Os governos europeus demonstraram um profundo desprezo pelos seres humanos de qualquer parte do planeta Por: Ángel Álvarez Hernández - Fonte: Webislam - 28/08/2015 - Versão portuguesa: M. Yiossuf Adamgy.
Prezados Irmãos,
Saúdo-vos com a saudação do Islão, "Assalam alaikum ", (que a Paz esteja convosco), que representa o sincero esforço dos crentes por estender o amor e a tolerância entre as pessoas, seja qual for o seu idioma, crença ou sociedade.
Não é de estranhar que os refugiados sírios tenham batido contra uma cruel porta de mármore quando querem entrar na Europa. Os governos europeus demonstraram um profundo desprezo pelos seres huma-nos de qualquer parte do planeta. As suas palavras estiveram sempre cheias de hipocrisia e mentiras. Só os Estados Unidos se podem comparar em mesquinhez.
Nem os meninos, nem as mulheres grávidas pesaram na consciência dos líderes ocidentais quando destruíram o Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria ou Líbano.
Não doeu a consciência à França, quando fomentou a guerra civil na Líbia para negociar o controlo e os benefícios do gás, e não se comovem os líderes ocidentais com os massacres de muçulmanos em Myanmar, Cachemira ou República Centro Africana.
O importante é colher o dinheiro e correr como lobos, repartir as fontes de riqueza e os recursos naturais sem importar o custo de vidas humanas. A imagem horrível da morte, a mutilação ou o trastorno mental das suas vítimas, não existe na retina dos líderes ocidentais.
O desespero dos refugiados sírios não começou ontem, mas sim no dia em que um grupo de sinistros e elitistas executivos neoliberais desenharam um plano estratégico, para tirar do poder Bashar al-Asad e poder assim controlar a rota do petróleo e do gás, que iria desde o Golfo Pérsico até ao Estreito dos Dardanelos, para abastecer toda a Europa Central em prejuízo dos interesses das petroleiras russas. Naquele dia começou o pesadelo para milhões de sírios.
Não quero dizer, com isto, que a oligarquia russa ou a burocracia do Partido Comunista chinês sejam melhores, mas pergunto-me quem alimentou, vestiu, treinou e pagou aos fanáticos e delinquentes que formam as diferentes bandas criminais que desgarraram a Líbia e depois a Síria, senão o ocidente e os seus aliados árabes.
Pergunto-me quem fabricou falsas ONGs, para fazer credíveis mentiras e justificar bombardeios e invasões de países, senão o ocidente.
Quem disse que havia armas nucleares no Iraque senão o ocidente.
Quem tem invadido o maior país produtor de ópio do mundo senão o ocidente.
O ocidente é o grande pesadelo dos esfomeados, órfãos e desterrados da terra. O ocidente ama o poder, o domínio e a riqueza. O ocidente é negligente e epicúrio, e para manter-se vivo necessita chupar o sangue das suas vítimas sem se importar se estas são gregas ou sírias. O ocidente não faz distinção entre idades, sexos ou cor da pele. O mesmo mata na Ucrânia e na Nigéria. O importante é controlar a produção de diamantes, petró-leo, gás ou cacau. E se para isso é necessário financiar revoluções laranja, golpes de estado ou assassinatos, faz-se e ponto, porque não é algo pessoal mas só um negócio, como diria a máfia.
O fedor dos crimes do ocidente é tão intenso como o desespero dos deserdados que chamam à sua porta. A esta hora um alto executivo de Wall Street estará devorando o seu pequeno-almoço, repleto de vísceras e corpos verdes inchados nas águas do mediterrâneo, enquanto olha para a subida do Nível de Risco em algum triste país do sul da Europa.
Deus diz no Alcorão: “Certamente, quem consome os bens dos órfãos injustamente, só está enchendo o seu ventre de fogo: pois na Outra Vida sofrerá um fogo abrasador” (4:10).
Os bombardeios 'humanitários' sobre a Líbia não trouxeram a democracia e os direitos humanos mas milhares de mortos e a destruição de um país que não voltará, em gerações, a viver com a qualidade de vida que teve e que agora é um estado falido, (como a Somália ou o Afeganistão), onde imperam os tenebrosos senhores da guerra que traficam com o petróleo no mer-cado negro. Algo similar ao que fazem os terroristas do mal chamado Estado Islâmico.
A grande mentira sobre a qual se justificaram todos estes crimes é o mal chamado jihadismo. Querem fazer-nos crer, os líderes ocidentais e europeus, que lutam contra algo que chamam terrorismo islâmico, mas na realidade só lutam pelo ouro negro, a riqueza e o poder, em bene-fício da oligarquia financeira internacional e complexo industrial militar.
Disse o Profeta Muhammad (p.e.c.e.): "Se não tens vergonha, faz o que quiseres".
