Deus concede riqueza e pobreza material às pessoas por motivos apenas por Ele conhecidos. Por exemplo, uma pessoa pobre pode herdar muito dinheiro de um parente rico quando este morre. Algumas pessoas herdam inteligência, habilidade e visão para os negócios, ao passo que outras também têm essas capacidades mas não as querem usar.
Diz-se que o Profeta Muhammad (p.e.c.e.) disse, numa determinada ocasião, que “Deus concede os bens deste mundo a quem Ele deseja, mas que o conhecimento dá-o somente àqueles que Lho pedem”. Este hadith é muito significativo. É evidente que os bens materiais não devem ser vistos como necessariamente bons em si mesmo. Deus nem sempre concede segurança ou felicidade material àqueles que Lhe pedem tais coisas.
Há um bem em tudo o que Deus concede. Para a pessoa fiel, que faz boas ações e dá em caridade algo que lhe foi concedido, a riqueza é um meio de bondade. No entanto, se a fé do indivíduo for débil e se este tiver saído do caminho reto, então a riqueza converter-se-á num meio de maldade. Para a pessoa que tiver abandonado o caminho da boa ação, a pobreza poderá ser apenas a única desculpa de que necessita para começar uma rebelião interna ou externa - ou ambas - contra Deus. Aquelas pessoas que não se submetem totalmente a Deus, aquelas que não agem com sinceridade para agirem de acordo com os ensinamentos do Islão, encontrarão a sua riqueza como um meio de angústia, uma prova severa e exigente: “E sabei que tanto os vossos bens como os vossos filhos são para vos pôr à prova, e que Deus vos tem reservado uma magnífica recompensa.” (Alcorão, 8:28).
Devemos, aqui, recordar um outro dito do Profeta (p.e.c.e.): “Entre vós há pessoas a quem, se levantarem as mãos e jurarem por Deus, Ele concederá tudo o que querem e nunca as fará jurar em falso”. Bara ibn Malik é um deles.” ( ) Este homem, o irmão mais novo de Anas (r.a.), viveu uma vida de total pobreza no nível mínimo de subsistência, até ao ponto de não ter alimentos suficientes nem um sítio para dormir. Embora fossem, aparentemente, pobres e desiguais, essas pessoas eram as mais amadas e apreciadas devido à sua piedade sincera. Elas eram elogiadas, e as suas ações foram apreciadas na asseveração do Profeta (paz esteja com ele) de que elas estavam entre aquelas. Está comprovado de que uma vez, quando Omar (r.a.) entrou no quarto do Profeta (s.a.w.), viu nas suas costas sinais da esteira áspera sobre a qual este dormira. Desatou a chorar, perguntando por que os imperadores bizatinos e persas viviam rodeados de luxos ao passo que o Mensageiro de Deus dormia sobre uma cama tão áspera. O Profeta (p.e.c.e.) contestou: “Não queres que eles tenham este mundo e nós o outro?” ( ) Anos mais tarde, durante o seu califado, quando as tesourarias destes dois Impérios fluíram na tesouraria muçulmana, Omar continuou a viver uma vida simples.
Isso não significa que a pobreza em si seja algo bom, é melhor o estado de espírito que disciplinou e triunfou sobre a parte mundana, pondo a sua vista sobre a vida eterna. A pobreza é, quiçá, um meio para conseguir este estado de espírito. Mas isso conduz algumas pessoas à angústia interior, ao rancor e à ingratidão para com Deus, e é a raiz da incredulidade. Da mesma forma, a abundância e a segurança mundial podem enganar certas pessoas e levá-las ao orgulho e ao amor próprio exacerbado fazendo com que descuidem as necessidades dos outros e a sua dívida para com Deus. Tal arrogância e ingratidão estão também na base da incredulidade.
A forma mais segura para que os crentes progridam, é entendendo que tudo o que Deus concede é concebido para aperfeiçoá-los. Sem ter em conta as circunstâncias pessoais, os crentes devem esforçar-se para melhorar o bem estar dos outros e ter confiança, interior e exteriormente, no Todo Poderoso e Todo Misericordioso. Esta é a melhor atitude para com o mundo, que é apenas um local de trânsito no caminho para o nosso destino eterno.■
— «Se a fortuna te sorri, teme o orgulho;
se ela se afasta, teme o abatimento».
— «Não são as riquezas que fazem a felicidade, mas sim o uso que fazemos delas».
— «A pobreza deixará de ser sediciosa, quando a opulência deixar de ser opressiva».
— «Duas coisas são para mim igualmente intoleráveis: saber que as crianças morrem de fome, e que se possa aconselhar a um escritor que renuncie a escrever"
Obrigado, boas leituras. Wassalam.
M. Yiossuf Adamgy - 15/05/2014.
Reflexões Islâmicas — Ano II — nº. 67 — 15.Maio.2014 / 16.Rajab.1435
e-mail: alfurqan2011@gmail.com - sites: www.islao.pt / www.alfurqan.pt
Nenhum comentário:
Postar um comentário