terça-feira, dezembro 24, 2019

POR QUE O CONSUMO DE PORCO É PROIBIDO NO ISLÃ (PARTE 1 DE 2): OBEDECENDO AS LEIS DE DEUS


Deus nos permite desfrutar de todas as coisas boas e lícitas e nos proíbe tomar parte naquelas coisas que são prejudiciais às nossas crenças, saúde, bem-estar ou moral.


O Islã é um modo holístico de vida, levando em conta o bem-estar físico, espiritual e emocional, partes separadas, mas sobrepostas da estrutura de um ser humano.  Deus nos criou com um propósito, adorá-Lo (Alcorão 51:56), mas não nos abandonou em um mundo de instabilidade e insegurança.  Ele nos deu um livro para orientação, o Alcorão, e o exemplo dos profetas e mensageiros para explicar que confiar em Deus era a forma de alcançarmos sucesso nessa vida e na vida futura.



Um muçulmano passa sua vida tentando agradar a Deus, adorando-O e obedecendo às Suas leis ou normas.  Uma dessas normas é que o consumo de porco ou de derivados de porco é proibido.



A princípio alguém pode se perguntar que mal pode vir do porco, um produto consumido em muitas partes do mundo, e o fato de que o porco contém parasitas e doenças prejudiciais ao homem pode vir à mente como uma razão justificável para a abstenção.  Entretanto, ao analisarmos por que os muçulmanos são proibidos de consumir porco, essa se torna uma razão secundária.  Os muçulmanos não consomem porco ou derivados de porco simplesmente porque Deus proibiu.



" Ele só vos vedou a carniça, o sangue, a carne de suíno e tudo o que for sacrificado sob invocação de outro nome que não seja de Deus. " (Alcorão 2:173)



Às vezes podemos nunca saber ou compreender por que Deus ordenou algumas coisas e proibiu outras.  No caso do porco, nenhuma razão específica para a proibição foi fornecida, exceto no Alcorão 6: 145 quando Deus diz, em referência à carne de suíno (porco): "porque certamente é impura". Um muçulmano se submete aos comandos de Deus espontaneamente, sem precisar da razão por trás da norma divina.  Além disso, Deus afirmou expressamente que um crente ouve as palavras de seu Senhor e as obedece.



"'Escutamos e obedecemos! ' E serão venturosos." (Alcorão 24:51)



"Não é dado ao crente, nem à crente, agir conforme seu arbítrio, quando Deus e Seu Mensageiro é que decidem o assunto.  Sabei que quem desobedecer a Deus e ao Seu Mensageiro desviar-se á evidentemente." (Alcorão 33:36)



Um crente entende que Deus é Sábio e Justo; portanto, Suas normas são designadas para nos beneficiar em nossas necessidades diárias, sejam físicas, emocionais ou espirituais.  O Criador sabe a melhor maneira para Sua criação viver nesse mundo e se preparar para o próximo.  Não é permissível para um muçulmano consumir porco sob quaisquer circunstâncias, exceto em casos de extrema necessidade como, por exemplo, se a vida da pessoa depender disso.  Em casos de necessidade extrema as coisas proibidas são permitidas.



Deus nos permite desfrutar de todas as coisas boas e lícitas e nos proíbe tomar parte naquelas coisas que são prejudiciais às nossas crenças, saúde, bem-estar ou moral.[1]  Consequentemente, os muçulmanos são profundamente cientes dos perigos de consumir coisas que são proibidas e, assim, fazem esforços conjuntos para buscar alimento permissível, mesmo que envolva esforço ou despesa extras.



Se um crente consumir porco sem saber ou por engano, não há pecado para ele ou ela.  Deus não pune ninguém por falta de conhecimento, erros não intencionais ou esquecimentos.  Entretanto, se um crente tem certeza ou acha que porco ou derivado de porco pode estar presente em seu alimento, bebida ou medicamentos, não é permissível para ele ou ela consumi-los.  Se tiver dúvidas deve fazer um esforço para perguntar sobre os ingredientes ou obter detalhes.[2]  Hoje em dia o conhecimento sobre ingredientes e o processo de fabricação estão disponíveis e a proibição se aplica tanto para pequenas quantidades de porco ou derivados, quanto para grandes quantidades.



Os eruditos do Islã diferem se a mudança ou não da forma de impureza (nesse caso, nos derivados de porco) remove a proibição.  A Organização Islâmica para as Ciências Médicas é de opinião que a mudança da forma (por exemplo, aditivos alimentares e medicinais) de modo que se torne algo diferente, remove a proibição.  Entretanto, não há dúvida ou diferença de opinião de que é proibido consumir carne derivada de porco, incluindo presunto e bacon.



O recente surto de gripe suína no México e América do Norte levou alguns países a abater porcos em massa. Entretanto, existe ampla evidência científica que sugere que os porcos carregam parasitas prejudiciais aos humanos e o porco há muito tempo tem sido considerado campo fértil ideal para a influenza.

sexta-feira, dezembro 20, 2019

Por que ofender Jesus é contra o Islão?

Prezados Irmãos,

Saúdo-vos com a saudação do Islão, "Assalam alaikum", (que a Paz esteja convosco), que representa o sincero esforço dos crentes por estender o amor e a tolerância entre as pessoas, seja qual for o seu idioma, crença ou sociedade.

Recentemente o canal humorístico “Porta dos Fundos” lançou, na plataforma Netflix, um “especial de Natal”, no qual satiriza a figura de Jesus Cristo (paz esteja com ele) e o retrata como homossexual, possuindo inclusive um parceiro.

Naturalmente, o vídeo chocou e provocou reações de repúdio em lideranças das diversas denominações cristãs; no entanto, houve também muçulmanos e entidades islâmicas demonstrando o seu descontentamento com o tal vídeo. Se o Profeta que trouxe o Islão é Muhammad (p.e.c.e.), por que então os muçulmanos se incomodaram com a satirização da liderança de uma outra religião?

Em primeiro lugar, mesmo se Jesus fosse um total estranho à tradição islâmica (e ele está bem longe disso), o Islão já não veria com bons olhos tal satirização, pois um muçulmano é obrigado a respeitar todas as religiões e seus símbolos sagrados, mesmo não concordando com eles. O Alcorão é muito claro quando diz: “e não insultem (aquilo) o que (os não muçulmanos) invocam além de Allah, excepto se eles insultarem Allah.”[6:108]. Assim sendo, o insulto a qualquer outra religião, a priori, vai diretamente contra as ordens do Alcorão.

Além disso, ao contrário do que muitos pensam, Jesus, (paz esteja com ele), é uma das figuras centrais do Islão, amado e respeitado por todos os que se dizem muçulmanos. Na visão muçulmana, ele é um Profeta e Mensageiro, alguém que foi enviado por Allah para trazer uma Mensagem Divina,uma revelação, e é citado diversas vezes no Alcorão e pelo Profeta Muhammad (s.a.w.). 

Sobre os Mensageiros, o Alcorão diz: “Todos os fiéis creem em Allah, em seus Anjos, seus Livros e em seus Mensageiros. Não fazemos distinção entre seus Mensageiros”. [2:285]. Isso significa que todos são amados igualmente, e são consideradas pessoas sagradas pelos muçulmanos. Toda a vez que o nome de um dos Mensageiros é dito, é da etiqueta islâmica dizer “aleihi salam”, que a paz esteja com ele, pelo respeito que lhes temos.

O Alcorão fala extensamente sobre Jesus (a.s.),narrando vários episódios da vida dele; alguns que estão no evangelho e outros que não estão. Os muçulmanos acreditam na pureza da Virgem Maria, no nascimento miraculoso de Jesus (a.s.) e nos milagres que lhe são atribuídos. Portanto, qualquer ofensa à sua figura é um delito grave na religião islâmica, tão grave quanto uma ofensa ao Profeta Muhammad (p.e.c.e.), e passível de total repúdio.

Reputar um Profeta como homossexual é, além de uma imprecisão histórica (não existe o menor indício dessa conduta por parte de nenhum deles), um pecado muito grave. A prática homo afetiva é considerada uma falta nas religiões abraâmicas, e, por princípio, na visão islâmica, os Profetas são incorruptíveis, eles são incapazes de pecar. Qualquer muçulmano que ache que Jesus (a.s.) tenha sido homossexual, está fora da religião.

Por fim, o Iqara Islam junta-se ao coro daqueles que repudiam o vídeo do “Porta dos Fundos”. 

Entendemos que estar num país laico não significa liberdade para satirizar figuras consideradas sagradas por uma grande parte da população, e por bilhões de pessoas no mundo inteiro. Quem reclama de intolerância e falta de respeito às minorias deveriam ser os primeiros a respeitar e exercer tolerância, pois, de outra forma, tudo se resume a um discurso vazio e hipócrita.

Obrigado. Wassalam (Paz).

M. Yiossuf Adamgy

Fonte: iqaraislam / Brasil

quarta-feira, dezembro 18, 2019

Meca para o Islam

A cidade de Meca é conhecida por ser um local sagrado para o Islam, o que se deve a uma série de fatores. Lá está erguida a Caaba, o templo sagrado construído pelos profetas Abraão e Ismael, e também é a terra de origem do Profeta Muhammad ﷺ

Em Meca, ocorreram vários acontecimentos sagrados que são de extrema importância para a fé islâmica. Não é à toa que dois dos cinco pilares sagrados do Islam estão ligados a esta cidade: a oração e a peregrinação. 

