sábado, fevereiro 01, 2014

História de Convertidos: Anselm Tormeeda, Sacerdote e Estudioso Cristão, de Espanha

Descrição: Um estudante de confiança de um conceituado estudioso cristão, na antiga Andaluzia, entreouve uma discussão sobre o Paracleto, um Profeta ainda por vir, mencionado na Bíblia. Por Anselm Tormeeda, depois Abd-Allah at-Tarjuman. Fonte: www.islamreligion.com Versão portuguesa de: M. Yiossuf Adamgy.

Prezados Irmãos,

Assalamu Alaikum Wa ráhmatullahi Wa barakatuh:

Muitos cristãos abraçaram o Islão durante e logo depois das conquistas islâmicas posteriores à morte do Profeta Muhammad (p.e.c.e.). Nunca foram com-pelidos. Era um reconhecimento do que já espe-ravam. Anselm Tormeeda,[1] um sacerdote e estu-dioso cristão, foi uma pessoa cuja história vale a pena mencionar. Ele escreveu um livro famoso inti-tulado “The Gift to the Intelligent for Refuting the Arguments of the Christians”[2] (A Dádiva ao Inteligente por Refutar os Argumentos dos Cristãos). Na introdução [3] desse trabalho ele rela-ta a sua história:

“Que seja do conhecimento de todos vós a minha ori-gem da cidade de Maiorca, que é uma grande cidade junto ao mar entre duas montanhas e dividida por um pequeno vale. Uma cidade comercial, com dois maravi-lhosos portos. Grandes navios mercantes vêm e anco-ram no porto com produtos diferentes. A cidade é na ilha que tem o mesmo nome, Maiorca, e a maior parte da sua terra é coberta de figueiras e oliveiras. Meu pai era um homem muito respeitado na cidade. Eu era o seu único filho.

Quando tinha seis anos ele me enviou a um sacerdote que me ensinou a ler o Evangelho e a lógica, que concluí em seis anos. Depois disso deixei Maiorca e viajei para a cidade de Larda, na região de Castilha, o centro de aprendizagem para cristãos naquela região. De mil a mil e quinhentos estudantes cristãos se reunem lá. Todos sob a administração do sacerdote que os ensina. Estudei o Evangelho e sua linguagem por outros quatro anos. Depois disso parti para Bolonha, na região de Anbardia. Bolonha é uma grande cidade, o centro de

aprendizagem para todas as pessoas daquela região. Todos os anos, mais de dois mil estudantes se reunem aí, vindos de diferentes lugares. Cobrem-se com roupas toscas, que chamam de “o Matiz de Deus.” Todos eles, fosse o filho de um trabalhador ou de um governante, usam essa manta, para distinguir os estudantes dos demais.

Somente o sacerdote os ensina, controla e orienta. Vivia na igreja com um sacerdote idoso. Ele era muito respeitado pelas pessoas, por causa de seu conheci-mento, religiosidade e ascetismo, que o distinguia dos outros sacerdotes cristãos. Perguntas e pedidos de conselhos vinham de todo lugar, de reis e governantes, junto com presentes. Esperavam que ele aceitasse os seus presentes e lhes concedesse as suas bênçãos. O sacerdote ensinou-me os princípios do Cristianismo e as suas normas. Tornei-me muito próximo dele por servi-lo e ajudá-lo com os seus deveres, até que me tornei um dos seus assistentes de maior confiança, de modo que ele me confiava as chaves de seu domicílio na igreja e dos armazéns de comida e bebida. Mantinha consigo apenas a chave de um pequeno quarto onde costumava dormir. Eu acho, e Deus sabe melhor, que ele guardava as suas coisas de valor lá. Fui um estudante e servo por um período de dez anos, quando ele ficou doente e não pôde comparecer às reuniões de seus companheiros sacerdotes.

