sexta-feira, outubro 06, 2017

O respeito pelas demais culturas: uma sunnah profética suprema

"O Alcorão ordenou ao Profeta Muhammad (p.e.c.e.) aderir aos bons usos e costumes dos povos"

Prezados Irmãos, 

Saúdo-vos com a saudação do Islão, "Assalam alai-kum", (que a Paz esteja convosco), que representa o sincero esforço dos crentes por estender o amor e a tolerância entre as pessoas, seja qual for o seu idioma, crença ou sociedade.

O Profeta Muhammad (paz e bençãos de Deus este-jam com ele) e os seus Companheiros não viveram em conflito com o resto das etnias e culturas do mundo; pelo contrário, mantiveram uma perspectiva honesta, acolhedora e geralmente positiva da ampla dotação social de outros povos e lugares. O Profeta (p.e.c.e.) e os seus Companheiros não conceberam culturas diferentes como opostos polares, nem fizeram uma divisão drástica das sociedades em esferas de bem e mal absoluto. O Islão não prevaleceu entre os árabes ou entre os não-árabes, como uma visão de mundo pre-datória e externa. Em vez disso, a mensagem profética baseava-se, desde o início, na distinção entre o bem, o benéfico e o genuinamente humano das diversas culturas, e claramente prejudicial, para o qual uma mudança deveria ser procurada. A lei profética não destruiu ou queimou o carácter distintivo de outros povos, mas procurou polir, cultivar, nutrir e, assim, criar uma síntese islâmica positiva.

O Alcorão, em 7:199, ordenou ao Profeta Muhammad (p.e.c.e.) que aderisse aos bons usos e costumes dos povos e que os tomasse como referências fundamentais na legislação: "Conserva-te indulgente com a natureza humana, encomenda o bem e fique longe de todos aqueles que querem continuar na ignorância".

Ibn Atiyya, um reconhecido jurista do andaluz medieval e comentarista do Alcorão, afirmou que este versículo não apenas defendeu a inviolabilidade da cultura indígena, mas também deu validade total a tudo o que o coração humano considerou coerente e benéfico, sem-pre que não foi claramente rejeitado pela lei revelada. Para os juristas Islâmicos clássicos em geral, este versículo foi frequentemente citado como um testemunho da aceitação de práticas culturais positivas, e foi registado que as pessoas consideravam apropriado, costumava ser compatível com a sua natureza e o seu meio ambiente, servindo assim as suas necessidades fundamentais e as suas legítimas aspirações.

Muito do que se tornaria a Sunnah do Profeta (o exemplo ou a conduta do Profeta) era composto de normas culturais árabes pré-islâmicas, e o princípio de tolerá-las ou aceitá-las - árabes e não-árabes em toda a sua diversidade - pode considerar-se como uma Sunnah essencial e suprema do Profeta (p.e.c.e.). O jurista de Granada do século XV, Ibn al-Mawaq, fez uma declaração semelhante ao sublinhar, a título de exemplo, que os códigos de vestimenta do Profeta (p.e.c.e.) não pretendiam impor a integridade cultural dos muçulmanos não árabes, que eram livres para desenvolver ou manter as suas próprias roupas, dentro dos amplos parâmetros da Lei sagrada.

As declarações relativas à diferença de judeus e cristãos foram incluídas nesta categoria e foram enquadradas num contexto histórico particular. Já foi feita referência à opinião de Ibn Al-Mawaq. Como evidência baseada nos pressupostos de que é inútil que os muçulmanos se tentem aproximar dos judeus e dos cristãos, muitas vezes ouvimos muitos muçulmanos mencionar o seguinte versículo Alcorânico: «Pois os Judeus nunca ficarão satisfeitos contigo, nem os Cristãos, uma vez que não segues as suas crenças. Dize-lhes: "Na verdade, a orientação de Deus é o único Guia verdadeiro"». (Alcorão, 2:120). O texto foi dirigido diretamente ao Profeta no momento da formação da revelação e refere-se aos sentimentos das comunidades árabes de judeus e cristãos em relação a ele e a sua insistência em segui-los e não encontrou um novo culto universal como era a sua missão anterior-mente profetizada.

Fazer generalizações sobre este versículo para excluir todas as relações positivas, entre as três derivações da fé Abraâmica, em todos os contextos possíveis, é errónea. E não revela as relações de harmonia que nor-malmente existiam e devem existir entre os três cultos da civilização islâmica.

A unidade dentro da diversidade

Era a marca das sociedades islâmicas tradicionais. Por exemplo, Ibn Batuta, um célebre viajante marroquino do século XIV, visitou mais de duas vezes mais territórios do que o europeu Marco Polo, que na sua famosa expedição encontrou um mundo totalmente diferente a poucos dias de viagem da sua Veneza natal. Pelo contrário, Ibn Batuta dificilmente se afastou da área cultural que conhecia. Mesmo quando as suas viagens o levaram até o coração da China, as ilhas do Oceano Índico ou a África subsaariana. Ele quase sempre se sentia em casa. Apesar das diferenças de cores das pessoas locais, as sociedades muçulmanas que viviam ali refletiram um instinto cultural do Islão para equilibrar a diversidade regional, dentro do quadro fundamental da unidade transcendental da Lei revelada.

No plano material, a arquitetura islâmica exemplifica esse espírito de unidade transcendental dentro da diversidade. A Mesquita do Profeta (p.e.c.e.) era modesta e rústica, sem abóbada ou minarete - ambos foram adicionados - mas expressou as ideias básicas e os propósitos de um espírito tão elegantemente expresso nas mesquitas de civilizações islâmicas posteriores. As grandes mesquitas de todas as regiões do Islão foram capazes de transformar a funcionalidade em beleza da maneira que melhor se adequava ao ambiente físico e ao contexto cultural. Elas deram plenitude à pedra, à madeira e outros elementos, usando motivos recorrentes das tradições locais, transformando-os em manifestações da luz divina e em gabinetes sagrados facilmente reconhecíveis. As mesquitas andaluzas e norte-africanas combinaram, magicamente, os elementos visigodos, como o arco em ferradura. Os Otomanos adotaram as altas estruturas com abobadadas austeras das primeiras igrejas gregas, além de minaretes delgados como obeliscos, com base em temas da Anatólia. Na China, as mesquitas incorporaram brilhantemente o antigo simbolismo do sagrado, enquanto as mesquitas da África Oriental e Ocidental adquiriram um carácter distintamente africano, através do uso de materiais locais. Da mesma forma, o Taj Majal, um palácio em forma de mesquita, com elementos indianos e persas impecáveis, tornou-se uma das principais manifestações culturais da Índia Muçulmana, expressando muito bem o carácter subcontinental que se tornaria o símbolo da Índia em todo o mundo.

Um parâmetro chave para avaliar a cultura é a sua capacidade de transmitir um sentido unificado do indivíduo e da comunidade, bem como modelos de comporta-mento consistentes e bem coesos. Uma cultura será "bem sucedida" quando for capaz de transmitir uma identidade, capaz de produzir coesão social e dar aos seus membros conhecimentos e ferramentas sociais que lhes permitam satisfazer, efetivamente, as suas necessidades. Identidade e coesão social são fundamental-mente produtos culturais. O fato de ter uma comunidade e um certo grau de autodeterminação também contribui para a realização de uma cultura "florescente". Na ausência de uma cultura islâmica integrada e dinâmica na Europa, falar de nós mesmos como uma comunidade verdadeira - apesar do enorme talento individual e dos números grandes e crescentes, ou para poder desempenhar um papel real na vida social ou política - é pouco mais do que retórico e ilusório.

Ao estabelecer fronteiras claras do indivíduo e conferir uma ideia firme e unitária de identidade, uma sólida cultura islâmica na Europa permitirá uma participação mais dinâmica entre nós e o mundo que nos rodeia. Isso também nos ajudaria a abordar a complexa realidade social e a determinar, de forma produtiva, os papéis que a vida nesta sociedade moderna nos exige. Mas, ao mesmo tempo, apoiaria uma ideia unitária, digna e se-gura de quem somos e um compromisso firme com os valores que representamos. Podemos arrepender-nos de padrões ruins, mas não da nossa psique.

Conclusões: A lei islâmica clássica não falou de cultura como tal, pois este é um conceito de comportamento moderno. Em vez disso, a lei concentrou-se no que poderíamos chamar de componentes mais tangíveis e importantes da cultura: o costume (al-‘urf) e o uso (al-‘ada) que todas as escolas legais reconheceram como essenciais para a aplicação correta das leis, embora com diferentes definições e graus de autoridade. Na lei islâmica, al-‘urf e al-‘ada incluem os aspectos da cultura local, geralmente considerados bons e benéficos, ou simplesmente inócuos. Em nenhuma das escolas de jurisprudência, o respeito às culturas chegaria a uma aceitação total das mesmas.

A cultura local deveria ser avaliada de acordo com as normas fundamentais da lei islâmica, o que implicava a rejeição de práticas detestáveis como o costume de "crimes de honra", crimes que agora são repetidos no contexto da crise cultural contemporânea. Ou no outro extremo, a promiscuidade sexual tão prevalecente na cultura moderna.

Uma das cinco máximas universais que a lei islâmica proclamou: "Os usos culturais terão peso na lei". Rejeitar um costume ou uma tradição profundamente arraigada não era apenas contraproducente, mas tam-bém implicava problemas excessivos e danos injustificáveis para as pessoas.

Outro princípio bem conhecido da lei islâmica enfatizou esse fato e afirmou: "Os costumes culturais são algo natural". O que implica uma grande dificuldade para que as pessoas atuem contra os costumes estabelecidos, porque é como se eles desafiassem os seus instintos naturais. Portanto, a aplicação sábia da lei exigia uma ampla adaptação das regras locais, que só deveria ser modificada ou bloqueada quando absolutamente necessário. Respeitar as regras do lugar implica encontrar soluções intermediárias e necessariamente leva a amplas semelhanças culturais. Nesse sentido, a lei islâmica distinguiu entre a imitação submissa dos outros (tashabbah), que reflete uma ideia duvidosa da sua identidade e, portanto, geralmente foi considerada proibida ou censurável, e o simples facto da semelhança (mushabaha), que era necessário, recomendado ou simplesmente neutro, conforme o caso. O célebre juris-consulto Granadiano do século XIV, Al-Shatibi - sem dúvida uma das mentes mais brilhantes da história jurídica do Islão - advertiu que a incompetência legal não poderia impor uma punição mais severa a uma pessoa do que exigir que ele negasse os seus costumes e práticas tradicionais. Pelo contrário, ele insistiu que a arte de fazer julgamentos, que estavam em consonância com os aspectos positivos da cultura local, satisfazia o objectivo jurídico fundamental do Islão de obter o bem-estar geral da sociedade.

Nesta linha, uma autoridade jurídica posterior, Al-Tusuli, afirmou: "É obrigatório permitir que as pessoas mantenham os seus costumes, tradições e aspirações gerais nas suas vidas. Ditar leis que se opõem a isso seria um desvio grave e uma tirania".

Os tempos mudam e as culturas adaptam-se a eles. Havia um consenso entre os pensadores legais islâmicos de que as decisões legais dos tempos mais antigos deveriam ser, constantemente, revistas para garantir que fossem mantidas em linha com os tempos. Um aforismo jurídico declarou: "que ninguém se opõe à mudança de normas com a mudança dos tempos".

