Bismillah!
Suraca b. Málik
“Imagina-te, ó Suraca, usando os amuletos do Cosroé!’
Numa manhã, a tribo do Coraix despertou ao rumor de notícias que causou consternação a todos. Os chefes mal podiam acreditar no rumor de que Mohammad (SAAS) fugira de Makka sob o manto da noite. Primeiramente eles encetaram uma busca casa a casa, na vizinhança, ocupadas pelo clã dele, os Banu Háchim. Depois eles o procuraram nas casas de todos os companheiros dele. Quando chegaram a casa do Abu Bakr, a jovem Asmá b. Abi Bakr saiu para fora, e o Abu Jahl perguntou:
“Onde está teu pai, ó garota?”
“Não sei onde ele está neste momento”, foi a resposta dela. O Abu Jahl levantou a mão e deu-lhe um tamanho tapa no rosto, que arrancou-lhe o brinco da orelha.
Os líderes do Coraix ficaram fulos de raiva quando constataram que Mohammad (SAAS) deveras tinha deixado Makka. Escolheram, dentre os da tribo, os mais habilidosos rastreadores para pesquisarem que rota ele havia tomado, e se porem na perseguição dele. Quando chegaram à Caverna Çawr, os betedores disseram para os chefes:
“Aqui é onde a trilha termina. Eles não foram além daqui.” E eles não estavam errados, pois Mohammad (SAAS) e seu companheiro estavam na caverna, e os coraixitas estavam bem em cima deles(A maioria das cavernas, incluindo a de Çawr, são buracos subterrâneos, e não constituem cópias esteriotipadas de habitações domésticas com uma grande entrada). Abu Bakr Al Siddik podia ver os pés deles se mexendo, e ficou tão assustado, que quase chorou. O Profeta lançou-lhe um olhar de afetuosa e gentil desaprovação, e o Abu Bakr sussurrou para ele:
“Juro por Deus que não choro por mim, ó Mensageiro de Deus, mas temo que algo de ruim aconteça a ti!”
O Profeta (SAAS) disse, confortantemente:
“Não te entristeças, ó Abu Bakr; Deus está conosco!” E Deus fez com que a tranquilidade tomasse conta do Abu Bakr, que olhou para os pés dos perseguidores, e disse:
“Ó Mensageiro de Deus, se um deles olhar para baixo, para onde seus pés estão, ele poderá ver-nos!’
“Mas o que esperas, ó Abu Baker, sendo que há duas pessoas, e a Terceira, Que lhes faz companhia, é Deus?”
Então eles ouviram um dos jovens do Coraix dizer para os outros:
“Vamos descer até a caverna e ver o que há lá.”
Umayia b. Khalaf disse, zombeteiramente:
“Será que não vês que a entrada está coberta por teias de aranha, que são mais velhas que o próprio Mohammad?”
Então o Abu Jahl disse:
“Juro por Al Lat e Al Uzza que suspeito fortemente que ele está por perto, e pode ver tudo o que fazemos, e ouvir tudo o que dizemos, mas a mágica que ele pratica faz com que a nossa visão fique encoberta!”
No entanto, os coraixitas não abandonaram o empreendimento de procurarem por Mohammad (SAAS). Persistiram na sua determinação de o perseguirem, e anunciaram a todas as tribos localizadas nas áreas que se situavam nas estradas para Madina, que iriam dar cem dos mais finos cmelos a quem lhes levasse Mohammad, vivo ou morto.
Um dos mensageiros do Coraix foi à tribo dos Madlaj, que viviam numa área próxima a Makka, chamada Cudaid. O mensageiro foi para o local do encontro tribal e anunciou a notícia do prêmio oferecido pelo Coraix para a captura de Mohammad (SAAS), vivo ou morto. Na reunião estava um homem conhecido pelo nome de Suraca b. Málik.
