Publicado em 05/12/2013
Em nome de Allah, o Clemente, o Misericordioso Conselho Superior dos Teólogos e Assuntos Islâmicos no Brasil Esclarecimento de Fatwa (parecer jurídico) sobre a relação entre muçulmanos e não muçulmanos.
Os muçulmanos no Brasil agradecem sobejamente por todas as regalias que o país lhes proporciona, como liberdade de professar, praticar e divulgar a sua religião, em completa paz e harmonia.
O povo brasileiro, mesmo com sua diversidade religiosa, durante décadas, vem convivendo em paz com os muçulmanos emigrantes, recebendo-os de braços abertos de vários países, com generosidade, e segurança.
Os muçulmanos fazem parte deste país, tanto na parte social, econômica, diplomática em diversos países islâmicos.
A base desta relação é a reciprocidade de gentileza, equidade, amor respeito e amizade.
O Conselho Superior dos Teólogos de Assuntos Islâmicos no Brasil confirma a publicação e publicará novamente a todos os muçulmanos e não muçulmanos que não é proibido manter boas relações com os não muçulmanos, e avisa a todos os irmãos brasileiros que o responsável pelas Fatwas islâmicos (pareceres jurídicos islâmicos) no Brasil é unicamente o Conselho Superior dos Teólogos e Assuntos Islâmicos no Brasil. Comunica a todos que a incitação ao ódio contra o povo brasileiro devido à sua diversidade religiosa não faz parte dos ensinamentos Islâmicos e quem faz esta incitação não representa o Islam, nem tem qualificação para emitir Fatwas. Quem faz isso não representa o Islam devido à sua falta de conhecimento, sua ignorância, ou somente para causar discórdia.
O Conselho dos Sábios no Brasil tem o imenso prazer de receber novos integrantes ao Conselho, depois de comprovadas as qualificações e os conhecimentos necessários para a finalidade, para que todos os nossos irmãos brasileiros, recebam os ensinamentos corretos do Alcorão e da Sunna (ditos e atos do Profeta Mohammad), e não traduzindo desejos pessoais, gerados por ignorância ou arrogância.
O Conselho Superior dos Teólogos e Assuntos Islâmicos no Brasil tem a grata satisfação de publicar novamente os pareceres (as Fatwas) dos Grandes Sábios: Cheikh Mohamed Saleh Ibn Uçaymin, Dr. Cheikh Youssef Al-Karadhawi e a Junta de Jurisprudência dos Sábios Muçulmanos da Europa:
O Significado da Amizade Para Com os Não Muçulmanos
Uma questão que preocupa algumas pessoas e que às vezes é discutida abertamente é a seguinte: Como podemos mostrar-lhes bondade, afeto, e tratar bem aos não muçulmanos quando Deus, o Altíssimo, Ele Próprio, proíbe aos muçulmanos de aceitar a amizade, a aliança ou o apoio de incrédulos:
"Ó crentes, não tomeis por confidentes os judeus nem os cristãos; que sejam confidentes entre si. Porém. quem dentre vós tomá-los por confidentes, certamente será um deles; e Deus não encaminha os iníquos. Verás aqueles que abrigam a morbidez em seus corações apressarem-se em ter intimidade com eles." (Alcorão Sagrado, 5ª Surata, versículos 51-52).
A resposta a isto está em que esses versículos não são incondicionais, a serem aplicados a todo judeu, cristão ou não muçulmano. Interpretá-los assim contradiz as injunções do Alcorão que urgem dispensar afeto e bondade aos povos bons e amantes da paz de todas as religiões, bem como aos versículos que permitem o casamento às do Povo do Livro, com tudo o que Deus diz sobre o casamento – "E vos vinculou pelo amor e pela piedade." (Alcorão Sagrado, 30ª Surata, versículo 21) – e o versículo sobre os cristãos:
"Constatarás que aqueles que estão mais próximos do afeto dos crentes são os que dizem: Somos cristãos!" (Alcorão Sagrado, 5ª Surata, versículo 82).
Os versículos citados acima foram revelados em relação àquelas pessoas que eram hostis para com o Islam e guerreavam contra os muçulmanos. Por isso, não é permissível ao muçulmano apoiá-los ou ajudá-los – isto é, aliar-se a eles – nem de confiar-lhes segredos a custa de sua própria religião e comunidade. Este ponto é explicado em outros versículos, nos quais Deus, o Altíssimo, diz:
"Ó crentes, não tomeis por confidentes outros que não sejam dos vossos, porque eles tratarão de vos arruinar e de vos corromper, posto que só ambicionam vossa perdição. O ódio já se tem manifestado por suas bocas; porém, o que ocultam em seus corações é ainda pior. lá vos elucidamos os sinais se sois sensatos. E eis que vós os amais; porém, eles não vos amam." (Alcorão Sagrado, 3ª Surata, versículos, 118-119).
Esse versículo esclarece o caráter de tais pessoas, que escondem enorme inimizade e ódio contra os muçulmanos nos seus corações e cujas línguas exprimem somente alguns efeitos dessa hostilidade.
Deus, Altíssimo, também diz:
"Não encontrarás povo algum que creia em Deus e no Dia do Juízo Final, que tenha relações com aqueles que contrariam a Deus e Seu Mensageiro, ainda que sejam seus pais ou seus filhos, seus irmãos ou parentes." (Alcorão Sagrado, 58ª Surata, versículo 22).
A oposição a Deus não é uma simples crença e inclui hostilidade para com o Islam e os muçulmanos.