Durante a sua ausência os sacerdotes discutiram algu-mas questões religiosas, até que chegaram ao que tinha sido dito por Deus Todo-Poderoso, através do Seu Pro-feta Jesus no Evangelho: “Depois dele virá um Profeta chamado Paracleto”. Argumentaram muito sobre esse Profeta e sobre quem era ele entre os Profetas. Todos davam a sua opinião de acordo com o seu conhecimento e compreensão; e concluíram, sem obter nenhum bene-fício naquela questão. Fui ter com o meu sacerdote e, como de costume, perguntei-lhe sobre o que foi discu-tido na reunião, naquele dia. Mencionei a ele as dife-rentes opiniões dos sacerdotes sobre o nome Paracleto, e como concluíram o encontro sem clarificar o seu signi-ficado. Ele me perguntou: “Qual foi a sua resposta?” Dei a minha opinião que foi tirada da interpretação de uma exegese bem conhecida. Ele disse que eu estava quase correcto, assim como alguns sacerdotes, e os outros sacerdotes estavam errados. “Mas a verdade é diferente de tudo isso. Porque a interpretação daquele nome nobre é conhecida apenas por um pequeno número de estudiosos muito versados. E possuímos apenas um pequeno conhecimento”. Abaixei-me e beijei os seus pés, dizendo: “Senhor, sabe que viajei e vim para o senhor, de um país muito distante e o tenho servido por mais de dez anos; obtive conhecimento além da sua estimativa; então, por favor, diga-me a verdade sobre esse nome.” O sacerdote chorou e disse: “Meu filho, por Deus, você é muito querido para mim por me servir e se devotar ao meu cuidado. Saber a verdade sobre esse nome traz um grande benefício, mas também um grande perigo. E temo que quando você souber a verdade e os cristãos descobrirem, você será morto imediatamente.” Eu disse: “Por Deus, pelo Evangelho e por Aquele que foi enviado com ele, eu nunca falarei qualquer palavra sobre o que ir-me-á dizer e manterei isso no meu coração.” Ele disse: “Meu filho, quando você chegou aqui vindo do seu país, perguntei se você era próximo dos muçulmanos e se fizeram incursões contra você e você contra eles. Isso foi um teste sobre o seu ódio pelo Islão. Saiba, meu filho, que o Paracleto é o nome do Profeta Muhammad [Maomé], a quem foi revelado o quarto livro mencionado por Daniel. O caminho dele é o caminho claro mencio-nado no Evangelho.” Eu perguntei: “Então senhor, o que diz sobre a religião desses cristãos?” Ele disse: “Meu filho, se esses cristãos permanecessem na religião original de Jesus, então estariam na religião de Deus, porque a religião de Jesus e de todos os Profetas é a verdadeira religião de Deus. Mas eles a mudaram e se tornaram descrentes.” Perguntei a ele: “Então, senhor, qual é a salvação disso?” Ele disse: “Ó meu filho, abrace o Islão.” Perguntei a ele: “Aquele que abraçar o Islão será salvo?” Ele respondeu: “Sim, nesse mundo e no outro.” Eu disse: “O prudente escolhe para si mesmo; se sabia, senhor, o mérito do Islão, então o que o afasta dele?” Ele respondeu: “Meu filho, Deus Todo-Poderoso não me expôs à verdade do Islão e do Profeta do Islão antes de eu ficar velho e meu corpo enfraquecido. Sim, não existe desculpa para nós nisso; ao contrário, a prova de Deus foi estabelecida contra nós. Se Deus tivesse me guiado para isso quando eu tinha a sua idade, eu teria deixado tudo e adoptado a religião da verdade. Amor a esse mundo é a essência de todo pecado e veja como sou estimado, glorificado e honrado pelos cristãos e como vivo em afluência e conforto! No meu caso, se eu demonstrar uma ligeira inclinação em relação ao Islão, eles me matarão imediatamente. Supondo que eu seja salvo deles e tenha sucesso em escapar para junto dos muçulmanos, eles diriam que eu não deveria considerar o meu Islão um favor para eles e sim que eu tinha me beneficiado, sim-plesmente, por entrar na religião da verdade, a religião que me salvaria da punição de Deus! Então eu viveria entre eles como um pobre homem velho, de mais de noventa anos, sem saber o seu idioma, e morreria de fome entre eles. Estou, e todos os louvo-res são para Deus, na religião de Cristo e no que ele trouxe, e Deus sabe disso.”

Então perguntei a ele: “Aconselha-me a partir para o país dos muçulmanos e adoptar a sua religião?” Ele disse para mim: “Se for sábio e espera se salvar, corra para o que terá êxito nessa vida e na vida futura. Mas meu filho, ninguém está presente con-nosco em relação a esse assunto; é entre você e eu somente. Empenhe-se e mantenha isso em segredo. Se isso for descoberto e as pessoas souberem, elas o matarão imediatamente. Não serei de nenhum be-nefício para você contra eles. Nem será de qualquer

valia você lhes dizer que ouviu de mim sobre o Islão, ou que o encorajei a ser muçulmano, porque nega-rei. Eles confiam no meu testemunho contra o seu. Então, não diga uma palavra, aconteça o que acon-tecer.” Prometi a ele não fazê-lo.

Ele ficou satisfeito e contente com a minha promessa. Comecei a me preparar para a minha jornada e disse adeus. Ele orou por mim e me deu quarenta dinares de ouro[4]. Então apanhei um navio para minha cidade Maiorca, onde fiquei com os meus pais por seis meses. Depois viajei para a Sicília e permaneci lá por cinco meses, esperando por um navio para a terra dos muçul-manos. Finalmente chegou um navio para Túnis. Par-timos antes do pôr-do-sol e alcançamos o porto de Tú-nis, ao meio-dia do segundo dia. Quando saí do navio, estudiosos cristãos que ouviram de minha chegada vieram me saudar e fiquei com eles por quatro meses, em tranquilidade e conforto. Depois disso, perguntei a eles se havia um tradutor. O sultão naqueles dias era Abu al-Abbas Ahmed. Disseram que havia um homem virtuoso, o médico do sultão, um dos seus conselheiros mais próximos. Seu nome era Yusuf al-Tabeeb. Fiquei muito satisfeito ao ouvir isso e perguntei onde ele vivia. Levaram-me para encontrá-lo, separadamente. Contei a ele a minha história e a razão de minha vinda, que era abraçar o Islão. Ele ficou imensamente feliz, porque essa questão seria completada com a sua ajuda. Ca-valgamos até ao palácio do sultão. Ele encontrou o sultão e contou-lhe sobre a minha história e pediu a sua permissão para que eu o encontrasse.