Tão logo o Suraca soube dos cem camelos, seu coração se encheu de cobiça e ansiedade. Controlando-se, ele não disse uma palavra sequer que fosse aguçar semelhantes sentimentos de cupidez àqueles em torno dele. Antes que o Suraca pudesse levantar-se e deixar o local da reunião, um homem da sua tribo se acercou dele, e disse:
“Juro por Deus que três homens passaram por mim, há poucas horas, e eu suspeito que sejam Mohammad, Abu Bakr e o guia deles.”
“Não, eles são os filhos de fulano”, interrompeu o Suraca. “Eles estiveram fora todo o dia à procura de um dos seus camelos que se extraviou do seu rebanho.”
“Pode ser”, disse o homem, e ficou calado. Suraquah permaneceu sentado, para não levantar suspeita junto aos outros, no local da reunião. Logo que todos se envolveram em conversas sobre outros assuntos, o Suraca se desvencilhou deles. Rapida e silenciosamente,
dirigiu-se para sua casa, e sussurrou para a sua criada que preparasseo cavalo para ele, sem que ningéum soubesse. Ela teria que amarrar o cavalo numa ravina por perto, onde ele o iria apanhar. Depois ordenou ao seu servo que tirasse sorrateiramente suas armas da casa, e as escondesse na ravina, perto do seu cavalo.
Suraca foi sozinho para a ravina, onde vestiu a sua cota de malha, amarrou as armas ao corpo, montou em seu cavalo, e se pôs, às pressas, à tarefa de apanhar a Mohammad (SAAS), antes que alguém mais pudesse capturá-lo e ganhar o prêmio oferecido pelo Coraix.
O Suraca era um dos mais notáveis cavaleiros dentre seu povo, e montava a mais fina égua árabe que podia ser encontrada. Era alto e atarracado, habilidoso no mister de restreamento, e possuía grande resistência ao enfrentar os rigores das viagens. Sobre tudo isso, era um aguçado e intuitivo poeta.
Suraca estava a ganhar terreno a grande velocidade, quando sua égua tropeçou e caiu ao chão.
“Caramba, que belo cavalo és!” ele explodiu, depois remontou, cheio de raiva. Não tinha ido muito longe, e sua égua tropeçou novamente. Sua apreensão pessimista aumentou, e estava a ponto de desistir da busca, quando se lembrou dos cem camelos, e foi esporeado pela sua ganância.
O Suraca tinha viajado uma curta distância, quando divisou a Mohammad (SAAS) e seu companheiro. Ia pegar o arco e a flecha, mas estancou ao ver que as patas da égua se estavam enterrando no chão. Na frente dela subia uma fumaça, obscurecendo a visão dele. Ele incitava a égua para a frente, mas sentiu que ela estava chumbada ao terreno, como se seus cascos estivessem pregados ao solo. Então ele olhou para o lugar onde havia divisado o Profete e seu companheiro, e gritou, suplicando:
“Ei, vós aí, orai para que o vosso Senhor liberte as patas da minha égua, e eu prometo que vos deixarei em paz!”
O Profeta (SAAS) orou, como lhe foi pedido, e Deus libertou as patas da égua. Porém, a ganância do Suraca falou mais alto. Ignorando a sua promessa, ele incitou a égua na perseguição do Profeta (SAAS). Imediatamente as patas dela mais uma vez se enterraram no chão, dessa vez, mais profundamente que entes. Suraca gritou em desespero:
“Dar-vos-ei a minha comida, bagagem e minhas armas. Pegai-as, e eu juro perante Deus que até evitarei que outros vos persigam!”
“Nós não precisamos das tuas provisões”, eles responderam, “mas vê se manténs os outros longe de nós.”
Assim, o Profeta (SAAS) fez uma oração, e a égua foi liberada. Quando o Suraca estava para voltar para casa, ocorreu-lhe chamar por eles:
“Espera, quero falar contigo; juro por Deus que nada farei que vos cause dano!”
“Que queres de mim?” perguntou o Profeta (SAAS).
“Ó Mohammad, juro por Deus que eu sei que a tua religião em breve irá prevalecer. Tu irás ser poderoso. Promete-me que quando eu for visitar-te no teu reinado, tu irás tratar-me com honra? e dá-me tua promessa por escrito!”