Todos os dias, os muçulmanos têm o dever de realizar cinco orações. Estas preces devem ser feitas em postura correta e a pessoa que estiver orando deve estar virada para a direção certa, que é chamada de qibla, e sua referência é a Caaba. 

Além disso, os muçulmanos que possuem condições de fazer a peregrinação à Meca devem fazê-lo pelo menos uma vez na vida. Lá, eles devem circundar a Caaba e fazer atos de adoração nas colinas de Safa e Mawra, além de beber as águas de Zamzam. 

Ao longo do tempo, a cidade de Meca ganhou uma grande infraestrutura para receber o número de muçulmanos que participam anualmente da grande peregrinação. No entanto, no princípio esta realidade era muito diferente. 

Na ocasião em que o Profeta Abraão caminhou pela região onde hoje está a cidade, Meca era apenas um deserto arenoso, onde os recursos necessários para a sobrevivência, como água e comida, eram bastante escassos. 

Com o passar do tempo, a cidade esteve na mão de diversas tribos e impérios. São muitos detalhes, no entanto, a história de Meca reflete parte importante da trajetória do Islam ao longo dos séculos. 

A fundação de Meca 

Meca não possui muitos registros históricos anteriores ao nascimento do Profeta Muhammad ﷺ, mas, para a tradição islâmica, a origem de seu povo remonta à linhagem que o liga ao Profeta Ismael, filho do Profeta Abraão. 

A cidade foi destinada por Deus a ser um local de adoração monoteísta. No Alcorão, Allah havia deixado clara a sua vontade de que o lugar fosse um destino da peregrinação dos muçulmanos. 

“E (recorda-te) de quando indicamos a Abraão o local da Casa, dizendo: Não Me atribuas parceiros, mas consagra a Minha Casa para os circungirantes, para os que permanecem em pé e para os genuflexos e prostrados. E proclama a peregrinação às pessoas; elas virão a ti a pé, e montando toda espécie de camelos, de todo longínquo lugar, para testemunhar os seus benefícios e invocar o nome de Deus, nos dias mencionados” (Alcorão Sagrado 22:26-28) 

No entanto, com o passar do tempo, o povo de Meca desobedeceu a Allah e, aos poucos, o local foi se tornando um território de idolatria e adoração a estátuas com imagens de deidades. 

Na época em que viveu o Profeta Muhammad ﷺ, a cidade estava sob o domínio da tribo coraixita, que era formada sobretudo por comerciantes que lucravam com diversas atividades, inclusive com a peregrinação, que naquela época era bastante praticada pelos politeístas. 

A cidade, além de ser um forte ponto comercial, também era um dos poucos lugares habitáveis na região do imenso deserto árabe, devido à presença de água nos poços de Zamzam. 

O local só resgatou sua origem monoteísta após ser conquistado pelo Profeta Muhammad ﷺ e seu exército de muçulmanos. Desde então, para proteger a cidade da influência dos idólatras, não é permitido que seguidores de outras religiões, a não ser do Islam, entrem na cidade. 

A partir dali, Meca se tornou conhecida pela sua importância para os muçulmanos e resgatou seu propósito de ser um local de peregrinação para adorar ao Deus único. 

O período dos califas 

Meca nunca foi a capital política de nenhum califado islâmico. Ao longo dos séculos, sua importância se manteve apenas como local sagrado. Durante o período do califa Abu Bakr, Umar e Uthman, a capital do estado islâmico ficou localizada em Medina. 

Naquele período, as mudanças em Meca foram poucas. Elas começaram a surgir no período de Umar. Cerca de 10 anos após a hégira, o Islam já havia crescido consideravelmente e a Caaba começou a ficar pequena para receber os peregrinos. Foi então que o califa decidiu comprar as casas em volta do templo e construiu pequenos muros na Mesquita al-Haram. 

Umar também chegou a fechar os poços de Zamzam durante o Hajj, mas depois mudou de ideia e reabriu a parte mais baixa e a mais alta do vale para receber os peregrinos. 

Após a morte de Umar, o seu sucessor, o califa Uthman conseguiu adquirir mais terras, aumentou o território que cercava a Caaba e construiu galerias em torno da Casa Sagrada. 

Sob o domínio do Califado Omíada, a cidade viveu períodos conturbados. Ao todo, foram dois cercos que causaram grandes prejuízos para a Meca. Estas batalhas foram causadas para decidir quem iria suceder o controle do califado. 

O primeiro deles foi no ano de 683, quando bombardearam a cidade com pedras durante a batalha entre as tropas do califado e Ibn Zubair, que arrasou Meca. Durante o cerco, a estrutura de madeira da Caaba foi incendiada e as estruturas da Casa Sagrada foram danificadas. 

No segundo cerco, Meca foi novamente bombardeada pelo general Hajjaj e, desta vez, a Caaba foi completamente destruída por causa da ofensiva. Novamente, a cidade havia ficado arruinada e precisou ser reconstruída durante o reinado seguinte. 

Meca Otomana no século XIX 

A partir de 920, um grupo sincrético religioso chamado de Carmatas começou a impedir a passagem dos peregrinos vindos do Iraque, da Síria e de outros cantos da arábia. Somente aqueles que vinham da direção do Egito podiam ir até a cidade sagrada. 

Em 930, a seita saqueou Meca e roubou a Pedra Negra da Caaba. O objeto sagrado desapareceu e ninguém soube qual era o seu paradeiro por 20 anos. Na época, o Califado Abássida controlava a cidade sagrada e este acontecimento marcou um grande constrangimento para os califas daquele período, pois o principal dever deles era permitir que os muçulmanos pudessem praticar a religião. 

Foi então que, em 950, um vassalo dos Abássidas no Egito chamado Abul Misque Cafur conseguiu recuperar a Pedra Negra, mediante o pagamento de um imposto aos membros da seita. 

Apesar de ter recuperado a Pedra Negra, o caso teve repercussão negativa, o que exigiu medidas que protegessem os peregrinos e a Caaba. Assim, a partir do ano de 964, foi selecionado um emir que ficaria responsável pelos assuntos relacionados à peregrinação, inaugurando o Xarifado do Hejaz. 

A forma como os emires eram selecionados variou de acordo com o império que estava no comando do Hejaz. Ele perdeu influência no ano de 1350 quando o Sultanato Mameluco do Egito tomou o controle da região, mas voltou a vigorar quando o Império Otomano reconquistou a costa oeste da arábia. 

No período Otomano, os xarifes voltaram a ter grande influência sobre Meca. Eles eram selecionados pelo sultão e sempre eram descendentes dos Banu Hashem, que pertencia à tribo dos coraixitas, o clã de origem do Profeta Muhammad ﷺ. 

Meca sob controle dos wahabitas 

Em 1916, o agente britânico T.E. Lawrence (conhecido pelo filme Lawrence da Arábia) iniciou uma conspiração contra o governo otomano ao lado do xarife de Meca Houssein bin Ali, e o conflito resultou na Batalha de Meca. O califado saiu derrotado e, em 1924, as forças sauditas tomaram o controle da região do Hejaz. 

O que se seguiu nos próximos anos foi uma série de perdas históricas inestimáveis para os muçulmanos e para a humanidade. Mesquitas históricas foram fechadas, e locais onde viveram familiares e companheiros do Profeta Muhammad ﷺ foram completamente destruídos

Em relação às mesquitas históricas fechadas, essas construções são parte de um complexo de sete mesquitas, que são: 

1. Masjid Abu Bakr 

2. Masjid Fatimah Az-Zahra 

3. Masjid Umar Ibn Kathab

4. Masjid Ali Ibn Abi Talib

5. Masjid Salman al-Farsi 

6. Masjid Saad bin Maaz 

7. Masjid Al-Fath 

Apenas a última ainda está aberta para visitação

Além disso, outros locais da cidade foram demolidos, como a casa de Khadija, a primeira esposa do Profeta ﷺ, que atualmente é um banheiro público, e o lugar onde vivia Abu Bakr, que atualmente é o Hotel Hilton. 

Embora a função de Meca seja ser um local para a peregrinação, algumas construções foram destruídas sem nenhum motivo aparente, como a casa de Ali-Oraid, neto do Profeta ﷺ, que foi destruída logo após ser descoberta em uma escavação. 

A última construção demolida pelo governo saudita, em 2002, gerou grande comoção. A Fortaleza de Ajyad havia sido construída em 1780, durante o califado do Império Otomano, e era uma grande estrutura que tinha o objetivo de proteger a cidade de invasores. Em seu lugar, surgiu um complexo de edifícios comerciais. 

Fortaleza Ajyad ao fundo, no canto esquerdo 

Esta demolição gerou grande crise diplomática entre os governos sauditas e da Turquia. Na época, aqueles que eram contrários à destruição da fortaleza chegaram a propor um boicote à Arábia Saudita, mas sem sucesso. 

Atualmente, estima-se que hajam cerca de 20 construções em Meca que sejam do tempo do Profeta Muhammad ﷺ. Entre 1985 e 2005, cerca de 95% dos edifícios com mais de 1000 anos foram demolidos pelos wahabitas

Terroristas em Meca 

Terrorista Juhayman al-Otaybi, líder do al-Ikhwan 

Em 20 de novembro de 1979, uma tragédia abateu a Cidade Sagrada do Islam. Terroristas do grupo al-Ikhwan tomaram a Grande Mesquita, onde está a Caaba, de assalto e mantiveram vários fiéis que tinham ido fazer suas orações como reféns. 