Há muitos dentro da nossa comunidade muçulmana (Ummah) que olham com suspeita sobre a cultura e só têm, além disso, uma noção muito vaga do que é realmente e do papel fundamental que desempenha na existência do ser humano. Para eles, a cultura é uma palavra cheia de conotações negativas; algo perigoso, intrinsecamente problemático e anti-islâmico (um neologismo islâmico profundamente arraigado). Eles conce-bem a cultura como uma substância tóxica que deve ser necessariamente purificada, já que o Islão e a cultura são mutuamente exclusivos nas suas cabeças. Alguns até consideram ingenuamente e sem qualquer perspectiva histórica de que o patrimônio cultural islâmico, como o Taj Majal ou a Alhambra em Granada, foram as principais causas do declínio e queda do Islão. O seu pensamento é um reflexo do mal-estar geral da era moderna e da crise da cultura islâmica tradicional. Essa fobia cultural é incompatível com a jurisprudência islâmica tradicional, bem como a antítese de mais do que um milênio de culturas indígenas islâmicas florescentes e uma civilização universal.

Devemos enfatizar a importância da sabedoria tradicional da lei islâmica e reconstruir a paranoia contracultural que nos rodeia. Se a identidade contracultural da religião que se desenvolve, inconscientemente, em torno de muitas mesquitas, escolas, residências e universidades não é controlada e reorientada, o desenvolvimento natural do Islão na Europa será comprometido. Quanto àqueles que estão imersos neste paradigma contracultural, a explicação da jurisprudência islâmica tolerante em relação à cultura e a uma cultura islâmica na Europa, geralmente desperta neles uma profunda ansiedade, medos subconscientes e desconfianças implacáveis. A convicção de que a lei islâmica estabelece parâmetros para que um desenvolvimento cultural autóctone possa ocorrer, dificilmente dissipa esses medos, uma vez que são enraizados não na racionalidade, mas no substrcto do subconsciente educado, às vezes desde a infância, de falsas e erradas noções universais de uma ideologia estrangeira.

Criar uma identidade muçulmana própria na Europa é uma tarefa árdua e complicada, que requer uma identidade pessoal, bem como um profundo conhecimento e capacidade. Os riscos de falha seriam extremamente elevados, de modo que a retirada não seria sem perigo. A falta de criação de uma Comunidade Islâmica próspera na Europa não só ameaçaria a nossa existência para o futuro, mas constituiria uma traição da confiança divina e a perda de uma oportunidade histórica única, para o desenvolvimento natural e social europeu. No en-tanto, a nossa lei sagrada exige que tomemos essa tarefa. O trabalho que temos pela frente é uma questão de "ijtihad" (esforço ou compromisso de inovação dinâmico).

No espírito dos grandes juristas do passado, qualquer falha da nossa parte seria uma "injustiça e desobediência diante de Deus", a menos que no nosso caso o "grande erro" que cometemos não pertença a uma norma jurídica isolada ou a casos muito particulares, mas leve à decadência de uma comunidade inteira, com os riscos que isso implicaria na sociedade europeia.

Temos de começar uma cultura islâmica que nos dê a liberdade de sermos nós mesmos. Para fazer isso, devemos ter alguma ideia de continuidade com o que foi no passado e o pode ser no futuro.

Existe um dito mandingo que proclama: "O mundo não é velho, porque o futuro nasceu do passado".

Somente no contexto de um espírito cultural definido, podemos confiar num futuro islâmico brilhante e inclusivo que decorre da riqueza do nosso passado.

Obrigado. Wassalam.
M. Yiossuf Adamgy - Diretor da Revista Al Furqán.
Fonte:Fonte: Web-islam — Coord. e Tradução: Yiossuf Adamgy

quinta-feira, outubro 05, 2017

O islam também é cultura! A LÍNGUA BENGALI E O DIA 21 DE FEVEREIRO

Bismilahir Rahmani Rahim (Em nome de Deus, o Beneficente e Misericordioso)
A primeira palavra do Alcorão revelada ao Profeta Muhammad SAWS, foi IKRAA (LEIA). Daí foi instituído ao muçulmano e a muçulmana, a obrigação de buscarem o conhecimento até o final de suas vidas. Embora as histórias do oriente nos fascine, pouco se sabe da história de certas comunidade e de como elas surgiram, sua história e seu idioma.
Dia 23 de setembro de 2017 o Presidente da Associação Islâmica da Cidade do Porto em Portugal, foi convidado para falar acerca da língua bengali (Idioma oficial de Bangladesh) e do dia Internacional da Língua Materna, que é comemorado em todo o mundo no dia 21 de Fevereiro de cada ano. O que tem a ver a língua bengali com a referida comemoração mundial? Leiam a explanação do nosso irmão..

"Senhoras e Senhores,

Seguindo a tradição islâmica, cumprimento-vos com “Assalamo Aleikum” – Que a Paz de Deus esteja convosco. Esta é a forma dos muçulmanos se cumprimentarem. Usamos e “abusamos” desta saudação! Em Portugal, esta manifestação de harmonia foi desvirtuada, dando a origem à palavra “Salamaleque”, que literalmente significa mesura exagerada ou saudação interesseira.
Agradeço o convite da Senhora Dra. Mónica Guerreiro, directora Municipal de Cultura e Ciência da Câmara Municipal do Porto, para falar acerca da língua materna do Bangladesh.
A exemplo dos asiáticos, a maior parte dos membros das Comunidades do Bangladesh espalhados pelo mundo, têm uma grande inclinação pelo comércio. Na cidade do Porto, aqui na Rua Chã e nos arredores, está concentrada a maior parte dos seus estabelecimentos comerciais e residências.
Enquadrado na referida concentração e na vontade de preservar a língua materna na cidade do Porto, resolveram colocar aqui um memorial para se recordarem dos estudantes e activistas mártires que foram assassinados por se manifestarem pacificamente, reivindicando que a língua bengali fosse considerada como língua nacional.
Para além da língua bengali, vamos também falar da história do Bangladesh.
O Bangladesh está praticamente rodeado pela Índia e com uma pequena fronteira com Myanmar. Encontra-se situado numa zona conhecida por Bengala. A maior parte do País é composta por planícies baixas, fertilizadas pelas enchentes dos rios e muitas vezes sujeitas à destruição das aldeias próximas dos cursos das águas.
O Islão foi introduzido na região de Bangala no século doze por comerciantes e missionários árabes. A região passou a ser governada pelo Sultões de Bengala e depois no século quinze pelo império mongol. A capital passou a ser chamada de Jahangir, em honra do imperador mongol com esse nome. Foi considerada na altura, uma das regiões mais ricas do subcontinente indiano. A partir de 1537, os Portugueses instalaram postos comerciais em Chittagong e o imperador mongol Akbar autorizou-os para aí se fixarem e construírem igrejas.
Mais tarde, a partir de 1858, Bengala e toda a região da Índia passaram a fazer parte do Império Britânico.
No início da ocupação inglesa, soldados nativos hindus e muçulmanos, os chamados sipais, unidos pela mesma causa, revoltaram-se contra o exército da índia britânica e o norte mergulhou numa insurreição.
A Índia e a zona de Bengala sofreram depois diversas calamidades e uma sequência de fomes, que dizimou milhões de pessoas. A transformação das suas terras em latifúndios estrangeiros, a exportação de produtos básicos e os diversos massacres que se seguiram, contribuíram para a rebelião contra a ocupação britânica.


Em 1947, o colapso do império britânico na índia e os sanguentos conflitos entre muçulmanos e hindus, provocaram a divisão da região em duas partes, a Índia, maioritariamente hindu e o Paquistão, quase na sua totalidade muçulmana. Linguisticamente, o Paquistão era formado por duas partes, o lado Ocidental e o lado Oriental. Apesar de serem muçulmanos, tinham ideais políticos e línguas diferentes. O Paquistão ocidental com a língua Urdu e a parte oriental com a língua Bengali. O Governo Central do Paquistão instituiu o Urdu, como língua oficial do país, o que veio agravar ainda mais os conflitos.
Podemos considerar que a imposição da língua urdu aos falantes da língua bengali, acelerou a vontade dos paquistaneses orientais, para uma identidade própria não só linguística, mas também em termos de soberania.
Entre 1950 e 1952, os residentes na parte oriental do Paquistão, manifestaram-se contra o governo central ocidental, com o propósito de criarem uma identidade nacional do povo de bengala oriental e do reconhecimento oficial da língua bengali.
Um ciclone devastou a costa do Paquistão oriental, causando milhares de mortos. A resposta do governo central do Paquistão ocidental não foi a mais eficaz, deixando a população do lado oriental sem apoios e descontente, acelerando assim as animosidades entre os dois lados.
O surgimento em 1952 do movimento pela língua bengali foi um factor determinante para um atrito com o governo central. A língua Bengali tornou-se um símbolo importante na luta pela autodeterminação e independência. No dia 21 de Fevereiro de 1952 estudantes activistas foram mortos quando se manifestavam reivindicando que a língua bengali fosse considerada como língua oficial ancestral do Paquistão.
Provavelmente será o único país cujos nacionais foram assassinados por defenderem a sua língua materna.
Estes trágicos acontecimentos influenciaram a Unesco que decidiu considerar o 21 de Fevereiro como Dia Internacional da Língua – Mãe, formalmente reconhecida pelas Nações Unidas, para proteger todas as línguas faladas no mundo. A data é comemorada também em Portugal, em defesa e enaltecimento da nossa língua materna, a língua de Camões, esta nossa língua doce e agradável, como alguém já a chamou, falada por milhões, não só de portugueses, como também por outros povos além-mar.
No Paquistão oriental, a grande insatisfação contra as políticas económicas e sociais, a imposição da língua urdu para as populações falantes do bengali, fez emergir a Liga Awami, como voz política da insatisfação dos bengalis.
Na década de 1960 as manifestações aumentaram e o governo central proibiu a Liga Awami de assumir os seus lugares no parlamento, apesar de terem ganho a maioria e Mujibur Rahman o seu líder foi preso. A ofensiva militar do governo central causou inúmeras mortes, pelos métodos sangrentos utilizados. Mais tarde, Mujibr Rahman foi libertado depois da pressão dos Estados Unidos da América.
Em Maio de 1961 outra batalha pela língua bengali teve lugar em Silchar, onde 11 pessoas foram mortas pela polícia e o governo central teve de retroceder.
Seguiram 9 meses de guerra civil no então Paquistão, entre as duas partes, a oriental e a ocidental.
Todos estes acontecimentos originaram em 1971 a divisão do Paquistão em duas nações, o Paquistão (antiga parte do bengala ocidental) e o Bangladesh, assumindo a sua independência, ocupando a parte oriental do Bengala.
Assim, os bengalis, defendendo a sua própria língua, contribuíram para o nascimento do país que hoje conhecemos como Bangladesh.
O memorial dos Mártires do Dia Internacional da Língua Materna do Bangladesh, inaugurada em Dezembro de 2016, é uma versão, em menor escala, do Monumento Shaheed Minar que se encontra em Daca, capital do Bangladesh, produzido pelo escultor Hamidur Rahman.
Os mártires que deram a vida pela língua bengali, são recordados nesta Praceta da Rua Chã, na cidade do Porto, com eventos anuais, com a presença de convidados e entidades oficiais portuguesas.

Quando é que a língua foi única neste mundo? Sempre existirão diversas línguas, formando diversas nações, cada uma com os seus heróis, mas todos irmãos, vivendo num mundo cada mais global. Que as línguas não sejam motivos de separações, mas sim de concórdia e tolerância entre todos os povos. Muito obrigado pela vossa presença. Que Deus, Guia de toda a humanidade, vos acompanhe".

Wa ma alaina il lal balá gul mubin" "E não nos cabe mais do que transmitir claramente a mensagem". Surat Yácin 36:17.