O Profeta (SAAS) disse para Al Siddik fazer o que o Suraca pedira; Al Siddik encontrou um osso chato no qual escreveu a promessa, e deu-o para o Suraca. Conforme este ia indo embora, o Profeta (SAAS) lhe disse:
“Imasgina-te, ó Suraca, a usares os amuletos do Cosroé!”
“O imperador da Pérsia!?” exclamou o Suraca.
“Sim, Cosroé, o filho de Hurmuz”, respondeu o Profeta (SAAS).
Suraca partiu em direção a sua casa, e no caminho encontrou pessoas do seu povo que vinham na sua direção à procura do Mensageiro de Deus (SAAS). Disse a eles:
“Voltai! já percorri cada decímetro quadrado de terreno, e bem sabeis o quão habilidoso sou no tocante a localizar rastros.” Assim, eles desistiram da busca e voltaram para casa.
O Suraca guardou, do que havia-se passado entre ele e o Profeta (SAAS), segredo, até certificar-se de que o Mensageiro de Deus (SAAS) e seu companheiro haviam chegado a salvo a Madina, onde não poderiam ser injuriados pelos coraixitas. Então ele tornou pública a estória. O Abu Jahl foi um dos que ouviram o que se passou entre o Profeta (SAAS) e o Suraca, e como este permitira que o Profeta (SAAS) seguisse livremente. Abu Jahl se pôs a repreender o Suraca, que respondeu:
“Ó Abu Hakam, juro por Deus, se visses como o meu cavalo se enterrava no chão, irias saber, por certo, que Mohammad é um
Mensageiro, com provas cabais a apoiá-lo! Como poderia alguém resisti-lo?”
O tempo passou, grandes eventos tiveram lugar, e Mohammad (SAAS), que tinha deixado Makka como um exilado perseguido que, na fuga, procurara cobrir-se com o manto da escuridão, voltava então para aquela cidade como herói conquistador, rodeado por milhares de apoiadores que portavam suas espadas cintilantes e escuras lanças. Os chefes do Coraix, que andavam livremente por toda parte, cheios de arrogância e orgulhosos do poder, agora iam, humilde e temerosamente, ter com o Profeta (SAAS), suplicando-lhe que os tratasse com misericórdia. Com a clemência de todos os profetas, ele dissera:
“Podeis movimentar-vos em liberdade, pois nada quero de vós!”
Foi neste comenos que o Suraca preparou a sua montaria e viajou para encontrar-se com o Profeta (SAAS), com o fito de declarar a sua crença no Islam. Levou consigo a promessa por escrito que tinha recebido do Profeta (SAAS), havia vinte anos. Suraca relata a estória com as seguintes palavras:
“Soube que o Profeta estava em Jiranah; fui até lá, e tentei passar através das fileiras dos seus apoiadores, que o circundavam. Batiam em mim com as traseiras das suas lanças, dizendo:
“Para trás, para trás, que queres?” Contudo, eu os ignorei, mas continuei me esforçando no meio deles, até chegar perto do Profeta (SAAS), que estava montado em seu camelo. Ergui minha mão com a promessa escrita, e gritei:
“‘Ó Mensageiro de Deus, sou eu, o Suraca b. Málik. Eis o que escreveste para mim!’ O Profeta (SAAS) respondeu:
“‘Aproxima-te, ó Suraca b. Málik! Esta é a hora do cumprimento da promessa e para a benevolência!’ Assim eu fui até ele, declarei a minha crença no Islam, e fui tratado benévola e caritativamente pelo Profeta Mohammad (SAAS).’”
Apenas uns poucos meses depois daquele encontro entre o Profeta (SAAS) e Suraca b. Málik, Deus chamou o Seu Profeta, que deixou este mundo para passar a eternidade ao Seu lado. Suraca ficou profundamente entristecido com a morte do Profeta (SAAS). Tinha frqüentes retrospectos do tempo em que tentou matar o Profeta (SAAS) por causa de cem camelos, e se conscientizava de que todos os camelos do mundo tinham então menos valor do que uma simples apara de uma das unhas do Profeta (SAAS). Repetia para si mesmo o que ele lhe dissera:
“Imagina-te, ó Suraca, a usares os amuletos do Cosroé!” e nunca lhe ocorreu duvidar de que iria deveras usá-los.