A ofensiva dos terroristas contou com o apoio de mais de 500 pessoas armadas e, entre elas, havia mulheres e crianças. O grupo era liderado por Juhayman al-Otaybi, um salafista puritano que alegava que o governo saudita havia traído os ideais da seita revisionista do Islam. 

Juhayman al-Otaybi estudava Islam com o Grande Mufti saudita Abd al-Aziz ibn Baz, que foi responsável por disseminar fortemente a doutrina salafista no século passado. O terrorista, no entanto, alegava que o governo saudita havia traído os princípios que defendia, pois estava introduzindo uma série de hábitos ocidentais na sociedade daquele país. 

O al-Ikhwan alegava que uma das lideranças do grupo, Muhammad Abdullah al-Qahtani, era a figura pré apocalíptica do Mahdi, que viria estabelecer a justiça antes do Dia do Juízo Final. Os terroristas acreditavam que o atentado na mesquita seria uma forma de fazer os muçulmanos se voltarem para a justiça e obediência. 

No entanto, o que se viu foi um massacre que custou a vida de pessoas inocentes. A tomada durou até o dia 4 de dezembro, quando membros das tropas da Guarda Nacional da Arábia Saudita e do Exército da Arábia Saudita, com o apoio do Groupe d’Intervention de la Gendarmerie Nationale (GIGN) da França, conseguiram retomar o controle de Grande Mesquita. 

A batalha custou a vida de 255 pessoas e outras 560 ficaram feridas. Entre os mortos, estava o autodenominado Mahdi, Muhammad Abdullah al-Qahtani. 

Após o confronto, os membros remanescentes do grupo foram julgados, condenados e degolados em praça pública pelo governo saudita. 

A Cidade Sagrada nos dias atuais 

Complexo Abaj al Bait em Meca 

Atualmente, Meca é uma cidade com uma infraestrutura moderna, com grandes avenidas, shoppings centers, arranha-céus e hotéis preparados para receber o enorme fluxo de peregrinos que vêm de todas as partes do mundo. 

A Cidade Sagrada é um local multicultural que recebe anualmente milhões de peregrinos. Este ar cosmopolita se deve principalmente ao Hajj e à Umrah (peregrinação menor), que conta com a participação de cidadãos do mundo inteiro. 

A última reforma da Mesquita al-Haram ocorreu no ano de 2011. Atualmente, ela tem capacidade para receber 2 milhões de pessoas e é o maior recinto religioso do planeta. 

A economia é fortemente dependente da peregrinação e, durante todo ano, diversos setores se preparam para receber os muçulmanos estrangeiros. Além disso, boa parte da população local sobrevive da indústria ligada ao Hajj. 

Em 2010, foram instaladas cinco linhas de metrô para ajudar os peregrinos a se deslocarem para os locais religiosos. Com exceção deste fato, a mobilidade urbana é totalmente dependente de táxis e carros particulares. 

A cidade não possui aeroporto internacional em seu território. Dessa forma, os peregrinos chegam à Meca geralmente pelo aeroporto ou pelo porto de Jidá, que fica a 89 km de distância. 

Pessoas não muçulmanas que tentarem entrar em Meca podem ser presas ou processadas legalmente de acordo com as legislação da Arábia Saudita. 

Conclusão 

De acordo com a tradição islâmica, a cidade de Meca foi fundada pelo Profeta Abraão e seu filho Ismael. O local foi indicado por Deus para ser um destino de peregrinação e adoração a Ele. 

Com o passar do tempo, a população que vivia na região começou a adotar os costumes dos idólatras. Assim, Meca se tornou um lugar de propagação do politeísmo e de culto a estátuas com imagens de deidades. 

Quando o Profeta Muhammad ﷺ nasceu, a cidade estava sendo dominada pela tribo dos coraixitas, que lucrava bastante com a peregrinação dos idólatras à Cidade Sagrada. 

A cidade resgatou seu propósito original quando o Profeta Muhammad ﷺ a conquistou de forma pacífica e proibiu que praticantes de outras religiões, que não o Islam, habitassem e exercessem influência sobre Meca. 

Ao longo dos anos, a cidade passou por muitas mudanças para receber o crescente número de muçulmanos que vinham de todas as partes do mundo. No entanto, Meca também sofreu com diversas guerras, saques e desastres que fizeram com que ela tivesse que ser reconstruída e reformada várias vezes. 

Em 930, fanáticos religiosos de uma seita que praticava sincretismo religioso conseguiram saquear Meca e roubar a Pedra Negra, que ficou desaparecida por 20 anos. Mesmo tendo sido recuperada, o caso repercutiu de forma extremamente negativa e exigiu que as autoridades do Califado Abássida elegessem alguém responsável pela segurança e organização da peregrinação. 

Naquela época, foi instaurado o Xarifado do Hejaz, que vigorou em Meca por quase mil anos, chegando ao fim somente em 1924, quando o clã saudita dominou a Arábia. 

Sob domínio dos wahabitas, Meca modernizou sua infraestrutura e se tornou um ponto urbano da Arábia Saudita. No entanto, este avanço custou a demolição de importantes pontos históricos e sagrados, que haviam sido erguidos por companheiros e parentes do Profeta Muhammad ﷺ. 

Atualmente, estima-se que existam apenas 20 construções do período do Profeta ﷺ, contrastando com arranha-céus, hotéis, avenidas e shoppings centers. 

Mesmo com todas as mudanças sofridas, Meca sempre preservou seu significado para os muçulmanos e, até hoje, recebe milhões de peregrinos anualmente, que participam do Hajj e da Umrah. 

A influência estrangeira, assim como o grande número de estrangeiros residindo na cidade, faz com que a Cidade Sagrada possua uma cultura cosmopolita e multicultural. 

Atualmente, a economia de Meca e da região do Hejaz é fortemente dependente da peregrinação, e há vários setores que trabalham o ano inteiro para receber os muçulmanos vindos de todas as partes do mundo. 

sexta-feira, dezembro 13, 2019

A SUSTANTABILIDADE NO ISLAM

Assalamo Aleikum Warahmatulah Wabarakatuhu. Bismilahir Rahmani Rahim.

Fui convidado pelo Município de Guimarães (Portugal) para participar numa conferência acerca da sustentabilidade. Cada um dos palestrantes ficou com a responsabilidade de explicar o que os seus textos sagrados referem acerca deste importante tema, respondendo à pergunta: “Deus é Ecológico?” Segue o teor da minha intervenção:

MINHAS SENHORAS E MEUS SENHORES,

ASSALAMO ALEIKUM

Esta é a saudação dos muçulmanos que significa “A Paz de Deus esteja convosco”. Utilizamos esta expressão, para saudarmos os nossos irmãos de fé. Saudamos tantas vezes quantas as que encontrarmos com o mesmo irmão ou irmã e no mesmo dia. É uma forma de aumentarmos a harmonia e amizade entre nós.

Em nome do Centro Cultural Islâmico do Porto, agradeço à Câmara Municipal de Guimarães a oportunidade concedida para participarmos nesta tertúlia, no âmbito do Plano Municipal para a integração de migrantes.

Está a decorrer a Ciméria do Clima em Madrid. A escolha deste tema para a tertúlia, é uma oportunidade para refletirmos em conjunto a importância e a urgência dos países encontrarem um consenso comum para se travar a utilização indevida dos recursos naturais, com vista a atenuar as alterações climatéricas. Vamos então tentar responder á pergunta se “Deus é Ecológico”.

O Islão é uma religião monoteísta, cujo tronco comum é o Profeta Abraão. A nossa crença é baseada na Unicidade de Deus. Acreditamos nos Profetas do Judaísmo e do Cristianismo e no último Profeta Muhammad, que a Paz de Deus esteja com todos eles. Não fazemos distinção a nenhum deles.

O Islam é uma religião universal, atualmente com mais de um bilião e quatrocentos milhões de seguidores.

A Religião é o Islão e os seguidores são os muçulmanos e não de islamitas como outros nos chamam. Muçulmano significa ser submisso a Deus Único. Ser muçulmano é viver em Paz com o Criador, em Paz consigo próprio, em Paz com o próximo e em Paz com a natureza. Louvamos e agradecemos a Deus tudo o que nos concedeu para facilitar a nossa passagem curta por este mundo.

O Islão destaca a importância do meio ambiente, a proteção e a conservação dos recursos naturais. Os meios da natureza, a terra, o ar, a água, o fogo, a floresta e a luz, são bens comuns pertencentes não só à humanidade, como também a todos a outros seres vivos. O ser humano é o Khalifa, isto é, é o representante de Deus na terra e tem a obrigação de utilizar os recursos naturais da terra e os preservar para as futuras gerações. O Alcorão determina que a conservação do meio ambiente é um dever religioso e social e não opcional. O Alcorão refere a terra por mais de 60 vezes.

A moderação é um princípio estabelecido pelo Alcorão para todos os aspectos da vida do muçulmano. Os textos sagrados referem o equilíbrio na criação da terra e de tudo o que nos rodeia. O homem deve tomar todas as precauções para que esse equilíbrio não seja afetado e que os direitos de todos, incluindo os direitos dos outros seres vivos não sejam prejudicados. O Alcorão condena o consumo desnecessário e exagerado, como por exemplo, o desperdício da água e o consumo exagerado de alimentos e de outros bens que conduzem à degradação do meio ambiente. E Deus refere que não ama os que exageram nos gastos e os que se desviam.

