quarta-feira, fevereiro 29, 2012

A L M A D I N A - A BONDADE INATA

Por: Sheikh Aminuddin Mohamad - 27.02.2012

Certa vez, um santo estava sentado a beira de um rio, onde queria fazer ablução (wudhu) para cumprir uma oração (salaat). 

Ao estender a sua mão em direção à água viu um escorpião que tentava sair do rio, mas as pequenas ondas que se formavam na margem não lhe permitiam. 

Ao ver isso, sentiu alguma pena e pensou em ajudá-lo, pois tratava-se de uma criatura de Deus. Ato contínuo, meteu a mão na água, e assim que pegou o escorpião para o retirar, este ferrou-lhe. A dor do ferrão cravado no seu dedo foi tão forte, que o santo imediatamente o largou, e na tentativa de minimizar a dor que sentia, começou a massajar o local afetado. Em seguida estendeu de novo a mão para a água para fazer ablução, mas de novo viu o mesmo escorpião lutando com as ondas na tentativa de sair do rio. O santo, julgando ser sua obrigação fazer o bem sem olhar a quem, estendeu de novo a mão em direção ao escorpião para salvá-lo. Assim que pegou nele, o bicho voltou a ferrar-lhe, obrigando-o assim a largá-lo. A segunda ferroada foi mais dolorosa que a primeira. 

Depois de algum tempo voltou a estender a mão em direção à água para iniciar a ablução, e viu outra vez o escorpião naquela situação aflitiva. Preocupado com o bicho, fez uma terceira tentativa para tirá-lo da água, mas pela terceira vez voltou a sentir a forte dor da ferroada do lacrau. 

Entretanto, sentado a uma curta distância e assistindo àquela cena, estava um jovem, que não resistiu e foi ter com o santo e perguntou: “O que se passa consigo, está maluco”? O santo respondeu: “Qual é o problema”? O jovem retorquiu: “Então deixa que o escorpião lhe ferre repetidamente e insiste em querer salvá-lo”? O santo disse: “Tem razão, mas pensei que sendo este um escorpião, Deus pôs no seu instinto e na sua natureza o cravar o seu ferrão em todo aquele que constitua ameaça. Todavia, eu sou seguidor do Profeta Muhammad, S.A.W., que foi enviado como misericórdia para o Mundo, e Deus colocou no meu instinto, o servir e ajudar a criatura de Deus. E continuo a pensar que, se o escorpião não pode abdicar do seu instinto maldoso, porque razão terei eu que renunciar do meu instinto bondoso”? 

De fato, todo o mal e todo o bem no Mundo são praticados na base do instinto. Há pessoas que são más por instinto, pois só sabem fazer mal. Mesmo que sejam presas, passando anos na prisão, quando saem voltam ao mundo do crime, pois o mal está no instinto dessas pessoas. 

Certa vez o Profeta Jesus (que a paz esteja com ele) estava caminhando na companhia dos seus discípulos, e passou por algumas pessoas que por sinal eram suas inimigas. Essas pessoas começaram a insultá-lo, a dizer mal dele. Mas em troca, Jesus começou a orar a seu favor. Os seus discípulos, estranhando esta atitude do seu Mestre, disseram: “Senhor! Eles estão a insultá-lo”! Então Jesus disse: “Cada um gasta o que tem. Eles só têm o mal, e eu só tenho o bem”. 

Infelizmente, na nossa era, quer parecer que os maus é que detêm o domínio de tudo. É difícil ver nas nossas sociedades gente que seja capaz de amparar os destituídos, de se levantar em defesa dos injustiçados, de ajudar os fracos, de consolar os órfãos, de estender a mão às viúvas, de confortar os corações entristecidos, de compartilhar a dor dos pobres, de proporcionar tecto aos desprovidos de casa. 

Ao invés de se manietarem as mãos dos opressores e injustos, o que vemos é gente a dar-lhes apoio e cobertura no cometimento de mais opressão e injustiça. 

O Profeta Muhammad S.A.W. disse: “Ajude o seu irmão, seja ele opressor ou oprimido”. Então alguém observou: “Ó Mensageiro de Deus! Compreendemos que tenhamos que ajudar o oprimido. Mas como é que se pode ajudar o opressor”? O Profeta respondeu: “Ao impedi-lo de cometer opressão e injustiça. Isso é que é ajudá-lo”! (Al-Bukhari; Musslim) 

Hoje, no sistema ocidental, infelizmente destruiu-se o sistema familiar, criando-se no seu lugar uma barreira entre os velhos pais e seus filhos, degolando-se à luz do dia, o carinho paterno, e a ternura e afeto maternos. 

A sombra carinhosa dos velhos pais é uma grande bênção e um tesouro. É nela que os filhos angustiados se refugiam e resolvem muitos dos assuntos complicados com que se deparam, e onde as lanternas acesas encontram o caminho com os seus valiosos conselhos, e os nós complicados da vida se desfazem. 

Por outro lado, o pai e a mãe, quando ficam velhos, querem usufruir do fruto da árvore que plantaram. Precisam de companhia e os filhos são um escudo e apoio, para onde eles se podem inclinar. É claro que ninguém pode servir os pais melhor que os seus próprios filhos. 

Essa civilização ocidental eliminou e arrumou os pais velhos, fechando-os “enclausurando-os” em lares de idosos. Tudo isso atenta contra os ensinamentos islâmicos. 

No Al-Qur’án, em vários versículos, Deus ordena-nos a tratar com bondade os nossos pais, abstendo-nos de os maltratar. E considera a sua satisfação como se da satisfação de Deus se tratasse. Tomemos como exemplo o Cap. 23, Vers. 24: 

“O teu senhor decretou que não deveis adorar a ninguém, a não ser a Ele; E que deveis ser bondosos para com os vossos pais. Se a velhice atingir um deles ou ambos, em vossa companhia, não dizei ‘uff” por irritação. Nem os ralheis, mas falai-lhes com palavras generosas (com respeito). E, por misericórdia, submetei-vos perante eles com humildade e dizei: “Senhor meu! Tem pena deles, assim como eles tiveram pena de mim, ao me criarem quando eu era pequenino”. 

O Profeta Muhammad S.A.W. também nos ordenou a tratarmos bem os nossos pais, a falarmos com respeito com eles, abstendo-nos de lhes dirigir ofensas ou causar-lhes mágoa, nem desobedecer. Disse até, que o Paraíso está debaixo dos pés das mães. E mais. Ordenou-nos a tratar bem os nossos empregados (homens ou mulheres) alimentando-os com aquilo com que nos alimentamos, e vestindo-os daquilo com que nos vestimos. 

Quão bons são os ensinamentos que Deus e o Seu Mensageiro nos transmitem! 

Para onde, então, as pessoas se desviam? 

A prisão não são apenas as paredes, os cadeados, as portas e janelas gradeadas, e as restrições impostas ao recluso. A verdadeira prisão é envergonhar e humilhar o seu semelhante, e fazê-lo sentir que está a mais e que não tem nenhuma importância, esteja ele vivo ou morto, satisfeito ou zangado, perto ou longe

"A hereditariedade e a boa educação têm uma grande influência na bondade inata". 

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