sábado, dezembro 24, 2011

ERA UMA VEZ EM ANDALUZIA

Por Dr. Abdellatif Charafi

Este artigo pretende ser uma viagem no tempo a um período muito especial da história mundial: do nono ao décimo terceiro séculos, na Andaluzia, e mais especificamente em Córdoba, onde um milhão de pessoas viviam na maior cidade da Europa, o centro cultural daquela época. Não havia separação rigorosa entre o estudo científico, a sabedoria e a fé. O Oriente estava separado do Ocidente, e nem os muçulmanos dos judeus ou cristãos. Na verdade, foi lá que o Renascimento começou e de lá se expandiu.

Ao examinar a trajetória do Islam na Andaluzia, o objetivo não é louvar um morto ilustre e sim reintroduzir em nossa vida a afirmação dos valores absolutos e universais do Islam, sem os quais a sociedade inevitavelmente se desintegrará.

O Mito da Conquista Muçulmana da Espanha

Mas de quinhentos anos se passaram desde que o Islam foi erradicado da Espanha. O acontecimento foi comemorado com esplendor na Expo 92, em Sevilha, durante a qual, os organizadores tentaram nos fazer crer que a Espanha teria sido formada por mais de sete séculos de luta continuada contra o Islam. Mas a derrota dos muçulmanos, em janeiro de 1492, significou uma libertação para os espanhóis? O califado muçulmano foi uma colonização da Península Ibérica?

Quando estudamos a expansão muçulmana na Espanha espantamo-nos com a sua velocidade, seu aspecto e um modo geral pacífico e seu componente civilizacional. Os muçulmanos levaram menos de 3 anos (de 711 a 714) e uma batalha (de Guadalete, perto de Cadiz) para se espalharem por toda a Espanha. Em contraposição a isto, o Profeta Mohammad levou 23 anos (de 610 a 632) e 19 expedições para que toda a Arábia aceitasse o Islam. Esta diferença no tempo e nos esforços para conquistar a Arábia e a Espanha para o Islam deve-se a afinidades teológicas assim como a razões sócio-culturais e político-econômicas que atraíram os espanhóis.

A Arábia pré-islâmica era predominantemente politeísta, com pequenas comunidades de judeus e cristãos e o Islam teve de lutar contra um “mundo sem lei” (jahiliyya) para que prevalecesse o monoteísmo. A Espanha pré-islâmica era cristã com importantes comunidades judaicas. Esta diferença, de acordo com Roger Garaudy, não só explica a rapidez da expansão como seu tipo também.

W. Montgomery Watt, em A History of Islamic Spain, afirma:

“É um equívoco comum que a guerra santa signifique que os muçulmanos tenham dado aos seus opositores uma escolha “entre o Islam e a espada”. Em alguns casos foi assim, mas somente quando os inimigos eram politeístas e adoradores de ídolos. Para judeus, cristãos e outros “Povos do Livro”, isto é, monoteístas com escrituras – uma sentença que foi interpretada muitas vezes de forma liberal – havia uma terceira possibilidade, eles podiam tornar-se um grupo protegido, pagando uma taxa ou tributo aos muçulmanos para usufruírem de autonomia interna.”

O caso da Espanha não é, portanto, excepcional e isto se deve à verdadeira essência do Islam.

O Profeta nunca pretendeu criar uma nova religião: “Dize-lhes: Não sou um inovador entre os mensageiros.” (46:9) “Nada te foi revelado que não tivesse sido aos mensageiros antes de ti.” (41:43

Ele veio para lembrar às pessoas a Religião Primordial: “Dizei: Cremos em Deus, no que nos foi revelado, no que foi revelado a Abraão, a Ismael, a Isaac, a Jacó e às tribos; no que foi concedido a Moisés e a Jesus e no que foi dado aos profetas por seu Senhor; não fazemos distinção alguma entre eles e nos submetemos a Ele.” (2:136)

O Islam veio para confirmar as mensagens anteriores, para purificá-las das alterações históricas e para completá-las. Diz o Alcorão: “Porém, se estás em dúvida sobre o que te temos revelado, consulta aqueles que leram o Livro antes de ti.” (10:94)

A comunidade muçulmana era uma comunidade aberta, sem distinção para aqueles que acreditavam na unidade e transcendência de Deus.

Além disso, na Península Ibérica irrompeu uma guerra civil entre os cristãos trinitários, que aceitavam a Trindade e a divindade de Jesus, e os cristãos arianos, que não viam Jesus como Deus e sim como um profeta inspirado por Deus. O Concílio de Nicéia, em 325, convocado pelo imperador Constantino para unificar seu império ideologicamente, impôs o dogma da Trindade e condenou os ensinamentos de Anus de Alexandria, que não aceitava tais dogmas. O conflito surgiu quando, em 709, os cristãos unitários declararam Roderick rei. O arcebispo de Sevilha se opôs a ele e os habitantes da atual Andaluzia (Bétique) se revoltaram contra seu governo. Quando Roderick invadiu a Andaluzia, a população procurou por ajuda. O competente general bérbere, Tariq ibn Ziyad cruzou o estreito de Algeciras, e aconteceu a batalha em Guadalete, próxima a Cadiz. Os bispos de Sevilha e de Toledo se juntaram ao exército muçulmano.

Os camponeses tinham uma vida difícil, eram mal tratados e viviam escravizados. A pobreza, corrupção, ignorância e instabilidade estavam por toda a parte. Mesmo os homens livres se sentiam desprestigiados. Havia muitos descontentes e as pessoas comuns viram os muçulmanos como seus libertadores e lhes prestaram todo o apoio possível. Os judeus, que tinham sido perseguidos por muito tempo sob o governo dos visigodos (por exemplo, um decreto especial de 694 previa a escravização de todos os que não aceitassem o batismo), abriram os portões de várias cidades. A satisfação era tão grande e tão disseminada em todas as classes sociais que durante todo o século 8 não se registrou uma única revolta entre os súditos.

Se imaginarmos uma invasão militar, fica difícil compreender como um pequeno exército pôde atravessar toda a Espanha em menos de 3 anos. O historiador Dozy, em Histoire des Musulmans d’Espagne, descreve o envento como uma “coisa boa para a Espanha”, que produziu uma importante revolução social, libertando o país das amarras que prenderam a região por tantos séculos. Os impostos eram muito menores se comparadas àquelas cobrados pelos governos anteriores. Os muçulmanos promoveram uma reforma da terra, tirando do rico e distribuindo-a igualmente aos camponeses e escravos. Os novos proprietários trabalhavam a terra com orgulho. O comércio, livre das limitações e das elevadas taxas que provocavam o seu estrangulamento,floresceu. Os escravos podiam alcançar sua liberdade através de uma compensação justa, algo que trouxe novas energias. Todas estas medidas, diz Dozy, criaram um estado de bem-estar que justificava a boa recepção que tiveram os muçulmanos.

O grande escritor espanhol Blasco Ibanez, em Dans l’ombre de la cathédrale, fala de uma “expedição civilizacional” chegando do sul e não de uma conquista. Para ibanez, não foi uma invasão imposta pelas armas, era uma nova sociedade cujas raízes vigorosas cresciam por toda a parte. Ao descrever os muçulmanos conquistadores, diz ele: ‘O princípio de liberdade de consciência, a pedra angular da grandeza das nações, era muito caro a eles. Nas cidades em que governaram, eles aceitaram a igreja dos cristãos e a sinagoga dos judeus.’

A História, portanto, mostra que a lenda do muçulmano fanático varrendo a Espanha e impondo o Islam à força da espada é um mito absurdo. A expansão do Islam na Espanha não foi uma conquista militar e sim uma libertação.

O Sentido da Vida na Andaluzia

O sentido da vida e seus objetivos na Andaluzia na época de seu apogeu islâmico, ordenava cada ato do cotidiano, assim como da pesquisa técnica e científica. Gigantes espirituais, como os muçulmanos Ibn Rushd (1126-1198), conhecido no ocidente como Averróes, e Ibn Arabi (1165-1240), ou o filósofo judeu Maimônides (1135-1204), são alguns dos homens que trouxeram mais brilho à mensagem da Andaluzia. Este espírito está por trás de todo progresso científico e técnico das séculos dourados do Islam.

A ciência não foi separada da sabedoria e da fé e nada pode expressar melhor este fato do que o observado por Ibn Rush quando escreve:

“Nossa filosofia não serviria de nada se não fôssemos capazes de ligar estas três coisas conforme tentei fazer em minha ‘Harmonia da Ciência e Religião’:

– A Ciência, baseada na experiência e lógica, para descobrir a razão.

– A Sabedoria, que se reflete no objetivo de toda pesquisa científica para que a nossa vida seja mais bela.

– A Revelação, a do nosso Alcorão, porque somente através da revelação é que conheceremos os objetivos finais de nossa vida e nossa história.”

A unidade da tradição abraâmica e a abordagem crítica da filosofia são expressas com a mesma força no trabalho do filósofo judeu Maimônides, que foi contemporâneo de Ibn Rushd. Diante da Torá, na sinagoga, ele disse:

Se para Ibn Rushd o Livro Sagrado não é a nossa Torá e sim o Alcorão, ambos concordamos no que se refere às contribuições da razão e da revelação. São duas manifestações de uma mesma verdade divina. Existe apenas uma contradição quando um é fiel à leitura literal das escrituras, esquecendo-se de seu significado eterno.

Na Andaluzia, o Islam assume uma nova dimensão com Ibn ‘Arabi, apelido de Muhyi al-Din (aquele que dá sua vida pela fé). O que interessava a Ibn ‘Arabi não era o que o homem fala a respeito de sua fé e sim o que esta fé faz por este homem. Diz ele:

Deus é unidade. A unidade do amor, do amante e do amado. Todo amor é um desejo de união. Todo amor, consciente ou inconsciente, é um amor a Deus.
Testemunhe esta presença de Deus dentro de si, da criação de Deus, que nunca cessa. O ato é uma manifestação exterior de fé. O Islam reconhece todos os profetas e mensageiros do mesmo Deus. Aprenda a descobrir em cada homem a semente de um desejo por Deus, mesmo que sua crença ainda seja fraca e algumas vezes idólatra. Ajude a conduzi-lo para a Luz mais completa.

Ibn Rushd esforçou-se para trazer a luz da mensagem universal do Islam, obscurecido pelas tradições, quando definiu a melhor sociedade como ‘aquela onde toda mulher, toda criança e todo homem recebem todos os meios para desenvolver as possibilidades que Deus concedeu a cada um deles.’ O poder de estabelecer isto não será através de uma teocracia, como a dos cristãos na Europa, um poder de cúmplices ou tiranos religiosos : Deus diz no Alcorão, ‘Ele instilou no homem Seu espírito”. Que Ele viva em cada homem!’
Quando indagado sobre as condições de uma tal sociedade, ele respondeu: ‘Uma sociedade será livre e agradável a Deus quando ninguém agir por medo do Prínicpe ou por medo do Inferno, e nem pelo desejo da recompensa deste mundo ou do Paraíso, e quando ninguém disser: Isto é meu.’

