Por: Shaikh Mohamad Al Ghazali
Tradução: Prof. Samir El Hayek
O Islam espera de seus seguidores que eles sejam donos de corações alegres e consciências alertas, que assegurem a proteção dos direitos de Deus e da humanidade, e que também protejam seus atos, impedindo-os de cometerem excessos. Para isso, e preciso que todo muçulmano seja confiável (Amin).
A luz da chari‘a, confiança tem um sentido bastante amplo. Esta palavra possui um oceano de significado, mas por trás de todos eles estão o senso de responsabilidade, o senso de ter que comparecer diante de Deus para prestar contas dos seus atos, de acordo com os pormenores fornecidos na seguinte tradição:
“Cada um de vós é um guardião, e a cada um se perguntará a respeito dos seus súditos. O Imame é o guardião. A ele se pedirá contas dos seus súditos. Um homem é o guardião das pessoas que compõem o seu domicílio (família). Ele responderá por estas. A mulher é guardiã da casa do seu marido. A ela se perguntará sobre a sua responsabilidade. O servo é o guardião dos pertences do seu senhor. Ele é responsável por todas tais coisas.” (Bukhári).
O narrador dessa tradição, Ibn Ômar diz que ouviu estas coisas ditas pelo Profeta, e pensa ter ouvido o Profeta dizer também: “Um homem é guardião do inventário de seu pai e terá de prestar contas dele.”
As pessoas em geral, entendem a confiança num sentido muito limitado, e consideram que isto diga respeito a proteção dos bens dos outros, apesar de que na religião de Deus isto tem um sentido bem amplo e ilimitado até.
Confiança é o dever de resguardar (as coisas), pelo qual um muçulmano apoia a outro muçulmano e nesta relação, recorre à ajuda de Deus. Quando um muçulmano se prepara para uma viagem, na sua partida seu irmão reza por ele da seguinte maneira:
“Oro a Deus pela tua religião, pela tua confiança e pelo êxito feliz do teu trabalho (empreendimento?).” (Tirmizi)
Anas narra que sempre que o Mensageiro de Deus nos dirigia um sermão, ele invariavelmente repetia esta frase: “Não tem fé o homem que não é capaz de ser confiável, e não tem religião o homem que não é capaz de cumprir a sua palavra.”
Uma vez que o ápice da realização e o limite superior do êxito está em se ser protegido contra as privações deste mundo e as más consequências na Outra Vida, o Profeta suplica sejamos livrados de ambas estas situações. Ele disse:
“O Deus! Eu busco Tua proteção da aflição da fome, porque esta é péssima companheira, e busco Vosso abrigo da desonestidade porque esta é o pior amigo.” (Abu Daud)
A fome é o nome da depravação do mundo e a desonestidade é o nome da destruição da religião, portanto o Profeta suplicou que fossemos preservados de ambos. Antes de ser profeta, ele era conhecido entre o povo como o Amin (Confiável).
Do mesmo modo foi notada a confiabilidade de Moisés quando ele buscava água para o rebanho das duas filhas do bondoso velho, e ajudar a elas, devido à condição de mulher delas, e as tratou de maneira decente e cavalheiresca.
“Assim, ele deu de beber ao rebanho, e logo, retirando-se para uma sombra, disse: Ó Senhor meu, em verdade, estou necessitado de qualquer dádiva que me envies! E uma (moça) se aproximou dele, caminhando timidamente, e lhe disse: Em verdade meu pai te convida para recompensar-te por teres dado de beber (ao nosso rebanho). E quando se apresentou a ele e lhe fez a narração da (sua) aventura, (o ancião) lhe disse: Não temas! Tu te livraste dos iníquos. Uma delas disse, então: Ó meu pai, emprega-o, porque é o melhor dos que poderás empregar, pois é forte e fiel.” (28ª:24-26)
Este acontecimento ocorreu em lugar (e ocasião) enquanto Moisés ainda não tinha sido feito Profeta, e não fora enviado à côrte do Faraó.
E isto não deveria nos surpreender, porque Deus só escolhe os indivíduos para encarregá-los como Seus Mensageiros, quando são decentes, honestos e probos entre os demais. Aquele que continua a preservar uma e levada moral de caráter mesmo depois de ser submetido às privações da pobreza e do desamparo, deve ser de fato um homem muito forte e confiável; e para proteger os direitos de Deus e dos Seus servos, exige-se um caráter inflexível quer seja em boa ou má situação, pois é este o espírito próprio da confiabilidade.