E os líderes europeus e ocidentais há muito tempo que creem ter assassinado Deus, e portanto creem que podem fazer o que quiserem, porque ninguém lhes pedirá contas. O ocidente já não tem moral e a ética é só para os que a podem pagar.
Um alto oligarca norte-americano disse uma vez: tenho a Deus na minha lista trabalhando para mim! E começou a financiar igrejas evangélicas fundamentalistas por toda a América latina.
A fé dos crentes mais sensíveis foi adulterada e mani-pulada centenas de vezes ao longo da história. Em nome de Deus (ár. Allah) roubou-se, violou-se e assassinou-se.
Dizem-nos que o culpado das guerras do Médio Oriente é o terrorismo islâmico, mas terrorismo e islâmico são termos incompatíveis. O culpado das guerras no Médio Oriente não é Deus, mas aqueles que manipulam a sua mensagem, para roubar, matar e violar. Roubar o petróleo, matar os homens e violar as mulheres, como se estivéssemos numa nova Idade Média ou como se nunca tivéssemos saído dela.
O primeiro acto de islamofobia dos líderes ocidentais foi pretender reduzir o Islão a um conjunto de mitos e fábulas facilmente manipuláveis.
O segundo delito foi que os líderes árabes acreditaram nos líderes ocidentais e venderam o seu Islão em troca de poder e fabricaram doutrinas assassinas para atacar e sa-quear países irmãos.
O terceiro acto de islamofobia dos líderes ocidentais foi manipular a opinião pública dos seus países criando uma imagem distorcida dos muçulmanos e do Islão, para justificar guerras neocoloniais, recortar direitos sociais e gerar uma atmosfera anti Islão, onde tudo estava permitido.
O quarto acto islamófobo dos líderes ocidentais e árabes foi lançar uns muçulmanos contra os outros, para que se matassem entre eles, e semear o ódio, a morte e a confusão com actos terroristas em mercados, mesquitas e bairros chiítas ou sunitas.
O quinto acto islamófobo dos líderes ocidentais e ára-bes foi consentir o assassinato de pessoas no ocidente a mãos de terroristas que se diziam muçulmanos, para assim justificar a intervenção dos países europeus e ociden-tais no norte de África e Médio Oriente.
O sexto acto islamófobo por parte das seitas criadas pelos líderes árabes foi justificar o genocídio, a limpeza étnica e o ódio contra todos aqueles que não eram muçul-manos, para controlar as rotas petroleiras.
O sétimo acto de islamofobia por parte dos líderes árabes foi e é ter abandonado os seus irmãos da Ummah nas mãos de sionistas, em troca de mais riqueza e poder.
O oitavo acto de islamofobia é a utilização do Islão para eliminar, encarcerar ou exiliar opositores.
O nono acto de islamofobia é utilizar o Islão para domi-nar e controlar países.
O décimo acto islamófobo dos líderes árabes é enfren-tarem-se entre eles para devorar as migalhas de poder que o ocidente lhes lança, como se fossem cães na mesa do seu amo.
Vemos como os líderes árabes saqueiam países e jogam no mercado internacional da compra de dívida pública, sendo implacáveis.
Deus disse no Alcorão:
“Quando os hipócritas vêm a ti, eles dizem: 'Damos fé de que tu és, em verdade, o Enviado de Deus!' Porém, Deus bem sabe que tu és realmente o Seu Enviado; e Deus dá fé de que os hipócritas mentem na sua declaração de fé. Fazem dos seus juramentos uma coberta para a sua falsidade, e desencaminham-se da senda de Deus. Que péssimo é o que fazem!" (Alcorão, Sura Al-Munafiqun, 63: 1-2).
Depois de tudo isto não é de estranhar que os refugiados sírios batam contra uma cruel porta de mármore, quando querem entrar na Europa. Para a extrema-direita é fácil ir buscar o voto anti Islão, só necessita agitar os vídeos dos grandes líderes árabes, vivendo de maneira epi-cúria e ostentosa, enquanto o povo sírio morre de fome e guerra.
A extrema-direita tornou-se adita aos vídeos de delinquentes e fanáticos gritando que Allah é Grande e decapitando inocentes. A extrema-direita deveria dar gra-ças ao mal chamado Estado Islâmico, porque os seus crimes fomentam o voto ultra e a islamofobia.
Só desta perspectiva se pode compreender que os neonazis possam recrutar cada vez mais jovens, para apedrejar centros de refugiados na Alemanha, ou que o governo eslovaco não queira dar asilo a refugiados muçulmanos.