O privilégio da exploração dos recursos naturais, foi concedido ao homem pelo Criador, a título de empréstimo. É como tomar por arrendamento uma propriedade pertencente a outro, com a promessa de que a deveremos preservar, não destruir ou danifica-la. O conceito islâmico da utilização dos recursos naturais é o da durabilidade. O homem sendo uma espécie de tutor, deve tomar todas as precauções para a entregar ao próximo, de modo que a utilização continue até ao final dos tempos. 

Todo o tipo de corrupção, não só a econômica, também a ambiental, que inclui a poluição industrial, danos ambientais, utilização imprudente e má gestão dos recursos naturais, não são amados pelo Senhor, o Criador e Sustentador dos mundos. Refere o Alcorão. “E não causeis corrupção na terra depois dela ter sido pacificada”. 7.85.
 
Na altura do Profeta Muhammad, que a Paz de Deus esteja com ele, para proteção das terras, das florestas e da vida selvagem, foram instituídas zonas denominadas de Haram e de Hima. Nesses locais foram estabelecidas importantes leis de proteção da natureza. As Palavras Haram e Hima referem-se a zonas protegidas e com a proibição de praticar certos atos que possam prejudicar o ecossistema. As áreas Haram foram traçadas à volta dos poços e fontes de água para proteger os caudais subterrâneos e do consumo excessivo do precioso líquido. As Hima referem-se às áreas destinadas à vida selvagem e à silvicultura, onde foram criadas zonas de pasto, terras agrícolas, cortes de madeira e proteção de animais especiais. Foram criadas zonas proibidas de caça ao redor da cidade de Madina. Eram zonas invioláveis com a intenção de uso sustentável dos recursos naturais e da proteção da vida animal e das terras agrícolas.

A Sharia, a jurisprudência islâmica, é um conjunto de leis islâmicas baseadas no Alcorão, nas tradições do Profeta Muhammad, analogia e no consenso dos juristas. A Sharia incentiva os governos para tomarem medidas legais contra pessoas ou organizações e mesmo contra outros estados, quando considerados culpados de provocarem danos ambientais.

É estimulada a plantação de árvores de fruto ou simplesmente destinados à sombra. Sobre este aspecto, disse o Profeta Muhammad: “Se um muçulmano plantar uma árvore ou semear (algo) e depois um pássaro ou um animal vir a comer dos seus frutos, isto será considerado um presente de caridade da parte dele”. Bukhari. Toda a caridade será recompensada. A devastação das árvores foi proibida e a destruição das culturas foram proibidas, mesmo em tempos de guerras.

O Profeta também referiu que se estivermos a um passo final da nossa existência e portadores duma semente ou de um rebento duma planta na nossa mão, deveremos plantá-la. E disse também: “Quem plantar uma árvore e cuidar dela diligentemente até que ela cresça e dê frutos, será recompensado”.

No Alcorão, Deus compara uma boa palavra a uma árvore: “Não reparas como Deus exemplifica? Uma boa palavra (pura) é como uma árvore nobre, cuja raiz está profundamente firme e os ramos se elevam ao céu”. Cur’ane 14:24

A água é o símbolo de pureza e fonte da vida. Sem água não há vida. O corpo humano é composto por cerca de 70% de água. Deus refere no Alcorão: “…. E criamos todos os seres vivos da água….” Cur’ane 21:30. A água acompanha o crente, no seu nascimento, na sua vida, na sua morte e na vida após a morte. Quando ouvimos as palavras “as águas rebentaram”, elas anunciam que um novo ser está para nascer. Uma nova vida vai iniciar!

O ser humano tem a obrigação de preservar a água, este líquido precioso, não só para si, como também para todos os outros seres vivos. A água tem um papel fundamental no cumprimento dos nossos rituais religiosos, ao ponto de compararmos a higiene, à metade da fé. As fontes, as cisternas e os banhos públicos são comuns em todas as cidades muçulmanas. Na cidade de Silves (Portugal) e outras cidades onde passaram os muçulmanos, podemos ver as antigas e grandes cisternas destinadas ao armazenamento de águas para o abastecimento das populações.

Desde o aparecimento do islão e até hoje, uma das contribuições de caridade é a cedência e construção de poços de água, para consumo dos mais 

necessitados. Os ensinamentos do Profeta referem; “As ações do homem chegam ao fim com a sua morte, porém, a recompensa das ações mantêm-se com uma escola que tenha construído ou tenha deixado um poço de água que possa beneficiar pessoas e animais”.

A água da chuva, a água dos rios e a água das fontes, correm pelas páginas do Alcorão e nos ensinamentos do Profeta, transmitindo aos crentes a benevolência de Deus para com os Seus servos. A água foi o primeiro elemento criado, conforme refere o Alcorão: “E Ele criou os céus e a terra em 6 dias, quando antes, abaixo do Seu Trono, só havia água.” 11:7

A água pura é a que vem diretamente dos céus, através da chuva, da neve e do granizo. Refere o Alcorão: “Ele é Quem envia os ventos alvissareiros, mercê da Sua Misericórdia; e enviamos do céu água pura”. Cur’ane 25:48.

Rumi, um dos eminentes poetas sufis, referiu acerca da água: “Ele chegou…. Chegou aquele que nunca partiu; Esta água nunca faltou a este riacho; Ele é a substância do almíscar e nós, o seu perfume; Alguma vez se viu o almíscar separado do seu cheiro?”.

Infelizmente, os rios, riachos, lagoas e outros reservatórios naturais de águas, estão a ser contaminados pela ação do homem.

O planeta está a sofrer sérios danos, devido às consequências dos exageros do ser humano. O homem está destruindo a terra. Se não estamos a tempo de recuperar o que foi perdido, pelo menos tentemos parar ou minimizar a catástrofe que se avizinha. Estamos a caminhar alegremente para o abismo!

A utilização excessiva do petróleo e do carvão e a utilização indevida e abusiva dos recursos da terra, estão a criar graves problemas ambientais. A Organização das Nações Unidas incentiva todos os países para criarem condições para a utilização das energias renováveis, através do vento, das ondas do mar e do sol. Estas são as dádivas da natureza e é preciso saber aproveitá-las.

Apenas atrás da Suécia, Marrocos é o segundo país mais sustentável do mundo. Apostando no futuro que se avizinha, Marrocos lançou a primeira fase da maior central de energia solar do mundo, que irá reduzir a dependência do petróleo em cerca de 2,5 milhões de toneladas de petróleo e reduzir as emissões de carbono em 760.000 toneladas ano. Marrocos está na linha da frente na produção da energia alternativa, através do aproveitamento do sol. O objectivo é de que em 2030 mais de 50% da energia seja proveniente de fontes renováveis. Outros países do deserto, com abundantes recursos solares, estão a seguir o seu exemplo, aproveitando a dádiva do sol, que “queima” todos os dias do ano.

Deus deixou-nos importantes orientações para o planeta ser utilizado convenientemente em sistema de arrendamento por gerações após sucessivas gerações.

No entanto, estamos a assistir às consequências da má utilização que estão a pôr em causa a sobrevivência de todos os seres vivos. E não foi por falta de alertas.


“Wa ma alaina il lal balá gul mubin" "E não nos cabe mais do que transmitir claramente a mensagem". Surat Yácin 36:17. “Wa Áhiro da wuahum anil hamdulillahi Rabil ãlamine”. E a conclusão das suas preces será: Louvado seja Deus, Senhor do Universo!”. 10.10.

Cumprimentos

Abdul Rehman Mangá - www.abdulmanga.com 11/12/2019

Mesquita ecológica de Cambridge, uma iniciativa muçulmana para o meio ambiente

Fonte:ara.cat
Prezados Irmãos,

Saúdo-vos com a saudação do Islão, "Assalam alaikum", (que a Paz esteja convosco), que representa o sincero esforço dos crentes por estender o amor e a tolerância entre as pessoas, seja qual for o seu idioma, crença ou sociedade.

Cuidar do meio ambiente sempre ocupou um lugar importante no Islão. Hoje, inúmeras tecnologias modernas permitem mudar para fontes de energia alternativas. Painéis solares, reciclagem, uso sem desperdício de água e materiais ecológicos: esta não é a lista completa de mecanismos, graças aos quais as Mesquitas ecológicas foram abertas em todo o mundo no século 21: estruturas únicas já estão operando em várias cidades de Omã, Dubai, Astana e outras cidades. Uma dessas Mesquitas está localizada em Cambridge, Reino Unido.

A primeira Mesquita ambiental da Europa espera aproveitar o comando do Islão para combater as mudanças climáticas, incentivando os muçulmanos a participar de programas ambientais no nosso planeta.

A cidade de Cambridge tem um relacionamento de longa data com o Islão, que remonta a comerciantes e estudiosos da Idade Média. Os pedreiros da Síria chegaram à cidade no período após as Cruzadas, estabeleceram-se lá e começaram a criar amostras da arquitetura gótica inglesa. Hoje, mais precisamente em meados do século passado, os muçulmanos começaram a ir de novo para Cambridge. Eles vieram, principalmente, de países como Bangladesh e Paquistão. Hoje, a comunidade islâmica é composta por um grande número de turcos, curdos, argelinos, cazaques e muçulmanos convertidos, os britânicos nativos.

Em Maio deste ano, uma nova beleza, uma Mesquita, foi inaugurada em Cambridge. Este evento foi dedicado ao Ramadão, o mês do jejum sagrado. A primeira mesquita ecológica da Europa é decorada com postes de madeira curvados no interior, que sustentam o teto da grade. As paredes são compostas por tijolos cor de mel, bem como tijolos vermelhos em relevo. Para entrar na Mesquita pela rua, o visitante atravessa um jardim e a varanda, revestidos de azulejos de mármore turco com padrões geométricos.