A Nomeação a Cargos Elevados e Responsabilidades, é uma Confiança
Existe ainda um outro sentido de confiança: que todas as coisas devem ter seu lugar próprio e merecido. Um cargo ou uma responsabilidade só devem ser oferecidos à pessoa merecedora; e a responsabilidade só deve ser entregue à pessoa capaz de se desempenhar dela com justiça pela confiança que lhe foi outorgada.
A governança, as responsabilidades do partido, nação ou país, que são conferidas por se confiar nas pessoas escolhidas, são confianças (custódias) pelas quais eles respondem. E um grande numero de provas pode ser coligido para respaldar essa afirmação.
Abu Zar relatou ter perguntado ao Profeta se ele não o nomearia para governador de alguma parte. Ao ouvir isso, o Profeta tocou-o no ombro dele e disse:
“Ó Abu Zar! você é fraco, e esta responsabilidade é uma custódia. No Dia do Juízo Final ela será motivo de perda de estima e ignomínia. Entretanto, disso estarão livres as pessoas que o tiverem aceito com todas as suas responsabilidades e tenham desempenhado e cumprido quaisquer responsabilidades que tiveram nesse sentido.” (Muslim).
Ɇuma verdade de que a mera excelência de instrução ou experiência não torna uma pessoa mais adequada a determinado cargo. É também possível que um homem tenha um bom caráter moral e seja pessoa proba, mas ainda assim não tenha todas as habilidades necessárias para preencher as responsabilidades de determinado cargoÆ
Yusuf (José) era um profeta. Ele foi o exemplo vivo da probidade e da virtude, mas ele não se ofereceu para carregar nos ombros as responsabilidades da nação com base na probidade e na sua condição de profeta. Ele assumiu as rédeas do encargo em suas mãos devido ao seu entendimento e memória.
“Pediu-lhe: “Confia-me os armazens do país, que eu serei um bom guardião deles, pois conheço-lhes a importância.” (12ª:55).
A credibilidade exige de que confiemos tais responsabilidades e encargos a pessoas que sejam capazes de as desempenhar adequadamente. Se por meio de suborno, nepotismo ou por alguma outra razão, nos desviarmos desse princípio e escolhermos uma pessoa incapaz para um determinado cargo, tendo então ignorado uma pessoa capaz e nomeado uma pessoa incapaz e desmerecedora, nós estaremos cometendo uma apropriação indébita.
O Mensageiro de Deus disse que quem quer que tenham nomeado um administrador por nepotismo apesar de haver entre a gente um indivíduo que fosse mais desejável a Deus do que aquela pessoa, então ele terá se apropriado indevidamente contra Deus, Seu Mensageiro e todos os muçulmanos.” (Hakim)
Yazid ibn Abi Sufyan relata que quando Abu Bakr o enviou a Síria, ele recomendou-lhe o seguinte: “O Yazid! Você tem muitos parentes. E provável que venhas a ser assediado por eles ao ter de fazer nomeações importantes. Estou preocupadíssimo contigo em vista do que o Profeta falou: “Qualquer um que tenha sido feito responsável por algum assunto que diz respeito aos muçulmanos, e que tenha confiado algum encargo de responsabilidade a alguém, influenciado por seus parentes, então que seja amaldiçoado por Deus. Nenhuma virtude ou justiça provinda dele será aceitável a Deus, tanto assim que ele será atirado no Inferno.” (Hakim)
A comunidade da qual desapareceu a qualidade de credibilidade poderá ser conhecida deste modo: a distribuição dos cargos e encargos naquela comunidade se transforma em um jogo e leilão de favores. Os homens capazes perdem o valor e em seu lugar, são nomeados homens incapazes e desmerecedores. A tradição tem como certo que isto faz parte das manifestações da corrupção que aparecerá no tempo de declínio.
