muito útil, pelo que devem existir algumas sessões
de acompanhamento para a compreensão dos benefícios que podem advir de tais
encontros.
8)
Além disso, é também uma boa oportunidade para aprender sobre as práticas
religiosas dos demais participantes, verificar as diferenças entre as
respectivas compreensões e ter imenso cuidado com essas diferenças durante o
processo de diálogo. Crowley (2006) afirma que a determinação da estase – das
partes em que as idéias dos intervenientes diferem – é uma parte importante da
discussão pública. No diálogo inter-religioso é importante estar consciente da
estase, de modo a não ofender os restantes participantes.
9)
Não existe exclusividade e nem sincretismo. Abu-Nimer (2007) afirma que, nos diálogos
inter-religiosos, religião alguma deve ser excluída. Fazê-lo representaria uma
desvantagem enorme para o sucesso do diálogo inter-religioso. Destaca também
que, a tentativa de sincronizar todas as religiões numa única, pode ser tão
perigoso como excludente. Conforme dito anteriormente, é de extrema importância
aceitar todas as religiões e as pessoas religiosas dentro do seu próprio
sistema de crenças.
10)
O diálogo apenas pode acontecer em termos de igualdade. Se um grupo religioso
vê outro como inferior ou superior, o diálogo não poderá ocorrer, por não
permitir o intercâmbio e o entendimento entre grupos, que é o objetivo
principal de qualquer diálogo inter-religioso. O diálogo inter-religioso é um
assunto importante no mundo globalizado. Pessoas de diferentes religiões
convivem neste mundo interligado, enfrentando atualmente inúmeros problemas. Este
grupo inter-religioso é crucial para um mundo em que «todos os dias, quase 16.000
crianças morrem de causas relacionadas com a fome. Isso “significa uma criança a cada cinco segundos» (www.bread.org).
O papel do diálogo inter-religioso para a solução destes problemas não pode ser
subestimado. Smock (2002) refere que «embora a religião possa e deva contribuir
para a resolução de conflitos violentos, pode ser um poderoso fator na luta
pela paz e pela reconciliação.
Fonte:Reflexões Islâmicas - nº. 387 - www.islao.pt
/www.alfurqan.pt — alfurqan2011@gmail.com — tlm. 96 545 96 46
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