Além do salão de oração para 1.000 pessoas, o complexo da Mesquita inclui um restaurante, salas de aula, um salão de casamento (nikyakha) e um salão de exposições para artistas locais de todas as religiões. Nos fundos do prédio há uma sala para lavar os mortos e no pátio há um jardim com uma área de jogos para as crianças.

A Mesquita simboliza o coração espiritual da Comunidade Islâmica. É o local central onde um crente se une a Deus”, disse o promotor da Mesquita, uma figura pública bem conhecida, Yusuf Islam (músico Kat Stevens).

Ele disse que os muçulmanos têm um papel importante a desempenhar na superação da crise climática.

“A Mesquita faz parte do processo de reeducação da sociedade. Mergulhe na verdadeira natureza do Islão para mostrar a harmonia dessa religião como equilíbrio do universo”, disse Yusuf Islam.

"Muitos muçulmanos esqueceram isso ou não estão contribuindo o suficiente para combater as mudanças climáticas".

Conforme planejado pelos projetistas da Mesquita,é bastante viável reutilizar a água da chuva para irrigação de jardins e aproveitar o calor para gerar energia. A mesquita produz quase zero de emissões de carbono e possui melhores certificados ecológicos do que os outros milhares de mesquitas espalhadas por toda a Europa.

"O Alcorão enfatiza a beleza e a harmonia do mundo natural como um sinal do poder criativo e da sabedoria de Deus", disse Timothy Winter, presidente do conselho da Mesquita e professor da Universidade de Cambridge, que se converteu ao Islã e é conhecido hoje como Abdul Hakim Murad. 

Fonte:M. Yiossuf Adamgy Director da Revista Islâmica Portuguesa AL FURQÁN

sexta-feira, dezembro 06, 2019

A grandeza do Profeta Muhammed (s.a.w.): A história da senhora que atirava lixo para o Profeta

"A verdadeira misericórdia e perdão é quando a pessoa o escolhe de bom grado, apesar de ter o poder de punir, mesmo que esse poder seja seu o direito"

Prezados Irmãos,

Saúdo-vos com a saudação do Islão, "Assalam alaikum", (que a Paz esteja convosco), que representa o sincero esforço dos crentes por estender o amor e a tolerância entre as pessoas, seja qual for o seu idioma, crença ou sociedade.

Pode-se argumentar que algumas pessoas acreditam que o Profeta do Islão, Muhammad صلى الله عليه وسلم seja um ser humano impiedoso e violento. No entanto, é preciso apenas ler o Alcorão, os ditos autênticos do Profeta صلى الله عليه وسلم e a sua biografia para entender que isso está longe de ser o caso.

Neste ponto, é importante observar que os muçulmanos acreditam que o Alcorão é a infalível e inalterada Palavra de Deus. Isso significa que, se algo é encontrado nos ditos ou na biografia do Profeta que é contrária ao espírito e aos valores do Alcorão, essa informação não é considerada um relato verdadeiro. Há muita informação na Internet que é simplesmente inventada ou mal interpretada, e é por isso que os muçulmanos consideram a Palavra do Alcorão tão importante.

Mesmo ao abordar o Alcorão, no entanto, ainda existem certos pré-requisitos que se deve conhecer.

Aqui está uma orientação útil sobre como abordar o Alcorão para um público não muçulmano.

Os muçulmanos conhecem o Profeta صلى الله عليه وسلم como a 'Misericórdia para a Humanidade'. Este título é encontrado no capítulo 21, versículo 107 do Alcorão. A partir disso, podemos dizer que o Profeta صلى الله عليه وسلم foi enviado para praticar indulgência, bondade e gentileza com as pessoas - uma extensão das qualidades de seu Senhor, que as possui em sua forma absoluta. Cada capítulo do
Alcorão apresenta Deus como o Mais Misericordioso.

Deus é muito particular quanto à escolha de palavras e nenhuma palavra é usada por acidente. O fato de Ele ter descrito o Profeta صلى الله عليه وسلم como uma misericórdia para a 'humanidade', mostra que as qualidades que o Profeta صلى الله عليه وسلم possui podem ser uma fonte de inspiração e emulação para qualquer pessoa. Não é restrito apenas aos muçulmanos.

Portanto, mesmo que uma pessoa não siga ou acredite na mensagem abrangente que o Profeta صلى الله عليه وسلم pregou sobre o monoteísmo e a adoração de um Deus, essa pessoa ainda pode observar a vida dele e obter lições valiosas.

É uma dessas histórias da vida em que quero me concentrar, que exemplifica esse mesmo título de
misericórdia para a humanidade: O Profeta صلى الله عليه وسلم e a senhora que atirava lixo nele.

Ao longo de sua vida, o Profeta صلى الله عليه وسلم enfrentou muita oposição da sociedade árabe de seu tempo por pregar a religião do Islão, porque era contrário ao que eles acreditavam. O Profeta صلى الله عليه وسلم tentou afastar os árabes da discriminação por mulheres e pessoas de cor, assim como muitas outras coisas. 

Ele foi recebido com muita hostilidade e, um exemplo disso, foi o incidente da senhora que jogava lixo no Profeta صلى الله عليه وسلم ou no seu caminho, sempre que passava pela casa dela. Já neste estágio, apesar de enfrentar isso em várias ocasiões, o Profeta صلى الله عليه وسلم permanece paciente e não retribui esse favor" com qualquer hostilidade, em palavras ou ações.

Quantos de nós podemos dizer, honestamente, que os comportaríamos da mesma forma se alguém jogasse lixo em nós, uma única vez. No mínimo, mostraríamos nosso nojo. Alguns de nós podem até
argumentar que é o nosso direito de retaliar, o que é verdade; até as diretrizes islâmicas afirmam que os muçulmanos têm o direito de se defender de provocados ataques, e ninguém na época ou agora provavelmente culparia o Profeta صلى الله عليه وسلم por reagir. Talvez a própria senhora estivesse esperando algo em troca também.

O Profeta صلى الله عليه وسلم, no entanto, tinha algo muito maior em mente.

Aqui é onde a história fica interessante. Num dia normal, o Profeta صلى الله عليه وسلم novamente se vê passando pela casa dela no caminho de sua jornada. Ele, provavelmente, estava esperando uma ação repetida dessa dama, mas desta vez nada acontece.

Em vez de ficar aliviado e continuar a sua jornada, o Profeta صلى الله عليه وسلم pergunta a alguém próximo do paradeiro dessa senhora que lhe foi tão abusiva. Todos ficaríamos felizes em seguir em frente, e perguntar sobre o atacante seria a última coisa na nossa mente!

A razão pela qual o Profeta صلى الله عليه وسلم perguntou foi porque ele teve preocupações com essa senhora. O Profeta صلى الله عليه وسلم provavelmente estava se perguntando o que havia acontecido com a tal senhora e acabou descobrindo que ela estava doente e descansando em casa.

No lugar do Profeta صلى الله عليه وسلم, qualquer outra pessoa ficaria muito feliz e aliviada. Alguns de nós podem até gostar de tirar proveito disso de alguma maneira para se vingar ou apenas se vangloriar. O Profeta صلى الله عليه وسلم teve uma ideia diferente; ele foi visitar essa senhora e perguntou como ela estava e se ofereceu para ajudá-la em casa para facilitar a vida dela durante a doença.

A senhora não apenas ficou chocada, mas também humilhada e envergonhada com o tratamento que fizera ao Profeta صلى الله عليه وسلم, e ficou com extrema admiração por ele ter retribuído o seu mal com bondade e, por isso, ela acabou se abraçando ao Islão.

Agora, o fato de ela ter se convertido ao Islão é muito bom para nós, muçulmanos, que lemos essa história. No entanto, quero focar nas lições que podemos extrair das ações daquele que é chamado de misericórdia para com a humanidade (não uma misericórdia apenas para os muçulmanos).

O que retiro dessa história é o poder da bondade e paciência. Sem nenhum ato de violência ou palavras duras, o Profeta صلى الله عليه وسلم conseguiu conquistar a senhora.

Quando alguém vence a oposição pela força, este não tem escolha a não ser se submeter, porque não tem o poder de retaliar. Não apenas o Profeta صلى الله عليه وسلم conquistou essa senhora, mas foi um reconhecimento voluntário em seu nome, no sentido de que o comportamento dele era tão poderoso que ela aceitou, de bom grado, a sua “loucura”.

Outra coisa importante a ser observada é que o Profeta صلى الله عليه وسلم nunca mencionou a ela o seu comportamento anterior. Tratou-a com genuína bondade desde o início.

Durante todo esse incidente, o Profeta صلى الله عليه وسلم estava a representar o seu título de misericórdia para a humanidade.

A verdadeira misericórdia e perdão é quando a pessoa o escolhe de bom grado, apesar de ter o poder
de punir, mesmo que esse poder seja o seu direito. O Profeta صلى الله عليه وسلم poderia ter exigido sua vingança, muito menos que isso, ele poderia tê-la deixado em paz e feliz por ser um dia em que ele não precisaria lidar com o lixo a ser atirado nele. No entanto, ele ainda foi ajudá-la.

Isto é conhecido como "makarim akhlaq" em árabe, que significa "traços morais exemplares". No pensamento islâmico, características morais exemplares não são apenas boas para as pessoas; está a ser bom para pessoas que não são boas para si.