O Islam na Andaluzia produziu vários gigantes espirituais que mostraram que não há futuro para a humanidade que não seja dentro dos valores espirituais que emanam da crença na transcendência e unicidade de Deus. Homens como Ibn Massara, de Córdoba (883-931), para quem o homem era responsável por sua própria história; Ibn Hazm, de Córdoba (994-1064), que foi o pioneiro da história comparativa das religiões; Ibn Gabirol, de Málaga (1020-1070), cujo trabalho fundamental foi a síntese da fé judaica e a filosofia de Ibn Massar; Ibn Bajja (1090-1139), que apresentou a filosofia islâmica de uma forma sistemática; Ibn Tufayl, de Cadiz (1100-1185), cujo tema central foi a relação entre a razão e a fé.

Todos esses homens de conhecimento, sabedoria e fé, permanecem como legado de um passado glorioso, quando o verdadeiro Islam foi pregado e praticado; um tempo do belo exemplo de muçulmanos conquistando fama e respeito; um tempo em que estes povos amantes da paz surgiram porque a injustiça estava sendo praticada e deveria ser combatida em nome de Deus com a força que levou um punhado de fiéis à vitória sobre os exércitos dos incrédulos.

O Estilo de Vida em Andaluzia

A Andaluzia foi singular no que se refere às suas realizações tangíveis em todos os campos da vida humana. O ensino foi enfatizado, marcado por uma fascinação pela ciência, literatura árabe e pelo discurso filosófico sobre a razão e a fé. No mundo criado em terras andaluzas, havia uma prosperidade comercial, prosperidade em termos de consumo e de produtividade e intercâmbio. Havia uma riqueza de informação graças às bibliotecas de Córdoba e uma riqueza de pensamento sobre o significado da vida, de Deus e das coisas materiais. E havia poetas que cantavam todas as formas de riqueza.

Limitar-nos-emos a uma breve descrição das conquistas técnicas e científicas, e a um relato mais detalhado da Mesquita de Córdoba porque é um das primeiras expressões monumentais do governo muçulmano e indiscutivelmente um prédio que mais completamente incorpora a imagem da hegemonia muçulmana na Andaluzia.

Conquistas Técnica e Científica

Quando discutimos o progresso científico da Andaluzia, não podemos separá-lo das contribuições de outras grandes civilizações e nem da sabedoria e fé que inspiraram os esforços de todos os pesquisadores andaluzes: a ciência é Única porque o mundo é Único, o mundo é Único porque Deus é Único. Este princípio de tauhid comandou todos os aspectos da pesquisa científica na Andaluza assim como em outras partes do mundo islâmico, em seu período de apogeu. A seguir, algumas conquistas desta filosofia de vida.

A primeira tentativa de vôo aconteceu em Córdoba com Abu Abbas al-Fernass. Al-Zahrawi, nascido nas proximidades de Córdoba, em 936, foi um dos maiores cirurgiões de todos os tempos. Sua enciclopédia de cirurgia foi usada como uma referência na matéria em todas as universidades da Europa por mais de 500 anos. Al-Zarqalli, que nasceu em Córdoba, inventou o astrolábio: um instrumento que é usado para medir a distância das estrelas acima do horizonte. O astrolábio tornou possível a determinação da posição de uma pessoa no espaço e as horas do dia, para navegar e chamar o fiel para a prece no tempo devido.

Al-Idrisi, que nasceu em Ceuta em 1099, e estudou em Córdoba, desenhou mapas para o rei Roger II, da Sicília, onde ele usou métodos de projeção para passar da sombra esférica da terra para o planisfério, que era muito semelhante àquele usado por Mercator 4 séculos mais tarde.

Os métodos de agricultura e irrigação dos muçulmanos da Espanha foram revelados pelo grande engenheiro italiano, Juanello Turriano, que chegou a Andaluzia para estudar técnicas agrícolas e hidráulicas adotadas no século 11, para resolver seus problemas na Itália do século 16.

A Grande Mesquita de Córdoba

Córdoba merece seu título de ‘a noiva das cidades’ e a ‘jóia do século 10′. A cidade das fábricas e lojas, que atraiu muitos exegetas e produziu os seus próprios. Foi a primeira cidade com iluminação pública da Europa. Foi o centro do ensino e da civilização numa época em que os normandos tinham atacado Paris e os vikings tinham saqueado a Inglaterra. Sua obra prima foi a magnífica mesquita, que é a construção mais famosa da Espanha, depois do palácio de Alhambra, em Granada.

As fundações da mesquita foram construídas por Abd al-Rahman I, em 785, num lugar que tinha sido uma igreja cristã. Desde o tempo da conquista, em 711, a igreja era usada tanto por muçulmanos como por cristãos. Os muçulmanos compraram a igreja por causa do crescimento da população e não por uma questão de intolerância religiosa. Entre 832 e 848, ela foi ampliada, e depois em 912, mais tarde em 961, por al-Hakam II, que construiu seu esplêndido mihrab. Al-Mansur, em 987, dobrou o espaço do salão de orações, que passou a dispor de 600 colunas. Em 1236, ela foi atacada quando Córdoba se rendeu a Ferdinando III, de Castela, e inseriu uma capela e, mais tarde, em 1523, quando uma catedral foi construída no coração da mesquita. Conta-se que o rei Carlos V quando viu a nova catedral disse: ‘Se eu soubesse o que era, não teria dado permissão para que se tocasse no antigo, pois vocês fizeram o que existe em muitos outros lugares e desfizeram o que era único no mundo.’

Como podemos ver, apesar da oposição do governo espanhol ao projeto da UNESCO de mudar a catedral como ela é, sem omitir o menor detalhe (como o templo de Abu Simbel no Egito foi mudado), a Mesquita de Córdoba ainda é o reflexo do melhor da arte muçulmana.

O problema prático enfrentado pelo arquiteto da Mesquita de Córdoba para a construção de seu vasto salão para uma grande comunidade, foi levantar o teto do oratório a uma altura proporcional à extensão do prédio, com a finalidade de dissipar qualquer sentimento depressivo que é sentido quando se entra num parqueamento subterrâneo. As antigas colunas das ruínas do prédio não foram suficientes. Era necessário complementá-las e foi sugerido o exemplo de Damasco, com arcadas de dois níveis. Mas o modelo de Córdoba tem um aspecto realmente surpreendente: as arcadas superiores e inferiores não são parte da parede mas foram reduzidas a pilares e arcos sem qualquer alvenaria intermediária. As arcadas superiores que amparam o teto estão sob os mesmos pilares das arcadas inferiores. Este conceito, sem precedente na história da arquitetura e única na Mesquita de Córdoba é um verdadeiro desafio para o peso e inércia das pedras.

As curvas das duas séries de arcadas elevam-se como palmeira – galhos de um mesmo tronco que repousam sobre uma coluna relativamente delgada, sem parecerem pesadas demais. As arcadas com suas pedras trabalhadas, de várias cores, expressam tal força que dissipam qualquer idéia de peso. Esta expressão em termos estáticos de uma realidade que vai muito além do plano material deve-se ao contorno das arcadas. As inferiores são projetadas na forma de semicírculos, enquanto que as superiores são mais abertas e semicirculares.

Muitos arqueólogos sugeriram que a composição dos arcos usados pelo arquiteto de Córdoba foi inspirada no aqueduto romano de Mérida. no entanto, existe uma diferença fundamental entre as duas construções. O arquiteto romano respeitou a lógica da gravidade, o apoio de uma edificação deve ser proporcional ao seu peso e assim, os arcos superiores devem ser mais leves do que os elementos que as apoiam. Para o arquiteto cordobês – e de um modo geral para toda a arquitetura islâmica, esta regra não funciona. Por que?

Para responder a esta pergunta devemos nos abstrair de considerações técnicas e prestarmos atenção à expressão simbólica do espaço na oração muçulmana, que foi o fator mais importante que o ‘Mestre’ de Córdoba teve que se preocupar. O objetivo não era alcançar uma façanha arquitetônica e sim criar um novo tipo de espaço que parecesse respirar e se expandir a partir de um centro onipresente. Os limites de espaço não têm qualquer função: as paredes do salão de orações desaparecem por trás de uma floresta de arcadas. Sua repetição rigorosa (havia 900 delas na mesquita original) dão um impressão de extensão sem fim.

Interior da Mesquita

Aqui, e espaço é delimitado não por suas fronteiras e sim pelo movimento das arcadas, desde que isto possa ser descrito como movimento. Esta expansão que é tão poderosa na verdade é imóvel. Titus Burckhardt a descreve como sendo ‘uma arte lógica, objetivamente estática mas nunca antropomórfica.’

Devemos a al-Hakam II o maravilhoso mihrab, a obra prima da arte de Córdoba, assim como às várias cúpulas que ficam por trás dele, inclusive suas subestruturas de arcadas entrelaçadas. O nicho deste mihrab, que é muito profundo, é circundado em sua parte superior por um arco que é como uma aparição e uma fonte de luz, de onde as curvas parecem se dilatar como o peito respirando o ar do infinito. Segundo a mais elevada espiritualidade muçulmana, a beleza é um dos “sinais” que evocam a Divina Presença. A incrição acima da sinfonia de cores, em escrita cúfica, proclama a Unicidade de Deus.

O mihrab da Mesquita de Córdoba

A Mesquita de Córdoba é a personificação da mensagem universal do Islam. Mohammad Iqbal em seu poema À Mesquita de Córdoba, escreveu:

Ó! Sagrada Mesquita de Córdoba,

Templo de todos os amantes da arte.

Pérola da verdadeira fé

Santificando o solo andaluz,

Como a própria Sagrada Meca.

Uma beleza tão gloriosa

Só se encontra na terra

No verdadeiro coração muçulmano.

Quem Matou o Islam em Andaluzia?

O ensino filosófico e científico da Andaluzia atravessou os Pireneus e foi irrigar as secas pastagens da vida intelectual européia. Estudantes da Europa ocidental frequentavam as bibliotecas e universidades criadas pelos muçulmanos na Espanha, o que veio a mudar de modo decisivo a mente européia. Não há exagero em se dizer que a civilização ocidental deve sua regeneração à energia intelectual liberada pelo dínamo que foi o Islam. O período de regeneração, que começou em Florença, Itália, no século 16, ficou conhecido como Renascimento. Ele foi o resultado direto de um outro renascimento que começou na universidade de Córdoba, no século 9. Esta verdade de nossa história torna-se mais clara quando aprendemos como ouvir a música que emana das pedras de Córdoba. Há, no entanto, uma diferença fundamental entre os dois ‘renascimentos’: o primeiro que, em Córdoba, foi baseado na fé e tinha a consciência da universalidade do divino; o outro, que começou em Florença, foi um movimento contra Deus com seu projeto fundamental de secularização de todos os aspectos da vida.

As razões que levaram à morte do renascimento cordobês gerado pelo Islam pode ser compreendido melhor pela referência às causas de seu sucesso. O Islam devia seu sucesso espetacular inteiramente aos ensinamentos do Alcorão e dos exemplos (sunnah) do Profeta Mohammad (saw). O vigor ativo do sistema foi neutralizado logo que os muçulmanos relegaram o Alcorão à condição de um tratado de dogmas e a Sunnah tornou-se um mero sistema de leis e uma concha oca sem qualquer significado vivo. Em seu Muqaddima, Ibn Khaldoun condena os métodos de educação praticado por alguns dos fuqaha’ da Andaluzia, quando, segundo ele, ao invés de ajudar o estudante a ‘compreender o conteúdo do livro no qual ele está trabalhando’, eles o forçam a ‘decorá-lo’.