Assalamo Aleikum Warahmatulah Wabarakatuhu (Com a Paz, a Misericórdia e as Bênçãos de Deus)

quarta-feira, setembro 27, 2017

ALGUNS FATOS RELEVANTES POUCO DIVULGADOS QUANTO AO TERRORISMO E O PAPEL DO EXTREMISMO EXACERBADO E DOENTIO

Por: Sheikh Ragip para o Fórum Inter-religioso 24/08/2017 

BISMILLAH IR-RAHMAN IR-RAHIM 1- INTRODUÇÃO Prezados membros do Fórum Inter-religioso, senhoras e senhores, diante de tantas tragédias que se sucedem de forma tão sistemática em tantos lugares queremos levar à vossa consideração alguns fatos, por acreditar serem importantes para compreensão do fenômeno do terrorismo e também importantes neste processo de diálogo e esforço por construção de paz e justiça. Os fatos a seguir raramente são considerados ao ser abordado o problema do terrorismo na época atual, embora sejam muito relevantes para uma compreensão verdadeira do problema. 

2- TERRORISMO EM BARCELONA Com o coração consternado pela perda de vidas inocentes, vimos, mais uma vez, a monstruosidade do extremismo doentio atuar de forma tenebrosa na cidade de Barcelona, em 17/08. Solidarizamo-nos com as vítimas do extremismo doentio que mais uma vez atuou de forma tenebrosa. É chocante ver a vida humana, dádiva maior de nosso Criador para nós humanos, ser desprezada de forma tão brutal. Cada notícia que chega de um ataque, onde quer que aconteça, nos atinge com dor e pesar no mais intimo de nosso ser. Queremos que todos saibam que tais atrocidades não encontram amparo nos ensinamentos islâmicos, os quais exortam ao bem, ao aperfeiçoamento pessoal, ao aperfeiçoamento moral do caráter, e à prática da virtude. O mundo islâmico também é vitimado por tais crimes, numa escala muito maior, em frequência e em número de vítimas, como será exposto no próximo item. 

3- TERRORISMO NO MUNDO ISLÂMICO Nossa consternação e dor são imensas por tanto sofrimento e atrocidade que também assola países islâmicos, em escala sem precedentes e numa intensidade extremada. Ao nosso pesar pela perda de vidas junta-se nosso pesar pelo desconhecimento geral de fatos tão chocantes, pela indiferença com são tratadas tais tragédias no mundo islâmico e pelos diagnósticos distorcidos das verdadeiras causas. Os ataques terroristas contra população muçulmana, no conjunto dos países islâmicos, são da ordem de centenas a cada ano, ceifando milhares de vidas inocentes. Ataques indiscriminados, contra inocentes, mulheres, crianças, em qualquer lugar a qualquer hora, em escolas, hospitais, mesquitas, mercados, nas ruas, em qualquer lugar. E aqui, no mundo ocidental, em nosso país, por exemplo, sequer são noticiados. Às vezes uma nota de pé de página em algum jornal, ou comentário passageiro em uma ou outra rede de TV. Nada comparado com a grande cobertura e repercussão que vemos quando tais tragédias ocorrem em outros locais, fora do mundo islâmico. Para ilustrar estas palavras, considere-se o caso de Burqina Faso, pequeno pais africano de maioria islâmica. Três dias antes do ataque em Barcelona, em 14/08, na capital do país, ataque a restaurante ceifou 18 vidas e 12 feridos. Entre as vítimas estavam grandes nomes da comunidade islâmica, como, por exemplo, Sheikh Waleed, reitor da universidade islâmica do Kuwait, que Deus o acolha em Sua Misericórdia, que estava em visita ao país. Tal atrocidade mal foi noticiada por aqui, talvez muitos dos senhores sequer ficaram sabendo. Outro exemplo: Após ataque à uma Igreja no Paquistão, em 28/03/2015, quando o fato foi noticiado, foram relacionados mais 4 ataques a cristãos em 4 outros países islâmicos ocorridos em anos anteriores, o que induzia, falsamente, a que estaria acontecendo uma perseguição sistemática a cristãos em países islâmicos. Na forma como foi feita a divulgação não houve o cuidado de verificar, naquela ocasião, se o que o artigo induzia a pensar era verdadeiro ou não. No entanto a verdade é bem diferente. No Paquistão, de 2002 a 2015, ocorreram 101 ataques a mesquitas com 1.330 muçulmanos mortos e 2.711 muçulmanos feridos. Atentados praticados por extremistas criminosos que atacam quem discorde de suas doentias opiniões políticas, quer sejam muçulmanos ou não. Como se trata de país muçulmano a mortalidade dos ataques é centenas de vez maior contra a população muçulmana. Mas a mídia ocidental nada, ou muito pouco, divulga destes ataques. Mas quando alguém ou algo da minoria não muçulmana é atingido o fato ganha grande repercussão. Estas distorções na qualidade das informações induzem à população em geral e pensar que com tais ataques muçulmanos estão perseguindo não-muçulmanos, o que é completamente falso. Esta falsa conclusão leva a diagnósticos errados das verdadeiras causas do terrorismo, alimenta preconceitos, tende polarizar as relações entre os povos e a agravar conflitos. E também alimenta o extremismo contra muçulmanos.

4- EXPOSIÇÃO CALUNIOSA DO ISLAM ALGUNS FATOS RELEVANTES POUCO DIVULGADOS QUANTO AO TERRORISMO E O PAPEL DO EXTREMISMO EXACERBADO E DOENTIO -  Portanto, além desta tragédia contra a vida humana, que é a maior de todas tragédias, por serem ataques contra a vida, que é nosso bem maior, há outra tragédia correndo junta e de que também muitos não se dão conta. É a tragédia da exposição caluniosa e da detratação sistemática de uma religião, no caso o Islam. Uma religião que conta com mais de 2, 2 bilhão de membros. Em 13 de agosto, em Charlottesville, Estados Unidos, supremacista branco atropela multidão. Morreram 3 pessoas, 19 pessoas feridas no atropelamento e mais 35 feridos em confrontos. Observa-se que não foi feita nenhuma referência à religião do terrorista, que está longe de ser o Islam. Não mencionar a religião do terrorista é um correto cuidado com a justiça pois sua religião certamente condena seu crime, mas este correto cuidado com a justiça não existe no caso do Islam. Ainda na França, na última semana: 14/08, segunda-feira: Motorista, de origem francesa, 32 anos, invadiu, com seu carro, pizzaria em Paris, uma pessoa morreu, dezenas de feridos, religião desconhecida. 21/08, segunda-feira: Motorista de origem francesa, 32 anos, avança, com seu carro, contra dois pontos de ônibus em Marselha, uma pessoa morreu outra ferida, religião desconhecida. Nos dois exemplos ocorridos na França acima, é bem conhecida a repercussão que tais crimes teriam se fosse possível associar de alguma forma os criminosos ao Islam. Como isso não foi possível, a divulgação dos crimes não teve a intensa repercussão que se vê quando o criminoso tem nome árabe ou é de origem de país islâmico. No caso de um criminoso oriundo de país islâmico, ou com nome árabe, além da enorme divulgação e repercussão, na mídia em geral, é induzida relação com o Islam, difamando o Islam ao induzir a pensar que o Islam está de alguma forma associado a tais monstruosidades. O que é mentira. Mais quatro fatos relevantes: 1- Os ataques terroristas por extremistas políticos internos nos Estados Unidos são dezenas de vezes mais frequentes, naquele país, que os ataques atribuídos a terroristas erroneamente chamados de islâmicos. 2- Não é feita nenhuma referência à religião destes terroristas políticos internos, cuja religião não é o Islam. Este cuidado é correto. 3- Quando criminosos de outras religiões, que não a islâmica, praticam seus crimes, não é feita qualquer referência à sua religião. Este cuidado é correto. Mas quando um criminoso tem nome árabe, ou é oriundo de um país islâmico, o crime é imediatamente associado ao Islam. Mas ter nome árabe não significa que o indivíduo é seguidor do Islam, e ter origem em país islâmico também não significa que o indivíduo é seguidor do Islam. É de uma superficialidade, frivolidade e ignorância enormes concluir que um criminoso, por ter nome árabe ou por ser oriundo de pais islâmico, seja seguidor do Islam. Ora, se fosse seguidor do Islam, não estaria praticando tais crimes. Da mesma forma é de superficialidade, frivolidade e ignorância enormes associar a religião islâmica ao terrorismo. 

5- A EXPRESSÃO “TERRORISMO ISLÂMICO” É FALSA E CALUNIOSA, PROMOVE DISCRIMINAÇÃO E ÓDIO A expressão “terrorismo islâmico” é caluniosa pois induz a pensar que a religião islâmica está de alguma forma associada ao terrorismo, aprovando ou estimulando sua prática. Mas a verdade é que a Jurisprudência Islâmica Consolidada condena o terrorismo e o qualifica como crime. Há uma coalizão de mais de 40 países islâmicos, liderados pela Arábia Saudita, formada para combater o terrorismo. Esta coalizão atua em parceria com a coalizão de países ocidentais, para enfrentar o ISIS erroneamente denominado “Estado Islâmico”. Aliás a jurisprudência dos Países Islâmicos não considerada o ISIS sequer um estado e sim um grupo terrorista, e muito menos islâmico, uma vez que suas ações nefastas são uma afronta à ética islâmica. Só estas poucas e breves informações acima, fariam uma pessoa com um mínimo de utilização de sua capacidade racional, perceber que há algo errado na expressão “Terrorismo Islâmico”. Informações como esta não são divulgadas nem repercutidas. Associar o Islam ao terrorismo é uma mentira, uma calúnia que induz à discriminação, ao preconceito e ao ódio contra muçulmanos. Vale dizer que não faltam estudos sérios, feitos por universidades ocidentais que comprovam que não há relação entre Islam e Terrorismo, além das sentenças categóricas das instituições de jurisprudência islâmica e das universidades de teologia islâmica condenando o terrorismo como crime. A estrutura da frase caluniosa é “nome de um crime” mais “nome da religião”. Isto é passível de ser feito com qualquer religião. Para entender este ponto de vista basta fazer um exercício de simulação de montagem de frases como esta, com o nome de outras religiões e outros tipos de crimes. MAS NÃO SE DEVE ASSOCIAR NENHUMA RELIGIÃO A CRIME. As religiões educam em valores e ética, estimulam o aperfeiçoamento do caráter. Quem comete crimes são pessoas desajustadas ou com psicopatia, e que, ao cometerem seus crimes estão corrompendo os preceitos de suas religiões e não estão seguindo os princípios éticos das mesmas. Fazer tais associações é uma falsidade caluniosa que induz ao preconceito, à discriminação e ao ódio, justamente o que o Fórum Inter-religioso se propõe a combater. SOLICITAÇÃO Solicito que nos documentos, e-mails e materiais produzidos pelo Fórum não se utilize mais a expressão “Terrorismo Islâmico”, pois tal coisa não existe, pois a Jurisprudência Islâmica condena o terrorismo, os países islâmicos combatem o terrorismo, e os países islâmicos são as maiores vítimas de terrorismo em frequência de atentados sofridos e em número de vítimas. Solicito que nós muçulmanos sejamos objeto do mesmo cuidado com a verdade e a justiça que se deve ter com todas as religiões, não associando ao Islam os crimes cometidos por desajustados e criminosos que deturpam ou afrontam os princípios da ética e da justiça islâmica.