Quando o Profeta صلى الله عليه وسلم anunciou a sua missão profética, ele disse: “Estou aqui para aperfeiçoar traços nobres”como o objectivo principal de sua missão. Este incidente é apenas uma instância dele, liderando pelo exemplo e mostrando o seu excelente carácter. Na verdade, todos nós podemos aprender com ele, independentemente da idade, sexo, raça ou religião. 

Não é de admirar que o Alcorão ateste isso quando o Livro Sagrado diz: "Na verdade, no Mensageiro de Deus, vós tendes um bom exemplo" (33: 6).

Que nós possamos sempre relembrar e nos esforçar para seguir o exemplo do maior homem que já existiu. 

Obrigado. Wassalam (Paz).
M. Yiossuf Adamgy
Diretor da Revista Islâmica Portuguesa AL FURQÁN

terça-feira, dezembro 03, 2019

Caaba: O Que é, Quem Construiu e O Que Significa

A Caaba, ou Casa Sagrada, é a construção mais sagrada do Islam . Muçulmanos do mundo inteiro fazem as orações obrigatórias em direção a ela . Todo muçulmano que possui condições deve fazer a peregrinação e visitar a Casa Sagrada em Meca.

Dúvidas frequentes sobre a Caaba

1. O que é a Caaba e qual a sua importância para os muçulmanos?

A Caaba é um templo sagrado em atual forma de cubo, construído por Abraão e seu filho Ismael, feito para a adoração de Deus único. O local de sua construção foi indicado por Deus. A Caaba é o local mais sagrado para os muçulmanos.

2. Onde a Caaba está localizada?

Ela está dentro da Mesquita al-Haram, na cidade de Meca, na atual Arábia Saudita.

3. Quem construiu a Caaba?

A Caaba foi construída pelos profetas Abraão e Ismael.

4. O que é a Pedra Negra?

A Pedra Negra é um objeto que tem sua origem desde a época de Adão e Eva. Ela representa a aliança entre Deus e a humanidade e se encontra guardada em um dos lados da Caaba. Apesar de relevante, os muçulmanos não adoram a Pedra Negra.

5. Por que a Caaba é importante?

A Caaba é um templo de adoração ao Deus único. Ela é a qibla, ou seja, a direção na qual os muçulmanos devem orar.

6. A Caaba é sagrada?

Sim, para os muçulmanos ela é a construção mais sagrada do mundo.

7. Quais passagens do Alcorão falam sobre a construção da Caaba?

A primeira Casa (Sagrada), erigida para o gênero humano, é a de Bakka (Makka), onde reside a bênção, servindo de orientação para a humanidade. (Alcorão 3:96)

E (recorda-te) de quando indicamos a Abraão o local da Casa, dizendo: Não Me atribuas parceiros, mas consagra a Minha Casa para os circungirantes, para os que permanecem em pé, ou inclinados e prostrados. (Alcorão 22:26)

E quando Abraão e Ismael levantaram os alicerces da Casa, exclamaram: Ó Senhor nosso, aceita-a de nós pois Tu és Oniouvinte, Sapientíssimo. (Alcorão 2:127)

O Significado da Caaba

Mesmo que as doutrinas do Islam sejam pouco conhecidas no Brasil e em outros países ocidentais, muitos já devem ter ouvido falar que os muçulmanos rezam para uma determinada direção, ou até mesmo já escutaram algo sobre o cubo negro na cidade de Meca, na Arábia Saudita. Esses fatores estão ligados a uma construção muito especial para a fé islâmica: a Caaba. 

Esta construção é conhecida pelos muçulmanos como a Casa Sagrada, e é o local mais importante do mundo para os seguidores do Islam. Ela também é a qibla, ou seja, a direção para onde os fiéis devem fazer as suas orações obrigatórias.

Seu nome traduzido para o português significa “cubo”, o que se deve ao formato de sua arquitetura.
História da Construção da Caaba

A Caaba foi construída pelo Profeta Abraão e seu filho Ismael. Na ocasião, a cidade de Meca era apenas um deserto árido, e não havia naquela região um local de adoração monoteísta.

O relato de sua construção foi registrado no Alcorão:

“E quando Abraão e Ismael levantaram os alicerces da Casa, exclamaram: Ó Senhor nosso, aceita-a de nós pois Tu és Oniouvinte, Sapientíssimo.” (Alcorão 2:127)

O local da construção foi indicado diretamente por Allah, e foi consagrado para ser a casa de peregrinação dos muçulmanos. Através do Anjo Gabriel, Deus deu o que é a atual Pedra Negra a Abraão, que ficou fixada ao leste do templo.

A princípio, era uma pedra de cor clara, mas que foi escurecendo devido aos pecados da humanidade. Esta rocha representava a aliança entre o Criador e suas criaturas.

Após sua construção, com o passar do tempo, o poder da Caaba ficou concentrado na mão dos idólatras e diversas estátuas de barro foram construídas para o culto a outras divindades. Na época do Profeta Muhammad ﷺ haviam 360 ídolos ao redor e dentro da Casa Sagrada. 

Por vários anos, o local foi motivo de peregrinação dos idólatras, que também consideravam a Caaba como um lugar sagrado.

A Caaba e o Profeta Muhammad

Ilustração representando o momento em que o Profeta Muhammad ﷺ coloca a Pedra Negra sobre o pano, para acabar com a disputa dos líderes tribais

A Caaba possui um papel importante no reconhecimento do Profeta Muhammad ﷺ como o mensageiro de Deus. No tempo em que vivia em Meca, a Casa Sagrada estava sendo reconstruída após sofrer uma inundação, e as tribos da cidade brigavam para ver quem colocaria a Pedra Negra em seu devido lugar. 

Esta disputa chegou ao ponto dos clãs quase entrarem em guerra e, para solucionar este conflito, eles concordaram que a próxima pessoa que entrasse no santuário, os ajudaria a resolver aquela discussão. Para o alívio deles, quem passou naquele momento foi o Profeta Muhammad ﷺ que, naquela ocasião, era reconhecido como o Confiável, devido à maneira como lidava com os assuntos da comunidade.

Ele não escolheu nenhum dos líderes para colocar a pedra. Ao invés disso pediu para que trouxessem um pano e colocassem-na no centro dele. Cada representante de uma tribo segurou uma ponta do tecido, e assim puseram a rocha em seu lugar.

Esta foi uma das ocasiões que todo o povo de Meca pôde testemunhar a sabedoria dele para reconciliar as brigas e discussões. 
A Caaba como fonte de renda para os Coraixitas

Após o início da revelação do Alcorão, à medida em que o Profeta ﷺ foi ensinando o monoteísmo para a população de Meca, ele começou a desagradar a tribo dos coraixitas, que lucrava bastante com a peregrinação dos idólatras à Caaba.

Com medo de que a propagação do Islam prejudicasse os negócios da tribo, foi oferecido ao Profeta Muhammad ﷺ quantias de dinheiro altíssimas, para que ele desistisse da mensagem.

Ao falharem em convencer o Profeta ﷺ, as perseguições aos muçulmanos se intensificaram e culminaram, posteriormente, na fuga do Profeta ﷺ e seus seguidores para Medina.
A Viagem Noturna começou na Caaba

No decorrer do recebimento da revelação divina, o Profeta Muhammad ﷺ viveu outro momento muito importante para a fé islâmica nas mediações da Caaba. Ele estava dormindo próximo à Caaba quando foi visitado pelo anjo Gabriel montado em um corcel com asas. Então, subiu na montaria celestial e foram juntos para Jerusalém

Durante o caminho, o Mensageiro de Deus ﷺ teve visões da vida após a morte, do paraíso e do inferno. Ao chegarem no destino final, os profetas Noé, José, Isaac, Jacó, Abraão, Moisés, Jesus, e outros estavam o aguardando e, juntos, eles fizeram uma oração que foi guiada pelo Profeta Muhammad ﷺ.

Depois disso, o Profeta ﷺ foi guiado novamente pelo anjo Gabriel através dos sete céus. Quando atingiu o limite, ele esteve na presença de Allah que, neste momento, ordenou que os muçulmanos fizessem as cinco orações obrigatórias. Após o encontro divino, o Profeta ﷺ retornou a Meca para fazer a oração da manhã.

Esta noite ficou marcada para sempre na teologia islâmica como a Viagem Noturna e a Ascensão do Profeta Muhammad ﷺ. 

A Conquista da Caaba pelo Profeta Muhammad

A Caaba consumou sua importância para os muçulmanos quando o Profeta ﷺ conquistou a cidade de Meca. Naquela ocasião, um exército enorme de muçulmanos marchou sobre a cidade, que foi tomada sem praticamente qualquer resistência. O fato se tornou um grande marco da paz na Arábia.

O Profeta ﷺ orou no Santuário Sagrado em frente à Caaba e a circundou. Enquanto fazia isso, ele apontava o cajado em direção a cada um dos ídolos, dizendo “A verdade chegou e a falsidade pereceu. Por certo a falsidade é perecível” (Alcorão 17:81), e as estátuas, uma a uma, caíram de cabeça no chão.

Após este momento, os árabes pensaram que seriam dizimados pelos muçulmanos, pois este era o costume da região naquele tempo. Então, o Profeta Muhammad ﷺ citou uma passagem dita pelo Profeta José e gravada no Alcorão, que dizia “Hoje não sereis recriminados” (Alcorão 12:92). Naquele instante, todo aquele povo foi perdoado e a paz finalmente reinou em Meca.
Modificações e reconstruções ao longo da história

O formato original da Caaba possuía uma das paredes em formato semi-circular, chamada de hatim, que ficava no lado norte do templo. Uma pequena estrutura desta parede existe até os dias atuais, no entanto, atualmente ela fica na parte externa da construção.

