Quando dois exércitos, de um lado o do rei Talut (Saul) e do outro, o do rei Jalut (Golias) se confrontaram, Jalut lançou um desafio para que um soldado do exército do rei Talut, o enfrentasse num combate individual corpo a corpo (reptos deste tipo era tradição em batalhas naqueles tempos), para além de que o “bruto” queria tornar patente a força invulgar de que era dotado. Este repto criou algum pavor nas pessoas, pois ninguém sentia coragem suficiente para aceitar o desafio.
Para estimular um eventual voluntário, o rei ofereceu em casamento a sua bela filha ao homem que aceitasse confrontar Jalut. Mas nem mesmo essa atraente proposta logrou quebrar o silêncio gélido reinante entre os seus soldados.
Quando um jovem de entre os soldados ouviu o desafio lançado por Jalut e perante o qual os israelitas se revelavam hesitantes, não resistiu e para asurpresa de todos avançou, pedindo permissão à Talut para responder ao desafio de Jalut.
Uma forte e estrondosa gargalhada ecoou da parte da horda inimiga, e até mesmo os homens de Talut menearam as cabeças.
O jovem que se propunha aceitar o desafio era Dawud (as), da cidade de Betlehem (Belém). Seu velho pai tinha escolhido três dos filhos para se juntarem ao exército de Talut. Instruiu o mais novo – Dawud (as) – para não participar no combate, limitando a sua ação à ajuda ao exército noutras tarefas. Uma das suas
tarefas era a de diariamente informar seu pai sobre o que ia acontecendo na frente da batalha, bem como sobre as condições em que estavam os seus irmãos.
Não era ainda conhecida fama alguma sobre a bravura de Dawud (as), pois ele não fora enviado para a frente de batalha com a missão de combater.
Apesar de o rei estar deveras impressionado com a coragem patenteada pelo jovem Dawud (as), tentou dissuadí-lo: Eu admiro a tua coragem ó jovem, mas tu não te podes comparar àquele poderoso guerreiro. És muito novo e inexperiente. Não pode combater um gigante como ele. Deixe que algum homem forte avance.
Não obstante, Dawud (as) estava determinado, insistindo com o pedido de enfrentar o desafio que fora lançado. Orgulhosamente, disse ao rei que um dia antes ele havia morto um leão que ameaçara as ovelhas de seu pai e que numa outra ocasião matara um urso. Pediu a Talut para que não o julgasse pela sua aparência, pois ele não tinha medo de nenhum homem nem de qualquer besta selvagem, pois o que conta é a força e não a idade.
Talut, revelando-se surpreendido com a coragem demonstrada pelo jovem Dawud (as), aceitou, tendo dito: Meu jovem soldado, se tu queres então ALLAH que te proteja e te dê forças!
O rei vestiu Dawud (as) com a armadura de batalha e deu-lhe uma espada. Mas Dawud (as), não estando habituado àquelas vestes de combate, não se sentia confortável pois estas dificultavam-lhe os movimentos, pelo que despiu a armadura. A seguir juntou algumas pedrinhas com as quais encheu o seu alforge de pele, pendurando-o ao ombro.
Levando na mão um pau de madeira, começou a caminhar em direção ao inimigo. Talut estava preocupado, tendo-lhe perguntado: Como é que te vais defender de um gigante apenas com uma funda e algumas pedrinhas?
Dawud (as) respondeu: ALLAH que me protegeu das garras do urso e das unhas do leão, certamente que me protegerá desse bruto!
Ato contínuo, Dawud (as) avançou, desafiando Jalut.
Quando o gigante Jalut olhou para o jovem magro, que parecia um adolescente, riu-se às gargalhadas e gritou: Vieste brincar ao jogo de paus com um dos teus colegas, ou já estás cansado da tua vida? Eu simplesmente vou decepar a tua cabeça com um único golpe da minha espada!
Dawud (as) respondeu: Tu podes ter armas, escudo, espada e arco, mas eu vou te enfrentar em nome de ALLAH, O Deus dos filhos de Israel, de cujas Leis tu zombaste. Hoje vais ver que não é a espada que mata mas sim o poder de Deus!
Depois de dizer isso, tirou algumas pedrinhas do seu alforge e colocou-as na funda. A seguir, revoluteou-a lançando certeiramente as pedras contra Jalut. Projetadas a uma velocidade semelhante à de uma lança curta, as pedrinhas atingiram a cabeça de Jalut com tamanha força, que lhe fizeram brotar sangue.