A tempestade que semeamos
06/09/2015, por João Mendes
In: http://aventar.eu/2015/09/06/a-tempestade-que-semeamos/
Não vale a pena insistir no óbvio, muito se tem escrito sobre ele. Que é uma catástrofe humanitária, uma fuga desesperada de quem não tem mais para onde fugir e procura um mínimo de segurança para si e para os seus. Que a Europa, que se gaba por ser o bastião da paz, da solidariedade e da tolerância tem demonstrado enormes dificuldades em lidar com o problema, incapaz como de cos-tume de falar a uma só voz e poluída por sujeitos mesqui-nhos como Viktor Órban, o fascista a quem curiosamente a imprensa apelida de conservador – o facto de liderar um partido que pertence ao PPE será apenas uma coincidência – pois, como sabemos, radicais são os do Syriza. Que temos a sensibilidade de uma folha de Excel de um qualquer ministro das finanças pró-austeridade e que infelizmente ainda precisamos de ver a imagem de uma criança morta na praia para percebermos a dimensão apocalíptica da situa-ção. Sim, já todos sabemos isso. Não nos permitimos sequer não saber.
Mas para além do óbvio comum, olhemos para o outro óbvio que muitos parecem ainda não ter entendido: depois de anos de exportação de violência para o Médio Oriente e Norte de África, o Ocidente estava à espera de quê? De se manter hermeticamente fechado para o problema en-quanto beneficiava do petróleo dos desgraçados, lhes vendia armas e para lá enviava as suas empresas de construção para reerguer aquilo que havia ajudado a pulverizar? Achava mesmo que podia continuar a treinar terroristas, a armar fanáticos e a patrocinar bombardea-mentos que pouco mais fazem do que beliscar os alvos reais, provocando ao invés a destruição de hospitais, escolas e das vidas daqueles cuja vida é já um pesadelo e que se transformam assim em presas fáceis para o recrutamento de soldados sem nada a perder, cegos e movidos pelo ódio, tudo isto sem consequências?
Tal como o Iraque, também a Síria está pior, muito pior, do que quando a boa nova da democracia ocidental chegou. Como um cão obediente segue o seu dono, os es-tados europeus têm seguido os EUA nas suas invasões e outras violações de soberania, regra geral com o intuito de depor ditadores que já o eram no tempo em que eram recebidos com toda a pompa e circunstância em Washington, Londres, Paris ou Bruxelas. Apoiamos, directa ou indirectamente, intervenções no Afeganistão, Iraque, Líbia e Síria e o que lá ficou depois dos mísseis da democracia ocidental foram infernos na terra onde impera a lei do mais forte e a arbitrariedade de quem ficou com as armas no dia em que os soldados da paz foram embora.
O autoproclamado Estado Islâmico (EI) é o resultado mais visível desta política externa norte-americana apoiada pelo Velho Continente. Não é um exclusivo, ainda que as raízes do colonialismo ou o patrocínio de diferentes golpes de Estado tenham desempenhado o seu papel no passado, mas a verdade é que muitos combatentes do EI são dissidentes dos movimentos rebeldes que se fartaram de combater Assad pela libertação da Síria e passaram a combate-lo pela supremacia do fundamentalismo. Os tais que ajudamos a armar. E entre os que agora fogem é mais que certo existirem infiltrados jihadistas que se aproveitarão do desespero da maioria para trazer a violência e o radicalis-mo para o continente europeu e que terão nos indigentes, nos que sofrem às mãos de fundamentalistas como aqueles que governam a Hungria, terreno fértil para o recrutamento futuro que lhes permitirá expandir células terroristas que, como ervas daninhas, se multiplicarão pelas democracias ocidentais.
Com tantos burocratas pagos a peso de ouro em Bruxelas, será que ninguém antecipou esta possibilida-de? É possível que não. Os burocratas de Bruxelas não são, em grande parte, melhores que os boys que dão a países como Portugal admiráveis experiências de gestão danosa. Por outro lado, nada fazia antever este cenário: os conflitos nos países de origem da maioria dos refugiados não sofre-ram agravamentos recentes que expliquem este boom mi-gratório e, apesar de tudo, fazer a travessia tem um preço, preço esse que os recursos praticamente inexistentes de sírios, afegãos, somalis ou iraquianos não podem pagar. E se não podem, de onde veio o dinheiro para pagar aos mercenários que transportaram mais de 100 mil pessoas nas últimas semanas? Terá sido o preço que o EI se predispôs a pagar para infiltrar uns quantos dos seus ou estaremos perante algo ainda mais obscuro? Seja como for, se nós, europeus, não estivermos à altura da situação, então o projecto de paz e solidariedade a que nos propu-semos estará oficialmente morto. Já chegaram os ventos que por lá ajudamos a semear. A tempestade que agora colhemos não é mais do que o fruto das opções políticas das pessoas que colocamos no poder. As nossas opções.
Quem não pretender continuar a receber estas reflexões, por favor dê essa indicação e retirarei o respectivo endereço desta lista.
Obrigado. Wassalam.
M. Yiossuf Adamgy - 09/09/2015
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