Um homem foi ter com o Profeta e lhe perguntou quando sobreviria o Dia do Fim do Mundo. O Profeta respondeu: “Quando se perderem a credibilidade e a confiabilidade, então pode esperar pelo Fim do Mundo.” E perguntou outra vez: “O que significa perder a credibilidade?” Ele respondeu: “Quando as responsabilidades são confiadas aos incapazes, então espere o Fim do Mundo.” (Bukhári)
O Cumprimento do Dever e também uma Confiança
Este sentido também está incluído entre os significados da confiança, de que o homem a quem se encarregou de certa responsabilidade, deva ter uma inclinação sincera para o cumprimento satisfatório dessas responsabilidades e de que devera devotar todas as suas energias para fazê-lo com justiça. Sem duvida que isto é um sentido de credibilidade. O Islam considera ser digno de louvor um homem ser sincero no seu trabalho, dedicado de boa vontade ao seu desempenho na melhor forma, e alerta Para resguardar os direitos das pessoas que estiverem sob sua alçada; pois por mais insignificante que a responsabilidade possa ser, a menor negligência poderá causar danos irreparáveis a toda a comunidade e sociedade; permitindo que penetrem todo o organismo político os germes da corrupção e da maldade. A desonestidade no desempenho de deveres oficiais ocasiona diversas enfermidades morais na sociedade. Ela causa danos à religião, ao público muçulmano e ao país. Este pecado, seu castigo e seu mal, aparecem de várias maneiras.
O Mensageiro de Deus disse:
“No Dia do Juízo Final, quando Deus reunir a todas as pessoas, passadas e presentes, será afixada uma bandeira correspondendo a cada enganador, por meio da qual ele será reconhecido. E será dito que esse e o grupo de tais e tais enganadores.” (Bukhari)
Em outra tradição se afirma:
“Haverá uma bandeira próximo à cabeça de cada enganador, a e erguerá em altura proporcional às suas burlas. Escutai, não há pior enganador do que o Emir que engana o público.” (Musslim)
Em outras palavras, não haverá ninguém mais enganador nem merecedor de más consequências do que a pessoa a quem se incumbem responsabilidades pelos negócios dos homens e ele dorme tranquilamente enquanto o povo passa por privações e enfrenta a destruição.
O Abuso do Cargo e Traição da Confiança
A confiança exige que, se um homem é nomeado a determinado cargo alto, ele não o use para o auto-engrandecimento ou para beneficiar seus parentes, nem use os recursos públicos para fins pessoais, sendo isto um crime.
É uma coisa bastante comum a governos e às firmas atribuirem salários determinados aos seus empregados. Criar fontes de renda extras e falta de respeito, ignomínia e mesquinhez. O Mensageiro de Deus disse:
“A quem quer que encarreguemos algum serviço, também a provisão das necessidades dele serão nossa responsabilidade. Se ele tomar a si mais que isso, então estará cometendo uma apropriação indébita.” (Abu Daoud)
É apropriação indébita porque ele usou para si propriedade da organização que era para ser dada aos fracos e aos necessitados, e que deveria ter sido gasta em uma causa e propósito maiores:
“É inadmissível que um profeta fraude; mas, o que assim fizer, comparecerá com o que tiver fraudado, no Dia da Ressurreição, quando cada alma será recompensada segundo o que tiver feito, e não será injustiçada“ (3ª:161).
Mas o homem que respeita os mandamentos de Deus no desempenho da sua responsabilidade e é avesso a práticas desonestas no cumprimento dos seus deveres, este é então considerado por Deus como um dos que lutam pela supremacia da religião. O Profeta disse:
“Quando ao Administrador é entregue uma tarefa, ele deve receber o que lhe e devido e deve pagar também o devido aos outros, só então ele é igual a um combatente pela causa de Deus, até que volte para casa.” (Tabarani)
O Islam proibiu que se explore ou use para aferir vantagens indevidas dos cargos. E sempre foi muito severo em fechar todos os caminhos que facilitem o ganho de riquezas ilícitas.