A escola maliquita de pensamento (madhhab) foi tão predominante na Andaluzia a ponto de nenhum outro madhahib ter sido ensinado, bastando conhecer de cór o Muwatta’, de Imam Malik e seus comentários para que um renomado exegeta se tornasse um faqih. Este fechamento da porta do ijtihad (julgamento independente) que teria sido condenado por Imam Malik se ele tivesse presenciado, foi estimulado pela maioria dos governantes de Andaluzia porque significava obediência incondicional ao poder estabelecido. Isto levou a uma degeneração intelectual, o tratamento daqueles gigantes espirituais citado antes comprova isto melhor. Ibn Massar foi forçado a se exilar; Ibn Hazm foi expulso de Maiorca; os livros de Al-Ghazali foram queimados; a biblioteca universal de al-Hakam II foi lançada ao rio; Ibn Tufayl e Ibn Rushd foram expulsos; e Ibn Arabi também. Todos estes atos não foram praticados por cristãos e sim por companheiros muçulmanos! Nada mais foram do que sinais de que esta grande estrutura representada pelo Islam, que tinha resistido a muitas tempestades, tinha alcançado um estágio em que sua vitalidade interior tinha sido minada gradativamente e uma poderosa rajada a tinha extirpado do solo no qual tinha prosperado durante séculos.

Os primeiros conquistadores muçulmanos da Espanha tinham uma missão que tornava impossível para eles serem egoístas, cruéis ou intolerantes. O momento em que perderam seus sucessores, seu espírito desconfiado substituiu sua unidade de propóstio. Em um determinado momento, a Andaluzia chegou a ter doze dinastias muçulmanas. Este foi o sinal do colapso. A sociedade muçulmana começou a representar uma ordem social decadente, incapaz de um crescimento dinâmico e sem capacidade para uma resistência efetiva. Sob tais circunstâncias, é difícil para qualquer sociedade sobreviver a uma ameaça externa mais séria. O governo muçulmano na Península Ibérica começou a afundar por conta da traição dos diversos príncipes muçulmanos, até Granada cair nas mãos dos Cruzados, no dia 2 de janeiro de 1492.

Quando Abu Abdullah, o último rei de Granada olhou para Alhambra pela última vez, vieram lágrimas aos seus olhos. Neste momento, sua mãe, Aisha, disse: ‘Abu Abdullah chora como uma mulher por um reino que não soube defender como um homem’. Mas nossa história deve desempenhar uma função mais inspiradora e orientadora do que ficar remoendo o passado. Quando olhamos essas maravilhas e todos os palácios deixados em Andaluzia, imaginamos: Certamente houve muita injustiça e opressão. Como Abu Dharr disse a Mu’awiya: ‘Ó Mu’awiya! Se você estiver construindo este palácio com seu próprio dinheiro é extravagância, e se for com o dinheiro do povo é traição.’ Não devemos glorificar nosso passado e nossos ancestrais sem fazer caso de seus erros. Nosso estudo da história do Islam deve ser mais objetivo e não uma simples justificativa de todos os atos praticados por aqueles que nos prececederam.

Conclusão

Precisamos lutar para que a tragédia da Andaluzia não se repita. Não devemos nos dirigir às nossas crianças com: Era uma vez a Palestina…, Era uma vez a Bósnia… Precisamos de um verdadeiro Renascimento Islâmico que nos conduza ao Islam eterno e universal. Um Islam que seja o apelo constante para a resistência a toda opressão, porque exclui qualquer submissão que não seja à vontade de Deus e mantém o homem responsável pela realização do mandamento divino na terra. Um Islam, nas palavras de Roger Garaudy, cujos princípios sejam:

1. No campo econômico: Só Deus possui,

2. No campo político: Só Deus ordena,

3.No campo cultural: Só Deus sabe.

Só assim responderemos a este chamado vivo: sem imitar o ocidente e nem imitar o passado.

Referências:
The Holy Qur’an, traduzido e comentado por Abdullah Yusuf Ali.
Ibn Rushd, On the Harmony of Religion and Philosophy, trans. by George F. Hourani, 1960.
Roger Garaudy, ‘For an Islam of the XXth Century’, Relato apresentado na 1a. Conferência Internacional de Muçulmanos da Europa, Sevilha, 18-21/7/85.
Roger Garaudy, L’ Islam, en Occident, Editions l’Harmattan, 1987.
Khola Hassan, The Crumbling Minaret of Spain, Ta- Ha Publishers, Londres, 1988.
Livreto sobre a Torre de Calahora, em Córdoba, 1988.
Ali Shariati, And Once Again Abu Dharr, trans. por Laleh Bakhtiar e Hussain Salih, The Abu Dharr Foundation, Teerã, 1985.
Titus Burckhardt, Art of Islam, World of Islam Festival Trust, Londres, 1976.
J. D. Dodds (ed), Al-Andalus, The Art of Islamic Spain, The Metropolitan Museum of Art, New York, 1992.
W. Montgomery Watt, A History of Islamic Spain, Edinburgh University Press, Edinburgh, 1967.
(Atualmente, o autor é um Pesquisador Associado, na Escola de Estudos Matemáticos, da Universidade de Portsmouth. Ele obteve seu PhD em Matemática Computacional no Wessex Institute of Technology, Southhampton, e um BSc em Matemática Pura na Ecole Normale Supérieure of Rabat, Marrocos.)

Disponível em:
http://sbmrj.org.br/Historia-andaluzia.htm

Os Nobres Companheiros do Profeta (RA)

Definindo os Companheiros do Profeta (radiallahu ‘anhum).
O significado linguístico do termo Sahaabah (companheiro) deriva da palavra Suhbah (amizade), que sugere acompanhamento e estreita associação. No entanto, no Islam, a definição legal do termo sahaabah (companheiro) se refere a qualquer um que tenha se encontrado com o Profeta (sallallaahu ‘alaihi wa sallam) em vida, mas depois de ele ter recebido a missão de profeta e acreditado nele como Profeta e então ter morrido na condição de muçulmano. Portanto, de acordo com esta definição, pode-se considerar um companheiro aquele/aquela que conheceu o Profeta (saw), por um longo período ou não.

Também, de acordo com esta definição, os Jinn (gênios) que se encontraram com o profeta (saw) e acreditaram nele, também são considerados companheiros, assim como todos os anjos que se encontraram com o Profeta (saw).

Excluídos dessa definição estão aqueles que viram o Profeta (saw) em sonho ou que encontraram o Profeta (saw) mas não acreditaram em sua missão, mesmo que tenham abraçado o Islam depois de sua morte. Também estão excluídos aqueles que se encontraram com Mohammad (saw) antes de ele receber a missão de Profeta, porém já acreditavam em sua (futura) missão como profeta. 

São exemplos, Buhaira, o monge que se encontrou com Mohammad (saw) em Sham, na Síria, quando ele ainda era um menino. Também excluídos estão aqueles que abraçaram o Islam durante a vida do Profeta (saw), mas nunca o viram. E também estão excluídos aqueles que se encontraram com o Profeta (saw) depois de ele receber a missão como Profeta, acreditaram nele como Profeta, porém mais tarde renegaram a religião e morreram como infiéis. No entanto, aquele que retornou para o Islam (de novo) ainda é considerado um companheiro, mesmo que não tivesse encontrado o Profeta uma segunda vez.

Formas de se Confirmar Corretamente Quem é Um Companheiro do Profeta (saw)
Al-Haafidh ibn Hajar Al-Asqalaani (rahimahullah) disse que são cinco as maneiras de se confirmar corretamente quem é um Companheiro do Profeta (saw):

1. Aquele que é Suhbah (companheiro, amigo) do Mensageiro de Allah (saw) ficou amplamente conhecido de todas as gerações de muçulmanos, seja pela evidência de um texto no Alcorão ou pela evidência de hadices autênticos extensamente narrados (mutawaatir).

2. Aquele que é Suhbah (companheiro, amigo) do Mensageiro de Allah (saw) ficou conhecido e firmemente estabelecido através de todas as gerações de muçulmanos pela evidência de hadices autênticos que não foram narrados amplamente como os hadices da primeira categoria (hadeeth mash-hoor).

3. Aquele que é Suhbah (companheiro, amigo) do Mensageiro de Allah (saw), ficou firmemente estabelecido por um dito autêntico de um já conhecido Companheiro. Por exemplo, seu dito: “Fulano é um Companheiro (do Mensageiro de Allah). Ou seu dito: “Eu e fulano estávamos com o Mensageiro de Allah (saw)”.

4. Aquele que é Suhbah (companheiro, amigo) do Mensageiro de Allah (saw), ficou firmemente estabelecido por um dito autêntico de um conhecido Taabi’ee (isto é, um muçulmano de uma geração após a dos Companheiros, que encontrou um ou mais Companheiros e morreu como muçulmano.

5. Aquele que é Suhbah (companheiro, amigo) do Mensageiro de Allah (saw), ficou firmemente estabelecido por um dito autêntico de um Companheiro sobre ele mesmo, desde que atendidas as duas condições abaixo:

1. Seu ‘Adaalah (bom caráter) foi firmemente estabelecido.

2. Foi firmemente estabelecido que ele morreu durante o tempo de Mohammad como Profeta (saw)

O Bom Caráter dos Companheiros do Profeta (saw)

O significado linguístico de ‘Adaalah (bom caráter) é ser consciente, escrupuloso. No entanto, a definição legal de ‘Adaalah no Islam se refere àquele que protege sua religião, sempre se comporta de maneira virtuosa, evita aceitar os maneirismos que desagradam as pessoas bem comportadas de seu tempo e lugar (desde que isto não acarrete abandonar qualquer coisa da sunnah ou entrar em bid’ah). E também se refere àquele que fica longe, longe dos pecados maiores assim como dos menores e até de alguns atos permissíveis.

As pessoas de Ahl-us-Sunnah-wal-Jamaa’ah concordam que todos os Sahaabah (Companheiros do Profeta) tinham um bom caráter (ra). E isto porque Allah, o Mais Elevado, os escolheu para serem os companheiros de Seu Profeta (saw). E as pessoas de Ahl-us-Sunnah-wal-Jamaa’ah usam como prova do bom caráter de todos os Companheiros as muitas evidências do Alcorão e da sunnah autêntica.

Fonte: sbmrj.org.br  

sexta-feira, dezembro 23, 2011

MODERAÇÃO NA VIDA E NO CULTO A DEUS -SEGUNDA PARTE


Assalamo Aleikum Warahmatulah Wabarakatuhu (Com a Paz, a Misericórdia e as Bênçãos de Deus) Bismilahir Rahmani Rahim (Em nome de Deus, o Beneficente e Misericordioso)

O Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) disse: “A modéstia não traz nada, exceto o bem; está escrito no livro da sabedoria de que a modéstia traz seriedade; a modéstia traz serenidade”. Ibn Umar (Radiyalahu an-hu) disse que a modéstia e o crente, estão os dois juntos. Se um deles for removido, então o outro é também removido. Bhukari, no livro Al Adab Al Mufrad. 