Jalut caiu sem vida, antes sequer de ter oportunidade de desembainhar a sua espada. Dawud (as) avançou e degolou-o. Quando os restantes homens que compunham a sua tropa viram o seu poderoso herói morto, o cenário alterou-se, fugindo todos eles. Os israelitas perseguiram-nos, atacando-os sem piedade, vingando-se assim dos anos do sofrimento a que tinham sido sujeitos às mãos dos seus inimigos. Mataram o maior número possível de soldados inimigos, derrotando-os copiosamente.
Nessa batalha os filhos de Israel recuperaram a glória e a honra que há muito haviam perdido. Esse episódio tornou Dawud (as) famoso, distinto, amado e herói, numa única noite.
Talut cumpriu com a sua palavra, dando em casamento a sua filha Miquel ao jovem combatente. Tornou-o igualmente membro da corte, como um dos seus principais conselheiros.
Tanto o Al-Qur’án como a Bíblia são unânimes na afirmação de que foi Dawud (as) quem matou Jalut e que com a morte deste os israelitas saíram vitoriosos.
Consta no Al-Qur’án:
“Não refletiste (ó Muhammad) os chefes dos Filhos de Israel, depois (da morte) de Moisés? Quando disseram a um profeta seu: Designa-nos um rei, para combatermos no caminho de Deus.
Ele disse: Não achas que, se vos for imposto o combate, possais não combater? Eles disseram: Porque não combateremos no caminho de Deus, uma vez que fomos expulsos das nossas casas e separados dos nossos filhos.
Então quando lhes foi ordenado o combate, todos eles voltaram as costas exceto poucos deles. Deus, porém, conhece os injustos.
E o seu profeta (Samuel) disse-lhes: Certamente, Deus designou para vós Talut (Saul) como rei.
Eles disseram: Como é que ele pode reinar sobre nós, se nós somos mais merecedores de reinar do que ele, e nem lhe foi dada bastante riqueza. O profeta disse: Deus elegeu-o sobre vós e aumentou-lhe com abundância a sabedoria e a estatura. Deus dá o reino a quem quiser e Deus é Todo- Poderoso, Omnisciente.
E o seu profeta (Samuel) disse-lhes: O sinal da sua realeza será, chegar-vos a caixa (Arca), onde há tranquilidade do vosso Senhor, e os restos (relíquias) do que foi deixado pela família de Moisés e de Arão, transportada pelos anjos. Certamente, nisso há um sinal para vós, se sóis crentes.
Quando Saul partiu com a sua tropa, ele disse: Certamente, Deus pôr-vos-á em prova com um rio. Quem beber da sua água em estravagância não é dos Meus e quem dela não provar, esse é dos Meus, salvo aquele que a tomar só com a concha da sua mão. Então todos beberam do rio, exceto poucos deles.
Depois, quando ele e os crentes que estavam com ele o atravessaram (o rio), disseram: Hoje não temos força para combater (contra) Golias e a sua tropa.
Aqueles que sabem que se irão encontrar com Deus (no Dia Derradeiro), exclamaram: Quantos grupos pequenos derrotaram grupos grandes com a permissão de Deus! E Deus está com os que são firmes.
E quando enfrentaram Golias e a sua tropa no campo de batalha, eles disseram: Ó Senhor nosso! Dá- nos constância, mantém firmes os nossos pés e ajuda-nos contra o povo infiel.
E com a vontade de ALLAH os derrotaram; Dawud matou Jalut (Golias) e ALLAH concedeu-lhe o poder e a sabedoria e lhe ensinou tudo quanto Lhe aprouve (isto depois da morte de Saul e Samuel). E se Deus não repelisse certas pessoas uns pelos outros, a terra corromper-se-ia. Mas Deus é Senhor da bondade para as criaturas do mundo.” [Al-Qur’án 2:246-251]
Vide também a Bíblia [I Samuel 8]
O INVEJOSO REI
Dawud (as) _ combateu com bravura no caminho de ALLAH. Sempre que ele combatia, saía vitorioso. As pessoas elogiavam-no e gostavam dele, não obstante os corações de muitos deles serem inconstantes e as suas memórias fracas. Mesmo os grandes homens são susceptíveis de se sentirem inseguros.
Numa .ocasião, Dawud (as) encontrou Talut muito preocupado. Notou algo de estranho na sua atitude para com ele. À noite, partilhou com a esposa o que sentia. Ela começou a chorar e disse: Ó Dawud (as)! Eu jamais guardarei segredos sem te informar.