O tempo passou e, eventualmente, a liderança da comunidade muçulmana tornou-se o mister de Al Faruk Ômar b. al Khattab (que Deus esteja comprazido com ele). No abençoado tempo da sua liderança, os exércitos muçulmanos varreram o império persa feitos tornados. Os exércitos demoliram fortalezas, derrotaram forças inimigas, depuseram governantes despóticos, e tornaram-se donos do Estado e da riqueza da longa linha de imperadores, que chegara ao fim.
Um dia, durante os dias finais da liderança de Ômar, os mensageiros de Saad b. Abi Waccas chegaram a Madina portando a notícia da vitória do califa. Também levaram para o tesouro dos muçulmanos a quinta parte que lhe cabia da riqueza de que se haviam apossado aqueles que lutaram pela causa de Deus. Quando aqueles bens foram colocados à frente do Ômar, ele os olhou com espanto. Viu a coroa de ouro do Cosroé, juncada de pérolas, suas vestes, tecidas com tramas de ouro, sua precinta, com pedras preciosas como que tecidas nela, e seu par de amuletos, que não tinha comparação, juntamente com outros inúmeros objetos de valor.
O Ômar remecheu o monte das preciosiddades com uma vara que portava. Então voltou-se para aqueles que o acompanhavam, e argumentou:
“As pessoas que empunham preciosidades como estas e as entregam ao governo são verdadeiramente confiáveis!”
O Áli b. Abi Tálib calhou estar entre os presentes, e respondeu:
“Tu nunca demonstraste ganância por tais coisas; assim também as pessoas que tu comandas estão livres da ganância. Se tu te quisesses locupletar, eles, também, iriam querer locupletar-se.”
Lembrando-se da promessa do Profeta (SAAS), Al Faruk mandou chamar o Suraca b. Málik. Fez com que ele vestisse a roupa, as calças e a capa de Cosroé, até os seus chinelos. Depois Al Faruk abotoou o cinturão de espada de Cosroé no Suraca, e lhe pôs a coroa na cabeça. Por fim, enfiou os amuletos de Cosroé nos pulsos do Suraca, e o apresentou aos muçulmanos, que exclamaram:
“Allahu akbar! Allahu akbar!”(Allahu akbar! – Deus é o Maior!)
O Ômar perscrutou o Suraca com prazer, e disse:
“Eis que um dos nossos beduínos da tribo dos Madlaj usa agora a coroa e os amuletos do Cosroé!” Depois o Ômar ergueu os olhos para o céu, e continuou:
“Oh Deus, Tu não quiseste que o Teu Mensageiro recebesse esta riqueza, sendo que ele era mais digno do Teu amor e das Tuas benesses do que eu. Nem tampouco queiseste que o Abu Bakr os recebesse, sendo que ele, também, era mais merecedor do que eu. Rezo para que me protejas quanto a isso ser a causa do meu castigo!” E, antes de Ômar deixar o local, providenciou para que os bens fossem distribuídos entre os muçulmanos, nada restando para ele mesmo.
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"São aqueles aos quais foi dito: Os inimigos concentraram-se contra vós; temei-os! Isso aumentou-lhes a fé e disseram: Allah nos é suficiente. Que excelente Guardião! Pela mercê e pela graça de Deus, retornaram ilesos. Seguiram o que apraz a Deus; sabei que Allah é Agraciante por excelência." (03: 173-174)
يُرِيدُونَ أَن يطفئوا نُورَ اللّهِ بِأَفْوَاهِهِمْ وَيَأْبَى اللّهُ إِلاَّ أَن يُتِمَّ نُورَهُ وَلَوْ كَرِهَ الْكَافِرُونَ
......Desejam em vão extinguir a Luz de Deus com as suas bocas; porém, Deus nada permitirá, e aperfeiçoará a Sua Luz, ainda que isso desgoste os incrédulos!
Mohamad ziad -محمد زياد
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