O Cur’ane é um verdadeiro código de vida. Incentiva-nos à moderação nos dois caminhos, que se complementam: a adoração a Deus e ao preenchimento das nossas necessidades mundanas. “Taha, não te revelamos o Cur’ane para que te mortifiques.” Cur’ane 20:1. Segundo Anas (Radiyalahu an-hu), um grupo de crentes, foi inteirar-se das práticas religiosas realizadas pelo Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam). Depois de serem informados, e sabendo que seria impossível igualá-lo, nomeadamente por ele ter os pecados passados e futuros perdoados por Deus, mesmo assim, queriam fazer de tudo para se aproximarem das referidas virtudes.

a) Um deles, disse que vai jejuar toda a vida sem interrupção; 

b)Outro que se irá manter todas as noites em oração, pelo resto da vida; 

c)O terceiro que se absterá do relacionamento com mulheres e jamais se casará. 

Depois de saber destas intenções, o Profeta disse-lhes: “Eu sou o que mais teme a Deus e mais devoto, mas mesmo assim, observo o jejum facultativo num dia e deixo no outro e me levanto à noite para orar, mas depois me deito para descansar e também me caso. E quem se recusar a seguir este meu exemplo, não faz parte do meu umah”. (Bukhari e Muslim).

A moderação, em todos os aspectos, deve ser uma constante na vida de um crente. Fazer longos baianes e khutbas (semões), é incomodo para quem está a ouvir. O crente acaba por ficar cansado, perde a concentração e a mente acaba por navegar em “águas turvas”. Devemos seguir o exemplo do Profeta Muhammad (Salalahu Aleihi Wassalam). Abu Abdullah Jaber Ibn Sámura (Radiyalahu an-hu) referiu: “Ocasionalmente me juntava ao Profeta para as orações; tanto as orações como os seus sermões, eram de duração moderada”. Muslim. As orações nocturnas são recomendadas e muito benéficas para aumentarmos a satisfação de Deus.

Mas como o corpo necessita de descanso, devemos encontrar o equilíbrio necessário para nos aguentarmos firmes e concentrados. Disse o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam): “Se alguém sentir sono durante a oração, que se deite, até o sono passar. Se fizer a oração com sono, não saberá se está pedindo perdão a Deus, ou se maldizendo.” 

Relato de Aisha (Radiyalahu an-há) em Bhukari e Muslim. Ainda sobre o assunto, o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam), certa vez encontrou uma corda amarrada dentro da Mesquita. Foi informado que pertencia à Zeinab (Radiyalahu an-ha), para se apoiar nas orações quando sentia fadiga. O Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam), mandou desamarrar a corda e disse: “Cada um que faça as suas súplicas quando se sentir ágil; porém, quando estiver cansado, que descanse. Relato de Anass (Radiyalahu an-hu) – Bukhari e Muslim.

Há muçulmanos “idi-istas”, que durante o ano, só fazem as orações dos dois dias de Ide, porque são feriados, dias festivos. Outros, “JUMA-istas” só vão às orações semanais de Juma (sextas-feiras). Existem também os “RAMADANistas”, que depois de jejuarem o mês inteiro, esquecem todas as promessas feitas e recomeçam a trilhar os maus caminhos. E outros, durante a vida nada fizeram para agradar a Deus e quando lhes bate a hora da despedida, se apressam e se multiplicam em orações obrigatórias e voluntárias e começam a praticar muita caridade. Se durante a sua vida, um homem der um dirhram como sadaqah (caridade), é melhor do que dar cem dirhrams como sadaqah no momento da sua morte”. Narrado por Abu Said al-Khudri – Bukhari

Allah, nosso Senhor e Protetor, com a sua infinita Misericórdia, pode perdoar o Seu servo, mesmo que ele se volte no momento da morte, antes do ultimo suspiro. Jaber (Radiyalahu an-hu) referiu que Muhammad (Salalahu Aleihi Wassalam) disse: “Todo o servo de Deus será ressuscitado de acordo com o estado de fé em que morreu”. Muslim. 

Mas nunca devemos deixar para mais tarde o pedido de perdão, porque inesperadamente, a morte pode alcançar-nos. O mais virtuoso é aquele que ao longo da sua vida, de forma regular e consistente, foi cumprindo, diariamente, com as orações e com o resto das obrigações religiosas. Disse o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam): “…O mais agradável para Allah são as acções feitas de forma contínua, mesmo que sejam pequenas...”. Bhukari 76:469 e Muslim 04:1710.

Talha Bin Ubaidullah (Radiyalahu an-hu), referiu: “Um homem de Nadj, com o cabelo despenteado, veio ter com o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) e ouvimos a sua voz, mas não compreendemos o que ele estava a dizer, até ele se aproximar. Soubemos que ele estava fazendo perguntas sobre o Islão. O Profeta disse: “Você deve efetuar perfeitamente 5 orações diárias, nas 24 horas do dia e da noite. 

O homem perguntou: “Existem mais outras orações para além destas?” Foi-lhe respondido: “Não, mas se você quiser efetuar as orações voluntárias, da sua livre e espontânea vontade”. E o Profeta disse ainda: “Terás de observar o jejum do mês de Ramadan”. O homem perguntou: “Há mais jejuns?”. Respondeu-lhe: “Não, mas se você quiser, poderá efectuar jejuns facultativos”. Depois o Profeta disse: “Terá de pagar o Zakat (A caridade obrigatória)”. 

O homem perguntou se existem outros pagamentos a efetuar, para além do Zakat?”. O Profeta respondeu-lhe: Não, a não ser que queiras dar mais esmolas voluntariamente”. E depois o homem se retirou dizendo: “Por Deus, eu vou fazer isso e nem mais do que isso”. O Profeta depois comentou: “Se o que ele disse é verdade, então será bem sucedido (lhe será concedido o paraíso)”. Bhukari 2:44 e Muslim 01:07.

Para complemento das obrigações prescritas, podemos escolher livremente algumas pequenas ações facultativas, para serem realizadas diariamente, de forma regular, como por exemplo:

a)- Fazer o Taihatul Uzú, uma oração de dois ciclos, sempre que acabarmos de fazer as abluções. Esta ação conduziu Bilal (Radiyalahu an-hu) ao paraíso;

 b)- Após cada oração fard (obrigatória), fazer o zikr (louvar a Deus), recitando:
- 33 x Subhána Allah;
- 33 x Al-hamdulillah
e 34 x Alhahú Akbar;

c)- De manhã, recitar o surat Yacin; d)- à noite recitar o surat Mulk (Tabaraka lazi) . Estas ações, apesar de ocuparem escassos minutos na vida de um crente, poucos o efectuam.

"Wa ma alaina il lal balá gul mubin" "E não nos cabe mais do que transmitir claramente a mensagem". Surat Yácin 3:17. “Wa Áhiro da wuahum anil hamdulillahi Rabil ãlamine”. E a conclusão das suas preces será: Louvado seja Deus, Senhor do Universo!”. 10.10.

Façam o favor de ter um bom dia de Juma,

Cumprimentos

Abdul Rehman Mangá

15/12/2011

quinta-feira, dezembro 22, 2011

A RECONCILIAÇÂO E O PERDÃO - Primeira Parte.

Allah SW ama os Reconciliadores
"Bem aventurado aquele que perdoa, procurando a reconciliação”.Implora o perdão a Deus, porque Ele é Indulgente, Misericordiosíssimo”. Cur’ane 4.106.

O Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) disse:  1)- “Se não tivésseis cometido faltas, Deus, o Altíssimo haveria criado outro povo que as teria cometido e ato contínuo, teria pedido perdão e Deus o teria perdoado”. Relato de Khaled Ibn Zaid (Radiyalahu an-hu) em Muslim.

2)- “Todos os filhos de Adam (Aleihi Salam), são pecadores, mas o melhor dos pecadores é aquele que se arrepende”. Tirmidhi.

Muitas pessoas são orgulhosas e por isso, sentem dificuldades em pedir desculpas, mesmo reconhecendo que cometeram erros ou magoaram o seu semelhante. Parece que sentem um nó na garganta quando têm de dizer a palavra mágica da reconciliação: “desculpa-me”. Para alguns, é mais fácil pedir perdão a Deus do que ao seu semelhante. E porquê?. Porque pensam que não estão na presença de Deus e por isso não se sentem constrangidos. Ao pensarem assim, não estão a ser sinceros e dificilmente Deus aceitará os seus pedidos. E Deus sabe melhor!. O melhor crente, é aquele que pede desculpas antes do seu semelhante o pedir.

Estamos sempre a tempo de pedir perdão aos nossos irmãos, procurando a reconciliação, em especial a familiar, antes que a morte nos apanhe. Abu huraira (Radiyalahu an-hu) referiu que o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) disse: “Não é permitido a um crente deixar de falar com outro crente, por um período acima de três dias. Se passarem 3 dias, ele deve procurar com quem se zangou e saúda-lo. Se o outro responder a saudação, ambos partilharão a recompensa.

Mas se não retribuir a saudação, então este carregará o fardo do seu pecado e quem tiver cumprimentado, estará livre do pecado”. Relato de Abu Daud. Bem aventurado aquele que é ofendido, mas que toma a iniciativa de se dirigir ao seu irmão de fé, para “quebrar o gelo” da discórdia. As simples palavras “Assalamo

Aleikum” provocam um efeito mágico de reconciliação, fazendo com que os dois recomecem a falar, obtendo assim a Misericórdia de Deus. Al Bara Ibn Azib (Radiyalahu an-hu) referiu: “O Profeta Muhammad (Salalahu Aleihi Wassalam) disse: “Se dois muçulmanos se encontrarem e se cumprimentarem, apertando mãos, louvando e pedindo a Deus para lhes perdoar, eles serão perdoados”.Suna Abudawd 41/5192.

Ainda acerca da reconciliação entre dois irmãos de fé, recordemos o seguinte hadice narrado por Huraim (Radiyalahu an-hu): o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) disse que as ações das pessoas são apresentadas todas as semanas nas segundas e quintas feiras. Todo o serve crente ser-lhe-á garantido o perdão, exceto aquele que conservar o rancor perante o seu irmão, até se voltarem para a reconciliação”. Muslim 32/6224. Também referido no Maliks Muwatta 47.4.17. Sobre  este hadice, recordo que o Profeta tinha por hábito jejuar às segundas e quintas feiras e por isso, alguns crentes também efectuam jejuns facultativos nos referidos dias.

A mentira é um ato reprovável por Deus. No entanto quem mentir com a finalidade de conciliar pessoas que andam de costas voltadas, não será considerado um mentiroso. Chamemos de “mentira doce”, que também é utilizado entre casais, com a única finalidade de se reconciliarem. Humaid B.Abd al Rahman b. Auf reportou que a sua mãe Umm Kulthum ouviu o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) dizer:

“Não é mentiroso aquele que tenta a reconciliação entre as pessoas e fala bem, a fim de evitar controvérsias. Ibn Shihab referiu que esta isenção (de falar mentira doce) não foi concedida em qualquer circunstância, mas somente em três situações:

a) Na batalha;
b) procurando a reconciliação entre pessoas;
c) e as palavras do marido para com a mulher e as palavras da mulher para com o marido (de forma distorcida, mas com a finalidade de reconciliação entre eles). Muslim 32:6303.

In Sha Allah, continua no próximo Juma.