6- A ESTRUTURA DAS CAMPANHAS DE ÓDIO CONTRA O ISLAM - DETURPAÇÃO DOS SENTIDOS DO ALCORÃO 
Entre os meios utilizados está a desvirtuação dos sentidos do Sagrado Alcorão. Em primeiro lugar: O Alcorão é o livro original em árabe. Uma tradução do Sagrado Alcorão para o português, ou qualquer outro idioma, não é considerada Alcorão, uma vez que as traduções perdem ou alteram o significado do original. A exegese do Sagrado Alcorão é uma ciência na teologia islâmica, que requer o conhecimento de diversas disciplinas e formação específica em cursos de nível superior em universidades islâmicas. Nenhum muçulmano, nenhum Sheikh ou Iman pode fazer interpretações do Sagrado Alcorão com base em sua opinião pessoal, todos devemos seguir a exegese dos exegetas qualificados, começando pela exegese feita pelo próprio Profeta saws. As orientações éticas aos fiéis são feitas com base nesta exegese qualificada, derivada de metodologia própria. Assim, quando se vê um caluniador recortar versículos do sagrado Alcorão, em português ou qualquer outro idioma, e jogar e cima de um texto Sagrado suas considerações, por vezes doentias, talvez fruto de perversões do próprio caráter, já se sabe tratar-se de um indivíduo que não sabe o que está fazendo. Nada sabe da religião islâmica mas se permite deturpar um texto Sagrado para seus próprios fins. E pior, dar repercussão a tais deturpações. Antes de formar suas falsas opiniões, sequer tem o mínimo cuidado de procurar saber, em fontes islâmicas qualificadas, como os muçulmanos compreendem e são instruídos com base em tais textos. Qualquer religião, assim como o Islam, pode ser alvo deste tipo de ataque contra suas escrituras e preceitos sagrados. Além deste tipo de distorção, caluniadores montam textos com base em mentiras, em dados errados ou incompletos e ocultação das verdadeiras causas das tragédias que assolam o mundo islâmico. Depois material desqualificado e calunioso deste tipo é colocado em massa, em enorme volume, nos meios eletrônicos, em páginas na internet, facebook, redes de whatsapp, alcançando milhares talvez muito mais pessoas. Mas o pior é lideranças religiosas ou professores universitários utilizarem este tipo de material desqualificado para formarem suas opiniões e de seus seguidores. Que pensar da responsabilidade de profissionais deste tipo? 

7- O EXTREMISMO PODE ACOMETER QUALQUER ATIVIDADE HUMANA E PREJUDICA A TODOS 
Por falta de informação ou desconhecimento, por negligência na formação de opinião, há pessoas que aprovam a detratação caluniosa do Islam, não se dando conta de que as informações que consomem são fruto de ataques de extremistas. Estas pessoas também não se dão conta de que sua religião ou filosofia, em algum momento, por ser alvo do mesmo assédio calunioso ou campanhas de ódio, pelos mesmos extremistas que hoje caluniam o Islam. A história nos ensina isso. Basta relembrar as tragédias das guerras mundiais. Quando a França foi invadida na 2ª guerra mundial, houve franceses que pensaram: Não sou judeu, nem cigano, nem negro, então certamente não vou ser afetado do mesmo jeito. Mas, quando a doentia dominação nazista se consolidou na França, estes mesmos franceses, que não queriam ou não podiam sair da França, se viram forçados pelo regime extremista que se instalou no seu país a optar por: 1- Morrer moralmente, ao serem forçados a colaborar com o monstruoso regime na prática de suas atrocidades, ou morrer fisicamente. Aliás, diga-se de passagem, os próprios cidadãos alemães, que silenciaram ou se empolgaram com a ascensão do nazismo, se viram depois, colhidos na própria armadilha, forçados, submetidos ao poder extremista que controlava o país, a escolher entre a aniquilação moral e aniquilação física. O extremismo doentio não poupa ninguém que discorde de suas posições e acolhe os métodos mais extremos e criminosos para atingir seus fins. A doença do extremismo exacerbado pode acometer qualquer povo, religião, cultura, ou preferência política. Nem o futebol, um esporte, está livre do extremismo doentio exacerbado, como vemos com tanta frequência em nosso país. Hoje o Islam é objeto deste assédio em campanhas de ódio, nada garante que outra religião ou atividade humana não possa ser também sujeita e este assédio. Como cidadão brasileiro, penso que todos, que vivemos neste país, temos o dever de não dar repercussão ou promover material calunioso de qualquer espécie.

PORTANTO, NEM O ISLAM, NEM QUALQUER OUTRA RELIGIÃO, SÃO O PROBLEMA. O EXTREMISMO DOENTIO É O PROBLEMA. SEJA O EXTREMISMO DE INDIVÍDUOS E GRUPOS CRIMINOSOS. SEJA O EXTREMISMO DOS QUE SE JULGAM NO DIREITO DE INVADIR OUTROS PAISES E DESTRUIR SUAS ESTRUTURAS RELIGIOSAS, ECONÔMICAS, EDUCACIONAIS, SOCIAIS E CULTURAIS QUE SÃO O SUSTENTÁCULO DE SUA ESTABILIDADE, GERANDO CONSEQUÊNCIAS, DECORRENTES DA INSTABILIDADE RESULTANTE, DESASTROSAS PARA TODOS, INCLUSIVE PARA OS QUE NÃO ESTÃO ENVOLVIDOS NESTES CRIMES. PODEMOS TAMBÉM INCLUIR AQUI O EXTREMISMO DOENTIO DOS QUE SE DEDICAM A CAMPANHAS DE ÓDIO, EM SERMÕES OU EM MEIOS ELETRÔNICOS, FUNDAMENTADAS EM DISTORÇÃO DA VERDADE, FALSAS E MENTIROSAS INTERPRETAÇÕES DE TEXTOS SAGRADOS, OU EM MENTIRAS PROPRIAMENTE DITAS. 

8- CONCLUSÕES 
Neste ítem, para resumir, segue uma revisão final dos principais pontos elencados neste texto:

1- Os ensinamentos da religião islâmica, como as demais religiões, exortam ao bem, ao aperfeiçoamento pessoal, ao aperfeiçoamento moral do caráter, e à prática da virtude.
2-A religião islâmica, através da jurisprudência consolidada, condena o terrorismo como crime. 
3- Os ataques terroristas assolam os países islâmicos com frequência centenas de vezes maior que em países ocidentais. Somente no Paquistão de 2002 a 2015, ocorreram 101 ataques a mesquitas com 1.330 muçulmanos mortos e 2.711 muçulmanos feridos.
4- A exposição dos ataques terroristas na mídia, em geral, é tendenciosa, grande repercussão é dada em ataques que ocorrem em países ocidentais e quase nada é informado quanto a ataques ocorridos em países islâmicos, que têm frequência centenas de vezes maior, com dezenas de milhares de vítimas. 
5- Esta exposição tendenciosa tende a formar uma ideia errônea de que muçulmanos atacam os valores ocidentais. Mas a verdade é: Terroristas extremistas atacam não só os valores ocidentais, atacam também os valores e princípios da ética islâmica. 
6- Há uma coalizão de mais de 40 países islâmicos, liderados pela Arábia Saudita, formada para combater o terrorismo. Esta coalizão atua em parceria com a coalizão de países ocidentais, para enfrentar o ISIS erroneamente denominado “Estado Islâmico”.
7- A jurisprudência dos Países Islâmicos não considerada o ISIS sequer um estado e sim um grupo terrorista, e muito menos islâmico, uma vez que suas ações nefastas são uma afronta à ética islâmica. A utilização da expressão “Estado Islâmico” presta-se assim a ser mais um instrumento na campanha de ódio contra o Islam. 
8- Quem comete crimes são criminosos, pessoas desajustadas ou psicopatas acometidos por transtorno de comportamento antissocial, que se afastam dos ensinamentos éticos de suas religiões ou os rejeitam. Sendo assim nenhuma religião, inclusive o Islam, não pode ser imputada quanto aos crimes praticados por estes criminosos.
9- O fato de um criminoso ter nome árabe ou ser oriundo de um país árabe ou islâmico não significa que está seguindo os ensinamentos do Islam. Ora se estivesse seguindo os ensinamentos do Islam não seria criminoso. Mas de forma tendenciosa, na divulgação midiática, sua ação nefasta é associada ao islam. 
10- A exposição tendenciosa da mídia alimenta extremismo, ao estimular ódio e revolta em pessoas de boa índole, que ficam indignados por serem levados a pensar que a religião islâmica dá respaldo a tais ataques hediondos
11- Extremistas assim motivados por ódio, movem campanhas de ódio contra o Islam, alimentando meios eletrônicos com informações falsas e distorções grosseiras dos significados do Sagrado Alcorão e mentiras caluniosas. 
12- Profissionais irresponsáveis e negligentes tomam estas acusações falsas e caluniosas como verdadeiras e lhes dão repercussão, inclusive em meios universitários. 
13- Mas não se deve associar nenhuma religião, o que inclui o Islam, a crime. As religiões educam em valores e ética, estimulam o aperfeiçoamento do caráter. Quem comete crimes são pessoas desajustadas ou com psicopatia, e que, ao cometerem seus crimes estão corrompendo os preceitos de suas religiões e não estão seguindo os princípios éticos das mesmas. 
14- Hoje o Islam é objeto de campanhas de ódio, mas qualquer religião pode ser objeto de campanhas de ódio movidas por extremistas. 
15- Acolher e valorizar o extremismo, em campanhas de ódio, é ignorar as lições da história, pois o extremismo tende a se exacerbar cada vez mais. 
16- Para promover o bem e a paz todos temos o dever de repudiar o extremismo e campanhas de ódio de qualquer tipo, em qualquer atividade humana. Todos inclui todos: Religiosos, não religiosos, lideranças religiosas ou não, estudantes professores, profissionais de mídia, pois aquilo que produzimos e aquilo que compartilhamos e damos ampla repercussão, representa nosso contribuição para formação dos valores e conduta de nosso país, e delineia nosso futuro como nação
17- O Islam conta com mais de 2,2 bilhões de seguidores, sendo maioria em mais de 50 países.
18- O extremismo ficou exacerbado em países que tiveram sua estabilidade destroçada, com a destruição das estruturas religiosas, educacionais, econômicas, sociais e culturais, que davam estabilidade ao país.
19- Diante de temas de tanta complexidade, o diálogo e a responsabilidade na formação de opinião, a promoção do respeito mútuo, da justiça e da cultura de paz são um imperativo cada vez maior. 9- PALAVRAS FINAIS Estamos alinhamos à população brasileira, e aos valores de nosso País, no repúdio a todo extremismo, onde quer que se manifeste, em qualquer de suas formas, e na defesa dos valores de tolerância, respeito, solidariedade, justiça e cultura de paz. E queremos que saibam que assim fazendo, estamos em perfeita sintonia com os ditames e princípios do Islam, que nos orienta para a prática do bem, da justiça e busca da boa convivência e paz. Peço-lhes que me perdoem algum erro ou imprecisão inadvertidamente cometidos na redação deste texto. Que Deus permita que estes breves e apressados comentários em assunto tão complexo, sejam uma contribuição positiva para construção do diálogo, da compreensão mútua e da paz, peço ainda que o Criador perdoe erros que eu possa ter cometido sem perceber, e não permita que causem nenhum dano ou injustiça a nada nem a ninguém