Adi ibn Umaira narra ter ouvido o Profeta dizer: “Seja quem for a quem tenhamos nomeado para um cargo, que tenha escondido ao menos uma agulha ou até algo ainda menor que isto, será isto uma apropriação indevida com a qual ele terá de comparecer no Dia do Juízo Final.” Ao que um Ansari de pele negra se levantou e disse: “Ó Mensageiro de Deus! Tire-me a minha governança.” O Profeta perguntou o que tinha acontecido. Ele respondeu: “Eu ouvi o que você acabou de dizer.” O Profeta então disse: “E continuo a dizer que quem quer que tenhamos feito governador, deverá expor tudo diante de nós. Ele deverá ficar com tudo aquilo que lhe for dado, e deverá se abster de tudo de que lhe for pedido desistir.” (Musslim)
Diz-se que certo homem da tribo de Uzd, de nome Ibn Labtih, foi enviado pelo Profeta como administrador do recolhimento de caridades e doações. Quando ele voltou da coleta ele disse: “Estas coisas são as tuas e estas aqui foram presenteadas a mim.” O narrador da tradição diz que ao escutar isto o Profeta se levantou e após louvar a Deus disse:
“Escolhi dentre vós, um administrador para os assuntos de que Deus me fez responsável. E quando este homem voltou, ele disse que isto é para nós e aquilo é o que foi presenteado a ele. Se ele diz a verdade, então porque não permanece na casa dos seus pais. Vejamos então de onde lhe viriam os presentes? Por Deus, se algum de vos recebe a coisa mais insignificante sem que ela lhe caiba por direito, terá de levá-la consigo ao aparecer diante de Deus. Não quero ver nenhum de vocês ser encontrando com Deus carregando um camelo na cabeça ou uma vaca a mugir ou um cabrito que esteja berrando.” E então levantou as duas mãos até ficarem visíveis suas axilas brancas e disse: “Ó Deus! Transmiti a Tua mensagem.” (Musslim)
A Riqueza e a Habilidade conferidos por Deus são também em Confiança
Confiança também significa que você deve fazer um exame dos poderes de percepção com os quais Deus o abençoou. Você deve olhar bem essas habilidades especiais que Deus te conferiu. Se olhar para os seus bens, e para os seus filhos que lhe são muito queridos, sentirá que todas essas coisas são créditos que Deus tem depositado consigo. Portanto, é necessário que eles sejam sacrificados em Sua causa, e de que sejam usadas para a satisfação d‘Ele. E se você os perder, não deve começar a chorar e se lamentar, nem deve considerar que eram a sua propriedade pessoal que lhe foi tomada, porque comparado a você, Deus é o que tem o maior direito de propriedade e é Ele quem tem o direito de usá-la como Lhe aprouver. Se você for experimentado por um aumento nelas (bens e filhos), aí então é que não deve hesitar em tomar parte do jihad quando a isto for chamado, nem deve abandonar a obediência a
Deus por causa disso. Nem tampouco deve sentir-se convencido por eles.
“Ó crentes, não atraiçoeis Deus e o Mensageiro; não atraiçoeis, conscientemente, o que vos foi confiado! E sabei que tanto vossos bens como vossos filhos são para vos pôr à prova, e que Deus vos tem reservada uma magnífica recompensa.” (8:27-28).
Os Segredos de Outros que Saibam também são uma Confiança
Credibilidade também significa que vocês devem proteger os direitos das reuniões que frequentar. Não devem divulgar as informações e os segredos ali conhecidos a outros.
Grande numero de relações são rompidas, embaraços são provoca dos entre amigos, e interesses são arriscados quando as informações sobre ou os segredos das reuniões são divulgados por alguém, seja citando correta ou incorretamente suas fontes, jogando por terra assim todos os projetos ali discutidos.
O Mensageiro de Deus disse: “Quando alguém diz algo a alguém e até se volta a você, essa é uma questão de confiança.”
A conversa confidencial das reuniões deve ser guardada, desde que ela esteja dentro dos preceitos morais e dos princípios da religião, senão sua inviolabilidade desaparece. Se um muçulmano estiver presente a uma reunião de criminosos em conspiração entre eles com o fim de causar prejuízos a outros, então é responsabilidade dele evitar tais atos da maneira que lhe for melhor possível.
O Mensageiro de Deus disse: “Os segredos das reuniões são uma confiança, mas três tipos de reuniões são exceções a (essa regra): aquela em que sangue seja ilegalmente derramado é ilícita (haram), aquela em que se esteja praticando sexo ilícito, e aquela em que bens estejam sendo ilegalmente usurpados (mesmo em intenção,).” (Abu Daoud)
As relações conjugais são sagradas aos olhos do Islam. O relacionamento domestico entre marido e mulher e seus negócios em comum devem ser completamente resguardados. Nem o mais próximo homem deve ser informado sobre eles.