Cumprimentos

Abdul Rehman Mangá - Maputo - Moçambique - África Austral  - 22/12/2011

segunda-feira, dezembro 19, 2011

Etiquetas Para se Buscar o Conhecimento Islâmico

Buscar o conhecimento é dever de todos os Crentes -SAAS
Palavras de Aconselhamento » Devoção e Piedade
O conhecimento religioso é a herança dos Profetas. Os sábios são os seus herdeiros. Quando uma pessoa adquire conhecimento religioso, ela obtém uma parte dessa herança. É por isso que a busca do conhecimento islâmico é um dos atos mais nobres que uma pessoa pode fazer.

Um buscador deste conhecimento deve, portanto, adornar-se com a mais nobre conduta, e apresentar as melhores condutas. As várias etiquetas que um aluno deve observar podem ser divididas em cinco grandes categorias – já que alguns destas etiquetas se referem à relação do aluno com o seu Senhor, outras etiquetas se referem a sua atitude para com os sábios, orientar suas relações com seus professores, regular sua conduta com seus companheiros, e outras etiquetas que regulam a relação consigo mesmo.

Vamos abordar uma série de etiquetas que vêm em cada uma dessas cinco grandes categorias.

Etiqueta Pertencente à Relação do Estudante com o Seu Senhor:

1. O aluno deve ser sincero com Allah em suas intenções para a busca do conhecimento. Não deve procurar o conhecimento islâmico por fama ou status.

O Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) disse: “Não adquiras conhecimento a fim de competir com os sábios, disputar com os ignorantes ou para que as pessoas fiquem te olhando (para sentir orgulho). Quem faz isso estará no fogo”. [Sunan Ibn Majah nº: 259 - declarado como hadîth bom (hasan) pelo shaikh Albani].

2. O estudante não deve transgredir os limites estabelecidos por Allah.

Allah disse (significado em português): “E que, dentre os homens e os seres animais e os rebanhos, há-os, também, de cores variadas? Apenas, os sábios receiam a Allah, dentre Seus servos. Por certo, Allah é Todo-Poderoso, Perdoador”. [Surah Fâtir 35: 28].

Quanto mais a pessoa cresce em conhecimento, mais humilde ela se torna diante do seu Senhor.

Malik Ibn Dinar disse: “Quem não adquire o conhecimento que restringe sua conduta, então o conhecimento que adquiriu não possui nenhum benefício para ele”.

3. Um estudante do conhecimento religioso deve se sentir forte com relação aos ensinamentos de sua fé. Deve sentir-se preocupado suficiente para promover o que é correto e proibir o que está errado.

O Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) disse: “O Islam é Sinceridade”. Nós perguntamos: “Para quem, ó Mensageiro de Allah?”. Ele disse: “A Allah, Seu Livro, Seu Mensageiro, aos líderes dos muçulmanos e para o muçulmano comum”. [Sahih Muslim nº: 82].

4. O aluno deve aceitar o que Allah tem estabelecido nas escrituras quanto às regras religiosas e os ensinamentos. Ele não deve dar preferência as suas opiniões pessoais sobre os ensinamentos citados no Alcorão e na Sunnah.

Allah disse (significado em português): “Ó vós que credes! Não vos antecipeis a Allah e a Seu Mensageiro. E temei Allah. Por certo, Allah é Oniouvinte Onisciente”. [Surah Al-Hujurât 49: 1].

Etiquetas Pertencentes à atitude do Estudante para o Sábio

1. O estudante deve mostrar respeito e deferência (respeito) para com os sábios, e ele deveria implorar a misericórdia e perdão de Allah sobre eles em suas orações.

2. O estudante deve se concentrar nos pontos fortes dos sábios e ignorar suas falhas.

3. O estudante deve sempre pensar o melhor sobre os sábios. Nunca deve menosprezar nenhum deles por conta de uma opinião que ele possa ter feito. Devemos assumir que a opinião do sábio exposta é porque ele acreditava ser o certo e acreditava ser aquilo que agrada a seu Senhor. Um sábio que exerceu o seu julgamento e foi correto nele receberá uma dupla recompensa. Um sábio que exerceu o seu julgamento e cometeu um erro receberá de seu Senhor uma única recompensa.

O estudante deve suplicar a Allah para recompensar os sábios por aquilo que fizeram de correto e perdoá-los por seus erros e deficiências.

Etiquetas Pertencentes à Relação do Estudante com seus Professores

1. O estudante deve ter o cuidado tanto quanto ele pode para selecionar professores conhecidos por sua piedade, humildade e compromisso religioso.

Ibn Sirin em relação a esse assunto disse: “Este conhecimento é da religião. Tenha cuidado de quem você toma a religião”.

Al-Khatib Al-Baghdadi disse: “Um estudante deve procurar um jurista que é conhecido por ser religioso, que tem uma reputação de boa conduta, bem como a competência”.

2. O estudante deve se comportar humildemente na presença de seu(s) professor(es) e deve mostrar a ele(s) respeito.

Allah disse (significado em português): “Allah elevará, em escalões, os que creêm dentre vós, e àqueles os quais é concedida a ciência. E Allah, do que fazeis, é Conhecedor”. [Surah Al-Mujâdalah 58: 11].

‘Ubadah Ibn As-Samit relata que o Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) disse: “Quem não honrar aos nossos mais velhos, ter misericórdia aos nossos filhos e o respeito devido a nossos eruditos, não é um de nós”. [Musnad Ahmad nº: 21693 - Al-Haythami declara que a cadeia de transmissão (isnad) é boa (hasan) em Majma’ Az-Zawâ’id 1/127].

3. Um estudante deve permanecer sob a tutela de seus professores a fim de beneficiar-se da sua conduta e de sua prática. Deve procurar imitar os bons costumes e comportamentos. E deve evitar comportar-se de forma contrária.

O Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) disse: “Quem imita um povo se torna um deles”. [Sunan Abi Dawud nº: 4031].

4. O estudante deve sentar-se na presença de seus professores com atenção. Não deve deixar sua mente vagar. Allah disse (significado em português): “Allah não fez em homem algum dois corações [atitudes contraditórias] em seu peito”. [Surah Al-Ahzab 33: 4].

5. O estudante deve suportar pacientemente qualquer tratamento áspero ou severidade que seus professores porventura, por vezes, apresentarem. Ele deve encontrar alguma desculpa para seu comportamento.

6. O aluno deve ser atencioso e educado ao fazer perguntas aos seus professores. De fato, uma das melhores abordagens para a busca do conhecimento é fazer perguntas da maneira correta. Se o professor permanece em silêncio, o estudante não deve pressioná-lo a responder.

Ibn Abbas foi uma vez questionado: “Como adquirir esse conhecimento que você possui?”. Ele respondeu: “Com uma língua questionadora e um coração que discerne”.

7. O estudante deve estar atento, mesmo quando o assunto for algo que ele já possua grande conhecimento sobre. Este é um dos melhores comportamentos que um estudante de conhecimento pode exibir.

‘Ata ibn Rabah disse: “Se ouço um jovem relatar um hadîth, escuto como se não tivesse conhecimento nenhum dele”.

Ele também disse: “Quando vou ouvir um jovem relatar um hadîth, ouço como se eu nunca tinha ouvido a hadîth antes, embora a verdade seja que ouvi (o hadith) antes dele (o rapaz) ter nascido”.

Etiquetas Pertencentes à Relação do Estudante com seus Colegas de Classe

1. Um estudante do conhecimento religioso deve mostrar humildade quando ele está entre seus colegas. Ele nunca deve se comportar com arrogância. Nunca deve definir-se acima deles. Se possuir uma forte memória ou uma rápida compreensão das coisas, deve ter consciência que isso é uma bênção de Allah sobre ele e ele deveria ser grato.

2. Um estudante deve esforçar-se com seus colegas de classe para melhorar seu conhecimento em conjunto. Ele deve beneficiar-se com aquilo que aprendeu, e não deve ser orgulhoso no momento de aprender com eles também.

Al-Khalil Ibn Ahmad foi perguntado como ele chegou a adquirir todo o conhecimento que tinha. Ele respondeu: “Sempre que eu conheci um estudioso, gostava de tomar o conhecimento dele e difundir o conhecimento dele”.

3. O estudante deve desejar para seus colegas de classe o mesmo sucesso que ele deseja para si mesmo. Deve incentivar e ajudar seus colegas de classe, tanto quanto ele puder.

4. Um estudante não deve brincar demasiadamente com seus companheiros. Nunca deve menosprezar qualquer um deles eles ou invejá-los.

Etiquetas Relacionadas à Conduta Pessoal do Estudante

1. Um estudante de conhecimentos religiosos deve colocar aquilo que ele aprende em prática.

Não deve deixar à seguinte aya se aplicam a ele (significado em português): “O exemplo dos que foram encarregados da Tora (judeus), em seguida, não a aplicaram, é como do asno carregado de grandes livros”. [Surah Al-Jumu’ah 62: 5].

Há um hadîth relatando que uma pessoa não vai passará pelo Dia do Juízo, até que ele seja questionado sobre quatro coisas, uma das quais será “o seu conhecimento e como agiu em consequência dele”.

Ash-Sha’bi disse: “Ajudávamos a nossa memorização de um hadîth agindo conforme ele. Ajudávamos a nossa aprendizagem do hadîth com a pratica do jejum”.

Waki Ibn Aj-Jarrah disse: “Se queres lembrar um hadîth, pois bem, atue conforme ele”.

2. O estudante deve introduzir a boa conduta em sua personalidade quando aprende de seus professores.

Malik disse: “Minha mãe costumava colocar o turbante em mim e dizia: “Vá até Rabi’ah e aprenda boas maneiras com ele antes de aprender seu conhecimento”.

‘Abd Allah Ibn Al-Mubarak disse: “Aprendíamos as boas maneiras antes de adquirir conhecimento”.

Também disse: “É como se as boas maneiras fossem dois terços do conhecimento”.

Abû Zakariyyâ Al-‘Anbarî disse: “Ter conhecimento sem boas maneiras é como ter um fogo sem combustível. Ter boas maneiras sem conhecimento é como ter um corpo sem alma”.

3. O estudante deve ser zeloso e paciente em seus estudos. Yahyâ Ibn Abi Kathir disse: “O conhecimento não vem sem esforço físico”.

Ele não deve deixar para depois e adiar a sua aquisição de conhecimento até que tenha tempo livre. Sempre existe algo que irá ocupar a pessoa e sempre haverá uma desculpa. Um estudante deve sempre aspirar a um maior conhecimento e nunca se contentar com o que ele já tem.

Seu lema deve ser a seguinte frase: “Ó meu Senhor! Acrescenta-me em conhecimento”.

4. O estudante deve abordar a tarefa de aprender dando um passo de cada vez. Esta é uma regra geral para a aprendizagem. Um estudante que procura aprender tudo de uma só vez, acaba perdendo tudo. Ele pode aprender um ou dois hadîth de cada vez.

Esta pode ser uma das razões pelas quais Allah desceu o Alcorão gradualmente ao longo de todo o tempo da missão do Profeta, e por que ordenou o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele).

Allah diz: “E (fizemos descer o) Alcorão, fragmentamo-lo (em partes), a fim de o leres aos homens, paulatinamente, com (progressiva) descida”. [Surah Al-Isra’ 17: 106].