sexta-feira, setembro 08, 2017

Apelo pelos Rohingya, minoria em fuga da violência em Myanmar

"A humanidade ficou em silêncio diante do massacre em Myanmar" 
Prezados Irmãos, Saúdo-vos com a saudação do Islão, "Assalam alaikum", (que a Paz esteja convosco), que representa o sincero esforço dos crentes por estender o amor e a tolerância entre as pessoas, seja qual for o seu idioma,crença ou sociedade.
Apelo do Papa pelos Rohingya, minoria em fuga da violência em Myanmar http://br.radiovaticana.va/news/2017/08/27/apelo_do_papa_pelos_rohingya,_minoria_em_fuga_de_myanmar/1333113 Cidade do Vaticano (RV) – Após a oração do Angelus e antes de saudar os presentes na Praça São Pedro, o Papa Francisco expressou sua proximidade às populações de Bangladesh, Nepal e Índia, atingidas por grandes inundações nos dias passados, rezando “pelas vítimas e por todos aqueles que sofrem por causa destas calamidades”.
A seguir, o Papa voltou seu pensamento e orações à Myanmar:“Chegaram tristes notícias sobre a perseguição contra a minoria religiosa, os nossos irmãos Rohingya. Gostaria de expressar toda a minha proximidade a eles, e todos nós pedimos ao Senhor para salvá-los e para suscitar homens e mulheres de boa vontade para ajudá-los, que deem a eles plenos direitos”.De fato, no país, em particular no Estado de Rakhine, são cerca de 92 os mortos causados pelas violênciasque explodiram na última sexta-feira e que deixaram sobretudo vítimas civis.
Nestas últimas horas, milhares de civis da minoria muçulmana dos Rohingya se aglomeram na fronteira com Bangladesh, em fuga da violência do exército.
Segundo um jornalista da Agência France Press que está no local, guardas de fronteira relatam que “dispararam contra mulheres e crianças que haviam encontrado abrigo atrás das colinas próximas à fronteira,
usando morteiros e metralhadoras, sem terem nos avisado”.
No sábado, 26, uma Comissão nomeada pelo Governo e guiada pelo ex-Secretário Geral da ONU, Kofi Annan, publicou um relatório sobre o Estado de Rakhine onde vive esta minoria muçulmana, recomendando não somente que se organize para que sejam concedidas a eles a cidadania, mas também que sejam implementadas medidas que promovam o desenvolvimento económico e a justiça social.
Myanmar passa por uma grave crise. Nem mesmo a posse no governo da Prêmio Nobel Aung San Suu Kyi, em março de 2016, após 49 anos de ditadura militar, trouxe o fim dos conflitos e a perseguição contra a minoria Rohingya.
Este povo - formado por 1 milhão de pessoas entre os 54 milhões de habitantes do país, com 90% de budistas – é muito discriminado. Eles são privados de cidadania e de direitos fundamentais por uma lei aprovada em 1982. 
Não sendo considerados como pertencentes a nenhum dos 35 grupos étnicos oficialmente reconhecidos, são impedidos de votar. A bem da verdade, eles formam uma “casta” invisível de refugiados internos, que não têm acesso ao mundo do trabalho e somente um acesso parcial à saúde.
Em 2016 ao menos 72.000 Rohingya fugiram para Bangladesh, mas ninguém quer acolher estas embarcações cheias de desesperados e se fala até mesmo de uma ilha onde confiná-los.
Ao final da Audiência Geral de 8 de fevereiro o Papa Francisco já havia lançado um apelo em favor deles: “Eu gostaria de rezar com vocês, hoje , de modo especial pelos nossos irmãos e irmãs Rohingya: expulsos de Myanmar, vão de um lugar a outro porque não os querem, ninguém os quer. É gente boa, gente pacífica. Não são cristãos, são bons, são irmãos e irmãs nossos! Há anos sofrem. Foram torturados, mortos, simplesmente porque levam em frente as suas tradições, a sua fé muçulmana”.
Para a Secretária Geral das relações Itália-Myanmar, Cecilia Brighi, a Igreja tem um papel importantíssimo para a construção do diálogo nesta região.
Em um relatório publicado recentemente pelo Escritório dos Direitos Humanos das Nações Unidas, cerca
de 220 testemunhos relataram “assassinatos de crianças, mulheres e idosos, estupros e violências sexuais sistemáticas em grande escala, destruição intencional de alimentos e fontes de sustento”, o que leva a crer em “limpeza étnica”.
Os abusos contra os Rohingya tiveram origem nos 50 anos de uma ditadura militar, que sempre reprimiu as minorias étnicas budistas e muçulmanas para atingir os seus objetivos, entre os quais a exploração das riquezas naturais.
Sobe para 400 o número de mortos na Birmânia Cerca de 400 pessoas morreram na Birmânia em uma semana de conflitos que têm como alvo os muçulmanos http://www.trt.net.tr/portuguese/mundo/2017/09/01/sobe-para-400-o-numero-de-mortos-na-birmania-799816 O número de muçulmanos assassinados na Birmânia chegou a 400 em uma semana.
Budistas nacionalistas incendiaram casas de povoados de muçulmanos, cuja única saída é abandonarem suas casas e escapar, a fim de salvarem suas vidas. Os muçulmanos de Arakan continuam fugindo para Bangladesh. Os que chegam à Bangladesh também falam de massacres. Cadáveres flutuam na água como consequência do naufrágio dos botes no rio que faz fronteira entre Bangladesh e a Birmânia.Cerca de 40 pessoas morreram afogadas em dois dias.Os muçulmanos de Arakan afirmam que a comunidade internacional está indiferente ao passo que a Turquia, Reino Unido e Malásia, estão levantando sua voz diante desta situação. Erdoğan: "A humanidade ficou em silêncio diante do massacre em Myanmar"O governante Recep Tayyip Erdoğan disse que o processo de Mianmar estará na agenda da Assembléia Geral das Nações Unidas em 19 de setembro http://www.trt.net.tr/portuguese/turquia/2017/09/05/erdogan-ahumanidade-ficou-em-silencio-diante-do-massacre-em-myanmar801096
O presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, dirigindo--se aos cidadãos após o funeral de um mártir na cidadede Çatalça em Istambul, destacou a tragédia dos muçulmanos de Rakhine (Arakan) em Mianmar.
"A humanidade permaneceu em silêncio ante ao massacre em Myanmar", disse. Declarou que falará com os líderes sobre a questão durante a Assembléia Geral da ONU em 19 de setembro.
 O SALDO DE 2017 Arábia Saudita qualificou de “um sucesso” a Peregrinação a Meca As autoridades sauditas afirmam que o Hajj (a Peregrinação a Meca) este ano foi "excepcional em todos os níveis". Cerca de 2,3 milhões de muçulmanos compareceram na cidade sagrada para o ritual sacrifício, sem incidentes. Em 2015, um estrondo e uma fuga impetuosa humana deixou mais de 2.000 mortos.
O governador da província saudita de Meca, Khaled al Faisal, qualificou o "Hajj" deste ano (Peregrinação ritual à cidade sagrada muçulmana) como "bem-sucedido", afirmando que foi "excepcional em todos os níveis".
Em conferência de imprensa, Al Faisal, que também preside o Comitê Central da Peregrinação, acrescentou que a Arábia Saudita tomou as suas medidas anuais de segurança e de serviço para os peregrinos e que o Rei Salman bin Abdelaziz "supervisionou pessoalmente" a peregrinação deste ano, que terminou na segunda-feira.
Em 2015, mais de 2.400 pessoas morreram nesse lugar por um estrondo e um choque entre multidões.
Al Faisal também disse que o número de peregrinos aumentou 30% este ano, e acrescentou que o reino "está aberto" para todos os muçulmanos e que não põe travas "nem aos iranianos nem a outros" .
Este ano, regressam a Meca os fiéis iranianos após um ano de suspensão, bem como os cataris, apesar da crise diplomática entre o Catar e vários países do Golfo Pérsico, que começou no passado dia 5 de Junho.
De acordo com os últimos números divulgados pela Autoridade Saudita para as Estatísticas, 2.352,122 muçulmanos vieram para os locais sagrados para fazer o "Hajj", incluindo 130.299 sauditas. (Fonte: EFE)
bro, e precisou como atual presidente de turno da Organização para a Cooperação Islâmica, que tratou
desta matéria com cerca de 20 líderes internacionais.
"Infelizmente, grandes massacres muito foram realizados em Myanmar. A humanidade permaneceu de braços cruzados ante a todos esses massacres.
Creio que eles viram a situação de Mianmar e os muçulmanos em suas televisões. Viram como eles
estavam sofrendo. Viram como estavam sendo incediadas as suas aldeias. Nós, como a Turquia, com
Kızılay (Crescente Vermelho Turco) e com a AFAD (Presidência da Gestão de Desastres e Emergências), enviamos nossa ajuda e continuaremos a transportá-la", disse o presidente Erdoğan.
Enquanto isso, o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlüt Çavuşoğlu, manteve uma conversa
telefônica com o seu homólogo iraniano, Javad Zarif. Segundo as fontes diplomáticas, Çavuşoğlu e Zarif
abordaram a situação dos muçulmanos de Arakan. Indonésia pede a Birmânia que ponha fim
a seus atos violência em Arakan A ministra das Relações Exteriores da Indonésia reuniu-se com o chefe das Forças Armadas da Birmânia, o general Min Aung Hlain na Birmânia http://www.trt.net.tr/portuguese/mundo/2017/09/05/indonesia-pede-abirmania-que-ponha-fim-a-seus-atos-violencia-em-arakan-801340 A ministra das Relações Exteriores da Indonésia, Retno Marsudi, exortou o exército birmanês a interromper imediatamente a violência no estado de Arakan.
Em seu encontro com o chefe das Forças Armadas da Birmânia, o general Min Aung Hlain na Birmânia, Marsudi pediu o fim da violência em Arakan.
Marsudi enfatizou que o Exército birmanês deve cessar todos os tipos de atos de violência que ocorrem
no estado de Arakan e garantir a proteção de toda a população regional, incluindo os muçulmanos de Arakan.
Também enfatizou que as tentativas de reduzir a violência em Arakan devem ser a principal prioridade
das forças de segurança da Birmânia.
O general Hlain disse que o exército birmanês está se esforçando para a recuperação da estabilidade e da
segurança na região de Arakan
Obrigado. Wassalam.
M. Yiossuf Adamgy - Director da Revista Al Furqán 