Mas pessoas tolas costumam relatar seus assuntos íntimos e problemas domésticos aqui e ali a estranhos. Este é um hábito muito ruim e Deus o declarou ilícito (haram).
Assmá bint Yazid relata que ela estava com o Profeta estando juntos um marido e sua esposa. O Profeta disse: “Haverá algum homem tal que narre os atos realizados com sua esposa? E haverá uma esposa que conta suas relações com o marido a outros?” Ninguém disse nada de medo. Eu disse: “Ó Mensageiro de Deus! Por Deus que tanto os maridos quanto as esposas fazem isso.” Ele disse: “Não diga isso. O melhor exemplo disso é um demo-homem encontrar-se com uma mulher-diabo, ele a cobrir para praticar o ato sexual e as pessoas ficarem olhando.” (Ahmad)
O Profeta disse: “No Dia do Juízo Final, diante de Deus, o maior ato de apropriação indevida será o do homem que amar a sua esposa e a esposa que também sinta o mesmo pelo seu marido, e então ele divulgue os segredos (íntimos) dela a outros.” (Musslim)
O que é depositado conosco em confiança é para ser resguardado por um prazo determinado, até que seja pedida a devolução. Nós teremos que prestar contas por tais créditos de confiança.
Ao emigrar para Madina, o Profeta deixou para trás um primo seu para que ele devolvesse aos politeístas os créditos que lhe haviam sido confiados, apesar de tais politeístas serem membros da mesma comunidade que o estava expulsando de seu lugar de nascimento. Ele se viu obrigado a abandonar sua causa pelo bem da crença, porem como pode um homem decente comportar-se indecentemente, mesmo que seja com pessoas indecentes e infames?
Maimoon ibn Mehran diz que havia três modos de tratamento que ele sempre dispensou igualmente a homens bons e a maus: ser confiável , cumprir suas promessas e ser bondoso (e gentil).
Considerar alguma coisa que lhe tenha sido confiada como propriedade pessoal é um ato vil, um roubo.
Abdullah Ibn Massud disse que participar da luta pela causa de Deus redime todos os pecados exceto o da apropriação indevida de algo que tenha sido confiado. Disse ele que no Dia do Juízo Final, ao se apresentar a pessoa que tenha lutado pela causa de Deus, nem por isso deixará de lhe ser cobrado o que lhe foi confiado. Tal pessoa poderá dizer: “Ó Senhor meu, como é possível fazê-lo se o mundo acabou?” Então lhe será dito: “Levem-no para o Inferno.” E em sua presença, os valores confiados serão apresentados da mesma maneira como foram confiados a ele neste mundo, (para) que ele os veja e os reconheça. Então ele terá de apanhá-los e carregá-los sobre os ombros, até ter a impressão de que conseguira sair dali, ao que as coisas assim confiadas lhe caiarão dos ombros E ai ele correrá para apanhá-las novamente. E este ato continuará para ele eternamente. Então ele disse que o salat (a oração) era algo que fora confiado, que o wuzu (as abluções) lhe foram confiadas, que pesar uma coisa lhe era confiado, que medir uma coisa lhe era confiado, e relacionou muitas coisas e disse que a maior custódia fora a riqueza e as coisas que foram confiadas em depósito com ele e foram devolvidas.
O narrador da tradição diz que ele foi a Bara ibn Aazib e perguntou o que ele achava sobre o que Ibn Masud dissera. Bara ibn Aazib respondeu: “Ele falou a verdade. Não ouvistes este mandamento de Deus:
“Deus manda restituir a seu dono o que vos es†á confiado; quando julgardes entre as pessoas, fazei-o com equidade.” (4ª:58).
Exercer a custódia em confiança protege os direitos de Deus e os dos Seus servos. Mantêm os homens abstêmios da baixeza e da mesquinhez. E atinge as alturas desejadas somente quando esta qualidade é assimilada pelos homens às suas naturezas e consciências, quando ela alcança o âmago dos seus corações e quando e resguardada contra as influências de parentes próximos ou mesmo distantes.