5. O estudante deve se esforçar para familiarizar-se com o máximo de conhecimento em seu dia, tanto quanto possa. Ele deve estar familiarizado com todos os campos.

Al-Ghazâlî, no livro Ihyâ’ `Ulûm al-Dîn (1/55) escreveu:

Um estudante não deve negligenciar qualquer disciplina respeitável ou ramo do conhecimento. Ele deve, pelo menos, estar familiarizado com o seu tema geral e seus objetivos. Se sua vida permite, deve fazer um estudo detalhado de tudo isso. Caso contrário, ele deve priorizar, tratando exaustivamente com o que é mais importante e fazer um resumo do resto.

Isso ocorre porque os diferentes ramos do conhecimento aumentam mutuamente e se relacionam entre si.

Um estudioso irá beneficiar de um ramo do conhecimento, logo que sua hostilidade para com ele seja quebrada devido a sua falta de familiaridade com ele. As pessoas são hostis com aquilo que ignoram. Allah disse (significado em português): “E, uma vez que eles não se guiam por ele, dirão: “Isto é uma velha mentira”. [Surah Al-Ahqaf 46: 11].

6. O estudante deve pagar as dívidas que seu conhecimento requer dele. Este deve ser transmitido aos outros. O Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) disse: “Transmita de mim nem que seja uma aya”. [Sahih Al-Bukhari nº: 3461].

Fonte: Islamtoday

quarta-feira, dezembro 14, 2011

À MINHA FILHA, WARDA!

Era um ambiente multicolorido, com muitas flores, abraços, beijos, felicitações. Poder-se-ia pensar que todo aquele cenário sugeria a algum casamento, mas não. Tratava-se da graduação da Warda, minha filha, findo o seu curso de Medicina Dentária no ISCTEM.

Deveras emocionado, fui assistindo a todo aquele panorama com os olhos marejados de lágrimas, tentando contê-las mas em vão, pois dada a minha fraqueza, elas acabaram escorrendo pela minha face.

Tinha finalmente chegado o dia em que ela ia envergar as vestes pretas, convencionais, próprias desta tipo de cerimónia de graduação.

Na altura, como um relâmpago, veio-me à memória toda a sua trajectória, desde a infância até a sua recente graduação. Louvado seja Deus, o Criador e Nutridor dos mundos!

Segundo John Steinbeck: “Faz parte da natureza do Homem, elevar-se à grandeza, se essa grandeza estiver na sua expectativa”.

Este foi o sonho de Warda, assim como o é, de todos os jovens, atingir tal grandeza nesse palco. E assim, nesse Sábado, realizou-se aquilo que fora seu sonho.

Todos os pais traçam planos para a vida de seus filhos, desde o primeiro dia quando eles nascem. Planeiam a sua educação, e até mesmo o que deverá ser, o dia do seu casamento.

É recomendável que todos nós deixemos um legado, e a melhor prenda que um pai pode dar ao seu filho é a boa educação. (At-Tirmizi).

Todos os pais geralmente acalentam grandes esperanças nos seus filhos, no que respeita às realizações materiais, mas deviam também ter a mesma esperança no que respeita à componente moral e espiritual.

Minha filha! Neste dia histórico e marcante, pensa na longa jornada que te levou à graduação, e em todos os obstáculos e dificuldades que tiveste que superar ao longo do percurso, mesmo na tua condição de casada. Desde os problemas financeiros, às questões de transporte diário, e outras responsabilidades, pois problemas nunca faltaram, mas mesmo assim, com a graça de Deus e com a ajuda dos teus ente-queridos, te tornaste, no seio da tua família, a primeira a graduar-se em ensino superior secular.

O que outrora parecia algo impossível, tornou-se agora uma realidade. Ergueste alto, e com orgulho, a imagem dos teus pais, e para tal feito, jamais poderás agradecer suficientemente a Deus.

A perfeição não se alcança com tanta facilidade, mas mesmo assim, os teus pais, tendo sempre em conta o teu bem estar, deram-te todo o amor e apoio humanamente possíveis, para te ajudar a chegar o mais próximo possível da perfeição.

O termo árabe “shukr” (gratidão, agradecimento) nas suas várias formas, foi mencionada 75 (setenta e cinco) vezes no Al-Qur’án. O “shukr” nos humanos é a forma prática de mostrar consideração e reconhecimento por um favor. O Profeta Muammad S.A.W. inúmeras vezes demonstrou o seu “shukr” para com Deus e para com as pessoas. Uma ocasião, sua esposa Aisha R.T.A. perguntou-lhe a razão por que se empenhava constante e fervorosamente na adoração, quando Deus lhe havia já anunciado o perdão de todas as suas falhas, tanto as do passado como as do futuro, ele simplesmente respondeu: “Não serei eu então, um servo agradecido”? (Al-Bukhari e Musslim)

Durante a nossa vida passamos por várias realizações, umas após outras, mas muitas vezes sem pronunciarmos uma única palavra de agradecimento Àquele que nos deu esse êxito que celebramos. Mesmo assim, é absolutamente crucial que recordemos Deus nesses preciosos momentos, e não permitamos que a corrida para a nossa realização aparente, nos cause cegueira.

O Profeta Muhammad S.A.W. disse: “Recordai-vos de Deus nos momentos de alívio e prosperidade, e Deus lembrar-se-á de vós nos momentos de adversidade (se vos atingirem). (At-Tirmizi)

Portanto, é essencial que nos lembremos do nosso Criador nos momentos de felicidade e dificuldades, pois só Ele é que através disso pode cuidar de nós.

Mesmo assim, fazer “shukr” a Deus, por um êxito alcançado, faz parte da gratidão e da adoração. Não nos devemos desleixar no que respeita a expressão de gratidão para com Deus diariamente, pois foi Só Ele, Quem criou o belo Céu Azul e a Terra, e nos proporcionou o vestuário com que nos vestimos, a comida com que nos alimentamos, e a casa em que nos abrigamos. E acima de tudo fez-nos humanos, e é graças a Ele que ainda hoje estamos vivos e conseguimos dizer “Al-ham’do-Lillahe” (Louvado seja Deus).

Minha filha! Sem dúvidas que foste abençoada com a misericórdia do nosso Criador. E Deus diz no Al-Qur’án, Cap. 14, Vers. 34:

Ele (Deus) deu-vos de tudo o que Lhe pedistes. Se tentardes contar os favores de Deus, nunca conseguireis contá-los”.

Assim como a lista dos favores de Deus não tem fim, o nosso agradecimento para com Ele também não deve ter fim. Aliás, ser grato é para o nosso próprio benefício, pois Deus diz no Cap. 3, Vers. 144 do Al-Qur’án:

“E quanto aos que agradecem, brevemente Deus os recompensará”.

E diz, no Cap. 14, Vers. 7:

“Se fordes gratos (aos meus favores), certamente dar-vos-ei mais (desses favores)”

Essa recompensa pode-nos chegar de diferentes formas, por vezes imediatamente, e outras vezes gradualmente.

Portanto, o estares grata a Deus pela tua graduação pode levar a que atinjas outros níveis proeminentes, ou pode fazer com que Deus perdoe os teus pecados do passado, ou aceitar as tuas outras preces (duãs) que venham a invocá-Lo, abençoando-te com muitos outros favores.

Portanto, quando te chegar esta mensagem, pare imediatamente o que estejas a fazer, e passe algum momento na gratidão a Deus.

Há muitas maneiras de agradecer a Deus: cumprindo com os teus Salaats (orações) diários, fazendo Zikr (recordação a Deus), expressando-o verbalmente, fazendo duãs antes de dormires e ao acordares, antes e depois de comeres enfim, é uma lista interminável de formas de gratidão.

Minha querida Warda! A qualidade de “shukr”, não termina simplesmente ao mostrar gratidão para com o nosso Senhor, pois o preito de gratidão deve estender-se igualmente às pessoas à nossa volta.

Imagina por um momento, onde estarias sem a tua família, amigas, etc.? O amor e apoio que recebemos por parte dos que estão à nossa volta é essencial para nos manter em movimento, e ajuda-nos a alcançar as nossas metas. Portanto, deves agradecer também a todos eles, em especial à tua avó. Que Deus lhe conceda o Jannat.

O Profeta Muhammad S.A. W. disse: “Quem não é grato para com as pessoas, não o é para com a Deus”. (At-Tirmizi)

Não te deves esquecer de todos aqueles que te ajudaram. Deves agradecer-lhes por tudo aquilo que fizeram, sejam eles os teus pais, teus colegas, tuas irmãs, primos e demais familiares. Uma das melhores formas de agradeceres às pessoas é, não só lhes expressares gratidão verbalmente, mas para além disso, lembrares-te deles constantemente nos teus duãs (preces), assim como tu gostarias que eles se lembrassem de ti nas suas evocações sinceras.

À medida que vamos vivendo as nossas vidas, vamos tentando agradecer não só a Deus, por tudo aquilo com que Ele nos favoreceu, mas também a todos aqueles que compõem o nosso mundo, na esperança de que Deus os recompense, e aumente os Seus favores sobre nós.

Pratica sempre a caridade, pois o Profeta S.A.W. disse: “A (prática) da caridade fecha setenta portas do mal”. (At-Targuib)

E recita sempre o Vers. 15 do Cap. 46 do Sagrado Al-Qur’án:

“Ó meu Senhor! Dá-me habilidade (forças), para que possa agradecer-Te os favores com que me favoreceste, a mim e a meus pais, e possa fazer boa obra que Te satisfaça. E também com que a minha descendência seja virtuosa. Na verdade, eu volto para Ti arrependida, e estou entre os que se submetem a Ti”.

Para o resto da tua vida, desejo-te muitos sucessos e felicidades, e que Deus realize todos os outros teus sonhos. Ameen!

Por: Sheikh Aminuddin Mohamad - Maputo- Moçambique

quinta-feira, dezembro 08, 2011

“MODERAÇÃO NA VIDA E NO CULTO A DEUS” 1ª PARTE

Assalamo Aleikum Warahmatulah Wabarakatuhu (Com a Paz, a Misericórdia e as Bênçãos de Deus) Bismilahir Rahmani Rahim (Em nome de Deus, o Beneficente e Misericordioso)

JUMA MUBARAK (Tenham um Sexta-Feira cheia de Bênçãos)

Agradecemos a Allah (Al-Khâliq, Al-Muguith), nosso Criador e Sustentador, que prescreveu a moderação, como o caminho ideal para o nosso relacionamento.

Agradecemos também ao Profeta Muhammad (Salalahu Aleihi Wassalam), último mensageiro de Deus, que nos incentivou para sermos moderados e evitarmos os extremos em todas as  fases da nossa vida. Bem aventurados aqueles que seguem estas orientações. “São aqueles que, quando gastam, não se excedem nem mesquinham *, colocando-se no meio-termo”. Cur’ane 25:67.(* de avareza, de acanhado). 