Acrescentou que seu pai se tornara invejoso devido à popularidade de Dawud (as), receando perder o seu reino a favor deste. Miquel aconselhou-o a estar sempre atento. Esta informação deixou Dawud (as) deveras chocado. Orou para que o bom carácter de Talut prevalecesse e que a vertente feia e ruim nele fossem removidos.
No dia seguinte, Talut convocou Dawud (as) e disse-lhe que Canaan havia mobilizado as suas forças com o intuito de marchar contra o reino. Ordenou que Dawud (as) mobilizasse o exército e avançasse contra eles, e que não regressasse enquanto a vitória não fosse alcançada.
Dawud (as) suspeitou tratar-se de um pretexto para se livrar dele. O inimigo iria matá-ló ou então na confusão da batalha os agentes de Talut poderiam apunhalá-lo traiçoeiramente. Mas mesmo assim, ele apressou-se na mobilização do exército para enfrentar as tropas de Canaan.
Os seus homens combateram com galhardia contra os cananeus, sem pensarem na sua segurança pessoal. ALLAH concedeu-lhes a vitória e Dawud (as) sobreviveu mais uma vez, regressando para junto de Talut.
Mas esta vitória só serviu para aumentar os receios de Talut, tendo conspirado para matar Dawud (as). Tal era a inveja que ele tinha, que não se importava sequer com o bem-estar da filha. Miquel soube do plano do pai e apressou-se a avisar o seu marido. Dawud (as) juntou alguns víveres e outros mantimentos, e montando o seu camelo, fugiu. Durante a fuga chegou a uma caverna, onde se manteve escondido por muitos dias. Decorrido algum tempo os seus irmãos e alguns cidadãos juntaram-se-lhe.
Esta atitude enfraqueceu bastante a Talut. Começou a maltratar a sua equipe de sábios e intelectuais, a torturar os recitadores de Talmud e aterrorizar os seus soldados, o que agravou a sua posição e a do seu séquito, cujos membros começaram-se a rebelar contra ele. Decidiu então declarar guerra contra Dawud (as). Quando essa notícia chegou a Dawud (as), este optou por marchar com o intuito de confrontar o exército de Talut.
As tropas de Talut tinham já marchado uma grande distância, pelo que revelavam algum cansaço. Decidiram descansar num vale onde adormeceram. Silenciosamente, Dawud (as) rastejou até junto de Talut que dormia. Removeu a sua lança e afastou-se sobre os bicos dos pés.
Quando Talut acordou e não encontrou a sua lança, ficou agitado. Mais tarde, chegou um mensageiro que lhe trazia de volta a lança dizendo: Dawud (as) podia matar-te, mas ele é um homem nobre.
Ao ouvir isto, Talut ficou profundamente comovido, começando a chorar devido à sua própria injustiça, e por ter traído Dawud (as), quando este não merecia tamanha atitude.
Então, ele ordenou que o seu exército regressasse ao reino. Enviou uma mensagem a Dawud (as), pedindo-lhe para que regressasse à corte onde iria ocupar uma posição privilegiada ao seu lado.
Quando Dawud (as) e os seus homens regressaram, Talut deixou a cidade à busca do perdão de ALLAH devido às suas más ações. Passou o resto da sua vida numa casa pequena no campo, orando a ALLAH. Após a sua morte, Dawud (as) tornou-se rei, e todos os israelitas prestaram-lhe juramento de fidelidade.
Segundo a história bíblica, Saul foi o primeiro rei dos hebreus, que morreu na Batalha de Gelboé.
Dawud (as) foi um rei justo, proporcionando paz e prosperidade à sua gente, tendo mais tarde sido escolhido por ALLAH como profeta para guiar os filhos de Israel.
Há unanimidade em todos os historiadores na descendência de Dawud (as). Ele era descendente de Yahuda. Consta na Bíblia que Iysha tinha vários filhos dos quais Dawud (as) era o mais novo.
Muhammad Ibn Iss’háq cita uma narração de Wahb Ibn Munabbih, segundo a qual Dawud (as) era de estatura baixa e de olhos azuis. Contrariamente a muitos israelitas, ele tinha muito poucos pêlos no seu corpo. A pureza do seu coração e a sua natureza meticulosa refletiam-se na sua cara.
Dawud (as) foi mencionado em vários capítulos do Al-Qur’án. O seu nome aparece em dezesseis suratas, com alguns pormenores em alguns versículos e abreviadamente noutros.