O atual projeto arquitetônico da Caaba não sofreu grandes mudanças desde os tempos dos coraixitas. Eles ergueram uma estrutura cúbica para a Casa Sagrada após ela ser destruída por dilúvios, saques e incêndios. No entanto, devido a falta de recursos na época, a construção ficou sem o teto, e manteve-se coberta apenas com um tecido simples.

Por ser uma estrutura muito antiga, a Caaba já passou por muitas reformas e reconstruções. No ano 692, ela precisou ser totalmente restaurada após sua demolição durante os ataques do Califado Omíada contra Ibn Zubair, que danificou não somente sua estrutura, mas também a Pedra Negra, que acabou se partindo em três pedaços. 

No ano de 1611, a Pedra Negra foi fixada na parede com uma cinta de cobre para evitar que ela caísse.

Por estar localizado em um vale, o templo sempre esteve suscetível à inundações. No ano de 1630, uma enchente de grandes proporções causou a queda de uma das paredes, e a Casa Sagrada precisou ser completamente reconstruída, desta vez com um novo telhado. 

A última mudança na Caaba foi em 1982, quando foram instaladas as novas portas da Casa Sagrada, feitas em ouro maciço.

Detalhes da Caaba

A atual estrutura da Caaba possui 15 metros de altura, e suas laterais medem 10,5m por 12m.

Ela é feita de granito e é coberta por um tecido preto de seda decorado com uma caligrafia bordada em ouro. 

O tecido que envolve o templo é chamado kiswah, que em português significa “mortalha”, um tipo de pano usado para envolver os caixões. Ele é trocado anualmente durante o nono dia do mês do calendário islâmico Dhu al-Hijja.

A Pedra Negra continua fixada na parede leste. Atualmente ela é segurada por uma armação feita de prata. Entre a rocha e a porta do templo, há um vão de dois metros chamado de al-Multazam, que é um espaço considerado recomendável de se tocar, ou até mesmo de se fazer súplicas em frente a ele. 

A Caaba possui calhas ao seu redor que servem para evitar os danos causados por enchentes. Nela também há uma bica em seu teto, que é feita em ouro, para poder escoar a água das tempestades. Essas duas estruturas foram adicionadas na reforma em 1630.

Na parte externa há um pequeno muro em frente a parede do norte chamado de hatim, que originalmente era parte da construção. Ele é feito em mármore e possui um formato semi-circular. Suas medidas são de 1,31m de altura e 1,50m de largura, 

Fora da Caaba também está o Maqam Ibrahim, uma estrutura feita de vidro e metal, onde há as marcas dos pés do Profeta Abraão. 

Em volta da construção há uma marcação feita em mármore que ajuda os peregrinos a contarem cada circundação feita em torno da Casa Sagrada.

O que há dentro da Caaba?

A entrada da Caaba possui 2,13m, e as portas são de ouro maciço. O chão e as paredes são feitos de mármore, e possuem detalhes em calcário. 

No templo, há seis placas gravadas com versos do Alcorão, e no canto superior das paredes há panos verdes que também contém passagens corânicas. 

O local é ungido com um óleo aromático, que também é usado na Pedra Negra. Dentro da Caaba há três pilastras, onde se encontra uma mesa entre elas. Em cima dela costuma ficar alguns perfumes, e outros objetos. 

No teto há algumas lâmpadas, e na parede da direita há uma porta dourada que direciona para uma escada que vai até o teto do templo. 

Em 2016, o Google Street View disponibilizou um recurso que permite aos curiosos explorarem a parte interna da Caaba. Você pode conferir clicando.

Atualmente, a peregrinação à Casa Sagrada, o Hajj, é um dos cinco pilares do Islam. Todo muçulmano que tenha condição de fazê-la deve realizá-la pelo menos uma vez na vida.

A peregrinação é feita uma vez por ano, entre o oitavo e o décimo terceiro dia do mês de Dhu al-Hijja, o último mês do calendário islâmico.

Quando é feita em outras épocas do ano, se torna uma peregrinação menor, ou Umrah. Ela também é vista como uma boa ação e, embora seja recomendada pelos eruditos islâmicos, não é obrigatória aos muçulmanos.

Durante o Hajj, os peregrinos devem fazer os ritos nas mediações da Caaba, e também nas colinas de Safa e Marwah, onde bebem a água de Zamzam. Ao longo dos dias de peregrinação, eles também percorrem Mina e Arafat. 

Já na Umrah, todas as atividades são feitas na Mesquita al-Haram de Meca, onde está a Caaba.

Todos rituais seguidos durante as peregrinações conectam os muçulmanos com a história de sua construção e, também, com os locais onde foram feitos os sermões do Profeta Muhammad ﷺ

É importante lembrar que ela não é um destino turístico, portanto, seguidores de outras religiões não estão autorizados a entrar na mesquita onde a Caaba se encontra.
Conclusão

A Caaba é conhecida como a Casa Sagrada de Deus e é a construção mais importante para o Islam. 

Sua importância é devido ao fato dela ter sido construída em um local indicado por Deus, e através das mãos dos profetas Abraão e seu filho Ismael. Nela está fixada a Pedra Negra, que representa a aliança entre Allah e a humanidade.

Com a vinda do Profeta Muhammad ﷺ, a Casa Sagrada também se tornou importante por causa dos seus feitos naquele local, como as peregrinações, a noite da ascensão, e a conquista de Meca. 

Atualmente, o local é o destino de peregrinação obrigatório para muçulmanos que possuem condições de visitá-la. Além disso a Caaba também é a qibla, a direção na qual os muçulmanos devem fazer as suas orações obrigatórias. 

Zakat: Como Funciona a Doação Compulsória no Islam?

A Zakat um ato de amor.
O zakat é um ato de caridade obrigatório para muçulmanos que têm condições de doar .Os recursos devem ser destinados aos muçulmanos que passam por necessidades financeiras . A caridade pode ser um fator importante para reparar injustiças sociais, e para diminuir o ego. O zakat possui semelhanças com o dízimo ofertado pelos antigos hebreus.

O Zakat é o terceiro dos cinco pilares do Islam, e é uma forma de praticar caridade, considerada obrigatória para os muçulmanos que possuem uma riqueza equivalente a 85 gramas de ouro, ou 595 gramas de prata. Aqueles que precisam praticá-lo devem doar 2,5% de toda quantia que possuem, abatendo as dívidas que possuem.

Em cotação atual (Dezembro/2019), as 85 gramas de ouro, representam:
R$ 16.869,10
USD 4.000,52
Sobre quais bens é calculado o zakat?

A doação pode ser calculada sobre quatro tipos de bens materiais, que são:
Ouro, prata e finanças.
Rebanho de gados e outros animais, como camelos e ovelhas.
Comércio. 
Frutos, grãos e alimentos colhidos da terra.
Quando o pagamento do zakat deve ser feito?

A caridade purificatória do zakat deve ser feita pelo menos uma vez ao ano, e a maioria dos muçulmanos optam por realizá-la próximo ao final do mês sagrado do Ramadan, que é quando as recompensas por boas ações são aumentadas.
Quem pode receber o zakat?

Existem oito categorias de pessoas que podem ser beneficiadas pelo zakat:
Fakir – Muçulmanos pobres que não possuem trabalho.
Miskin – Muçulmanos que trabalham, mas que não possuem recursos suficiente para satisfazer suas necessidades e de sua família.
Amil – Coletores do zakat. Pessoas cujo o único pagamento é o dinheiro da própria caridade.
Mullaf – Os recém revertidos ao Islam, que, em razão da mudança de religião, estão passando por dificuldades financeiras.
Riqab – Escravos muçulmanos que querem se libertar de sua servidão.
Gharmin – Muçulmanos que contraíram dívidas tentando satisfazer as necessidades pessoais ou familiares.
Fissabillillah – Muçulmanos que lutam pela causa de Allah. Esta categoria pode incorporar iniciativas como construções de mesquitas, escolas, hospitais, obras que divulgam o Islam ou que protejam os muçulmanos da agressão.
Ibnus Sabil – Muçulmanos que estão longe de casa e não possuem dinheiro para viajar para sua terra de origem.

A doação é uma forma de esmola?

O gesto de doar não deve ser visto como uma esmola. A palavra “zakat” não possui uma tradução para português, mas pode significar “aquilo que purifica”. 

A doação não serve para beneficiar somente o necessitado, mas também a alma do doador, através do desapego material e da fraternidade com sua comunidade. 

No Islam, também é bastante difundida a maneira como a doação deve ser feita. É importante que o muçulmano faça suas doações de maneira discreta, e que ele não seja vaidoso em suas intenções, caso contrário, esta ação perde toda sua nobreza, transformando-se em uma obra do ego humano.