Existem muitas recomendações no Cur’ane e nos hadices que nos incentivam a aproveitar o tempo da nossa vida, preenchendo-a com virtudes que nos possam conduzir ao bem estar na vida futura. No entanto, o Islão não impõe uma vida clausurada, isto é, uma vida fechada e retirada da família e da restante comunidade, com a intenção de se dedicar exclusivamente a Deus. O Islão incentiva a procura do conhecimento, do trabalho, do melhoramento da saúde e de tudo o que possa facilitar a vida do crente nesta vida passageira. O homem deve aproveitar a sua vida para adoração a Deus, mas deve também, nomeadamente, cuidar da sua família, procurando provisões para o respectivo sustento. “Deus vos deseja a comodidade e não a dificuldade”. Cur’ane 2:185. A vida é feita de partilha e o segredo é encontrar o meio termo, entre os dois extremos. Mas infelizmente, nos tempos actuais, na chamada “vida moderna”, o ser humano tem dificuldades em encontrar esse equilíbrio.

Se não conseguirmos distribuir o nosso tempo, cairemos naquilo que chamamos de “ou oito ou oitenta”, dois extremos indesejáveis na vida de um muçulmano. Por um lado, há  Muçulmanos que dizem não terem tempo, leia-se, disposição para dedicarem umas escassas horas do dia, para as orações, porque os afazeres profissionais, as lides da casa, o lazer e o descanso, preenchem todas as horas disponíveis.

Nos tempos actuais, o homem utiliza o extremismo no relacionamento com o seu semelhante, na sua vida pessoal, nos seus hábitos, no falar e na discussão de assuntos políticos. Falamos alto, para impor as nossas ideias e as nossas interpretações religiosas e desprezamos aqueles que não concordam com as nossas posições. Outros julgam-se superiores, porque adquiriram conhecimentos acadêmicos e religiosos e não têm modos no relacionamento humano e repreendem em público os seus irmãos de fé (quando vires o teu irmão praticando algo contrário à religião, em privado, fale com ele, serena e respeitosamente).

Recordamos as palavras de Lucman, o sábio, ao aconselhar o filho: “E modera o teu andar e baixa a tua voz, porque o mais desagradável dos sons é o zurro dos asnos”. Cur’ane 31:19.

Apesar de ser obrigação de todo o muçulmano de proibir o mal e de lembrar o bem, não podemos ultrapassar as nossas competências e  humilharmos o próximo. Não existe o bem nas palavras excessivas.

Abu Huraya referiu: “O Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) disse: “Os piores da minha comunidade, são aqueles que falam muito, aqueles que vão longe demais no que dizem e que enchem a boca com palavras. E os melhores da minha comunidade, são os melhores em carácter”. Bhukari, in Al-Adab al-Mufrad.

Como seres humanos, quando nos juntamos, convivemos e falamos de diversos assuntos. Falamos demais sobre o mundo e pouco sobre assuntos religiosos.

Atualmente, está em destaque a crise financeira. Mas rapidamente passamos para outros temas, nomeadamente, falando das intimidades e dos defeitos dos outros. Nas Mesquitas, os mais recatados, apressem-se a entrar. Mas outros aguardam fora pelo azan e pelo iquama (chamamentos para a oração). E entretanto, vão colocando a conversa em dia. Sem nos apercebemos, caímos no jogo do chefe dos diabos, iblisse (lanatuLahi aleihi ), criticando e falando mal dos outros. Se um muçulmano ocultar o defeito do seu irmão de fé, Deus ocultará as suas falhas.

 “E diga aos meus servos que falem com doçura, porque o cheitane (diabo), semeia a discórdia entre eles, Na verdade, o cheitane é um inimigo declarado do homem”. Cur’ane 17:53

Somos extravagantes nos gastos que nos conduzem à desgraça, arrastando as nossas famílias para o sofrimento. Depois, para tranquilizarmos a nossa consciência, dizemos que a culpa é do sistema em que nos encontramos inseridos. Comemos demais (ficamos obesos e doentes) e dormimos demais (não acordamos para a primeira oração do dia). Abu Huraira (Radiyalahu an-hu), referiu que o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) disse: 

1) - “A prática da religião é fácil e nenhum extremismo deverá interpor-se à mesma. Cumpri com os vossos deveres de modo apropriado, sincero e comedido, e sede optimistas. Orai a Deus pelas manhãs e pelas tardes e durante uma parte da noite. Com regularidade e moderação, alcançareis o vosso desejo (o paraíso)”. Bhukhari. E disse também, repetindo três vezes

 2) - ”Os extremistas buscam a sua própria perdição”. Relato de Ibn Massud (Radiyalahu an-hu) em Muslim.

Outros exageram na prática religiosa, com prejuízo da subsistência da própria família, onde os filhos crescem com diversas carências. Perante Aquele que nos vai julgar, a solidariedade social, a compaixão para com os nossos familiares e a responsabilidade comunitária, sobrepõem-se às nossas vontades individuais.


Issa (Aleihi Salam) – Jesus, que a Paz de Deus esteja com ele, encontrou um homem e perguntou-lhe: “o que fazes tu?” “devoto-me a Deus”, respondeu o homem. “E quem te sustenta?” perguntou Issa. Respondeu o homem: “o meu irmão”. Retorquiu Issa o teu irmão é mais devoto a Deus do que tu”. Relato de Abdallah Ibn Qutayba.

In Sha Allah, continua no próximo Juma

Cumprimentos

Abdul Rehman Mangá

08/12/2011

quinta-feira, dezembro 01, 2011

O mês de Muharram – o Dia de Ashuurá:


Assalamo Aleikum Warahmatulah Wabarakatuhu (Com a Paz, a Misericórdia e as Bênçãos de Deus) Bismilahir Rahmani Rahim (Em nome de Deus, o Beneficente e Misericordioso).

O calendário Islâmico segue o ciclo lunar e é composto por 12 meses de 29 ou 30 dias. Por consequência, o ano tem cerca de 11 dias a menos, em relação ao calendário gregoriano, o que origina por exemplo, que o Ramadan, ao longo dos anos, aconteça em estações diferentes. Assim, o jejum do mês de Ramadan, “circula” por todas as estações do ano, de modo a treinar os crentes para obedecerem aos mandamentos de Deus, nos momentos favoráveis e também nos momentos adversos, que requerem maiores sacrifícios. O primeiro mês do calendário islâmico é o Muharram. É um mês importante e abençoado por Deus. Abu Bakr (Radiyalahu an-hu), relatou que o Profeta Muhammad (Salalahu Aleihi Wassalam) disse: “O ano tem 12 meses, dos quais 4 são sagrados; os 3 meses consecutivos de Dhul-al-Qidah, Dhul.al-Hijjah e Muharram; e também o Rajab, que está entre Jumaada e Sha’aban.” (Bukhari).

Refere o Cur’ane: “Por Deus, o número de meses é de 12, como foi ordenado por Deus no dia em que Ele criou os céus e a terra; Quatro deles são sagrados. Este é o computo certo, portanto não vos condeneis…(At-Taubah 9:36).

Ibn Abbass e Qatada (Radiyalahu an-huma) referiram que esta frase “portanto não vos condeneis…” refere-se a todos os meses. No entanto, as más ações e os pecados cometidos naqueles 4 meses são mais sérios e em contrapartida, as boas ações trazem maiores recompensas. 

O Profeta Muhammad (Salalahu Aleihi Wassalam), nunca jejuou por inteiro em qualquer outro mês, a não ser no mês de Ramadan. O mês que mais jejuava era o de Sha’aban, que antecede o mês de Ramadan. No entanto, recomendou-nos para também jejuarmos noutras ocasiões, como por exemplo no dia de Arafa e no mês de Muharram.

Abu Huraira (Radiyalahu an-hu) relatou que o Profeta Muhammad (Salalahu Aleihi Wassalam) disse: “O melhor jejum depois do mês de Ramadan, é o jejum no mês de Allah, de Muharram.” (Musslim).

Segundo o relato de Ibn Abbass (Radiyalahu an- hu), quando o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) chegou à cidade de Madina, viu os judeus jejuando no dia de Ashuurá e perguntou os motivos. Foi-lhe respondido. “Este é o dia em que Deus salvou dos seus inimigos, o Profeta Mussa, Aleihi Salam (Moisés) – Que a Paz de Deus esteja com ele – e os seus seguidores. Então Mussa, como agradecimento a Deus, jejuou neste dia. O Profeta Muhammad (Salalahu Aleihi Wassalam) disse: “Nós temos mais direitos sobre Mussa (Que a Paz de Deus esteja com ele) do que vós e somos mais próximos dele do que vós.” Então o Profeta jejuou neste dia e ordenou os seus Sahábas – Companheiros (Radiyalahu an-huma – Que Deus esteja satisfeito com eles) para fazerem o mesmo. (Musslim).

O Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) referiu: “Ao jejuar no dia de Ashuurá, eu espero que Deus aceite o meu jejum como uma expiação pelo ano que passou.” (Musslim). Ibn Abbas (Radyialahu an-hu), referiu: Quando o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) jejuou no dia de Ashura e recomendou para que os seus companheiros assim o fizessem, eles lhe disseram: Ó Mensageiro de Deus, este é o dia em que os Judeus e os Cristãos o consideram muito importante. Então o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) disse: “No próximo ano, se Deus quiser, nós observaremos o jejum no dia 9”. Mas, o Mensageiro de Deus, acabou por falecer antes do referido advento. – Muslim Livro 6 – Hadice 2.528.

Ashuurá é derivado de Ashará, que significa 10. Assim, Ashuurá é o décimo dia de Muharram e o Tashuurá, é o nono dia do mesmo mês. Antes do advento do Islão, era habitual as pessoas jejuarem no dia 10 de Muharram.

No entanto, quando o jejum do mês de Ramadan foi instituído como obrigatório, o jejum de Ashuura deixou de ser obrigatório, passando a ser recomendado (mustahab).

Assim, é virtuoso para os muçulmanos jejuarem nos dias 9 e 10 de Muharram, não só porque o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) assim o recomendou, mas também para sermos diferentes dos Judeus, que só jejuam no 10º. dia.

Em relação ao mês de Muharram e o dia de Ashuurá, ainda continuamos a cometer muitas inovações (bidás), contrárias aos ensinamentos do Profeta e dos seus Sahabas. Nos tempos atuais, existem diversos livros de hadices traduzidos para as diversas línguas, que nos ajudam a compreender e a separar as ações correctas das atitudes erradas, que fomos herdando dos nossos antepassados. Em vez de obtermos recompensas, estaremos a infringir a lei de Deus. Por exemplo, usar kohl (alguns dizem que, nesse dia, quem colocar khol nos olhos, não ficará doente dos olhos durante o ano inteiro), tomar banho em especial para esta data (ghusl), utilizar heena, cozinhar comidas especiais, nomeadamente grãos, etc. Não existe nenhum hadice verdadeiro, comprovando aquelas atitudes e também, nem mesmo nos ensinamentos dos 4 imamos.

No passado, durante o mês de Muharram, aconteceram algumas situações e aflições que atingiram o Ummah do Profeta Muhammad (Salalahu Aleihi Wassalam), nomeadamente o martírio de Imam Al-Hussain (Radiyalahu an-hu), neto do Profeta Muhammad (Salalahu Aleihi Wassalam). Pedimos a Deus para que Ele derrame a Sua Misericórdia e a Sua Compaixão no Imam Al – Hussain (Radiyalahu an-hu) e em todos os que sucumbiram na tragédia.

Em Portugal, os dias 9 e 10 de Muharram (Tashuurá e Ashuurá), correspondem aos dias 04 e 05 de Dezembro de 2011, respectivamente.