A PROFECIA
O resultado do amor que os israelitas nutriam por Dawud (as) fez com que este ascendesse ao poder, tornando-se rei com Talut ainda vivo ou imediatamente após a sua morte. ALLAH também favoreceu-lhe com a profecia durante esse período.
Antes da era de Dawud (as), uma ramificação dos filhos de Israel controlava o governo, enquanto que à outra foi concedido o pedestal da profecia. A profecia continuou na família de Yahuda, enquanto a liderança continuou na família de Efraim.
Dawud (as) foi a primeira pessoa a quem ALLAH agraciou simultaneamente com o reino e com a profecia, pois ele era rei e profeta. O Al-Qur’án faz alusão a esse favor sobre Dawud (as) da seguinte forma:
“E com a vontade de ALLAH os derrotaram; Dawud matou Jalut (Golias) e ALLAH concedeu-lhe o poder e a sabedoria e lhe ensinou tudo quanto Lhe aprouve.”
[Al-Qur’án 2:251]
“Então fizemos Salomão compreendê-lo. E a cada um dos dois, demos
sabedoria e ciência. E submetemos, com Dawud, as montanhas e os pássaros,
para Nos glorificarem. Fomos Nós quem fizemos isto.”
[Al-Qur’án 21:79]
“E dissemos-lhe: Ó Dawud! Por certo, Nós fizemos de ti Khalifa na terra (nosso representante). Portanto, julga entre as pessoas, com justiça, e não sigas a paixão, pois ela te afastará do caminho de ALLAH.”
[Al-Qur’án 38:26]
De entre os mensageiros, além de Ádam _, o Al-Qur’án apenas atribuiu o título de Khalifa à Dawud (as). A prudência neste fato provavelmente possa ser atribuída ao fato de terem sido dados a Dawud (as) a profecia e o reino, contra o costume que a Séculos prevalecia no seio dos israelitas, daí que se revelasse importante atribuir-lhe um título que explicitamente manifestasse os atributos da sabedoria e poder de ALLAH. Para esse objetivo, no Shari’ah não há melhor título do que o de Khalifa.
Nos versículos acima citados fala-se de Khalifa. O que é Khalifa? A palavra Khalifa tem três significados, nomeadamente:
1. “Esse que vem depois ou a seguir” [Al-Qur’án 7:169]. ALLAH é um Ser que não tem antes nem depois. Ele é infinito. Portanto, os seres humanos não são Seus Khalifas nesse sentido.
2. Khalifa pode significar “deputado” (vice-rei). ALLAH não tem deputados nem vice-reis. Os reis e presidentes têm deputados ou vice-reis nos países e locais de cujos assuntos eles não podem administrar diretamente, pois os seus poderes e conhecimentos são finitos e limitados. Por isso eles enviam seus deputados e vice-reis. No caso de ALLAH, Ele abrange tudo e tem poder sobre todas as coisas. Ele é Omnipresente e Omnisciente.
3. Portanto a melhor tradução é: “Esse que pode mudar as coisas”. Ou “Esse que pode interferir nas coisas”. Essa é que é a função da Humanidade.
ALLAH criou a Terra, mas não criou uma casa, estrada ou mobílias. Ele incumbiu-nos a função de khalifas. Ele enviou os seus Profetas que ensinaram o modo de vida, de cultura e civilização, medicina e qualquer
ramo de vida, por isso ALLAH diz:
“E ensinámos-lhe (a Dawud) a arte de fazer couraças para vos proteger das vossas violências.”
A função de Dawud (as) não era apenas transmitir ensinamentos espirituais e morais, mas também ensinar formas de cultura, civilização e também tecnologia.
Nestes versículos do “Surah Sád” há um que ordena o Sajdah, porém existe divergência entre os imámes neste Sajdah do “Surah Sád”, se é obrigatório ou facultativo (Sajdatus-Shukr). Uns acham que não é obrigatório por se tratar de Shukr e outros acham que é obrigatório.
Dawud (as) foi escolhido para guiar os filhos de Israel, monitorando em simultâneo a sua vida social.
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“Ó fiéis, atendei a Allah e ao Mensageiro, quando ele vos convocar à salvação. E sabei que Allah intercede entre o homem e o seu coração, e que sereis congregados ante Ele.” 8:24
Asalamo Alaikom WA WB,
Hamzah Abdullah Islam - o menor dos servos de Allah SW