O muçulmano deve ter em mente que toda doação de riquezas é para a glória de Allah, e jamais para se obter recompensas, ou algum tipo de reconhecimento. Para o Islam, a caridade é um dos atos mais nobres de adoração a Deus, e ela está no mesmo patamar de outros gestos louváveis como a oração, o jejum e a peregrinação.
História e Significado

O pagamento do zakat foi revelado diretamente por Deus, e isto foi descrito no Alcorão:

“Praticai a oração, pagai o zakat e inclinai-vos, juntamente com os que se inclinam.” (Alcorão 2:43)

“Crede em Allah e em Seu Mensageiro, e fazei caridade daquilo que Ele vos fez herdar. E aqueles que, dentre vós, crerem e fizerem caridade, obterão uma grande recompensa.” (Alcorão 57:7)

A obrigatoriedade da caridade purificatória também está descrita nos relatos do Profeta Muhammad (SAWS)

“O Islam é: que testemunhes que não há divindade além de Allah, e que Muhammad é o mensageiro de Allah; que observe a oração, que pagues o zakat; que jejues no mês do Ramadan, e peregrines à Casa quando puderes’’. (Muslim)

Para o Islam, a riqueza pertence a Deus antes de qualquer coisa. O Criador provém a prosperidade à suas criaturas e, embora o detentor das posses tenha o direito de usufruir delas, os bens materiais devem ser gastos da maneira que Allah prescreve.

O excesso é sempre algo que gera desequilíbrio, e no caso das riquezas, elas causam avareza naqueles que as possuem, e provoca a inveja entre os que necessitam. O resultado dessa combinação é uma desarmonia na sociedade, onde as pessoas enxergam as outras por aquilo o que elas têm, ao invés de julgar pelo caráter. 

Desta forma, o muçulmano que paga o zakat com uma boa intenção estará enfraquecendo o seu ego, encorajando a boa vontade entre os seus irmãos, e se aproximando da presença de Deus.

Por outro lado, Deus prevê punições para aqueles que se recusarem a fazer a caridade. O castigo é inclusive narrado no Alcorão.

“Quanto àqueles que entesouram o ouro e a prata, e não os empregam na causa de Allah, anuncia-lhes (ó Muhammad) um doloroso castigo.” (Alcorão 9:34)

Zakat e a Erradicação da Pobreza

Durante o período do reinado do califa Umar Ibn Abdul-Aziz, entre os anos 717 e 720 (99 e 101 depois da Hijra), o zakat teve um papel muito importante na erradicação da pobreza nas terras dominadas pelo Califado Omíada.

Na época, o califado possuía um fundo econômico feito somente com recursos da caridade purificatória. Durante o reinado de Umar II, muitas riquezas foram acumuladas através das doações, mas em um determinado ponto, já não haviam pessoas que precisassem ou quisessem receber este dinheiro.

Este acontecimento se deve principalmente aos esforços de Umar II, que encorajava o pagamento do zakat, e a correta distribuição de todas as riquezas. Ele sempre acreditou no papel da caridade para a redução da pobreza. 

Com menos pessoas enfrentando necessidades, foi possível aplicar mais investimentos para o desenvolvimento da agricultura e, em pouco tempo, houve fartura de alimentos, o que tirou a população local da subsistência. 

Certamente o caso de Umar II é muito específico, e não se aplica a todos os reinados islâmicos, mas também revela o potencial do zakat, e o que ele é capaz de fazer quando é captado e aplicado com justiça.

Zakat equivale ao Dízimo?

Por se tratar de uma doação com motivos espirituais, alguns acabam relacionando o zakat ao dízimo que, no Brasil, é comumente associado às igrejas cristãs. No entanto, há alguns fatores que são necessários levar em consideração ao fazer esta comparação.

Originalmente, o dízimo era um imposto cobrado pelas antigas tribos judaicas, que correspondia a 10% das riquezas plantadas ou de rebanhos de animais. O seu pagamento estava previsto no livro de Levítico, na Bíblia hebraica:

Todos os dízimos da terra, seja dos cereais, seja das frutas das árvores, pertencem ao Senhor; são consagrados ao Senhor. Se um homem desejar resgatar parte do seu dízimo, terá que acrescentar um quinto ao seu valor. O dízimo dos seus rebanhos, um de cada dez animais que passem debaixo da vara do pastor, será consagrado ao Senhor. (Levítico 27:30 – 32) 

Essas riquezas eram repassadas à tribo dos levitas que, por ordem divina, não poderiam herdar terras, pois deveriam se dedicar exclusivamente ao sacerdócio. As doações também poderiam ser utilizadas para dar assistência aos órfãos, às viúvas e aos pobres.

No entanto, com a destruição do templo de Israel, muitas normas judaicas foram alteradas, e os hebreus passaram a praticar caridade de outras maneiras.

Mais tarde, os cristãos herdaram diversos mandamentos que foram dados aos judeus, no entanto, eles interpretaram que havia necessidade de alterar as regras sobre o dízimo, pois o sacerdócio da igreja seria outro. Essas mudanças são narradas no livro de Hebreus, no Novo Testamento. 

“Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei.” (Hebreus 7:12)

“Porque o precedente mandamento é ab-rogado por causa da sua fraqueza e inutilidade” (Hebreus 7:18)

Atualmente, o dízimo das igrejas preserva somente o nome da caridade original, pois na prática ele é muito diferente das prescrições que Deus havia feito ao povo judeu.

Entre os cristãos, é comum que sejam dadas quantias voluntárias, que podem ser destinadas a diversas obras diferentes.

O zakat possui alguma semelhança com o dízimo original dos hebreus, pois ambos fixam uma porcentagem para a doação de riquezas, e também dizem quais grupos de pessoas devem recebê-las. No entanto, a prática atual das igrejas cristãs estão menos próximas da caridade purificatória do Islam. Países Islâmicos que cobram o zakat. 

É muito comum que alguns países muçulmanos coletem o zakat sob a forma de imposto, e repassem este valor aos necessitados. Esta medida serve para evitar que os doadores não ajam de forma arrogante, ou que eles possam humilhar os aqueles que enfrentam dificuldades financeiras. 

Atualmente, 15 dos 47 países cuja maior parte da população é muçulmana ainda possuem um fundo monetário com as doações do zakat. No entanto, na maior parte deles o imposto é voluntário.

Nesses casos, o estado estabelece alguma instituição, pública ou religiosa, para ficar encarregada de captar esses recursos e repassar aos necessitados.

Ao todo, há nove países em que o zakat é regulamentado pelo estado, mas sua contribuição é feita de maneira voluntária: Bahrein, Bangladesh, Egito, Indonésia, Irã, Jordânia, Kuwait, Líbano e Emirados Árabes.

Por sua vez, há outros seis países em que a caridade purificatória é obrigatória, e o valor é coletado pelo estado: Líbia, Malásia, Paquistão, Arábia Saudita, Sudão e Iêmen.

Cada país possui um sistema próprio para calcular as riquezas, cobrar os impostos, e destinar as riquezas. No entanto, é comum que as instituições beneficiadas estejam ligadas à caridade, desenvolvimento social, ou à religião.

É importante ressaltar que mesmo nos países onde o governo não possui um sistema para a cobrança do zakat, os muçulmanos continuam tendo a responsabilidade de doá-lo anualmente. Neste caso, o dever de achar pessoas aptas a receberem a caridade fica a cargo do doador.

Em 2013, um levantamento feito pela fundação britânica Just Giving, mostrou que a cada dez adeptos do Islam, três praticam caridade. O estudo foi feito com mais de quatro mil pessoas na Grã-Bretanha, e mostrou que os muçulmanos doavam em média US$ 567, os judeus US$ 417, cristãos protestantes US$ 308, católicos US$ 272, e ateus US$ 177.

Outras formas de caridade

O zakat não é a única forma de caridade no Islam, há também a sadaqah, que não possui valor fixo, não é obrigatória, não precisa ser dada em dinheiro, e pode ser feita em qualquer época do ano. Neste caso, qualquer ajuda ao necessitado, que recebe a doação, é considerado um ato de generosidade.

Qualquer pessoa pode praticar a sadaqah, independente da condição financeira, e seus efeitos podem ser tão benéficos quanto o do zakat. O Profeta Muhammad ﷺ dizia que a caridade feita para a glória de Deus tem o poder de trancar setenta portões da maldade, e é capaz de garantir o paraíso aos crentes.

“Sorrir para o seu irmão é uma caridade. Recomendar o bem e repelir o mal é uma caridade. Guiar um homem perdido pela terra é uma caridade. Emprestar sua visão para um homem que não enxerga bem é uma caridade. Remover pedras, espinhos e ossos da estrada é uma caridade. Derramar o que sobra no recipiente do seu irmão é uma caridade.” (Timirdhi)
Conclusão

O zakat é um dos cinco pilares do Islam, e é considerado obrigatório para aqueles que possuem condições de praticá-lo. Seu valor corresponde a 2,5% de toda riqueza que o indivíduo possuir, abatendo suas dívidas.

A doação deve ser feita uma vez por ano, e deve ser destinada aos muçulmanos que passam por algum tipo de necessidade financeira. No entanto, o doador deve fazer a caridade com discrição e boas intenções. 

A caridade é um gesto que foi ensinado diretamente por Deus, e os muçulmanos têm a obrigação de seguirem essas orientações, afinal, o sustento e a prosperidade são favores que Allah concede às suas criaturas, e elas devem buscar retribuir da melhor maneira.

Quando os recursos do zakat são captados e doados com justiça, eles podem servir para reparar injustiças sociais, como no caso do califa Umar II, que conseguiu erradicar a pobreza de seu califado somente com as riquezas da caridade purificatória.

O zakat possui algumas semelhanças com o dízimo dos antigos hebreus, no entanto ele diverge em alguns pontos da caridade praticada pelas atuais igrejas cristãs.

A maioria dos países cuja a população é predominantemente muçulmana não possuem um fundo econômico com as doações do zakat, no entanto, há lugares que cobram uma taxa voluntária, e também há outros em que o valor da caridade purificatória é considerado obrigatório por lei.