O sultão aceitou e apresentei-me perante ele. A pri-meira pergunta que o sultão fez foi sobre a minha idade. Disse a ele que tinha trinta e cinco anos. Então perguntou-me sobre a minha aprendizagem e as ciên-cias que eu tinha estudado. Depois de lhe dizer, ele disse: “A sua chegada é a chegada da bondade. Seja um muçulmano com as bênçãos de Deus." Então eu disse ao médico: “Diga ao honorável sultão que sempre que alguém muda de religião é difamado pelo seu povo. Por isso, eu gostaria que ele trouxesse os sacerdotes e mercadores cristãos dessa cidade para perguntar a eles sobre mim e ouvir o que eles têm a dizer. Então, pela vontade de Deus, aceitarei o Islão”. Ele disse-me através do tradutor: “Você pediu o que Abdullah bin Salaam pediu ao Profeta, quando ele, Abdullah, decidiu anunciar o seu Islão”. Ele então chamou os sacerdotes e alguns mercadores cristãos e permitiu que eu aguar-dasse numa sala contígua onde não era visto por eles. “O que dizem sobre esse novo sacerdote que che-gou de navio?” Perguntou. Disseram: “É um grande estudioso na nossa religião. Os nossos bispos dizem que ele é o mais erudito e que ninguém é superior a ele em nosso conhecimento religioso”. Depois de ouvir o que os cristãos disseram, o sultão mandou-me chamar e eu me apresentei. Declarei os dois testemunhos de que não havia ninguém merecedor de adoração excepto Deus e que Muhammad, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, é Seu Mensageiro. Quando os cristãos ouviram isso se benzeram e disseram: “Nada o incitou a isso excepto o seu desejo de se casar, já que os sacerdotes na nossa religião não podem se casar.” Depois, partiram em angústia e tristeza.

O sultão destinou-me do tesouro um quarto de dinar por dia e me permitiu casar com a filha de Al-Hajj Mu-hammad al-Saffar. Quando decidi consumar o casamen-to, ele me deu cem dinares de ouro e um excelente conjunto de roupas. Então consumei o casamento e Deus me abençoou com um filho a quem dei o nome de Muhammad, como uma bênção do nome do Profeta».[5] ■

NOTAS:

[1] Depois de abraçar o Islão, ele ficou conhecido como Abu Muhammad bin Abdullah Al-Tarjuman. Era chamado Al-Tarjuman (o Tradutor), porque em menos de cinco meses depois de sua conversão o sultão o nomeou chefe da Administração da Marinha, onde ele aprendeu a língua árabe e se tornou um tradutor habilidoso, nos debates entre muçul-manos e cristãos. Depois de apenas um ano ele dominou a língua árabe e foi nomeado chefe dos Assuntos de Tradução. Também era bem conhecido entre as pes-soas comuns, que deram a ele alguns apelidos agradáveis; o mais popular era Sidi Tohfah, que significa “Meu Presente Principal”, se referindo ao seu famoso livro.

[2] Tuhfat al-arib fi al-radd ‘ala Ahl al-Salib, em árabe. O livro foi um poderoso golpe para a estrutura da crença cristã, porque foi escrito por um dos maiores estudiosos cristãos da época.

[3] Depois da introdução, ele escreveu sobre alguns eventos referentes ao Estado Hafsah. Prosseguiu com nove capítulos, incluindo um demonstrando que os quatro evangelhos não foram escritos pelos discípulos de Jesus, aos quais são usualmente atribuídos. Também discutiu outros tópicos, incluindo o Baptismo, a Trindade, o Pecado Original, a Santa Ceia, a Indulgência, A Lei da Fé. Refutou todas essas doutrinas com base nos textos dos Evangelhos e raciocínio lógico. Também provou a natureza humana de Cristo e refutou a sua alegada natureza divina. Então, expôs as contradições nos textos interpolados da Bíblia. Também discutiu questões nas quais os cristãos criticavam os muçulmanos, como a permissibilidade de casamento para estudiosos religiosos e homens devotos, circuncisão e prazer físico no Paraíso. Concluiu o seu livro provando a verdade da Missão Profética de Muhammad, usando textos da Bíblia.

[4] Moeda corrente na época.

[5] Extraído de Material on the Authenticity of the Quran: Proofs that it is a Revelation from Almighty God (Material sobre a Autenticidade do Alcorão: Provas de que é uma Revelação de Deus Todo-Poderoso), de Abdur-Raheem Greene.

Obrigado, boas leituras.

M. Yiossuf Adamgy

Um comentário:

Eonius Muslim disse...

Muito obrigado pelo texto acima, meu amigo e irmão Hamza.