quinta-feira, agosto 31, 2017

A Peregrinação a Meca (Hajj) e o Eid-al-Adha

A Peregrinação a Meca (Hajj) e o Eid-al-Adha Por todo o mundo, os muçulmanos celebram a festa mais importante da religião. No dia de Eid al-Adha, os crentes na fé islâmica sacrificam animais para partilharem com familiares, amigos e com os mais pobres. Coord. e adaptado por: Yiossuf Adamgy Prezados Irmãos, Saúdo-vos com a saudação do Islão, "Assalam alaikum", (que a Paz esteja convosco), que representa o sincero esforço dos crentes por estender o amor e a tolerância entre as pessoas, seja qual for o seu idioma, crença ou sociedade. Mais de Dois milhões de Peregrinos em Meca A cidade saudita recebe, esta semana, mais de dois milhões de peregrinos, procedentes de todo o mundo, numa travessia que, para muitos, será única. A Peregrinação a Meca, que acontece uma vez por ano, é um dos cinco pilares da religião islâmica e um dever para todo o muçulmano que tenha condições financeiras e físicas para fazer a viagem. A palavra “Hajj” significa a intenção de visitar. O Alcorão Sagrado mudou o seu significado linguístico geral para um significado específico, denominando um ritual islâmico em particular, um dos pilares do Islão. A Peregrinação (Hajj) no Islão constitui-se de um conjunto de atividades que o muçulmano cumpre, entre 96 46 o 8º e 12º dia do 12º mês do calendário lunar islâmico, o mês de “Zu-al-Hijjah”, na cidade sagrada de Meca (ár. Makkah), situada, atualmente, no Reino da Arábia Saudita, da forma que o último Mensageiro de Deus, Muhammad (s.a.w.) cumpriu. Todo o muçulmano, em condições financeiras e físicas, deve praticar Hajj, pelo menos uma vez na vida. Foi denominado de Hajj porque o muçulmano, que cumpre os rituais, se dirige para a Caaba (templo em formato cúbico, coberto por um pano da cor preta, erguido no centro da Grande Mesquita de Meca) e para outros locais sagrados, como Arafat, Mina e Muzdalifa, para cumprir os seus rituais. Rituais da Peregrinação (Hajj) Ihram: Antes de iniciar a jornada os fieis devem ingressar ao estado de autocontrole chamado de ihram, durante o qual o peregrino fica proibido de causar dano a criaturas vivas, mesmo insectos e plantas, ou elevar a voz em zanga. O estado de Ihram é determinado com o uso de duas peças não costuradas de tecido branco. O traje significa a igualdade de todos perante Deus. Não há especificação de trajes para as mulheres peregrinas. Desde o início do Ihram até o final da peregrinação o muçulmano não mais se barbeia, ou corta o cabelo, ou tem relações sexuais ou usa perfumes. Tawaf: Significa circungirar, no sentido anti-horário, sete vezes a Caaba que foi construída inicialmente pelo Profeta Abraão e seu filho Ismael (a.s.). A Caaba é considerada o primeiro santuário na terra dedicado à adoração de Deus Único. É um símbolo da unidade dos muçulmanos porque todas as orações, onde quer que sejam cumpridas, são orientadas na direcção da Caaba. Na Caaba também está presente a sagrada pedra negra, considerada uma prova material vinda dos céus. Sa’i: Consiste em percorrer sete vezes a distância entre dois pequenos montes, Safa e Marwa, perto da Caaba, em ritmo acelerado, para lembrar o desespero de Agar (mulher de Abraão) na procura de água para dar ao seu filho Ismael. Os fieis também bebem a água do poço de Zamzam, criada por Deus nas areias do deserto para salvar Agar e Ismael. A água de Zamzam, supostamente, tem poderes miraculosos. A chegada na fonte também marca o fim da jornada individual e o início da jornada colectiva. Depois do pôr-do-sol, os peregrinos dirigem-se para Mina, um local perto de Meca, onde acampam, passam a noite e devem realizar as suas orações. Termina aqui o primeiro dia do Hajj. Wucuf: Ocorre no 9º dia do mês Zu-al-Hijjah, é o ponto máximo da peregrinação. Os peregrinos deixam Mina em direção ao Monte de Arafat, um elevado cercado por um vale vazio ha 25km de Meca. Nesse dia os peregrinos se reúnem em assembleia no monte para meditar e suplicar perdão a Deus, rezando do nascer ao por do sol. Rendendo-se inteiramente à Onipotência de Deus. Após o pôr-do-sol os peregrinos dispersam, abandonando Arafat em direção a Muzdalifah onde fazem a oração da noite e lá deverão passar a noite em tem das. Durante a noite os fieis recolhem pequenas pedras que serão usadas num ritual do dia seguinte. É o arremesso de sete pedras, recolhidas em Mina, feito contra três pilares (pedras que eram adoradas como divindades nos tempos pré-islâmicos) que representam a tentação de Satanás a Abraão para abandonar Deus por ter ordenado que sacrifique o seu filho Ismail. O arremesso das pedrinhas indica a rejeição dos atos maléficos pelo peregrino. De seguida, começam os sacrifícios dos dias do Tashriq, em memória ao sacrifício de uma ovelha por Abraão, quando os fieis sacrificam ovelhas e doam a carne para os pobres. Muçulmanos em todo o mundo participam desse ritual. Mabit: Pernoitar em Mina e Muzdalifa. Os ritos terminam com o início das festividades de três dias que celebram o fim de Hajj, o Eid al-Adha ("Festa do Sacrifício"). Por último, o peregrino pode efetuar um voluntário tawaf e um sa´i antes de se despedir de Meca. Todo homem ou mulher que efetuou Hajj é chamado de hajji ou hajja respectivamente, alcançado um estatuto de respeito na comunidade e na família. Hajj é uma viagem da alma e do corpo. É o abandono da pessoa para se dedicar a Deus e a Sua causa. É o abandono da família, dos bens e dos prazeres mundanos. É o suportar do cansaço, das dificuldades e do sono, por amor a Deus, saudade d’Ele e em atendimento ao Seu chamamento: “E proclama a peregrinação às pessoas; elas virão a ti a pé, e montando toda espécie de camelos, de todo o longínquo lugar” (Alcorão Sagrado, 22:27).  
Obrigado. Wassalam. M. Yiossuf Adamgy - Diretor da Revista Al Furqán.

sexta-feira, agosto 25, 2017

Dia de Eid-Al-Adha: Obediência de Abraão – “A festa do Sacrifício”

Sentido, finalidades, regras e questões práticas prezados irmãos, saúdo-vos com a saudação do islão, "Assalam alaikum", (que a paz esteja convosco), que representa o sincero esforço dos crentes por estender o amor e a tolerância entre as pessoas, seja qual for o seu idioma, crença ou sociedade.
O primeiro dia doEid-al-Adha, "A festa do sacrifício" Será realizada, in cha allah, sexta-feira, 01 de setembro. Esta festa comemora o sacrifico do profeta Abraão (paz esteja com ele), e marca o fim do período da peregrinação a Meca, que é refletida em todo o mundo pelo abate de ovelhas, vacas …, ao longo de um período de entre 1 a 4 dias ou de 01 a 04 de setembro. Tentar-se-á responder neste texto a todas as questões de significado, propósito e regras sobre o ritual a que muitos cidadãos muçulmanos portugueses permanecem ligados como forma de culto.
1- Quantas festas há na religião muçulmana? O calendário muçulmano tem dois grandes festivais: O festival de eid-al-adha, "O festival de quebrar o jejum", também conhecido como eid-al-saghir, "A pequena festa", que marca o fim do Ramadão, e o festival de eidal-adha, a "Festa do sacrifício", chamada igualmente eid al-quibir, "A grande festa", que marca o fim do período da peregrinação a Meca, um dos cinco pilares do Islão.
2 - qual é o significado da festa do sacrifício para os muçulmanos? Este festival comemora o sacrifício que deus pediu a Abraão (paz esteja com ele) para o testar e testar a sua fé. Na tradição muçulmana, abraão (p.e.c.e.) é o pai dos profetas, cognominado de "Ibrahim al kalilullah", isto é, o amigo fiel de Allah. Ele era um amigo fiel de deus e é a ele que deus vai colocar o teste mais difícil de todos: Sacrificar o seu único filho Ismael (p.e.c.e.) que nasceu da sua esposa Hajar (Hagar), em nome de sua fé. Isso é muito mais do que sacrificar-se a si mesmo; é mais do que uma prova de vida, uma falha, uma tragédia ou um acidente vivo; é muito mais difícil do que a separação, doença ou perda de um ente querido. Ibrahim (a.s.) e seu filho Ismael (a.s.) uniram-se para se submeterem à vontade de deus. Abraão preparava-se para sacrificar Ismael, quando foi interrompido pelo arcanjo Jibril (Gabriel) e Ismael foi substituído por um carneiro. Abraão (p.e.c.e.) foi escolher entre o amor de deus e o amor de seu único filho naquele momento. Ele escolheu o amor de deus que fez com que o seu filho ismail (a.s.) ficasse vivo. Os muçulmanos comemoram esta prova, de dois amores, sacrificando um animal.
-3. Qual é o estatuto da festa do sacrifício no Islão? A maioria dos estudiosos muçulmanos acredita que esta é uma tradição profética altamente recomendada para os muçulmanos que têm os meios financeiros para o fazer. O muçulmano não tem que pedir dinheiro emprestado para comprar um animal para o sacrifício.
4 - como é fixada a data da festa do sacrifício? As festas muçulmanas são temporizadas de acordo com o calendário lunar. [1] a festa do sacrifício é celebrada no décimo dia do último mês do ano lunar, após o encontro de milhões de peregrinos [2] no monte Arafat [3] em Meca (makkah). A data do eid al-quibir, como o início ou o fim do Ramadão, "Retrocede" Cerca de 11 dias a cada ano no calendário gregoriano.
5- os muçulmanos comemoram o Eid todos no mesmo dia? Teoricamente sim, porque é a arábia saudita que executa os ritos da peregrinação, que define o primeiro dia da festa do sacrifício. A data desta celebração, que marca o fim da peregrinação e que é determinada pelo calendário lunar, é conhecida e confirmada cerca de dez dias antes. Dito isto, para alguns países como a Turquia que adotaram a computação científica, a data é conhecida antecipadamente. Na França, é o CFCM, que define a data do primeiro dia do sacrifício. Eles estão sempre alinhados com a arábia saudita.
6 - em que hora do dia deve começar o sacrifício? O sacrifício deve começar na manhã do festival, após a oração especial do eid que se começa a partir dos 20 minutos após o nascer do sol. O animal morto antes da oração do eid não é considerado como um sacrifício, mesmo que seja halal e, portanto, seguro para o consumo. É permitido sacrificar de dia e de noite, mas é melhor fazê-lo de dia.
7 - quantos dias dura a festa? Eid al-adha é uma festa que dura 3 dias. É mais comumente comemorado no primeiro dia por famílias muçulmanas, mas também pode espalhar-se ao 2º e 3º dia após a oração especial do Eid, incluindo o abate do animal. Portanto, mais e mais famílias aceitam por razões logísticas recuperar o animal abatido no 2º ou 3º dia.
8 - que tipo de animal deve ser sacrificado? Na tradição muçulmana, a escolha de animais que poderia ser sacrificada durante a festa é múltipla: Os muçulmanos podem matar ovinos (ovelhas, ou carneiros), bovinos (vaca, touro ou vitelo), caprinos (cabras ou bodes) ou ainda um dos camelídeos (camelo ou dromedário).
9 - é possível que várias famílias se unam para sacrificar um único animal? O islão permite que um grupo de sete pessoas (no máximo) se unam a sacrificar um bezerro ou uma vaca.
10 - em que recursos específicos devem atender aos animais? Os animais devem atender às condições relacionadas com a idade e integridade física. Assim, o animal deve ter mais de 2 anos para o gado e pelo menos seis meses (mais de um ano de preferência) para ovelhas. Não devem ser nem doentes nem velhos nem magros, nem cegos, ou aleijados ou completamente amputados e devem dispor de todos os seus membros. Os animais carentes de chifres ou cauda naturalmente e machos castrados "São permitidos para o sacrifício”.
 11 - quem deve fazer o sacrifício? A tradição ordena que o cabeça de família deve matar o animal em si, se a lei do país o permitir. Caso contrário, ele pode autorizar outra pessoa para fazer isso por ele.
12 - deve estar presente no abate do animal? A sua presença não é obrigatória, mas é recomendada. No entanto, o agente deve, na medida do possível, dar o nome do proprietário do animal no momento da morte do animal.
13 - o que se faz com a carne? É colocada sob o signo da partilha e da solidariedade; eid al-adha é uma oportunidade para os muçulmanos recuperarem e fortalecerem os laços entre os membros da comunidade, incluindo aqueles que vivem em necessidade (pobres, carentes, órfãos). Durante este festival, por tradição, o primeiro terço da carne é dado aos pobres e necessitados, o segundo terço aos amigos e vizinhos (muçulmanos ou não) e o terceiro terço é da família.
14 - e sobre o bem-estar do animal? Devemos minimizar o sofrimento do animal a ser tratado com delicadeza, sem brutalidade ou violência. A pessoa que fizer o abate deve esvaziar o animal de sangue, sem o atordoamento e usando uma faca afiada e cortante, e deve sair da bainha no último momento para evitar a exposição ao animal.
15 - é possível encomendar o animal a um açougueiro? Sim, muitos muçulmanos fazem-no. Basta verificar com o açougueiro que o animal foi morto após a oração de Eid. É possível encomendar o animal num supermercado? Sim, desde que o abate seja feito após a oração de Eid, o que não é necessariamente o caso para grandes áreas. notas [1] o ano lunar tem 354 ou 355 dias em vez de 365 como o ano solar. Os meses lunares são 12 em número e têm 29 ou 30 dias. Sexta-feira é o dia mais importante da semana. Os crentes reúnem-se na mesquita para rezarem juntos. [2] mais de 3 milhões de muçulmanos vindos de todo o mundo em cada ano realizam a peregrinação. [3] o monte Arafat, também conhecida como a "Montanha da misericórdia" É a leste da colina de Meca. No final dos ritos de peregrinação, especificamente no nono dia do último mês do ano lunar, os peregrinos reúnem-se todos lá. É um dia simbólico para honrar o último julgamento. Este é também o dia para pedir perdão a Deus. A estação no monte Arafat é um dos pilares da peregrinação.