"Ó crentes, não tomeis por confidentes a Meus e vossos inimigos, demonstrando-lhes afeto, posto que renegam o quanto vos chegou da verdade, e expulsam (de Makka) tanto o Mensageiro como vós mesmos, porque credes em Deus, vosso Senhor." (Alcorão Sagrado, 60ª Surata, versículo 1).
Esse versículo foi revelado em relação aos pagãos de Makka, que declararam guerra a Deus e ao Seu Mensageiro (Deus o abençoe e lhe dê paz), expulsando os muçulmanos de suas casas apenas porque estes disseram: "Nosso Senhor é Deus." Com esse tipo de gente, não se pode permitir nem amizade nem alianças. Mas, apesar disso, o Alcorão não descartou a esperança de algum dia poder haver uma reconciliação; ele não declarou um desapontamento definitivo com eles, mas encorajou os muçulmanos a nutrir a esperança de circunstancias melhores e relações melhoradas, pois na mesma surata Deus diz:
"E possível que Deus restabeleça a cordialidade entre vós e vossos inimigos, porque Deus é Poderoso, e porque Deus é Indulgente, Misericordiosíssimo." (Alcorão Sagrado, 60ª Surata, versículo 7).
Essa afirmação alcorânica faz a afirmação de que essa amarga hostilidade e profundo ódio irão passar, como também foi afirmado na Tradição:
"Modere o seu ódio pelo seu inimigo, porque ele poderá vir a ser seu amigo."
A proibição de fazer amizade com os inimigos do Islam é ainda mais enfática quando eles são mais fortes que os muçulmanos, e arrasam as esperanças e geram o medo na mente das pessoas. Em tal situação, somente os hipócritas e aqueles que abrigam a morbidez em seus corações se apressam a fazer amizade com eles, fornecendo-lhes ajuda hoje com a intenção de se beneficiarem deles amanhã. Deus, Altíssimo, descreve essa situação como segue:
"Verás aqueles que abrigam a morbidez em seus corações apressarem-se em ter intimidades com eles, dizendo: Tememos que nos açoite uma vicissitude! Pode ser que Deus apresente a vitória ou algum outro desígnio Seu e, então, arrepender-se-ão de quanto haviam maquinado." (Alcorão Sagrado, 5ª Surata, versículo 52).
E também:
"Adverte aos hipócritas de que sofrerão um doloroso castigo. Aqueles que tomam por confidentes os incrédulos em vez dos crentes, porventura pretendem obter deles honra? Sabei que toda honra pertence integralmente a Deus." (Alcorão Sagrado, 4ª Surata, versículos 138-139).
Obter Ajuda de Não Muçulmanos
Não há mal nenhum se os muçulmanos, quer a nível particular quer a governamental, pedirem ajuda a não-muçulmanos em assuntos técnicos que não têm nenhuma relação com a religião – por exemplo, na medicina, indústria ou agricultura. Ao mesmo tempo é claro, é extremamente desejável que os muçulmanos se tornem autossuficientes em todos esses campos.
Vemos na vida do Profeta (Deus o abençoe e lhe dê paz) que ele empregava 'Abdullah Bin 'Uraiquit, um politeísta, como seu guia na fuga (hijra) de Makkah para Madina. Os eruditos concluíram daí que a incredulidade de uma pessoa não significa que ela é basicamente não confiável, pois o que seria mais arriscado do que depender de um guia para lhe mostrar o caminho, especialmente se em fuga de Makka para Madina?
Indo bem além disso, os estudiosos dizem que é permissível ao líder dos muçulmanos recorrer à ajuda de não-muçulmanos, especialmente do Povo do Livro, em assuntos militares, e de dar-lhes uma participação de parte igual dos despojos que couberem aos muçulmanos. Azzuhri relatou que o Mensageiro de Deus (Deus o abençoe e lhe dê paz) procurou a ajuda de alguns judeus em certa guerra e deu-lhes uma parte dos despojos, e de que Safwan Ibn Umaia lutou a lado do Profeta (Deus o abençoe e lhe dê paz) enquanto ainda era um idólatra. A condição para se procurar ajuda de não muçulmano é a de que ele seja confiável aos muçulmanos; de outro modo, não se pode recorrer à ajuda dele. Uma vez que é proibido procurar a ajuda de muçulmanos não confiáveis, tais como aqueles que espalham rumores e ansiedades, tanto isto é mais verdade no caso dos que não creem.
Ao muçulmano é permitido dar presentes a não muçulmano e a aceita-los deles. É suficiente aqui mencionar que o Profeta (Deus o abençoe e lhe dê paz) aceitou presente de reis não muçulmanos. Os estudiosos das tradições dizem que há muitas tradições que relatam que o Profeta aceitava presentes de não muçulmanos, e Ummu Salama, a esposa do Profeta, narrou que o Profeta lhe dissera:
"Enviei um manto e alguma seda para An Najachi."
De fato, o Islam respeita o ser humano só porque ele é humano; e quanto mais então se é um dos do Povo do Livro e ainda mais se ele for dos pactuados? Certa vez passava uma procissão funeral pelo Profeta, e ele ficou de pé. Então alguém observou, "Ó Mensageiro de Deus, este é o funeral de um Judeu." O Profeta (Deus o abençoe e lhe dê paz) respondeu: "Não era ele uma alma?" Assim, a verdade é que, no Islam, cada ser humano é digno e tem uma posição.
Fonte: Cheikh Dr. Youssef Al-Karadáwi - "O Lícito e o Ilícito no Islam" - tradução: Prof. Samir El Hayek
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