Um Bom Dia de Juma.
Por ocasião deste novo ano que se inicia, peço a Deus, nosso Criador e Sustentador, que nos conceda o bem neste mundo e também no Akhirah (além). AMIN.

Cumprimentos
Abdul Rehman Mangá
01/12/2011 - JUMA MUBARAK

segunda-feira, novembro 28, 2011

Azim bin Sábitm - Sahaba (Companheiros do Profeta)

Bismillah Arahman Arahim

Os coraixitas saíram para a batalha de Uhud não deixando atrás nenhum dos seus enumerados, nem os nobres, nem os de baixa condição, para encetarem a batalha contra Mohammad b. Abdullah (S). Seus corações estavam cheios de raiva e de ódio, e ferviam de desejo de se vingarem das suas perdas da batalha de Badr. Como se aquele número de homens não bastasse, levaram consigo as esposas e as filhas dos nobres da tribo. O papel destas era o de encorajarem os homens na batalha, “esporeando-os” à intrepidez e ao heroísmo, e reacenderem o entusiasmo, sempre que se enfraquecessem e negaceassem.

Entre as mulheres que foram para a batalha com os coraixitas, estavam a Hind b. Utba (a esposa de Abu Sufyan), a Raytah b. Sad (juntamente com seu marido), a Tal-ha, acompanhada dos seus três filhos, o Musafi, Al Julas, e o Kilab, juntamente com muitas outras mulheres. Quando a batalha entre os dois exércitos começou, a Hind b. Utba e as mulheres que estavam com ela se alinharam atrás das fileiras de soldados, batendo nos tamborins e entoando o seguinte cântico:

“Se fordes em frente, nós vos abraçaremos e disporemos almofadas para vós;

“Se recuardes, nós vos desertaremos, e nada de amor para vós!”

O cântico delas incitou os lutadores a uma maior intrepidez, sendo que o seu efeito foi como mágica para os seus respectivos maridos.

Quando a batalha chegou ao fim, e os coraixitas se saíram vitoriosos, as mulheres foram para a frente, intoxicadas com a excitação da vitória. Elas deram livre e devastador curso à ira, no campo de batalha, uivando de júbilo, conforme mutilavam hediondamente os corpos dos mortos. Elas os estripavam, arrancavam-lhes os olhos, cortavam fora suas orelhas e seus narizes. Uma delas sentiu que sua ira não estaria aplacada se não fizesse colares e braceletes daqueles gloriosos troféus, em vingança pelo seu pai, tio e irmão, todos eles tombados na batalha de Badr.

O que aconteceu com a Sulafah b. Sad foi diferente dos feitos das outras coraixitas. Ela estava ansiosa e inquieta, esperando pela volta do seu marido ou de um dos seus filhos, do campo de batalha. Queria saber como eles se haviam saído, para que pudesse juntar-se às suas amigas, na comemoração da vitória. Ao ver que sua longa espera não a estava levando a nada, ela se pôs a andar para cima e para baixo no campo de batalha, olhando para os rostos dos mortos. De súbito, ela deparou com o corpo do marido, encharcado de sangue. Ela pulou como uma leoa alarmada, e se pôs a correr em todas as direções, à procura dos seus filhos, Musafi, Al Julas e Kilab. Não demorou muito, e ela os encontrou jazendo no sopé do Monte Uhud. O Musafi e o Kilab já estavam mortos, mas ela viu que Al Julas ainda tinha um sopro de vida. A Sulafah se curvou sobre ele, que estava no limiar da morte, colocou a cabeça dele no seu colo, e lhe limpou o sangue da testa e da boca. Ela tinha os olhos secos por causa da catástrofe que se abatera sobre ela. Ela encostou o seu rosto no dele, e perguntou:

“Quem te cortou todo, ó meu filho?” Ele tentou responder, mas o sopro da morte embargou-lhe a garganta, impedindo-o de falar. Ela repetiu insistentemente a pergunta, e ele disse:

“Foi o Azim b. Sábit; foi ele, e ele matou o meu irmão Musafi e...” e ele morreu antes de terminar de falar.

A loucura tomou conta da Sulafah. Bramando e soluçando, ela jurou pelos ídolos Al Lat e Al Uzza que sua dor e seu pesar não iriam ser aplacados, a menos que os coraixitas se vingassem por ela, quanto ao Azim b. Sábit, levando-lhe o crânio dele, no qual ela iria beber vinho. Ela jurou que iria pagar a quem o pegasse, e lhe levasse o crânio dele, tanto dinheiro quanto desejasse.

Os coraixitas rapidamente souberam sobre ela, então, e cada jovem de Makka desejava que ele fosse o felizardo a pegar o Azim b. Sábit, apresentar a cabeça deste para a Sulafah, e receber o prêmio, em troca.

Após a batalha de Uhud, os muçulmanos voltaram para Madina. Puseram-se a comentar o que havia acontecido durante a batalha, invocando a misericórdia de Allah para os heróis que haviam sido martirizados, e louvando os bravos lutadores que permaneceram no campo, e perseveraram. O nome de Azim b. Sábit veio à baila, e todos estavam admirados de como ele havia conseguido matar três irmãos numa só batalha. Um dos presentes disse:

“Qual a causa da admiração? Acaso não estais lembrados de que, antes da batalha de Badr – quando o Mensageiro de Allah (S) nos perguntou como planejávamos lutar?–, o Azim b. Sábit ficou de pé para lhe responder, com o seu arco na mão, dizendo:

“‘Se o inimigo estiver a trinta metros de distância, irei usar flechas. Se estiverem ao alcance das nossas lanças, então será chegada a hora de duelarmos com eles até que as lanças se quebrem, para depois lutarmos mano a mano com nossas espadas.’

“E o Profeta (S) então disse:

“Eis a maneira de batalhar. Qualquer um que for lutar deverá lutar como o Azim b. Sábit.”

A batalha de Uhud mal havia ficado para trás dos muçulmanos, quando o Profeta (S) designou seis dos mais reputados Companheiros para irem numa missão, e deu o comando dela ao Azim b. Sábit. Aquele pequeno mas virtuoso grupo saiu para realizar sua tarefa, e os seis estavam numa estrada que não ficava longe de Makka, quando foram vistos por alguns homens da tribo de Hudhayl. Estes correram até eles, circundaram-nos e os rodearam tão de perto, que eles não tiveram como escapar. O Azim b. Sábit e os seus companheiros desembainharam as espadas, prontos para lutarem contra os inimigos que os rodeavam. Os de Hudhayl disseram para eles:

“Não há como vos defenderdes de nós, pois que não sois páreo para nós. Não pretendemos fazer-vos mal, e tendes a nossa promessa perante Allah que isso não faremos, caso vos rendais a nós.”

Os seis Companheiros olharam uns para os outros como se estivessem consultando-se mutuamente para verem o que iriam fazer, e o Azim b. Sábit disse:

“Não irei depender da promessa de um pagão!” Então, lembrando-se da jura de vingança contra ele, feita pela Sulafah, ele orou em voz alta:

“Ó Allah, eu luto em defesa da Tua religião; protege minhas carnes e meus ossos, para que não caiam nas mãos de qualquer dos Teus inimigos!”

Então ele atacou os de Hudhayl, seguido por dois dos seus camaradas, e continuaram a lutar, até que foram mortos, um após outro. Os restantes dos seus camaradas se renderam aos de Hudhayl, mas eles, também, foram impiedosamente traídos e mortos.

Primeiramente, os de Hudhayl não se deram conta de que entre suas vítimas estava o Azim b. Sábit. Mas quando um do grupo reconheceu-o e contou para os outros, eles ficaram alegres, antecipando o gozo de receberem uma vultosa quantia como recompensa pelo que haviam feito. Que poderiam esperar, depois que a Sulafah jurara que se pusesse as mãos no Azim b. Sábit, iria beber vinho do seu crânio? Não jurou ela que iria pagar a quem o levasse a ela, vivo ou morto, tanto dinheiro quanto desejasse?

Em poucas horas, a notícia da morte do Azim b. Sábit chegou ao Coraix, pois os de Hudhayl viviam numa área nos arredores de Makka. Os líderes dos coraixitas enviaram uma mensagem aos matadores do Azim, pedindo pela cabeça dele, para que pudessem aplacar a raiva da Sulafah b. Sad, e fazer com que ela cumprisse o seu juramento. Eles esperavam aliviá-la do seu pesar pelos seus três filhos que morreram lutando com o Azim b. Sábit.

Os coraixitas fizeram com que o mensageiro levasse consigo uma grande quantia em dinheiro e lhe disseram que pagasse generosamente em troca da cabeça do Azim.

Os de Hudhayl foram para perto do corpo do Azim, a fim de lhe cortarem a cabeça, mas viram que um enxame de abelhas e de marimbondos havia pousado sobre ele, rodeando-o por todos os lados. Por mais cuidadosamente que tentavam se aproximar do corpo, as vespas voavam e pousavam nos seus rostos e pelos seus corpos, fazendo com que ficassem longe. Após terem tentado inúmeras vezes, e perdido as esperanças, um deles sugeriu:

“Deixemo-lo até que caia a noite; quando escurecer, as abelhas irão embora, deixando-o para nós.”

Então eles se sentaram ali por perto, e esperaram. Porém, quando o dia terminou e o crepúsculo começou a se fazer presente, o céu se encheu de pesadas e escuras nuvens. O tempo se tornava ameaçador, à medida em que os trovões ribombavam, e a chuva começou a cair duma maneira jamais vista, mesmo pelos mais velhos da tribo. As enxurradas se juntaram e se puseram a correr pelas ravinas e pelas áreas mais baixas, enquanto as torrentes rugiam, correndo pelos leitos secos dos rios. Toda a área foi inundada como se uma represa se tivesse rompido.

Quando a manhã finalmente chegou, os de Hudhayl procuraram por toda parte o corpo do Azim b. Sábit, mas não encontram nem vestígios. A enchente o levara para longe, para além do alcance deles.

Desse modo, eis que Allah respondeu as orações do Azim b. Sábit, pois Ele evitou que o seu corpo puro fosse mutilado, e protegeu o crânio dele de ser aviltado, de ser usado por uma pagã para beber vinho. Em suma, Ele evitou que os pagãos tivessem algum motivo para se vangloriarem, em detrimento aos crédulos.

“Qualquer um que lutar deverá lutar como o Azim bin Sábit.” (Mohammad b. Abdullah {SAAS})
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"São aqueles aos quais foi dito: Os inimigos concentraram-se contra vós; temei-os! Isso aumentou-lhes a fé e disseram: Allah nos é suficiente. Que excelente Guardião! Pela mercê e pela graça de Deus, retornaram ilesos. Seguiram o que apraz a Deus; sabei que Allah é Agraciante por excelência." (03: 173-174)


يُرِيدُونَ أَن يطفئوا نُورَ اللّهِ بِأَفْوَاهِهِمْ وَيَأْبَى اللّهُ إِلاَّ أَن يُتِمَّ نُورَهُ وَلَوْ كَرِهَ الْكَافِرُونَ

......Desejam em vão extinguir a Luz de Deus com as suas bocas; porém, Deus nada permitirá, e aperfeiçoará a Sua Luz, ainda que isso desgoste os incrédulos!

Mohamad ziad -محمد زياد


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Dr. Abdulrahman Ráafat Bacha
Tradução: Prof. Samir El Hayek