Obrigado. Wassalam. M. Yiossuf adamgy - diretor da revista Al Furqán

quarta-feira, agosto 23, 2017

A FAMÍLIA NO ISLÃ (PARTE 1 a 3): O APELO DA VIDA FAMILIAR ISLÂMICA

No Islã, considerar o bem-estar do “outro” ao invés de apenas o “eu” é uma virtude tão enraizada na religião que é evidente até mesmo para aqueles fora dela. O advogado britânico humanitário e defensor de direitos civis, Clive Stafford-Smith, um não-muçulmano, declarou: “O que eu gosto sobre o Islã é o foco sobre o grupo, que é oposto ao foco do Ocidente sobre a individualidade.”[1]

Os indivíduos que formam qualquer sociedade são unidos através de vínculos relacionados a um grupo. O mais forte de todos os vínculos sociais é o da família. E embora seja justificavelmente argumentado que a unidade familiar básica seja a fundação de qualquer sociedade humana, isso é particularmente verdade para os muçulmanos. De fato, o grande status que o Islã concede ao sistema familiar é exatamente o que com freqüência atrai muitos novos convertidos ao Islã, particularmente mulheres.

“Com leis para quase todos os aspectos da vida, o Islã representa uma ordem com base na fé que as mulheres vêem como crucial para criarem famílias e comunidades saudáveis, e corrigir o dano feito pelo humanismo secular popular dos últimos 30 anos, dizem vários especialistas. Além disso, as mulheres de lares desfeitos podem ser especialmente atraídas para a religião por causa do valor que ele coloca na família, disse Marcia Hermansen, uma professora de estudos islâmicos na Loyola University em Chicago e uma americana que também se converteu ao Islã.”[2]

Essa tendência de prezar os valores familiares tradicionais entre os que se convertem ao Islã é mais predominante entre latinos da América do Norte ou na comunidade hispânica. Como um dos muçulmanos da Flórida observou: “Eu tenho visto uma taxa crescente de hispânicos se convertendo ao Islã. Eu acho que a cultura hispânica em si é muito rica em termos de valores familiares, e isso é algo que é muito proeminente na religião do Islã.”

Então, quais são os valores particulares ou características da vida familiar islâmica que tantos têm achado atraente?

Em um evento na Universidade Islâmica de Columbia, Hernan Guadalupe, uma equatoriano-americana: “falou de semelhanças culturais e valores familiares inerentes aos hispânicos e muçulmanos. Tipicamente, os lares hispânicos são unidos e devotos, e as crianças são educadas em um ambiente estrito – características que se assemelham aos lares islâmicos.”[3]

E em um outro relato jornalístico recente, também foi observado como isso acontece: “Os valores familiares desempenham um papel fundamental na formação de uma comunidade muçulmana. Por causa desses valores familiares, existem muitas outras normas que são consistentes dentro da comunidade hispânica e o Islã; por exemplo, o respeito pelos mais velhos, o casamento e a educação das crianças, são algumas das tradições que os hispânicos têm em comum com o Islã.”[4]

Alguns convertidos americanos também têm tido algo a dizer sobre essa experiência, e alguns desses relatos estão reunidos em um livro escrito pela mãe de uma convertida; Daughters of Another Path de Carol L. Anway. Uma mulher, citada no livro[5], falou sobre sua mudança de atitude em relação ao casamento e a vida familiar após se converter ao Islã. “Eu fiquei mais limpa e calma a medida que me aprofundei na religião. Eu me tornei altamente disciplinada. Eu não pretendia casar antes de ser muçulmana, e ainda assim rapidamente eu me tornei esposa e então mãe. O Islã forneceu uma estrutura que me permitiu expressar crenças, como modéstia, gentileza e amor, que eu já tinha. Também me levou à felicidade através do casamento e do nascimento de dois filhos. Antes do Islã eu não tinha tido vontade de ter minha própria família, uma vez que eu odiava (a idéia de ter) filhos.”

Uma outra mulher fala de sua aceitação dentro da família estendida no mesmo livro. “Nós nos encontramos no aeroporto com uma grande parte da família dele, e foi um momento muito comovente, que eu nunca esquecerei. Mama (sua sogra) é como um anjo... eu tenho chorado muito, por causa do que eu vejo aqui. O sistema familiar é muito singular com uma proximidade que vai além das palavras.”[6]

No Apêndice C do livro, uma americana convertida de 35 anos, há 14 anos uma muçulmana, escreveu sobre a família de seu marido e os valores deles em relação aos seus próprios valores americanos. “Eu encontrei todos os membros da família imediata do meu marido e alguns membros de sua imensa família estendida...eu aprendi muito com eles. Eles têm um jeito maravilhoso de se relacionar com suas crianças, uma forma que engendra respeito pelos outros e muita alta estima. É interessante ver como operam uma criança e uma cultura orientadas pela religião. Os familiares do meu marido, em contraste com a cultura americana, têm demonstrado grande apreciação por certos elementos de minha identidade cultural americana...eu vi que o Islã está certo em dizer que a moderação é o caminho correto.”[7]

Dessas citações, uma de um intelectual não-muçulmano, outras de convertidos e jornalistas, e algumas de mulheres americanas comuns que abraçaram o Islã, podemos ver que os valores familiares no Islã são um de seus maiores atrativos. Esses valores vêm de Deus e Sua orientação, através do Alcorão e do exemplo e ensinamentos de Seu Mensageiro, Muhammad, que Deus o exalte, que indica a unidade familiar como o sustentáculo da religião e do modo de vida islâmico. A importância de formar uma família é enfatizada por um dito do próprio Profeta, que disse:

“Quando um homem se casa, ele cumpre metade de sua religião, então deixem-no temer a Deus em relação à metade restante.”[8] (al-Baihaqi)

Os dois artigos que se seguem discutirão a família no Islã à luz do Alcorão e dos ensinamentos proféticos. Através de uma breve exploração da abordagem do Islã sobre casamento, respeito pelos pais e idosos, e a educação das crianças, podemos começar a apreciar os benefícios da família no Islã.

FOOTNOTES:

[1]Emel Magazine, Edição 6 - Junho/Julho 2004.

[2]“Islam’s Female Converts (Mulheres Convertidas do Islã)”; Priya Malhotra, 16 de Fevereiro, 2002. (veja http://thetruereligion.org/modules/xfsection/article.php?articleid=167).

[3]“Some Latinos convert to Islam (Alguns Latinos convertidos ao Islã)”; Marcela Rojas, The Journal News (http://www.thejournalnews.com/apps/pbcs.dll/article?AID=/20051030/NEWS02/510300319/1028/NEWS12)

[4]“Islam Gains Hispanic Converts (Islã Conquista Convertidos Hispânicos)”; Lisa Bolivar, Correspondente Especial, 30 de Setembro de 2005. (http://thetruereligion.org/modules/xfsection/article.php?articleid=405)

[5]Daughters of Another Path, quarta edição, Al-Attique Publishers, p.81.

[6]Daughters of Another Path, p.126.

[7]Daughters of Another Path, p.191.

[8]Uma narração do Profeta, por Anas b. Malik, seu servo pessoal; coletada e comentada pelo Imam al-Baihaqi em Shu’ab al-Iman (Ramos da Fé).


A Família no Islã (parte 2 de 3): Casamento 

Casamento

E dentre Seus sinais, está que Ele criou, para vós, mulheres de vós mesmos, para vos tranqüilizardes junto delas. E Ele colocou amor e misericórdia entre vossos corações. Por certo, nisso há sinais para aqueles que refletem.” (Alcorão 30:21)

O casamento é a mais antiga das instituições humanas. O casamento passou a existir com a criação do primeiro homem e mulher: Adão e Eva. Todos os profetas desde então foram enviados como exemplos para suas comunidades, e todo Profeta, do primeiro ao último, defendeu a instituição do casamento como expressão divinamente sancionada de companheirismo heterossexual.[1] Mesmo hoje, ainda é considerado mais correto e adequado que os casais se introduzam como “minha esposa” ou “meu marido” ao invés de “meu amante” ou “meu parceiro”. Porque é através do casamento que homens e mulheres satisfazem licitamente seus desejos carnais, seus instintos por amor, carência, companheirismo, intimidade sexual, e assim por diante.

“...Elas (suas esposas, Ó homens) são uma vestimenta para vós e vós (homens) sois uma vestimenta para elas...” (Alcorão 2:187)

Com o passar do tempo, alguns grupos passaram a adotar crenças extremas sobre o sexo oposto e a sexualidade. As mulheres, em particular, eram consideradas maléficas por muitos homens religiosos, e assim o contato com elas tinha que ser mínimo. Dessa forma, o monasticismo, com uma vida de abstenção e celibato, foi inventado por aqueles que queriam o que eles consideravam uma alternativa virtuosa ao casamento e uma vida mais religiosa.

Então, enviamos depois deles, Nossos Mensageiros, e enviamos Jesus, o filho de Maria, e lhe concedemos o Evangelho. E ordenamos nos corações daqueles que o seguiram, compaixão e misericórdia. Mas o monasticismo eles inventaram para si próprios; Nós não lhes prescrevemos, mas eles o fizeram em busca do agrado de Deus; mas não o respeitaram como deveria ser respeitado. Então, concedemos aos que creram dentre eles, sua recompensa devida, mas muitos deles foram pecadores rebeldes.” (Alcorão 57:27)

A única família que os monges conheceria (cristão, budista ou outro) seria seus companheiros monges no monastério ou templo. No caso do Cristianismo, não apenas homens, mas também mulheres, podiam alcançar níveis de piedade se tornando freiras, ou “noivas de Cristo”. Essa situação antinatural com freqüência tem levado a muitos vícios sociais, como abuso de crianças, homossexualidade e relações sexuais ilícitas acontecendo entre os enclausurados – todos os quais considerados pecados criminais. Aqueles muçulmanos heréticos que seguiram a prática não-islâmica de abstenção e eremitério, ou que ao menos alegaram que tinham adotado um caminho mais virtuoso para Deus do que os dos próprios Profetas, da mesma forma sucumbiram a esses mesmos vícios e a um nível igualmente escandaloso.

O Profeta Muhammad em sua própria vida deixou claro os seus sentimentos em relação à sugestão de que o casamento poderia ser um obstáculo para a proximidade com Deus. Uma vez, um homem veio até o Profeta para fazer um voto de que ele não teria nada com mulheres, ou seja, nunca se casaria. O Profeta respondeu declarando austeramente:

Por Deus! Eu temo mais a Deus que você! Ainda assim... eu me caso! Quem quer que se afaste da minha sunnah (caminho inspirado) não é de mim (isso é, não é um verdadeiro crente)."