Este e o significado da tradição narrada por Huzaifa ibn Yaman:
“Resguardar o que nos foi confiado foi naturalmente arraigado nos corações dos homens. Então veio o Alcorão e as pessoas aprenderam a reconhecer isto do Alcorão e da Sunna.” (Musslim)
O conhecimento da chari‘a não pode ser indiferente à conduta idônea, e guardar o que nos é confiado significa possuir entendimento correto do Alcorão e das Tradições bem como possuir uma consciência alerta. Se a consciência morre, então perde-se a qualidade de saber resguardar o que nos é confiado. Em tal situação, não adiantará muito recitar os versículos alcorânicos nem estudar as tradições, mas os pretendentes do Islam pensam sobre outros e também sobre si próprios de serem portadores dessa qualidade, no entanto, podemos perguntar, como pode o coração que rejeita a verdade ser capaz de guardar algo em confiança?
Por esse motivo, Huzaifa afirmou que o coração que não têm nenhuma crença perde a qualidade de guardar o que lhe é confiado. E consoantemente, ele relata: “Então nós começamos a falar sobre o desaparecimento da qualidade de resguardar o que é confiado, e o Profeta disse: “Quando um homem vai a um tipo de sono, a credibilidade é exprimida do seu coração até que seu efeito se transforme em um ponto. Então ele passa para um outro tipo de sono, e a credibilidade encolhe no seu coração até ficar como uma pequena cicatriz.” Então o Profeta disse: “E então as pessoas se dedicam a comprar e vender, mas ninguém é capaz de dar nada em confiança, tanto assim que quando se diz que em uma certa família há um homem confiável, e a respeito dele se diz o quanto ele é tolerante, bem-comportado e sábio! apesar de não existir sequer um átomo de fé no seu coração.”
Essa tradição nos apresenta um quadro horrível do desaparecimento da qualidade de resguardar o que nos é confiado dos corações das pessoas desonestas. E como achar fagulhas de bondade na natureza de algumas pessoas transgressores algumas vezes, apesar dessas fagulhas não exercerem qualquer influência duradoura na vida delas. E as vezes os atos bons encobrem seus atos maus, mas fica claro que tais atos não conseguem fazer reviver seu coração morto. Essa pessoa sem consciência mede aos outros de acordo com seus próprios desejos e preferências. Ele não distingue entre a fé e a incredulidade delas.
Resguardar o que nos é confiado é uma qualidade muito importante. Homens de fé fraca não a suportam. Deus deu um exemplo de quanto em toda a existência do homem. Portanto, não deve ser considerada uma coisa comum e não se deve ser ocioso em cumprir as suas exigências.
“Por certo que apresentamos a custódia aos céus,à terra e às montanhas, que se negarame temeram recebê-la; porém, o homem se encarregou disso, mas provou ser injusto e insipiente.” (33ª:72)
A injustiça e a ignorância são dois males que assolam a natureza do homem, e o homem tem de encarar o problema de manter um jihad contra eles. Sua fé não será completa enquanto não estiver purificada e isenta de qualquer injustiça.
“Os crentes que não obscurecerem a sua fé com injustiças obterão a segurança e serão iluminados.” (6ª:82)
“Os sábios, dentre os servos de Deus, só a Ele temem, porque sabem que Deus é Poderoso, Indulgentíssimo.” (35ª:28)
Eis porque, depois de mencionar a presunção dos homens em assumir o encargo da confiança, nos versículos citados antes da Surata Al Ahzab, disse-se que aqueles que são injustos e ignorantes são os que praticam a apropriação indevida, são os hipócritas e são os recebedores merecidos do castigo de Deus; e que a segurança é conferida aos homens da fé e àqueles que resguardam o que lhes é confiado.
“Deus castigará os hipócritas e as hipócritas, os idólatras e as idólatras, e perdoará os crentes e as crentes, porque Deus é Indulgente, Misericordiosíssimo.” (33ª:73)
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“Ó fiéis, atendei a Allah e ao Mensageiro, quando ele vos convocar à salvação. E sabei que Allah intercede entre o homem e o seu coração, e que sereis congregados ante Ele.” 8:24
Asalamo Alaikom WA WB,
Omar Hussein Hallak