“Dize, (às pessoas) Muhammad: ‘Se amais a Deus, então segui-me, Deus vos amará e vos perdoará os pecados. E Deus é Perdoador, Misericordioso.’” (Alcorão 3:31)

Na realidade, longe de ver o casamento como mau para a fé de alguém, os muçulmanos consideram o casamento como parte integrante de sua devoção religiosa. Como mencionado antes, o Profeta Muhammad declarou explicitamente que o casamento é metade da Religião (do Islã). Em outras palavras, talvez metade de todas as virtudes islâmicas, como fidelidade, castidade, caridade, generosidade, tolerância, gentileza, empenho, paciência, amor, empatia, compaixão, cuidado, aprendizado, ensinamento, confiabilidade, coragem, misericórdia, resignação, perdão, etc., encontrem sua expressão natural através da vida de casados. Dessa forma, no Islã, ter consciência de Deus e bom caráter supostamente são o critério principal que uma pessoa procura em seu futuro parceiro ou parceira no casamento. O Profeta Muhammad disse:

Se casa com uma mulher por uma das quatro razões: sua riqueza, seu status, sua beleza e sua devoção religiosa. Então case com a mulher religiosa, porque de outra forma será um perdedor.” (Saheeh Al-Bukhari)

Indubitavelmente, a decadência e moléstia social que predomina em muitas partes do mundo não-muçulmano também encontram expressão em algumas partes do mundo muçulmano. Apesar disso, a promiscuidade, fornicação e adultério continuam sendo muito condenados em todas as sociedades islâmicas e ainda não foram descriminalizados ao nível de meras questões triviais. De fato, os muçulmanos ainda reconhecem e admitem a grande capacidade de destruição que relacionamentos pré e extra conjugais têm nas comunidades. O Alcorão deixa claro que a mera acusação de impropriedades carrega conseqüências muito severas nessa vida e na próxima.

E aqueles que acusam mulheres castas e não produzem quatro testemunhas (para provar sua acusação sem sombra de dúvidas), açoitai-os com oitenta chibatadas e jamais lhes aceiteis testemunho algum; porque eles são os verdadeiros pecadores.” (Alcorão 24:4)

Por certo, os que acusam de adultério as mulheres castas, inocentes, crentes, são amaldiçoados nesse mundo e no próximo. E para eles haverá um grande castigo.” (Alcorão 24:23)

Ironicamente, embora as mulheres solteiras sejam talvez as que mais sofram as conseqüências de relacionamentos promíscuos, algumas das vozes mais radicais do movimento feminista clamam pela abolição da instituição do casamento. Sheila Cronin do movimento, NOW, falando a partir da perspectiva limitada de uma feminista extremista, cuja sociedade está oscilando com o fracasso do casamento ocidental tradicional em garantir às mulheres segurança, proteção de doenças sexualmente transmissíveis e muitos outros problemas e abusos, opinou: “Uma vez que o casamento se constitui em escravidão para as mulheres, está claro que o movimento das mulheres deve se concentrar no ataque a essa instituição. A liberdade para as mulheres não pode ser conquistada sem a abolição do casamento.”

O casamento no Islã, entretanto, ou melhor dizendo, o casamento de acordo com o Islã, é em si um veículo para assegurar liberdade para as mulheres. Não existe maior exemplo de casamento islâmico perfeito do que o do Profeta Muhammad, que disse a seus seguidores: “O melhor de vocês é aquele que trata melhor suas mulheres. E eu sou o melhor para minhas mulheres.”[2] A amada esposa do Profeta, Aisha, atestou a liberdade que o tratamento de seu marido a proporcionava quando ela disse:

Ele sempre ajudava no trabalho doméstico e às vezes remendava suas roupas, consertava seus sapatos e varria o chão. Ele tirava leite, amarrava e alimentava seus animais e fazia as tarefas domésticas.” (Saheeh Al-Bukhari)

Por certo há no Mensageiro de Deus um excelente exemplo a seguir para quem espera em Deus e no Último Dia e relembra muito de Deus.” (Alcorão 33:21)


FOOTNOTES:

Independentemente ou não desses Profetas serem eles mesmos casados: Jesus, por exemplo, ascendeu aos céus como um homem solteiro. Entretanto, os muçulmanos acreditam que ele retornará à terra antes do Fim dos Tempos em uma segunda vinda quando ele reinará supremo, um marido e pai como qualquer outro homem de família. Portanto, a controvérsia recente relacionada às alegações fictícias do Código da Vinci de que Jesus se casou e teve filhos não são blasfemas no sentido de sugerirem que o Messias era um homem comum, mas são meramente prematuras.

[2]Narrado em Al-Tirmidhi.


A FAMÍLIA NO ISLÃ (PARTE 3 DE 3): SER PAIS

Ser Pais

Uma das razões da família islâmica funcionar é a sua estrutura claramente definida, onde cada membro da família sabe o seu papel. O Profeta Muhammad, que Deus o exalte, disse:

Cada um de vocês é um pastor, e todos vocês são responsáveis pelos seus rebanhos.” (Saheeh Al-Bukhari, Saheeh Muslim)

O pai é o pastor de sua família, protegendo-a, provendo-a, e se empenhando para ser um modelo e guia dentro de sua capacidade como chefe da família. A mãe é a pastora sobre a casa, guardando-a e engendrando nela o ambiente de amor que é necessário para uma vida familiar feliz e saudável. Ela também é a principal responsável pela orientação e educação das crianças. Se não fosse pelo fato de um dos pais assumir o papel de liderança, inevitavelmente haveria disputa e briga perpétuas, levando ao colapso familiar – assim como haveria em qualquer organização que carecesse de uma única autoridade hierárquica.

Deus propõe um exemplo: um servo que pertence a muitos sócios, disputando entre si, e um homem que pertence a um só homem. São ambos iguais em comparação? Todos os louvores são de Deus! Mas a maioria deles não sabe.” (Alcorão 39:29)

É apenas lógico que aquele que é naturalmente física e emocionalmente mais forte seja feito o chefe da casa: o homem.

“...E elas (as mulheres) têm direitos (sobre seus homens) semelhantes (aos direitos de seus homens) sobre elas – de acordo com o que é eqüitativo. Mas os homens têm um nível (de responsabilidade, etc.) sobre elas...” (Alcorão 2:228)

Quanto às crianças, os frutos do amor de seus pais, o Islã estabelece ensinamentos morais abrangentes prescrevendo a responsabilidade parental e os deveres recíprocos da criança em relação aos seus pais.

E decretou benevolência para com seus pais. Se um deles ou ambos atingem a velhice, junto de ti, não lhes digas um palavra (sugerindo) desgosto, nem os desaprove, mas lhes fale com reverência. E se humilhe perante eles, por misericórdia, e ore: ‘Meu Senhor! Tem misericórdia deles, como quando eles cuidaram de mim, na minha infância.’” (Alcorão 17:23-24)

Obviamente, se os pais fracassam em inculcar o temor a Deus em suas crianças desde uma tenra idade porque eles próprios são negligentes, eles não podem esperar receber a sua devida gratidão. Por isso, o alerta severo de Deus em Seu Livro:

“Ó vós que credes! Guardai-vos a vós mesmos e a vossas famílias do Fogo, cujo combustível são homens e pedras.” (Alcorão 66:6)

Se os pais de fato se empenham para educar seus filhos com virtude, então, como o Profeta disse:

Se o filho de Adão morre, todas as suas ações cessam exceto [três, caridade contínua, conhecimento benéfico e] um filho virtuoso que ora por seus pais.” (Saheeh Al-Bukhari, Saheeh Muslim)

Independentemente de como os pais educam suas crianças e de sua própria religião (ou falta dela), a obediência e reverência exigidas de um filho ou filha muçulmanos ficam atrás apenas da obediência devida ao Próprio Criador. Por isso o Seu lembrete:

E lembra-lhes de quando firmamos o pacto com os Filhos de Israel, (dizendo): ‘Não adoreis senão a Deus e tende benevolência para com os pais e os parentes e com os órfãos e os necessitados; e dizei aos homens belas palavras e cumpri a oração, e fazei caridade.’” (Alcorão 2:83)

De fato, é muito comum ouvir sobre não-muçulmanos idosos se convertendo ao Islã como resultado do maior cuidado e dedicação que seus filhos lhes dão após (seus filhos) terem se tornado muçulmanos.

“Dize (Ó Muhammad): ‘Vinde, eu recitarei o que vosso Senhor vos proibiu: não associeis nada em adoração com Ele; tende benevolência com seus pais; não mateis vossas crianças por medo da pobreza – Nós vos damos sustento e a eles...” (Alcorão 6:151)

Embora a criança seja obrigada a demonstrar obediência a ambos os pais, o Islã considera a mãe como sendo a merecedora da parte do leão do amor e gentileza. Quando foi perguntado ao Profeta Muhammad, “Ó Mensageiro de Deus! Quem entre a humanidade merece o meu maior companheirismo?” ele respondeu: “Sua mãe.” O homem perguntou: “E depois, quem?” O Profeta disse: “Sua mãe.” O homem perguntou: “E depois, quem?” O Profeta repetiu: “Sua mãe.” De novo, o homem perguntou: ‘E depois, quem?’ O Profeta finalmente disse: “(Então) seu pai.[1]

“E recomendamos ao ser humano benevolência para com seus pais. Sua mãe carrega-o penosamente e o dá à luz, penosamente. E sua gestação e desmama são, ao todo, de trinta meses, até que quando ele atinge sua força plena e alcança os quarenta anos, ele diz: ‘Meu Senhor! Conceda-me o poder e a habilidade para agradecer-Te a graça com que me agraciaste a mim e a meus pais, e a fazer o bem que Te agrade, e conceda-me boa descendência. Verdadeiramente, volto-me arrependido para Ti e, por certo, eu sou dos muçulmanos (submisso à Tua Vontade).’” (Alcorão 46:15)

Conclusão

Existe no Islã um princípio geral que afirma que o que é bom para um é bom para outro. Ou, nas palavras do Profeta:

“Nenhum de vocês verdadeiramente crê até que ame para o seu irmão o que ama para si mesmo.” (Saheeh Al-Bukhari, Saheeh Muslim)

Como se poderia esperar, esse princípio encontra sua maior expressão em uma família muçulmana, o núcleo da sociedade islâmica. Entretanto, a dedicação do filho aos seus pais é, na verdade, estendida a todos os idosos da comunidade. A misericórdia e preocupação que os pais têm por suas crianças é igualmente estendida a todos os jovens. Na verdade, é como se o muçulmano não tivesse escolha nessas questões. Afinal, o Profeta disse:

“Aquele que não demonstra compaixão com as nossas crianças e nem honra os nossos idosos, não é de nós.” (Abu Dawood, Al-Tirmidhi)

É alguma surpresa, então, que tantas pessoas, educadas como não-muçulmanas, encontrem o que estavam procurando, o que elas sempre acreditaram como sendo bom e verdadeiro, na religião do Islã? Uma religião onde elas são imediata e calorosamente bem-vindas como membros de uma família amorosa.

A virtude não está em voltardes as faces para o oriente e para o ocidente. Mas a virtude é a de quem crê em Deus, no Último Dia, nos anjos, no Livro, e nos Profetas; quem concede sua riqueza, embora a ela apegado, aos parentes, órfãos, pobres, ao viajante, aos pedintes, e para libertar os escravos. E aqueles que oram, pagam o zakat, honram seus pactos, e são perseverantes na adversidade e no infortúnio e em tempo de guerra. Esses são os verídicos. E os que temem a Deus.” (Alcorão 2:177)

FOOTNOTES:

[1]Narrado em Saheeh al-Bukhari e Saheeh Muslim.
Por AbdurRahman Mahdi (IslamReligion.com) - Publicado em 04 Jan 2009

Fonte: https://www.islamreligion.com/pt/articles/387/viewall/familia-no-isla-parte-1-de-3/